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PUBLICIDADE E CONCEPÇÕES TEÓRICAS Margareth Michel Fotografia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a origem da fotografia. Definir fotografia na comunicação. Descrever o processo para o registro fotográfico. Introdução A fotografia surgiu no decorrer do tempo a partir de muitos artistas e es- tudiosos, cujos interesses e objetivos eram diferentes, mas que chegaram a um resultado comum. Europeus, árabes, chineses — todos contribuíram com seus conhecimentos para a criação de um equipamento que permitia a reprodução de imagens. Foi a união de dois fenômenos, um de ordem física e outro de ordem química, que resultou no surgimento da fotografia: a câmara escura e a fotossensibilidade dos sais de prata. Desde o seu surgimento, a fotografia está diretamente relacionada à comunicação e às suas representações gráficas. Isso porque as imagens não só atraem o nosso olhar, mas têm um papel relevante no estímulo de nossas emoções, além de terem funções importantes, como o registro histórico, cognitivo, psicológico e sentimental. Sua utilização na publi- cidade, no jornalismo e em outras formas de comunicação, é essencial. Assim, neste capítulo, você vai estudar sobre a origem da fotografia, analisando sua importância e sua função na comunicação. Por fim, você vai verificar como ocorre o processo de registro fotográfico. A origem da fotografia Os estudiosos da fotografi a apontam que não existe um inventor ou um único responsável pelo surgimento da fotografi a. Ela resultou da síntese de diferentes observações e de inventos de diversos momentos. Porém, não há dúvidas de que a câmara escura, que precedeu a câmara fotográfi ca contemporânea, foi a primeira e mais relevante descoberta nessa área. Não existe um consenso com relação ao seu surgimento nem tampouco com relação ao conhecimento de seu princípio ótico. Existem registros que apontam a existência de experiências entre alquimistas e químicos que datam do período de 350 a.C. Alguns histo- riadores atribuem sua invenção a um chinês — Mo Tzu, no século V a.C. —; outros afi rmam que as primeiras manifestações dos princípios da fotografi a têm seus indícios no período de Aristóteles (384–322 a.C.), na Grécia Antiga (SALLES, 2008; MOTTA, 2011). Para esses últimos, Aristóteles já possuía conhecimentos sobre o princípio da câmara escura e se tornou responsável pelas primeiras observações e comentários esquemáticos acerca do tema. Aristóteles adquiriu esse conhe- cimento ao observar o fenômeno de projeção do sol sobre uma superfície de sombras, durante um eclipse. No momento em que os raios de sol passavam por um pequeno orifício entre as folhas, a imagem do sol era projetada no solo no formato de meia lua, semelhante em forma e cor à sua causa/origem. Sentado embaixo da árvore, o filósofo observou que, durante a passagem de luz por meio de pequenos orifícios, ocorria a formação de imagens, e que, quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem, conforme descreve Martins (2015). Os conhecimentos de Aristóteles chegaram mais tarde ao ocidente, graças aos árabes, que não sofreram a influência da chamada Idade das Trevas, que assolou a Europa no período medieval. No século XI, no oriente, um cientista árabe, o matemático Abu al-Hasan Ibn al-Haytham (965–1038 d.C.) também contribuiu para o surgimento da fotografia, por meio de descobertas importantes acerca do funcionamento das leis da física e da ótica, com ênfase na refração da luz e nas lentes, que, posteriormente, auxiliaram na invenção do telescópio e do microscópio (MAR- TINS, 2015). Esse cientista, conhecido no ocidente como Alhazen de Basra (Figura 1a) foi pioneiro nos estudos sobre a óptica (depois de Ptolomeu) e um dos primeiros a explicar o fenômeno dos corpos celestes no horizonte. Ele observou um eclipse solar em Constantinopla dentro do que descreveu como “câmara obscura” (Figura 1b), um quarto escuro com um pequeno buraco aberto para o exterior, e descobriu que esse recurso permitia observar eclipses solares e lunares por seu intermédio sem danificar os olhos dos observadores. Assim, o cientista percebeu a importância e a natureza das imagens que se projetavam no ambiente interno de sua tenda, quando atravessada pela luz solar. Fotografia2 Figura 1. (a) Alhazen de Basra; (b) ilustração da sua “câmara obscura”. Fontes: (a) Souza (2018, documento on-line);Jafoufi (2017, documento on-line). (a) (b) A câmara escura foi desenvolvida pelos precursores da fotografia somente a partir do século XIX, mas, como vimos, há relatos sobre ela desde o período aristotélico, sendo utilizada para fazer observações astronômicas. No período pós-aristotélico, tornou-se uma prática comum entre os sábios europeus — entre eles o inglês Roger Bacon (1214–1294) e o hebreu Levi ben Gershon 3Fotografia (1288–1344) — a utilização da câmara escura, com o objetivo de observar os eclipses solares sem causar prejuízos aos olhos. Já no século XV, Leonardo Da Vinci fez anotações em seus cadernos de notas, em que descrevi ao funcionamento de um mecanismo de captação de imagens — a câmara obscura (Figura 2a). Segundo Da Vinci, quando as ima- gens dos objetos iluminados penetravam um compartimento escuro, através de um pequeno orifício, e um papel branco era colocado a certa distância desse orifício, via-se, no papel, os objetos invertidos, com as suas formas e cores próprias (MOTTA, 2011). A Biblioteca Britânica digitalizou um dos ilustres cadernos do gênio florentino Leonardo da Vinci, conhecido como Codex Arundel, escrito em meados de 1452 e 1519. Esse volume traz uma série de anotações pessoais, diagramas, desenhos e inúmeros textos em italiano, redigidos à mão, da direita para a esquerda, como em um espelho — essa era a forma que Da Vinci registrava suas ideias. Acesse o link a seguir para acessar o Codex Arundel. https://qrgo.page.link/ddHFc Ainda de acordo com Motta (2011), mais tarde, o físico e matemático holandês Gemma Frisius fez e publicou, em 1545, a primeira ilustração desse artefato (Figura 2b). A partir de então, a câmera teve um grande desenvolvi- mento: Giordano Gardano, em 1550, com o objetivo de obter imagens mais brilhantes e com melhor resolução, instalou uma lente biconvexa em frente ao orifício, o que corrigia um defeito e provocava outro, porque era impossível obter imagens nítidas ao serem enquadrados dois ou mais objetos juntos, mas que estavam distantes um do outro. O problema era o conceito de profundidade de campo, com o qual a lente biconvexa não conseguia lidar. Fotografia4 Figura 2. (a) Ilustração: câmara obscura esboçada por Leonardo da Vinci no Codex Atlanticus (1515), preservada na Biblioteca Ambrosiana, em Milão (Itália). (b) Primeira ilustração publicada da câmara obscura no livro de 1545 de Gemma Frisius, Radio Astronomica et Geometrica. Fonte: (a) Mar.K/Shutterstock.com; (b) Costa Neto (2014, documento on-line). (a) (b) Ainda assim, Porta, um napolitano, em 1558, divulgou essa lente, tornando-a conhecida em muitos círculos que se interessavam pela arte e pela ciência. Dez anos mais tarde, em 1568, um veneziano chamado Daniele Bárbaro, ao instalar uma lente convergente, resolveu o problema de profundidade de campo. Posteriormente, em 1665, Johannes Zahn construiu uma câmara escura de formato portátil, equipada com um sistema de lentes intercambiáveis, como as que eram utilizadas como meio auxiliar para o desenho de vistas panorâmicas pelo artista Antonio Canaletto (GANTUS, 2006; ROSSI, 2001). 5Fotografia O artista veneziano Canaletto (1697–1768) se utilizava de um quarto escuro para desenhar uma paisagem ou uma vista, cuja imagem, por alguma razão, lhe interessava guardar. A imagem dos objetos do mundo visível podia ser delineada ao se formar no interior da câmara. Assim, artistas, cientistas e viajantes obtinham esboços e desenhos da natureza sobre o papel ao utilizarem a câmara escura. Esta,se tornou, nos círculos mais abastados, um aparelho auxiliar para desenhos e esboços bastante apreciado. Foi somente em 1727, em razão de uma descoberta no campo da fotoquímica, que teve início a história da fotografia propriamente dita: a utilização do sal de prata, que ainda na atualidade é um elemento básico para a fotografia. A partir do domínio do escurecimento dos sais de prata e de sua oxidação quando expostos ao sol, foram feitas experiências, no sentido de projetar uma imagem durável em uma superfície. Resultado da junção desses dois fenômenos, um de ordem física — a câmara escura — e outro de ordem química — a fotossensi- bilidade aos sais de prata —, a fotografia resultou da união de muitos esforços e de diferentes invenções e pesquisas ao longo do tempo, que ocorreram em diferentes partes do mundo. A partir de então, a pesquisa relacionada à fixa- ção de uma imagem no papel foi realizada por muitos pioneiros, e a primeira fotografia foi obra de um francês, Claude Niépce (1763–1828). Desde então, fazer uma fotografia se tornou moda entre a maioria das classes sociais, a partir da segunda metade do século XIX (PAGANOTTI, 2016). Para saber mais sobre o surgimento da fotografia e sua abrangência, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/oc5JU Fotografia6 A fotografia na comunicação Desde o seu surgimento, a fotografi a foi impactante e mudou a forma como o homem vê as imagens, defi nindo, a partir delas, o que é a realidade. Ela também provocou várias mudanças no sentido atribuído às coisas, àquilo que estava presente nas imagens, especialmente tendo em vista que a imagem fotográfi ca tem a capacidade de mostrar o mundo, bem como escondê-lo ou modifi cá-lo. Em decorrência disso, o homem criou uma relação de dependência das imagens, de tal maneira que é necessário que haja o registro fotográfi co para que algo traga a ideia de realidade, ou seja, para que se torne ‘verdadeiro’. Assim, a fotografi a passou a ser considerada como uma forma de documento, uma prova irrefutável de que algo existiu. No entanto, é preciso salientar que a fotografia“[...] nasce de construções, desde a sua formação física e química até a subjetividade que envolve o fotó- grafo, a imagem fotográfica é formada a partir de um ponto de vista, que deseja mostrar algo que vá além da imagem”, conforme Calaça (2012, documento on-line). Muitos estudiosos afirmam que a fotografia é essencialmente contra- ditória, porque apresenta, em sua natureza, uma condição de realidade e ficção: é considerada como verdade, mas, ao mesmo tempo, é passível de manipulação, auxilia na construção de tempos e espaços e permite uma reflexão aberta e flexível quanto à representação do registro feito. As fotografias, do ponto de vista de quem as produz ou do ponto de vista de quem as consome, podem possuir diferentes interpretações. São realizadas muitas reflexões acerca do que é ou não verdade em uma imagem, havendo o consenso de que, para se chegar a uma resposta apropriada, é preciso conhecer a história do ocorrido, daquilo que a imagem representa. Do ponto de vista da comunicação, a fotografia transmite uma mensagem e tem a função de registrar e informar sobre um fato ocorrido. Essa mensagem, de acordo com a cultura e o conhecimento dos receptores, pode ser inter- pretada de diferentes formas. Isso porque o fotógrafo, ao fazer o registro do acontecimento, pode conduzir sua interpretação, em conformidade com seu olhar, por meio do enquadramento e, ainda, por intermédio da manipulação de filmes fotográficos e, na atualidade, de arquivos digitais. Isso ocorre tanto no fotojornalismo quanto na publicidade, bem como nos demais meios de comunicação de massa. Outros fatores devem ser levados em conta e têm muita importância na fotografia enquanto meio de comunicação. A fotografia tem relação com a história, porque é um dos vários métodos de registro de informações, as quais podem ser comunicadas, passadas de geração em geração, deixando algo 7Fotografia para a história posterior, o que lhe concede importância. As fotografias de guerra, dos estilos de vida ao longo da história, dos acontecimentos sociais, ao comunicarem os acontecimentos, são importantes para a compreensão da evolução da sociedade. Outro fator relevante com relação à fotografia e à comunicação é sua estreita relação com a memória, uma questão cognitiva. A memória é a capacidade de guardar na mente as experiências e os fatos marcantes que ocorreram na vida das pessoas e dos grupos sociais, envolvendo questões de tempo e armazenamento de informações, para depois comunicá-las, compartilhá-las com os demais. A memória é imprescindível para a reconstituição do passado; ela pode ser individual ou coletiva e constitui um recurso fundamental para a compreensão da identidade e da história, conforme Le Goff (2013). Intima- mente ligada à memória, a fotografia, por sua vez, auxilia no ato de lembrar e recordar, funcionando como uma espécie de passado preservado, em que a cena é congelada, trazendo para o momento presente as lembranças do passado. Assim, por meio da comunicação desses dados, a fotografia reconstrói e ajuda a definir a história da evolução dos indivíduos e grupos sociais, permitindo a consulta e o acesso a qualquer momento. Como documento, a fotografia constitui uma espécie de patrimônio, que, mesmo quando utilizado individualmente, acaba sendo comunicado, repassado para outras gerações por meio das lembranças. Ela é capaz de registrar momen- tos, pessoas e locais que nunca mais existirão, consistindo, muitas vezes, em um aparato genealógico, ao registrar grupos familiares reunidos em frente a uma câmera, ou mesmo grupos de trabalho e outros, sendo uma confirmação de aquela pessoa pertenceu àquele grupo, foi um de seus membros. A fotografia também é um excelente estímulo visual para recordar pessoas, lugares, situações e coisas. Muitas vezes, por seu intermédio, vêm os estímulos psicológicos e sensoriais, como o cheiro, a forma, o tato e muitas outras me- mórias sinestésicas possíveis. Esses estímulos proporcionados pelas imagens fotográficas são utilizados pelo mercado de forma intensa, estimulando as pessoas a decidir, escolher, comprar ou vender. A fotografia publicitária é um lugar no qual esses estímulos se fazem presentes e são largamente explorados. A fotografia também tem uma conotação sentimental, trazendo à tona emoções que têm forte relação com as pessoas e os grupos sociais, permitindo reviver momentos ou situações relevantes. Encontramos muitas experiências relacionadas às emoções no fotojornalismo, que, com frequência, retrata momentos significativos para grupos sociais. A publicidade também faz uso dessa propriedade das imagens. Fotografia8 A fotografia é uma importante manifestação criativa, que possibilita a expressão das questões e situações que nos cercam. Na atualidade, as pessoas passaram a entender a vida como uma fonte inesgotável de registros fotográficos e, dessa forma, passaram a produzir e consumir imagens constantemente. Esse grande volume de imagens e os recentes recursos tecnológicos permitem que cada indivíduo faça sua interpretação individual, em busca de uma melhor compreensão de mundo, de acordo com sua criatividade. A fotografia possui, em razão disso, o poder de promover o movimento de ideias. Pode-se realizar associações com outras imagens, resultando na criação de outras, diferentes, que são exteriorizadas por meio de infinitas possibilidades. Na comunicação de eventos sociais, a fotografia também se reveste de importância, como uma possibilidade de negócios. Nesse sentido, existe um leque de especializações e áreas em que o profissional pode atuar. O jornalismo tem a função de relatar fatos importantes para a sociedade; porém, existem muitas modalidades de jornalismo, como o investigativo, o noticioso, o es- porte, a moda e o entretenimento. A fotografia dá cor e imagem às notícias, auxiliando na compreensão das situações,de forma mais ampla e completa, trabalhando em parceria com as palavras — assim, a notícia é dada também por meio das imagens. O fotojornalismo é um mercado que oferece muitas oportunidades e estilos, podendo o fotógrafo atuar em jornais, revistas, agências de notícias e canais de conteúdo. Muitos profissionais da área foram responsáveis por trabalhos que ajudaram a entender importantes acontecimentos históricos. São muito comuns as fotografias de rua ou em ambientes externos, utilizadas para mostrar o cotidiano, o dia a dia e a cultura do lugar. São imagens espontâneas, que têm caráter temporário e cujo objetivo é passar ao público a sensação de ter presenciado a cena (OLIVEIRA, VICENTINI, 2009). Para tanto, é preciso aproveitar a iluminação ambiente e não utilizar o flash; o profissional tam- bém deve procurar um bom lugar para se posicionar, que lhe permita uma certa discrição. Também é necessário tomar cuidado para que a foto tenha informação visual relevante, que dê destaque ao acontecimento. O fotógrafo deve informar-se sobre quem são os personagens e procurar contextualizar a fotografia em relação ao tema a ser tratado. Henri Cartier-Bresson, francês que foi um dos pioneiros do fotojornalismo, pelo valor de seu trabalho e pela abundância de sua produção, fundou uma das maiores agências de fotojornalismo do mundo: a Magnum. Já o brasileiro Sebastião Salgado é um famoso fotojornalista que registrou momentos histó- ricos importantes (o ataque a um presidente norte-americano) e teve sua vida 9Fotografia e carreira contadas em um filme que concorreu ao Oscar (LISBOA, A. et al, 2016; BERGER, 2017). Vemos exemplos de suas obras nas Figuras 3a e 3b. Na área de relações públicas, a fotografia abre novos nichos de atuação, além dos tradicionais. O profissional de relações públicas, na área da co- municação, é o responsável por gerenciar e cuidar da imagem institucional, assim como é responsável pela maioria dos processos comunicacionais da organização. Nesse processo, a fotografia é uma ferramenta importante para alcançar os públicos de interesse. Na comunicação interna, ela se insere no mural, no boletim informativo, na intranet, no manual do funcionário, no site institucional, nos eventos e outros elementos, tanto para registro das ativi- dades e acontecimentos quanto para divulgação. Com relação aos públicos externos e à opinião pública, a fotografia permite que a organização expresse transparência e compromisso com a verdade dos fatos. Outro papel relevante da atividade de relações públicas é garantir que tudo o que acontece no am- biente da organização seja registrado; nesse contexto, a fotografia mais uma vez se torna relevante. Para tanto, atualmente, pode-se utilizar a fotografia digital, considerando o poder e o alcance das redes sociais e sua influência nos modos de relacionamento com os mais diversos públicos. O segmento de eventos, na área da comunicação, também é expressivo no mercado e encontra na fotografia uma excelente ferramenta de divulgação e registro (SILVA, GUINDANI, MARQUES, 2019). Por fim, para atuar na área da fotografia publicitária, o profissional deve ter uma vasta cultura, conhecer política, economia, música, cinema e arte, e estar por dentro de programas de entretenimento, como as telenovelas e seriados, porque delas surgem ideias e tendências para os próximos meses e até anos. O trabalho nessa área é variado, e o profissional precisa conhecer a fundo para falar sobre ele com conhecimento de causa. Diferentemente das fotografias artísticas e jornalísticas, que dependem do exato momento em que são tiradas, as fotografias publicitárias começam a ser planejadas antes de sua produção. Para produzir uma boa foto publicitária, é importante entender que ela é um importante elemento de identidade visual das marcas, faz parte de uma estratégia da marca e deve transmitir visualmente a essência de uma campanha e os valores da marca frente às mídias que darão suporte à campanha (EGUIZÁBAL, 2011). A Figura 3c mostra um exemplo de manipulação de imagem para garantir os objetivos publicitários. Fotografia10 Figura 3. (a) Garoto chorando, Sahel; foto de Sebastião Salgado. (b) Hyeres, France, 1932; foto de Henri Cartier-Bresson. (c) Exemplo de manipulação para fins publicitários. Fonte: (a, b) Lisboa et al. (2016, documento on-line); (c) Propaganda… (2013, documento on-line). (a) (b) (c) Assim, pode-se perceber que a fotografia é uma forma de comunicação pela qual o emissor — fotógrafo — busca transmitir uma mensagem ao receptor — público. Nessa comunicação, os fatores de produção, sejam técnicos ou estéticos, vão impactar no seu conteúdo e na forma de sua interpretação. Como as fotografias requerem interpretação por parte dos seus receptores, enquanto mensagem, elas precisam ser cuidadosamente produzidas. No contexto atual da comunicação de massa, a mídia impõe as imagens, por meio das quais são informados acontecimentos, são impostas ideais, são vendidos produtos e são formadas opiniões. A retenção da mensagem e o processo de assimilação da fotografia ou da imagem que ela representa ocorrem de forma emocional e subliminar, de forma mais fácil do que por meio de palavras e textos. Pela força que tem ao transmitir conceitos e ideias, a fotografia é um elemento estrutural na comunicação. Vale lembrar aqui a máxima popular que diz que “uma imagem vale por mil palavras”. 11Fotografia Acesse o link a seguir para assistir ao documentário A arte e a ciência da fotografia. https://qrgo.page.link/WhMA8 O processo para o registro fotográfico O processo para o registro fotográfi co atualmente envolve muitas técnicas, das mais complexas às mais simples. Para começar, a fotografi a (do grego photos, “luz”, e graphos, “gravação”) consiste em um processo técnico em que o re- gistro de uma imagem é obtido por meio da ação da luz sobre uma superfície, que pode ser uma chapa, um fi lme ou um papel, revestida por uma camada de sais de prata sensíveis à luz. Esse processo todo se originou do trabalho de muitos pesquisadores ao longo do tempo, conforme visto anteriormente. O francês Joseph Nicéphore Niépce inventou o fisionotraço (método prático para desenhar retratos). Depois, em 1822, inventou a heliografia, um processo fotográfico feito com uma placa de prata coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado de betume da Judeia, que ficava cerca de oito horas em exposição solar, em um processo com baixa velocidade de captação e pouca qualidade de imagem. Quatro anos depois, Niépce produziu a primeira fotografia obtida no mundo e que está preservada até hoje, tirada da janela de sua casa (Figura 4a). A câmara usada foi construída pelo óptico parisiense Chevalier especialmente para Niépce, e o tempo de exposição necessário para impressionar a chapa, assim como na heliografia, foi de aproximadamente 8 horas. O francês Louis Jacques Mandé Daguerre trabalhou junto com Niépce a partir de 1829 e lançou o processo chamado daguerreótipo (Figura 4b), 10 anos mais tarde. Nesse processo, uma placa de cobre prateada e polida, submetida a vapores de iodo, formava sobre si uma camada de iodeto de prata. A seguir, era exposta à luz em uma câmara escura e revelada em vapor de mercúrio aquecido. Nesse processo, o mercúrio aderia às partes em que a luz incidia e mostrava as imagens fixadas (Figura 4c). O daguerreótipo não permitia cópias; mesmo assim, a técnica de Daguerre se espalhou pelo mundo. O inventor preferiu ceder os direitos de sua invenção ao governo francês, em Fotografia12 troca de uma pensão vitalícia, e, com isso, tornou possível que mesmo pessoas com recursos modestos pudessem ter cópias das próprias feições e de seus familiares (VIEIRA, 2015; ANDRADE, 2014; MOTTA, 2011; CALAÇA, 2012; OLIVEIRA, 2005). Figura 4. (a) Heliografia de Niépce, de 1826: a primeira fotografia. (b) Daguerreótipo. (c) Boulevard du Temple: primeiras figuras humanas registradas em uma fotografia, feita por,Daguerre. Fonte: Vieira (2015, documento on-line). (a) (c) (b) De acordo com Costa Neto (2014), em 1841 foi criado o calótipo pelo inglês William Henry Fox Talbot, aperfeiçoando o processo de fixação de imagens. Ao contrário de Daguerre, Talbot patenteou seu invento, o que o tornou pouco popular. Vinte anos mais tarde, em 1861, a primeira fotografia colorida foi criada pelo físico inglês James Clerk Maxwell, que teve a colaboração de Gabriel Lippmann, dos irmãos Auguste (mais tarde, eles colocariam a imagem em movimento e dariam origem ao cinema) e de Louis Lumière. Em 1871, o médico inglês Richard Maddox aperfeiçoou o método de emulsão seca de 13Fotografia brometo de prata em colódio, substituindo esse último por placas secas de gelatina. A fotografia se popularizou no decorrer do século XIX, passando a fa- zer parte do dia a dia, mas somente os fotógrafos profissionais conseguiam comprar um aparelho fotográfico. Nesse período, a fotografia já servia para registrar eventos sociais específicos, como solenidades públicas, casamentos e outros, sendo que, para que a imagem fosse captada e impressa no papel, os fotografados deviam permanecer imóveis (Figura 5a). Acesse os links a seguir para saber mais sobre a história da fotografia e sobre as lentes e outros instrumentos ópticos. História da fotografia —o processo fotográfico https://qrgo.page.link/4bdZn Dicas de ciência —como surgiu a fotografia https://qrgo.page.link/1JA6k As lentes e os instrumentos ópticos https://qrgo.page.link/qTBHQ Em 1878, George Eastman começou a trabalhar com placas metálicas secas com emulsões de sais de prata sensíveis à luz para gerar imagens, o que consistiu em um dos processos básicos da fotografia moderna. Dois anos mais tarde, de uma parceria com Henry Strong, nasceu a fornecedora Eastman Dry Plate Company, que comprou a patente do filme fotográfico. Em 1888, foi registrada a marca Kodak, que era o nome da câmera fotográfica da empresa, que tinha um filme de 100 poses. Essa câmera era fácil de usar: após o uso do filme, ela era enviada inteira para a empresa, que colocava mais filme e devolvia as impressões, popularizando a fotografia (Figura 5b). Em 1901, foi lançada a Brownie-Kodak, uma câmera comercial e popular (COSTA NETO, 2014). Fotografia14 Figura 5. (a) Anos 1860-1870: a febre do retrato (carte-de-visite) e a fotografia estereoscópica. (b) Fotografias feitas com a Kodak no. 1, a primeira câmera com filme flexível, em rolo (1888), e com a Kodak no. 2. Fonte: Adaptada de Andrade (2014). (a) (b) O Kodachrome, pioneiro na linha de filmes coloridos, foi lançado pela Kodak em 1935, e a Polaroid criou a fotografia colorida instantânea em 1963. Sempre inovando no mercado, a Kodak criou, em 1990, a câmera digital DCS 100, uma máquina digital de fácil manipulação e barata, que, no entanto, não deu certo. Nesse período, a Sony lançou a Mavica, uma contração de "MAg- netic VIdeo CAmera", cuja principal característica era gravar as fotos (em formatos de arquivos de imagem) em discos removíveis. As Mavicas usavam apenas disquetes, o que as tornou populares quando o mercado digital surgiu. 15Fotografia Com a evolução dos padrões de resolução (megapixels) das câmeras exis- tentes no mercado e o advento do USB e das mídias de maior capacidade de armazenamento, as Mavicas acabaram sendo substituídas por outras. Iniciou- -se na sequência a era das imagens digitais, que podem ser captadas a partir de uma câmera digital ou até mesmo de câmeras de telefones celulares. Tais imagens, por não precisarem do papel como suporte, são armazenadas em computadores ou na internet, podendo ser editadas, impressas e divulgadas muitas vezes. Técnicas fotográficas Embora o processo de revelação de fi lmes seja pouco utilizado no mundo contemporâneo, ele ainda ocorre, especialmente vinculado à produção da fotografi a artística e publicitária, em casos específi cos. O processo para obter um bom registro da imagem demanda o conhecimento da sensibilidade do fi lme e o domínio da exposição à intensidade luminosa. É preciso observar a exposição do material fotográfi co e a relação entre a quantidade de luz e o tempo de sua incidência sobre o material sensível. Para isso, é utilizada a seguinte fórmula: E = it; isto é, a exposição é igual ao produto da intensidade da luz pelo tempo de incidência. Quanto mais sensível o material, menor seu tempo de exposição. É preciso destacar aqui que o processo de revelação do fi lme e das fotos em papel é diferente para materiais em preto e branco e coloridos. Esses últimos demandam técnicas e materiais mais complexos, e, geralmente, sua revelação é feita apenas em laboratórios, com técnicas mais sofi sticadas (HEDGECOE, 2007). O profissional tem de se preocupar com conceitos como opacidade e den- sidade de véu, contraste e resolução. A opacidade está relacionada com a capacidade que a área do papel ou do filme possui de absorver a luz; já a densidade de véu é a densidade residual da parte não exposta do material sensível. Quanto ao contraste, as fotografias, sejam em preto e branco ou coloridas, apresentam vários tons; por isso, é necessário saber o efeito desejado e prestar atenção à gradação das cores. A resolução se refere à propriedade do material fotográfico de registrar de forma mais ou menos visível os detalhes do objeto fotografado. Posteriormente, são utilizadas as emulsões fotográficas. Trata-se de um material sensível, que consiste em uma suspensão de cristais de haletos de prata dispersos em um meio coloidal — atualmente, a gelatina —, que os isola e protege. Como as partículas sensíveis variam de forma, tamanho, compo- sição e reação à luz, encontramos emulsões de granulação pequena, lentas, Fotografia16 de altos contrastes e emulsões de grãos grandes, rápidas, de menor contraste. Algumas emulsões não apresentam sensibilidade para todas as cores; portanto, deve-se prestar atenção à necessidade de adicionar corantes sensibilizadores, se for o caso. A escala de sensibilidade dos filmes fotográficos é adotada internacionalmente, e seus índices são grafados. No processo de revelação, o filme precisa ser tratado com uma solução química, para converter a imagem latente em imagem visível. Também são utilizados os preservadores, que protegem os agentes reveladores em solução da sua oxidação pelo ar. Já os aceleradores são substâncias alcalinas ou outros compostos usados para acelerar a atividades dos agentes reveladores. Os mode- radores têm como principal função reduzir ou eliminar o surgimento de véu. Existem ainda agentes especiais, que, adicionados às soluções reveladoras, são substâncias destinadas a atuar em condições difíceis. Com o objetivo de tornar a imagem fotográfica permanente, é preciso dissolver os halógenos de prata, sensíveis à luz, que se mantêm na emulsão após a revelação. São adicionados banhos fixadores com substâncias que interrompem a revelação, evitam o véu e endurecem a gelatina. A lavagem, em geral feita em água corrente, remove os reagentes em excesso formados pelo processo de fixação. A evolução tecnológica impactou de forma positiva a fotografia, trazendo significativas mudanças. A digitalização permitiu que o custo das fotografias, de uma forma geral, fosse barateado, ao mesmo tempo que se tornou possí- vel também aumentar o número de fotos. A fotografia digital permite duas opções: pode ser impressa com base em um processo similar ao da fotografia tradicional ou pode resultar em um arquivo de computador, que permite sua edição, transferência ou armazenamento em ambiente digital. No processo digital, a luz sensibiliza um sensor (CCD ou CMOS), o qual converte a luz em um código eletrônico digital, que vai gerar uma matriz de números digitais. Essa matriz vai ser armazenada em um cartão de memória, cujo conteúdo poderá ser transferido para um computador posteriormente, podendo ainda ser transferido diretamente para a impressora, com o objetivo,de imprimir as imagens. As imagens podem ser arquivadas ou descartadas; depois de serem retiradas do cartão de memória, este poderá ser reutilizado inúmeras vezes. As máquinas digitais também permitiram a criação de um recurso que permite que se comece a tirar a foto a partir de um ponto e arraste a captura por toda a paisagem, chegando até 360º de rotação, na chamada fotografia panorâmica, algo que o enquadramento normal não permitia. Outra inovação relevante é o tratamento das fotos/imagens, que corrige problemas ou cria efeitos. Para fazer esse tratamento das imagens, existem 17Fotografia programas que possuem cada vez mais funcionalidades, agilizando o processo de melhoria e aumentando a qualidade das imagens. Um deles, possivelmente o mais famoso, é o Photoshop, que está sempre no topo da lista de programas de tratamento de fotos. Com funcionalidades muito semelhantes ao Photoshop, o Gimp tem uma grande vantagem: é gratuito. O Lightroom possui ferramentas que agilizam a escolha e o tratamento das fotos/imagens. Seu concorrente direto é o Capture One Pro, que tem praticamente as mesmas funcionalidades. Outra ferramenta simples para retoques rápidos de imagens, com filtros e ferramentas para o ajuste de cores, é o Photoscape, que é gratuito. Existem muitos outros desses programas disponíveis, basta procurar por eles. A popularização das câmeras fotográficas, mesmo as mais sofisticadas, causou também mudanças nos aparelhos celulares, nos quais as câmeras possuem um número cada vez maior de funções e uma qualidade cada vez melhor. A qualidade superior desses recursos permitiu que cada pessoa uti- lizasse o seu próprio aparelho celular, não só para registrar imagens, mas também para produzir selfies e compartilhá-las com os amigos, especialmente nas redes sociais. Foram criados também outros modos e recursos para guardar as fotografias: existem os álbuns digitais, o armazenamento em nuvens e os drives, para os quais as fotos/ imagens podem ser simplesmente transferidas; e há também os álbuns fotográficos digitais, nas plataformas digitais, em que, depois de publi- cadas, as fotos podem ser vistas pelo público. Outro serviço que a tecnologia permitiu criar e que é cada vez mais utilizado são os bancos de imagens na internet, nos quais o profissional disponibiliza suas fotos, podendo inclusive vendê-las. Semelhante a esse serviço, existe também o espaço para portfólios, em que os profissionais deixam seus trabalhos à mostra, para captar possíveis clientes. ANDRADE, J. M. F. Do daguerreótipo à imagem digital: para uma história da conserva- ção fotográfica. Brasília: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional, 2014. Apresentação no 17o Curso Informativo de Preservação de Coleções Bibliográficas e Documentais. Disponível em: https://www.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/ producao/apresentacao/daguerreotipo-imagem-digital-uma-historia-conservacao// dodaguerreotipo-imagemdigital-joaquim_marcal_17_curso_2014.pdf. Acesso em: 26 ago. 2019. Fotografia18 BERGER, J.; DYER G. (ed.). Para entender uma fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. CALAÇA, M. C. 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Se a fotografia traz consigo a possibilidade de guardar para a posteri- dade imagens importantes para a história, foi por seu intermédio que as diferentes nações e culturas puderam registrar as tradições, as paisagens, as diferentes manifestações individuais e coletivas, das mais comuns às mais importantes. Todo tipo de acontecimento foi documentado por meio de fotografias, das descobertas científicas até as guerras. As pessoas passaram naturalmente a se deixar fotografar para a posteridade, pois, ao contrário das palavras, que podem ter várias interpretações, e, prin- cipalmente, porque estas, com o passar do tempo, podem ter alterado o seu significado, as imagens de séculos passados continuam iguais e têm o mesmo significado. Com o desenvolvimento trazido pela Revolução Industrial e o con- sequente aumento do consumo, as imagens se tornaram cada vez mais importantes, não só por eternizar lembranças e significados, mas também porque se tornaram capazes de despertar desejos e vontades e por seu alto grau de persuasão. Na publicidade, após um início mais difícil e demorado, a fotografia tornou-se uma arma poderosa para agregar valor a uma marca, produto ou serviço. As campanhas publicitárias passaram a utilizar-se da fotografia como um de seus mais valiosos recursos, que, inclusive, passou a exercer um grande papel na construção de visões de mundo dos mais diversos segmentos sociais. No mundo contemporâneo, com os recursos tecnológicos, a fotografia digital ganhou mais espaço e expressão, principalmente na publicidade. Conceitos básicos Os jornais já existiam, tanto na Europa como nas Américas, em um número considerável, mas o aproveitamento das fotografi as na imprensa, por razões tecnológicas, demorou bastante para ocorrer. Após seu surgimento, foi na imprensa que a fotografi a foi implementada, tendo aparecido pela primeira vez em um jornal, em 1880, em forma de uma fotografi a reproduzida com meios mecânicos (FREUND, 2010). Isso representou um fato revolucionário nas comunicações e na transmissão dos acontecimentos, uma vez que permitiu, mais tarde, que as pessoas visualizassem personagens e acontecimentos de outros lugares, até mesmo de outras partes do país e do mundo. No entanto, para esse procedimento de reprodução mecânica constante, foram precisos mais de 25 anos, devido aos custos, que ainda eram elevados, além do fato de que a tecnologia de impressão utilizada só permitia que fossem impressas gravuras feitas a traços, nas quais só havia combinações de preto e branco, sem tons intermediários. Segundo Freund (2010), no início, para que as ilus- trações tivessem credibilidade, eram sempre acompanhadas de legendas, para que os leitores soubessem que aquela ilustração tinha sido feita a partir de uma fotografi a. A partir daí, com o surgimento da nova técnica de impressão, tem-se uma mudança na forma de ver o mundo, pois o cidadão comum passa a visualizar os fenômenos de uma forma mais ampla. Aos olhos da massa, o mundo fica pequeno, torna-se próximo. Na perspectiva de Freund (2010), é quando o retrato coletivo substitui o individual que a fotografia inaugura os mass-media visuais. Esse feito permite a leitura de fatos e acontecimentos, uma vez que a fotografia possibilita que a sociedade seja documentada. E é a partir do momento em que a imagem se torna ela mesma e conta uma história, acompanhada de um pequeno texto, geralmente reduzido apenas a legendas, que a fotografia tem seu lugar garantido nos meios de comunicação de massa, tornando-se também um poderoso meio de manipulação e propaganda. Fotografia publicitária2 No entanto, até o século XIX, devido às limitações técnicas de impressão e à falta de mão de obra especializada, seu uso foi mínimo. Aliada a essas questões, havia também a relutância das agências de publicidade em utilizar a fotografia, visto que até então não estavam acostumadas com ela em suas atividades e criações. Além disso, achavam que, ao mesmo tempo que a fo- tografia era técnica demais para alcançar a fluidez artística do desenho, seus traços também não eram precisos o suficiente para reproduzir os detalhes técnicos da impressão, pois as imagens ficavam muito reticuladas. Nesse período, a fotografia servia, ainda, na cobertura jornalística e na publicidade, como referência para a produção de gravuras (PALMA, 2008). A fotografia e a publicidade, que parecem, hoje, uma dupla inseparável, tinham uma relação complicada. As primeiras propagandas que continham material fotográfico não contaram com muita criatividade no processo. No entanto, foram posteriormente influenciadas de modo determinante por uma corrente modernista da época, denominada Art Nouveau. Isso porque nas décadas de 1890 e 1900, período da famosa Belle Époque, o maior referencial estético e de sofisticação da propaganda tinha no estilo Art Nouveau, sua maior inspiração (Figuras 1 e 2). Nesse período industrial, cuja preocupação era justificar a mais-valia, os publicitários ficavam mais empolgados com as curvas da corrente modernista que agregava “valor criativo” por meio da ornamentação do que com o classicismo das fotografias pictóricas. Figura 1. Imagens de propagandas das décadas de 1880 a 1895. Fonte: (a) MicroOne/Shutterstock.com; (b) MagicPics/Shutterstock.com. (a) (b) 3Fotografia publicitária Figura 2. Imagens de propagandas com influência Art Nouveau. Fonte: (a) MITstudio/Shutterstock.com; (b) happy_fox_art/Shutterstock.com; (c) Everett Historical/ Shutterstock.com. (a) (b) (c) No século XIX, influenciados pelo artista tcheco Alphonse Mucha (entre outros), os anúncios em jornais, revistas, folhetos, cartazes e embalagens de produtos traziam imagens sedutoras de figuras femininas, com cabelos longos e esvoaçantes, vestidos drapeados e muitos ornamentos, ou em forma de flores ou em forma de mosaicos, com estrelas, pássaros, e com muitas curvas. Foi a abordagem artística da fotografia que inicialmente abriu espaço para sua utilização no espaço publicitário. Na perspectiva de Souza e Lima-Marques (2016), que é partilhada com a de Muniz (2005), coexistem na imagem foto- gráfica duas mensagens: uma delas como representação da realidade e outra que é codificada (retórica, relacionada à arte). Elemento importante de persuasão, a fotografia publicitária, pelo seu conteúdo imagético, revestiu-se de grande valor, que cada vez mais se acentua, levando em consideração a construção social que existe na atualidade. Ela foi e é utilizada, a princípio, com três objetivos: vender produtos, vender serviços e vender ideias. Dessa forma, o motivo da existência da fotografia publicitária é o seu resultado, sua mensagem, aquilo que será posto em evidência, o que depende da técnica e da capacidade do fotógrafo. É a composição da fotografia, como ela foi articulada, que influenciará a forma como a mensagem fotográfica é compreendida pelo receptor, pelo público a que se destina. Pode-se afirmar, então, que a fotografia publicitária,é aquela produzida com o objetivo de vender, divulgar ou conscientizar o público sobre determinado assunto, e demanda um trabalho de planejamento antecipado, pois deve estar Fotografia publicitária4 em sintonia com o produto/serviço/marca que representa, além de respeitar o conceito e a identidade visual da campanha da qual faz parte. É importante destacar que a fotografia publicitária, ao ser produzida para esse tipo de difusão comercial, deve levar em consideração o suporte escolhido pelo cliente para sua veiculação: mídia impressa (jornais, revistas, cartazes, painéis de rua , folhetos), audiovisual (multivisões e anúncios transmitidos pela televisão ou pelo cinema) ou digital (site e redes sociais). Na fotografia publicitária, temas variados podem ser valorizados por dife- rentes tipos de composição, tendo em vista que ela é um recurso por meio do qual o consumidor é levado a identificar seus desejos e necessidades, mani- festados nos produtos anunciados. A fotografia é produzida pelo profissional de criação com o objetivo de levar o receptor de sua mensagem a acreditar e se identificar com os valores e atributos apresentados/representados por inter- médio da imagem fotográfica, de modo a desencadear sua mente um processo de reconhecimento de elementos que despertem significações que possam conduzi-lo ao processo de compra, de consumo daquilo que foi anunciado. A imagem fotográfica consiste em um conjunto de escolhas do fotógrafo, as quais também dependem da interpretação por parte de outras pessoas, de forma que contribuam para o entendimento do objeto fotografado. Essa realidade interpretada se refere a uma outra realidade que existiu e que foi capturada e transformada pelo ato fotográfico, visando a transmitir uma mensagem de natureza persuasiva, comercial, tratando-se, então, de fotografia publicitária. De acordo com Laham e Lopes (2005, p. 118): A fotografia publicitária deve comunicar seus conceitos e pretensões de ma- neira a despertar sentimentos, emoções e reações pré-estabelecidas. Ela leva consigo a responsabilidade de ligar a mensagem elaborada na imagem com a mente do seu público-alvo. A tarefa não é tão simples quanto parece. Para que a mensagem faça efeito através da fotografia, deve-se transladar do olhar, da produção fotográfica ou premeditação, os elementos visuais significativos para uma superfície fotossensível. Há uma grande diferença entre fazer uma foto e um simples clique no disparador. Não se trata de apenas reproduzir, de “bater uma foto”, mas de criar, de tornar visíveis e decodificáveis conceitos e mensagens diversas, específicas, subliminares entre outras. Para que a linguagem fotográfica na área da publicidade possa combinar com eficiência uma mensagem do ponto de vista da recepção de massa com credibilidade e sedução, ela precisa ter algumas características e atender a alguns critérios. A partir dos elementos que a compõem, a fotografia é lida como um todo, uma vez que esses elementos se unem para comunicar algo. Na 5Fotografia publicitária prática, é, em grande parte, do ponto de vista do fotógrafo, de sua capacidade para selecionar e dispor os elementos de uma fotografia, que é possível que a composição atenda da melhor forma aos objetivos a que se propõe. Um dos elementos mais críticos para que a composição seja considerada boa é a escolha do local em que a fotografia será feita, pois mesmo uma alteração mínima pode alterar a sua estrutura e equilíbrio. Para obter uma composição adequada e com qualidade, são necessários alguns cuidados, como: observar o mundo em volta com um olhar diferente, explorando suas várias possibilidades; verificar as possibilidades do enquadramento; excluir os detalhes irrelevantes ou desnecessários; preencher os limites do visor com aquilo que realmente comunica; e definir o formato da fotografia de acordo com o tema. Para que a fotografia publicitária alcance seus propósitos, deve ser plane- jada intencionalmente, permitir o controle de luz e, mesmo que nem sempre represente a realidade, despertar o desejo de consumir em quem a vê, de forma a vender uma ideia, produto ou serviço. Além disso, deve seguir o layout definido pelo diretor de arte e requer um tratamento de imagem minucioso, visando à perfeição. Ela deve ser impactante e destacar tanto a beleza quanto a qualidade do produto, e, para ser produzida, é necessário que o fotógrafo tenha experiência, conhecimento e talento. A construção de uma imagem fotográfica na publicidade demanda um esforço para ela que transmita uma mensagem específica, forte, clara, sedutora. Embora se tenha o conceito de que uma imagem fala por si mesma, geralmente ela vem associada a outros elementos da publicidade que a complementam, de modo a conduzir o sujeito a uma interpretação específica para a criação de um significado pretendido. Entre esses elementos, destacam-se: chamada, título ou headline (texto com a ideia central, transmitida/escrita de forma persuasiva), corpo do texto, texto ou bodycopy (texto que justifica e embasa a ideia central, em geral curto e de fácil leitura), slogan (frase de impacto, em geral curta e de fácil memorização, que identifica um posicionamento perante o consumidor), assinatura (marca da empresa ou organização que financiou a produção da peça publicitária). A fotografia publicitária envolve a estrutura social na qual estamos inseridos e, por isso, traz consigo um certo grau de complexidade. É capaz de expressar muitas coisas ao mesmo tempo, pode surpreender, cativar, comover, emocionar, motivar, transmitir ideologias, buscando que aquela imagem se torne pessoal para cada um, sempre com o intuito de prender a atenção das pessoas, visando ao consumo. Dessa forma, para chegar a esse nível de convencimento, ela age em níveis inconscientes e subconscientes para criar os desejos e forma de os satisfazer. A fotografia publicitária geralmente é feita sob encomenda, ou seja, é uma prestação de serviço que abrange diversas áreas (turismo, moda, gastronomia, Fotografia publicitária6 de produto ou marca, lifestyle, e muitas outras) e é utilizada comercialmente em mídia impressa, peças promocionais, ou qualquer outro veículo de divulgação. O profissional precisa utilizar seu talento, sua técnica, além de dispor de recursos para sua realização, uma vez que a fotografia publicitária é exigente, é mais sofisticada, precisa de produção. Também requer equipamentos fotográficos diferenciados, estrutura de estúdios, de material sensível e de processamento, e, geralmente, de cachês, o que a torna mais cara. É o tipo de recurso utilizado que determina o orçamento necessário, com um custo maior ou menor. O orçamento pode ser fechado (ou seja, aprovado com determinado valor, sem custos adicionais) ou aberto (quando o fotógrafo apresenta o custo de seu preço, isto é: o valor dos seus honorários acrescido da remuneração pela concessão do uso da foto; despesas de produção, cachês de modelos, filmes, laboratório). As fotografias publicitárias podem ser analógicas, digitais ou uma combinação de ambas. Embora as fotografias analógicas não tenham a instantaneidade como as de câmeras digitais, ainda são preferidas por muitos fotógrafos, pois muitos artistas e movimentos de arte (como o Surrealismo e o Impressionismo) inspiraram e inspiram fotógrafos até hoje. Já a fotografia digital oferece recursos ligados às tecnologias contemporâneas, que oferecem inúmeras e inovadoras possibilidades ao trabalho do fotógrafo, apresentando muitos recursos de melhoria e edição. O artigo científico Notas sobre a fotografia analógica e digital, de Antonio Fatorelli, publicado na revista Discursos Fotográficos, em 2017, da Universidade Estadual de Londrina, aborda a dinâmica associada à dupla articulação da imagem fotográfica, simultaneamente referida a uma condição de mundo e ao seu próprio modo consti- tutivo, identificando as singularidades apresentadas pela produção fotográfica con- temporânea, analógica,e digital do ponto de vista dos acadêmicos que acompanham essa trajetória evolutiva. Para ler o artigo completo, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/WLELi As campanhas publicitárias e o papel da fotografia Uma campanha publicitária é criada e planejada por profi ssionais de publicidade e no contexto de uma agência da área. Ao falar em campanha publicitária, é 7Fotografia publicitária preciso que fi quem claros alguns dos requisitos para que ela seja considerada como tal, sendo o mais importante que ela seja composta por várias peças publicitárias — não apenas uma única —, que serão veiculadas em mídias diversas. Uma das suas principais características é que, não importa qual seja a ação desenvolvida ou o meio explorado, a mensagem deve ser a mesma, deve ter uma unidade, ajustada às características de cada mídia. As peças pelas quais é constituída devem preservar um elo, uma identidade entre si. Deve haver uma uniformidade na área editorial com os textos, bem como na área visual, de maneira que haja sinergia entre eles, com o objetivo de fortalecer a mensagem e, assim, aumentar o impacto da campanha. A campanha pode ser feita pela produção e veiculação de peças em diversos meios de comunicação de massa (televisão, jornais, revistas) ou segmentados (mala direta, folhetos, panfletos e outros), que serão utilizados sempre de acordo com um planejamento prévio de ações, embasado em pesquisas de mercado feitas com antecedência e que permitam tomar decisões com segurança. É esse planejamento, no qual são escolhidas as estratégias adequadas, que fornece as chances de se otimizar os resultados esperados. Ao trabalhar para uma determinada marca, produto e/ou serviço, pode-se fazer o planejamento para apenas uma campanha ou para várias ao longo de um período determinado, tendo em vista que as peças se comunicarão com seus públicos em ocasiões diversas e com objetivos distintos, mas tendo sempre em mente que a identidade deve ser mantida e preservada ao elaborar as peças, sejam estas destinadas a campanhas institucionais, campanhas promocionais, datas comemorativas ou outras. Nesse contexto, sendo a publicidade uma atividade extremamente estraté- gica, deve utilizar da imagem pelas suas características e pela sua capacidade de “falar por si própria”, que permite identificação e reconhecimento de atributos e valores da marca, produto/serviço, e lidar com a fotografia publicitária da forma mais criativa possível, de modo a gerar impacto no público. A fotografia, com as imagens que mostra e com as mensagens que transmite, utilizando suas estratégias multifacetadas, prende a atenção do público, muitas vezes não só o cativando, mas também influenciando sua decisão imediata. A imagem/fotografia tem poder e força em praticamente todas as mídias, desde a revista e o jornal, com sua seriedade e credibilidade, e pelo fato de serem referenciais em várias áreas, como comportamento, saúde, moda e te- máticas das mais variadas, aos os panfletos, com suas possibilidades criativas, até o painel de rua com sua flexibilidade e impacto instantâneo. A inserção de imagens/fotografias constrói sentidos e referências que comunicam as mensagens de forma cada vez mais integrativa e eficiente. Fotografia publicitária8 Atualmente, a cultura visual faz da fotografia publicitária um elemento fundamental em qualquer campanha. A perspectiva de mostrar a forma, o ato, ou ação, consiste em um atrativo, um convite que gera a curiosidade de saber mais, conhecer o que está sendo transmitido. Isso ocorre porque a força da imagem, independentemente do veículo e do apelo ao consumo que utiliza, será sempre uma grande aliada da publicidade e de suas diversas maneiras de comunicar. A utilização de fotografias/imagens em campanhas publicitárias ao longo do tempo, além de despertarem curiosidade e desejo de consumo, também se engajaram socialmente e abordaram temas relevantes, muitas vezes causando polêmicas, reflexões e debates sociais. Fonte: Comercial... (2016, documento on-line). Mamíferos da Parmalat No ano de 1996, a Parmalat lançou uma campanha marcante: crianças entre 3 e 4 anos vestiam roupas de pelúcia de diversos animais, como leão, rinoceronte, gato, cachorro, entre outros. A campanha era unificada em torno dessa temática e contou com um jingle muito envolvente, criado na DM9DDB por Erh Ray e Nizan Guanaes. No ar por três anos, a campanha chamou a atenção de crianças e pais e não contou somente com o vídeo. Na época, foram distribuídas pelúcias dos mamíferos da Parmalat para quem juntasse um determinado número de códigos de barra de produtos da marca. Um detalhe, os bichos vinham segurando uma caixinha de leite Parmalat. Em 2015, a campanha foi reeditada. Repercussão: a campanha teve tanto sucesso que muitas crianças fizeram ensaios fotográficos vestidas de bichinhos, assim como as crianças do comercial. Além disso, a empresa conseguiu aumentar seu faturamento anual de 38 milhões de reais para 1,87 bilhão. (Continua) 9Fotografia publicitária Para realizar uma campanha publicitária em que fotos estejam presentes, é preciso analisar quais são as mídias e os canais de comunicação que darão suporte à campanha publicitária. Também conhecidas como fotografias co- merciais, essas fotos são utilizadas pelas marcas com a finalidade de transmitir visualmente os seus valores e o propósito da campanha. Com o objetivo de desenvolver uma boa campanha e alinhar as fotografias publicitárias, é preciso definir e apresentar um conceito, que é a mensagem que se quer transmitir, e um tema, que é a forma como esse conceito será apresentado. Ambos, conceito e tema, deverão estar em sintonia fina com a identidade, os valores e as condutas da marca/produto/serviço. Fonte: Camargo (2018, documento on- -line). A natureza não pode se adaptar a tudo A campanha publicitária brasileira sobre o alerta ambiental está entre as melhores do mundo. Todas as fotos/cenas fazem parte das peças publicitárias da agência capixaba Avalanche Vitória, criadas para a marca de roupas e acessórios Origens, também do Espírito Santo. A campanha, com o slogan “A natureza não pode se adaptar a tudo”, quer chamar a atenção das pessoas sobre o cenário de devastação e poluição que tem tomado conta do planeta. Fonte: Silva (2018, documento on-line). Marcas aliadas Em 2018, na premiada campanha Marcas aliadas, criada pela F/Nazca, a Skol resolveu “doar” o “L”, última letra de seu nome, em prol da causa LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer e +, que abrange pansexuais, assexuais, multissexuais e outras denominações). A marca também promoveu a doação de valores para ONGs que apoiam a luta contra o preconceito. Outras companhias entraram na campanha e fizeram suas doações. Assim, Burger King cedeu seu “G”, Bis, seu “S”, Trident, seu “T”, e Quem disse, Berenice?, seu “Q”. Todas as imagens seguiram esse conceito/tema. (Continuação) Fotografia publicitária10 Na sociedade contemporânea, o grande diferencial é que o público, em par- ticular os consumidores, está se envolvendo mais com suas marcas preferidas, o que ocorre devido à existência das novas plataformas digitais e das redes sociais. Por isso, é preciso manter-se fiel à marca, a seus valores e ideais, e conhecer muito bem o seu público, para desenvolver uma boa campanha publicitária. Os objetivos da campanha são variáveis e devem prestar atenção aos seguintes pontos: a mensagem precisa atingir o público-alvo, deve ser compreendida por ele e a ideia que é transmitida precisa estimular os receptores a agirem de uma determinada forma, que leve à resposta esperada pela mensagem. A partir daí, o planejamento pode ser feito com mais clareza: é preciso avaliar as oportunidades de comunicação, traçar as metas, esclarecer o que está sendo promovido, criar um conceito único, desenvolver uma identidade visual atrativa e analisar a eficiência da campanha. Todas essas ações devem ser,precedidas por um briefing de qualidade que agrupe as informações e oriente o trabalho que será realizado. Prática comum aos designers, publicitários, editores de vídeo e fotógrafos, o briefing dá subsídios para o desenvolvimento das atividades e é realizado junto ao cliente. O briefing precisa contemplar vários aspectos, como descrito a seguir: a descrição sobre o cliente, a marca, o produto/serviço; o conceito ou a ideia central do produto a ser desenvolvido — nesse caso, a fotografia publicitária e os objetivos da campanha; a mídia em que será veiculada e como ela pode afetar os elementos técnicos, como a resolução da imagem (jornal, revista, outdoor, site e mídias sociais, como Instagram, Facebook e Pinterest); e se existem materiais de referência para a produção da fotografia, como outras campanhas, por exemplo. O passo seguinte é o planejamento da produção da fotografia e dos ele- mentos essenciais, como o cenário, os personagens (atores ou outros que sejam necessários), o clima e a iluminação adequados, para que o resultado seja satisfatório. É sempre importante lembrar que, dependendo dos objetivos da campanha, os elementos (cada um deles) poderão sofrer variações, assim, envolver o cliente nessa etapa pode fazer muita diferença e evitar retrabalhos. Além disso, é esse planejamento que determinará o melhor dia e momento para a execução da fotografia, bem como qual a câmera ideal para fazê-la. Após a execução das fotografias, que geralmente são em um bom número, é hora de selecioná-las, escolhendo as melhores e mais adequadas para começar a pós-produção, usando a criatividade para incluir elementos necessários e 11Fotografia publicitária importantes para a campanha. É a pós-produção que garante a conexão da fotografia publicitária com a proposta da campanha. Nessa etapa, podem ser incluídos na fotografia aspectos que não estavam presentes durante a sua realização, tais como slogans, logotipo e tratamentos fotográficos (montagens, colorização, filtros, pontos de luz, entre tantos outros). Devem ser elaboradas duas ou mais propostas para a escolha e a aprovação do cliente, e, após, são feitos os ajustes finais, dando não só acabamento profissional, como também destacando o que é realmente essencial à campanha. No mundo contemporâneo, cada vez mais regido por imagens, são muitas as empresas que recorrem à utilização da fotografia publicitária como um dos seus principais instrumentos midiáticos. Essa escolha possivelmente é decor- rente do poder das imagens, da “magia” atrelada à produção de um conteúdo estético, imagético, sedutor e persuasivo. Nesse sentido, os elementos contidos na fotografia estão geralmente vinculados a uma ou a diversas significações, as quais penetram na mente do consumidor, mobilizando-o em direção ao que está sendo oferecido. A fotografia, particularmente a publicitária, comunica e dá ênfase à men- sagem, por isso é muito requisitada, devido ao seu grande poder persuasivo sobre o receptor e por causar uma interação rápida assim que ele é exposto à imagem, gerando aceitação e o sucesso da campanha. Para quem está iniciando na área e precisa de mais conhecimento e exemplos, é importante conhecer os melhores profissionais e o que eles colocam acerca do seu trabalho. O serviço on-line Canva disponibilizou um artigo em que estão listados 40 dos maiores fotógrafos brasileiros, com uma pequena apresentação e fotografias produzidas por cada um. O artigo completo está disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/2ya3y O Canva é uma das ferramentas de criação de conteúdos gráficos mais simples de se utilizar entre as existentes. Se você não domina o Photoshop, essa ferramenta poderá ser ainda mais valiosa para a produção de conteúdos atrativos e cativantes. Acesse o site do Canva, disponível no link a seguir: https://qrgo.page.link/X3Q6s Fotografia publicitária12 A fotografia na era digital Se o princípio da câmera fotográfi ca já estava pronto na Idade Média, a fotogra- fi a como registro técnico dessa imagem encontrou a primeira solução viável a partir do século XIX, com a descoberta de materiais sensíveis à luz, que, após sua exposição, eram submetidos a um processo químico de revelação. Assim, o olhar da humanidade sobre o mundo e sobre ela mesma se transformou e nunca mais seria o mesmo. Sabe-se que fotografar sempre atraiu grande número de pessoas, tornando- -se um hábito na sociedade, de forma mais acentuada em algumas cultura e grupos sociais do que em outras, mas presente na maioria delas. A fotografia, ao congelar em um intervalo de tempo algo que pode ser visto, sempre esteve relacionada com um registro de memória. Tendo em vista a questão da pre- servação da memória e as lembranças que a fotografia desperta, tornou-se um objeto que, além de colecionável, pode ser compartilhado. Já nos anos 1990, a tecnologia desenvolveu-se, e a indústria criou equipa- mentos inovadores: melhores lentes e filmes, flashes, fotômetros e dispositivos eletrônicos de captura de imagens, capazes de satisfazer quaisquer necessidades de fotógrafos e produtores. Isso contribuiu para consolidar o século XX como o século das imagens, proporcionando um excesso visual ao qual a sociedade jamais havia presenciado. No mundo contemporâneo, as transformações são maiores e mais rápidas, e, há algum tempo, o processo de fotografar e revelar de forma analógica vem sendo substituído pelo processo digital de captura de imagens. Esse processo é similar ao da fotografia tradicional, porém, na fotografia digital, a luz sensibiliza um sensor que, por sua vez, converte a luz em um código eletrônico digital, uma matriz de números digitais (quadro com o valor das cores de todos os pixels da imagem), que será armazenado em um cartão de memória (TARGA, 2011). As imagens podem ser visualizadas no ato por meio dos recursos da câmera digital, normalmente por uma tela de LCD. Diferentemente das imagens da fotografia convencional ou analógica, as imagens digitais podem ser manipuladas por computador, utilizando software e editores de imagens. 13Fotografia publicitária Em 2008, surgiram tecnologias para a construção de sensores de imagens, que podem ser CCD (do inglês charge-coupled device) ou CMOS (do inglês complementary metal- -oxide-semiconductor). Conheça mais sobre esse tema no artigo disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/D462g Outra questão relevante é o custo. Mesmo com as câmeras digitais custando bem mais do que as câmeras tradicionais, é bem mais barato trabalhar com a fotografia digital, visto que elimina os custos de material e revelação. Os formatos médios, bastante populares na fotografia de estúdio e publicidade, são boas alternativas, porém, quando se trata de câmeras para chapas de filmes de grande formato (fotografia de arte e de natureza), ainda são raras as opções digitais viáveis. A fotografia digital permite a ocorrência de dois fenômenos: em primeiro lugar, há a produção de um número muito maior de fotos; em segundo, a di- vulgação é maior e mais rápida, uma vez que podem ser enviadas digitalmente cópias idênticas e gratuitas dos arquivos, seja por memória USB, disco ótico ou rígido, ou e-mail, assim como também é simples e geralmente gratuito publicá-las na Web. Outra facilidade é que todas as fotos armazenadas em cartões de memórias das máquinas fotográficas digitais poderão, mais tarde, ser transferidas para o computador ou para outros dispositivos, permitindo um sem número de cópias. Além disso, esses dados poderão ser transferidos diretamente para uma impressora, gerando uma imagem em papel sem a utilização de um computador. Ao transferirmos as fotografias/os dados para fora do cartão de memória, este poderá ter seu conteúdo apagado e, então, ser reutilizado várias vezes, com o mesmo procedimento. Com a possibilidade de edição digital das imagens, surgiram e aprimo- raram-se vários programas de edição. Entre os mais famosos está o Adobe Photoshop,,considerado um dos melhores entre os disponíveis no mercado, o qual possui recursos que atendem à produção e à edição de fotografias 3D. É distribuído em duas versões: a comum (contém os principais recursos do programa e é a mais utilizada) e a estendida (possui alguns recursos a mais, como o suporte à edição 3D, e um recurso de edição básica de vídeos). O Fotografia publicitária14 Photoshop Elements vem instalado de fábrica em alguns computadores da Sony. O Corel PhotoPaint tem uma grande quantidade de efeitos rápidos para fotografia e permite ajustes rápidos na imagem. O Gimp está ligado ao Linux e tenta rivalizar com o Photoshop, mas é muito diferente e se torna confuso para o usuário acostumado com o Adobe. O Photoscape pode ser utilizado para navegar pelas imagens do computador, ajustando-as conforme a necessidade, bem como pode ser utilizado por profissionais ou amadores. Alguns desses software têm um custo relativamente alto, ao passo que outros são gratuitos, e é preciso dizer que existem muitos outros, fora os mencionados. Com a possibilidade de edição digital das imagens, surgem algumas ques- tões éticas acerca da utilização da fotografia. No jornalismo, a manipulação é malvista, pois, se antes a foto era confiável — o fotógrafo podia mentir, no entanto, atualmente, com a necessidade de pós-processamento, ocorre o inverso —, agora a foto pode ser mentira, e é o fotógrafo, com sua reputação, que dirá se ela é verdadeira ou não. Na publicidade, a perspectiva é diferente. Na primeira metade do século XX, a fotografia publicitária surgiu primei- ramente atada aos interesses comerciais. Apenas reproduzia visualmente o produto anunciado, porém, em pouco tempo, passou a veicular uma série de significados que, muitas vezes, não se encontravam no objeto fotografado. Surge, então, a consciência de que o valor simbólico da fotografia no mer- cado publicitário é tão importante quanto sua capacidade de apresentar uma reprodução fiel do produto. Barthes (2012), em sua obra A câmara clara, afirma que a manipulação da fotografia está atrelada a diversos propósitos, estabelecendo uma correspon- dência entre dois processos óticos de reprodução da imagem. Em um deles, quando a imagem é copiada pela mão do homem, apresenta-se a manipulação, que ele chama de câmara clara; no outro, a imagem é reproduzida mecani- camente, não há a interferência do homem, que ele chama de câmara escura. No entendimento de Barthes (2012), os conceitos sobre a câmara clara são inerentes à publicidade, uma vez que a manipulação de uma imagem fotográfica pode enriquecer uma peça publicitária, visando a atingir seus objetivos. Para ele, a teoria da câmara clara sempre foi o método mais utilizado pelos meios de comunicação de massa e permite o entendimento de que a fotografia deve ser potencializada e/ou complementada ao protagonizar uma mensagem, uma campanha. Essa intervenção é fundamental para a construção da imagem ideal e da linguagem, necessárias para uma ação comunicativa. Dessa forma, a fotografia publicitária precisa comunicar seus objetivos e conceitos para despertar as emoções, os sentimentos e as reações pré-estabelecidas. 15Fotografia publicitária Susperregui (2010, p. 154) observa que, na perspectiva do fotógrafo Walter Nurnberg, o modelo da fotografia resulta de certas pautas de comportamento que estão orientadas pela interpretação da ideia do diretor de arte, traduzida o mais fielmente possível em uma representação visual concreta. Deve estar sempre presente no trabalho do fotógrafo o objetivo de comunicação da peça publicitária. Na visão de Eguizábal (2011, p. 11-12): [...] a fotografia publicitária é resultado da fusão da fotografia artística, do- cumental e da moda. Contudo, diferente das outras, essa visa atender aos interesses do mercado. Para isso, em alguns momentos, ela é meramente informativa, mostra o produto ou forma de uso de maneira direta; em outros, explora o potencial estético do objeto ou recorre às metáforas e poética para valorizar o produto de forma indireta, simbólica. As tecnologias contemporâneas oferecem um campo fértil para inovações e diferentes experiências estéticas com essas duas possibilidades de pensar a foto publicitária. É indiscutível o fato de que a maioria das fotografias pu- blicitárias, praticamente todas, tem algum tipo de alteração digital (pode ser uma alteração de cores ou mesmo a mudança radical de uma cena). Em geral, é comum a direção de arte publicitária recorrer às técnicas de manipulação da imagem sem questionar as implicações éticas que resultam dessa prática. No entanto, muitas organizações, e mesmo a sociedade em geral, têm criticado determinados tipos de manipulação nas fotografias, propondo uma reflexão sobre o limite entre a liberdade criativa e a ética na publicidade. Em 2010, por exemplo, foi aprovado um projeto apresentado pelo De- putado Wladimir Costa “[...] que trata da obrigatoriedade de inserção, em peças publicitárias que possuam imagens que tenham sido modificadas com o intuito de alterar características físicas de pessoas”, da seguinte mensagem: “Atenção – imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retra- tada” (CARDOSO, 2012, p. 56). O autor do projeto afirma que o processo de comunicação publicitária cria uma ideia falsa de que a perfeição pode ser adquirida por meio do consumo, o que concretiza a ação sedutora da publici- dade, e essas representações exercem influência no padrão de beleza, o que acaba acarretando, entre outras coisas, em problemas de saúde pública. Em decorrência disso, é preciso refletir sobre a utilização desses recursos digitais, nas dimensões ética e criativa, na manipulação das fotografias utilizadas na comunicação publicitária. Fotografia publicitária16 O uso de drones como uma evolução na foto publicitária O avanço da tecnologia não só permitiu o surgimento das câmeras e fotos digitais, como também combinou a elas outro recurso, que não só encanta e seduz, como proporciona resultados antes inimagináveis: o drone. Nos últimos anos, o desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados, conhecidos como drones, que, anteriormente, eram vistos apenas em fi lmes, tornou-se uma realidade acessível e presente na rotina das pessoas em geral. Os drones são equipamentos encontrados em muitas versões, sendo que aqueles utilizados para a captura de fotografi a e vídeo geralmente possibilitam material de alta qualidade. Esses equipamentos apresentam muitas vantagens: são pequenos, práticos e transportáveis; ao voar em baixas altitudes, são silenciosos; são excelentes para manobrar, tanto em espaços restritos e/ou fechados quanto em espaços amplos; apresentam alta tecnologia e alcance, proporcionando fotos e vídeos aéreos de grande qualidade. Os drones são capazes de, por meio de movimentação perfeita nas fi lmagens, possibilitar ângulos antes inimagináveis, devido a um sistema de estabilização que garante que, apesar das possíveis variações durante o voo, as imagens captadas sejam perfeitas. Assim, eles se tornaram uma interessante opção para profi ssionais que trabalham com imagens e audiovisuais, pois possibilitam a criação destes com muita agilidade e independência, permitindo sua diferenciação nos mercados fotográfi co e publicitário. As ações desenvolvidas utilizando esse recurso, quando bem executadas, são bastante mencionadas em diversas mídias on-line. O uso de drones trouxe relevância para as imagens aéreas na área da foto- grafia digital, representando uma grande evolução na fotografia publicitária. Na sociedade contemporânea, um grande diferencial para os profissionais é sua atuação com os drones, pois permite que se destaquem no mercado e consigam clientes e trabalhos diferenciados e exclusivos, ficando à frente da concorrência. A popularização dessa tecnologia e a sua utilização por parte das agências de propaganda e produtoras de fotografia e vídeos publicitários fez crescer a demanda por seus trabalhos.,No entanto, para trabalhar com drones, é preciso ter noções técnicas a respeito de seu funcionamento e sua operacionalidade e acerca da legislação que, desde 2017, a ANAC aprovou para regulamentar sua utilização (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial – RBAC –E nº. 94), visando não apenas a tornar viáveis as operações com esse equipamento e preservar a segurança das pessoas, mas também a contribuir para “promover o desenvolvimento sustentável e seguro para o setor”. 17Fotografia publicitária O que é um ensaio de campanha fotográfica? Assista ao vídeo da fotógrafa publicitária Carol Langanke, que aborda a temática sobre a diferença entre um ensaio promocional convencional e um ensaio de campanha fotográfica, bem como sobre a sua experiência na área, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/3E37o Michel Téo Sin, fotógrafo publicitário Assista ao vídeo do fotógrafo publicitário Michel Téo Sin, especializado em fotografia gastronômica e dono de estúdio fotográfico, falando sobre sua experiência, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/NYqTX Fotografia Still | Dica para fotos de estúdio com Richard Cheles– Como Posicionar Produtos O fotógrafo profissional Richard Cheles mostra uma técnica com a qual é possível fotografar produtos sem sombra ou reflexo e como posicionar produtos pequenos e com formatos peculiares. Assista ao vídeo, disponível no link a seguir: https://qrgo.page.link/LV2fX BARTHES, R. A câmara clara. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2012. BRASIL. Agência Nacional da Aviação Civil. Regulamento brasileiro de aviação civil especial – RBAC-E nº. 94. Disponível em: https://www.anac.gov.br/assuntos/legisla- cao/legislacao-1/rbha-e-rbac/rbac/rbac-e-94/@@display-file/arquivo_norma/RBA- CE94EMD00.pdf. Acesso em: 12 set. 2019. CAMARGO, S. Campanha publicitária brasileira sobre alerta ambiental está entre me- lhores do mundo. Conexão Planeta, 2018. Disponível em: http://conexaoplaneta.com. br/blog/campanha-publicitaria-brasileira-sobre-alerta-ambiental-esta-entre-melhores- -do-mundo/. Acesso em: 26 ago. 2019. CARDOSO, J. B. F. O limite entre a ética e a criatividade: a manipulação da fotografia digital na publicidade. Comunicação & Inovação, v. 13, n. 24, p. 55-64, 2012. Disponí- Fotografia publicitária18 vel em: https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/article/ view/1627. Acesso em: 26 ago. 2019. CHALKBOARD buffet diy. Blog Scavenger Chic, 2015. Disponível em: http://scavengerchic. com/2015/07/30/chalkboard-buffet-diy/. Acesso em: 26 ago. 2019. 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Neste capítulo, você vai conhecer os pioneiros da fotografia e verificar como as suas invenções modificaram a forma de as pessoas verem e obterem conhecimento por meio da imagem. Além disso, para que você se familiarize com o universo fotográfico e as diversas possibilidades de atuação e expressão que ele oferece, você vai conferir diferentes tipos e usos da fotografia no mundo contemporâneo. Por fim, você vai estudar a relação da fotografia com duas importantes áreas da comunicação: o jornalismo e a publicidade. A história da fotografia A invenção da fotografi a alterou a percepção das pessoas sobre o seu próprio tempo, sobre lugares longínquos, sobre elementos distantes no espaço e tam- bém sobre a imagem microscópica. Assim, conhecer a história da fotografi a é compreender como uma tecnologia foi capaz de modifi car a estética e a percepção humanas. A história da fotografi a é a base para futuras invenções, como o cinema, a televisão e os meios digitais atuais. Câmara escura A origem da câmara escura é desconhecida. Alguns dizem que os chineses foram os primeiros a usar uma projeção em uma sala escura. Há também quem diga que o fi lósofo Aristóteles teria observado o efeito da câmara escura no apogeu do pensamento grego, ainda na Antiguidade Clássica. O primeiro registro da câmara escura é datado do século XVI e foi descrito pelo cientista italiano Giambattista della Porta. Em seu estudo, ele descreve a utilização de uma câmara escura com uma lente. A ideia logo foi absorvida por pintores italianos em sua busca por potencializar,o realismo; a projeção das imagens poderia ir além das habilidades e do talento do artista. O efeito da projeção interna em ambientes gerado pela câmara escura foi retomado recentemente no trabalho do fotógrafo Abelardo Morell. Na Figura 1, a seguir, você pode ver os componentes de uma câmara escura. Figura 1. Câmara escura. Fonte: Adaptado de Designua/Shutterstock. Os inventores da fotografia Em 1727, o professor de anatomia alemão Johann Heinrich Schulze apresentou evidências científi cas de que o escurecimento do sal de prata era causado pela luz, não pelo calor. O escurecimento da prata era um fenômeno conhecido desde o século XVI, porém, ao utilizar a luz solar para fi xar a imagem, Schulze deu um primeiro e importante passo para a invenção da fotografi a. Devido a ele, constatou-se que os átomos da prata geram a formação de compostos e cristais que reagem de forma sensível e controlável à energia luminosa. Fotografia2 Mais avanços foram feitos por um jovem inventor francês chamado Ni- céphore Niépce, interessado em experiências ópticas e químicas. Niépce buscava em suas pesquisas um método automático (sem intervenção humana) de copiar um desenho a traço nas pedras de litografia. Niépce utilizava uma solução química denominada “betume da Judeia”, que possui a propriedade de endurecer com a exposição à luz. Assim, as partes protegidas pelo traço do desenho ainda continuavam solúveis; ao lavar a chapa, era possível remover o betume solúvel, criando uma imagem em negativo. Dessa forma, uma espécie de carimbo era feito a partir de um desenho. Niépce chamou esse novo processo de heliogravura (o termo grego helios significa “sol”). Na sequência, o jovem inventor decidiu implementar a câmara escura nesse mesmo processo, substituindo a reprodução de um desenho pela realidade. Assim, ao final de 1826, colocou uma de suas chapas revestidas de betume no interior de uma câmara escura. Em 1827, Niépce apontou a sua câmera para o quintal de sua casa em Gras, no sul da França. A exposição durou oito horas, registrando toda a movimentação do Sol. Essa foi a primeira imagem registrada sem a intervenção mecânica; o resultado foi uma imagem impossível de ser vista. Porém, era apenas o início do trabalho. Niépce tentou utilizar diversos outros materiais sensíveis à luz e divulgou as suas descobertas nos circuitos científicos franceses. Em outro lugar da França, trabalhava Louis-Jacques-Mandé Daguerre, um empresário do entretenimento e criador de espetáculos de ilusão. Ele criou, por exemplo, o diorama, que reunía grandes audiências ávidas por experiências visu- ais em pequenos salões parisienses. O diorama era um espetáculo moderno, com pouca necessidade de material humano, em que se exibiam pinturas em grandes proporções de cenas históricas e lugares famosos. Com uma troca de iluminação, um efeito de alteração da imagem era acompanhado de sons e intensificado por atores propositalmente posicionados para dar a ilusão de movimento. Ao ter conhecimento da invenção de Niépce, Daguerre enviou a ele uma carta mostrando interesse em gravar imagens. No mesmo ano, eles se encon- traram pela primeira vez: Niépce, com 64 anos, e Daguerre, 22 anos mais jovem, sem conhecimento algum em ciência, mas um pintor e cenógrafo talentoso. Os dois trocaram correspondências nos quatro anos seguintes, compartilhando experiências. Niépce faleceu em 1833 e Daguerre continuou o desenvolvimento do novo processo fotográfico. Em 7 de janeiro de 1839, ele apresentou na Academia Francesa de Ciências o daguerreótipo, recebido com espanto. Esse momento marcou o início do que você conhece por fotografia. Daguerre havia solucionado um dos maiores desafios da ciência, que era fixar uma imagem de maneira permanente e com a qualidade de uma pintura 3Fotografia realista. O sistema do daguerreótipo é muito diferente do utilizado atualmente, porém conhecê-lo dá ideia do longo processo químico e físico envolvido na invenção. O daguerreótipo tem como base uma chapa de cobre que é revestida com uma fina camada de prata, polida até ficar como uma espécie de espelho. A sensibilização da chapa é obtida ao se colocar a face de prata voltada para baixo sobre um recipiente com cristais de iodo. Nesse recipiente fechado, o vapor do iodo reage com a prata e assim forma o iodeto de prata, que é um elemento controlável e com sensibilidade à luz. Essa chapa era inserida na câmara escura e permanecia sem nenhum contato com a luz. Ao se abrir o controle de entrada de luz (obturador), a placa gravava a imagem, uma alteração invisível para o olho humano. A chapa era retirada da câmara escura e colocava-se a placa, com a face de prata para baixo, em outro recipiente, agora com um fundo com vapor de mercúrio, que, ao ser aquecido, reagia com os grãos expostos de iodeto de prata. Assim, em todas as áreas atingidas pela luz, o mercúrio formava um amálgama (uma liga) com a prata. As junções nas ligas de prata produziam áreas de brilho intenso. Nas áreas não atingidas pela luz, não se gerava o amálgama; assim, o iodeto permanecia inalterado, passível de ser eliminado com um fixador de tiossulfato, com aparência preta, formando as áreas escuras da imagem. Observe, na Figura 2, Daguerre e a sua invenção. Figura 2. Louis Daguerre e uma ilustração do daguerreótipo. Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com. Fotografia4 A qualidade do daguerreótipo é notável até os dias de hoje (Figura 3). A impressão que se tem ao observá-lo é de que se trata de um espelho que preservou a imagem reproduzida, pois as áreas do iodeto mantêm a sua pro- priedade reflexiva. Outra percepção é a de que a imagem fica literalmente em baixo-relevo, gerado pelo mercúrio. São várias graduações do mercúrio que geram amálgama com a prata, criando uma escala de cinza quase infinita. Os tons de preto de um daguerreótipo são intensos, pois é apenas a placa de prata polida que, vista de determinado ângulo, não reflete luz. Figura 3. Imagem de um daguerreótipo de 1840. Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com. Na Inglaterra, 18 dias depois de o daguerreótipo ser levado a público, William Henry Fox Talbot (Figura 4) apresentou, na Royal Institution of Great Britain, um sistema fotográfico que permitia realizar cópias a partir de um negativo. Talbot utilizava há muito tempo a câmara escura em seus croquis e ilustrações. A sua experiência consistia em sensibilizar um papel (de gramatura fina) em uma solução de água e sal de cozinha. Após o papel secar, ele distribuía sobre a superfície uma solução com nitrato de prata e repetia várias vezes esse processo. Ele utilizava o mesmo fixador que Daguerre, o tiossulfato de sódio. 5Fotografia Após vários testes com silhuetas humanas e folhas, Talbot resolveu inserir essa folha com emulsão em uma câmara escura. Assim, ele gerou uma ima- gem em negativo, que, pelo processo de cópia-contato, gerou uma imagem positiva. Esse processo poderia ser repetido criando cópias a partir de um mesmo negativo. Em junho 1840, Talbot anunciou esse avanço revolucionário da reprodutibilidade da imagem a partir de uma técnica. Chamou-o de calotipia (kalos, termo grego, significa “beleza”, enquanto typos significa “impressão”). Figura 4. Fotografia de William Henry Fox Talbot. Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com. A questão da opção entre o daguerreótipo e o calótipo se manteve durante toda a evolução da imagem fotográfica. A diferença está na escolha entre a qualidade extraordinária da imagem do daguerreótipo e a possibilidade de reprodução do calótipo. Ou seja, está em jogo a escolha entre a qualidade e o poder de alcance da imagem. Esse duelo iria ser pauta novamente com o surgimento da imagem digital: câmeras com qualidade inferior, ou nas versões mobile (celular), são as mais vendidas pela possibilidade de compartilhamento e reprodução, em detrimento da busca da qualidade. Fotografia6 A partir de 1880, duas inovações na área da fotografia permitiram produzir uma,chapa seca com alta sensibilidade à luz. Elas eliminaram as chapas de vidros, os papéis com emulsão, os materiais com ovo, entre outros recursos rudimentares. A primeira emulsão com base gelatinosa que mantinha a sua sensibilidade mesmo após secar e ser aplicada em um suporte flexível pos- sibilitou o surgimento do filme fotográfico em rolo, que revolucionou o processo fotográfico. O grande inventor que teve como mérito inserir a fotografia no cotidiano das pessoas e, portanto, popularizar o seu uso foi George Eastman. A sua invenção se baseou no uso do equipamento fotográfico, que deveria deixar de ser artesanal, com processos complicados. Assim, ele criou o rolo de filme, baseado na emulsão de gelatina e brometo de prata. Mas a inovação não foi apenas o rolo de filme. O interessante foi a produção desse material em escala industrial, tornando-se comercializável e acessível aos fotógrafos amadores ou inexperientes. Para dar suporte ao filme, Eastman produziu uma câmera barata, simples de operar e leve para carregar. Com isso, em junho de 1888, criou a Kodak, inaugurando uma nova e revolucionária fase da fotografia. Observe a Figura 5, a seguir. Figura 5. Câmera Brownie da Kodak, de 1900. Fonte: Margoe Edwards/Shutterstock.com. A Brownie foi uma câmera cuja propaganda era voltada para o público infantil: um menino ou uma menina em idade escolar poderia operá-la. O icônico slogan da Kodak dizia assim: “Você aperta o botão, nós fazemos o 7Fotografia resto”. A ideia era que o fotógrafo amador, após utilizar o filme, retirasse-o da câmera como uma espécie de cartucho e o enviasse para a cidade de Rochester, um distrito industrial no estado de Nova Iorque. Ali, os filmes eram revelados e enviados para o fotógrafo junto com um novo rolo de fotos. Na história da fotografia, destaca-se ainda o fotógrafo francês Hercules Florence, que conduziu uma série de experimentos de registros de imagens no Brasil em 1833. A ele é creditada a criação do termo “fotografia” (pho- tographie). Em 1833, Florence trabalhou com papel sensibilizado com sais de prata para produzir impressões de desenhos; ele chamou esse processo de “fotografia”. No entanto, desde que conduziu seus experimentos no Brasil e em grandes centros científicos da época, suas contribuições foram perdidas; elas só foram redescobertas em 1973. O processo de Florence era, a princípio, semelhante ao de Talbot, e o seu uso consistia em copiar documentos e criar um papel inimitável, com o intuito de evitar fraudes e falsificações. Tipos e usos da fotografia contemporânea A seguir, você vai conhecer diversas possibilidades de uso da fotografi a no mundo contemporâneo, além de diferentes tipos de imagens. Abstrata: é um método de fotografia considerado uma forma artística de criar imagens. Expressa ideias, conceitos e emoções com uma imagem foto- gráfica. A intenção do fotógrafo não é criar uma foto tradicional ou realista. O espectador vê apenas representações de um objeto, cena, uma combinação de coisas ou elementos. O objetivo é instigar a sua imaginação. Aérea/drone: desde 1840, fotógrafos como Félix Nadar realizavam fotos aéreas e impressionavam o público com a visão de um pássaro. Com o advento dos drones, as imagens aéreas tornaram-se populares e criaram um segmento comercial próprio, sendo utilizadas por empresas, gestores públicos, urbanistas, entre outros. Analógica: a utilização de filme fotográfico em fotos tornou-se um tipo de fotografia a partir da revolução do mercado digital. No entanto, trabalhar com filmes não é apenas uma excelente maneira de se certificar de que você conhece as exposições por dentro e por fora; é também um modo de se assegurar de que cada imagem seja pensada e contada. Você não vê as imagens até mais tarde, o que o força a se tornar mais confiante e a fazer escolhas para as suas composições considerando cada momento e cada exposição. Arquitetura: é um ramo da fotografia com fins comerciais, editoriais e artísticos. A imagem de prédios, casas e outras estruturas arquitetônicas Fotografia8 deve considerar um planejamento visual. Nesse sentido, você deve pensar se utilizará lentes para corrigir distorções de perspectivas ou se fará ajustes de profundidade. O conceito deve ser coerente com a proposta arquitetônica e realçar os aspectos essenciais da obra. Astronômica: esse tipo de fotografia tem como tema os objetos astro- nômicos. A ideia é capturar imagens para além da Terra. Os fotógrafos de astronomia geralmente usam um telescópio e técnicas que lhes permitem fotografar temas como a Lua, os planetas, as estrelas e a Via Láctea. Esse tipo de fotografia é usado para prazer pessoal, ciência e mídia. Aventura: a fotografia de aventura ou ação é criada por seus participantes. É o ponto de vista subjetivo que torna as imagens interessantes. Esse tipo de fotografia normalmente mostra a emoção da aventura com momentos de tirar o fôlego. São imagens de escalada, snowboard, rafting, ciclismo ou caminhadas radicais. Esse tipo de fotografia é usado em blogs, publicidade, revistas de aventura e vida selvagem, além de ser disponibilizado em bancos de imagens. Banco de imagens: fotógrafos de bancos de imagens vendem e cedem os direitos de suas fotografias para empresas publicitárias e de conteúdo, que criam seus materiais a partir delas. Geralmente, são fotógrafos freelancers que gerenciam suas vendas e criam imagens conforme a demanda. Books: as imagens produzidas para um book devem realçar a modelo retratada e o seu comportamento. Os books são amplamente utilizados no mercado da moda, porém o seu uso foi ampliado para a fotografia social, com variações de books de 15 anos, infantis, entre outros. O fotógrafo deve compreender qual é a intenção do retratado e produzir imagens que sugiram um editorial de moda ou um comportamento. Boudoir: o termo boudoir é originário do francês e refere-se a um quarto para se arrumar e vestir-se. No contexto da fotografia, boudoir é um ensaio fotográfico que valoriza a beleza feminina em modelos profissionais ou ama- doras. A ambientação geralmente é intimista, visando ao conforto das modelos. Casamento: o casamento ainda é uma das principais fontes de ganho para os fotógrafos no Brasil. Atualmente, a fotografia é um elemento orçado em conjunto com a festa, o buffet e o vestido; ou seja, é um elemento indispensável para os noivos. Por isso, o mercado é concorrido e os fotógrafos devem buscar elementos inovadores para surpreender os clientes. É possível apostar, por exemplo, em ensaios na água, no topo de montanhas, entre várias estratégias para obter uma imagem memorável para o casal. Celular/mobile: atualmente, há fotógrafos especializados em criar imagens usando o telefone e os aplicativos de criação (apps) disponíveis. Na maioria dos casos, a fotografia por telefone com câmera serve para uso pessoal ou em 9Fotografia redes sociais. Porém, as lentes dos telefones com câmera melhoram a cada lançamento e, em alguns casos, rivalizam com câmeras Digital Single-Lens Reflex (DSLR) ou mirrorless. Científica: pesquisadores utilizam a imagem para obter resultados cien- tíficos. Há diversos concursos de fotografia científica para a divulgação da ciência. A imagem é utilizada nas áreas biológica, médica, farmacêutica, sociológica, entre outras. Cityscape: é uma fotografia de paisagem urbana que realça as formas arquitetônicas e urbanísticas. São imagens utilizadas para contextualizar e apresentar cidades. Geralmente, são imagens áreas ou de pontos altos, de onde seja possível se orientar pelo horizonte. Visões noturnas da cidade são muito utilizadas, especialmente as que valorizam os efeitos da luz. Comida/alimentos: a fotografia de alimentos é uma tendência nas re- des sociais. Afinal, a área gastronômica está em alta, com a valorização de restaurantes e chefes de cozinha. Assim, a imagem é estratégica para esses profissionais. O fotógrafo deve garantir que o prato pareça saboroso, pensar em uma,luz que crie um clima, inserir adereços externos, cuidar de talheres e acessórios. Além disso, precisa manter o alimento sem derreter, esfriar, etc. Decoração e design de interiores: a decoração e o design de interiores dependem de imagens para apresentar aos clientes o resultado do trabalho. O fotógrafo deve ter sensibilidade para criar ambientes bem iluminados e que valorizem o trabalho do decorador. Em muitos casos, o fotógrafo trabalha em conjunto com o decorador para criar os ambientes e pensar na imagem final. Editorial: um ensaio editorial geralmente é utilizado no segmento da moda, buscando destacar um conjunto de peças a partir de um tema único. No ensaio editorial, o destaque não deve ser nem o fotógrafo, nem a modelo, mas os produtos e o seu contexto. Essas fotografias são utilizads em publicações e diversos contextos editoriais. Espetáculos (teatro, dança, música): para trabalhar nessa área, o fotógrafo deve ter familiariedade com a arte, conhecer música, teatro e espetáculos de dança, a fim de compreender o que é importante retratar. O momento exato de um salto de uma bailarina, um solo de trompete em uma orquestra e um monólogo de um ator são eventos importantes aos quais o fotógrafo deve estar atento. Esportes: a fotografia esportiva é uma imagem de ação inserida na área do fotojornalismo. Porém, existem trabalhos esportivos voltados à área de marketing e ao setor documental. Conforme o esporte, exige-se um equipa- mento que consiga capturar e congelar a imagem utilizando altas velocidades do obturador. Fotografia10 Etnográfica: a princípio, a fotografia etnográfica é uma metodologia utilizada pelos antropólogos para registrar um estilo de vida de um povo e os aspectos essenciais de uma cultura visual. É uma ferramenta de estudo científico que serve para o registro e a documentação cultural, visando prio- ritariamente à definição e à proteção de hábitos e costumes. Eventos/fotografia social: os fotógrafos sociais são responsáveis pela cobertura de eventos como casamentos, inaugurações e festas sociais. Se houver uma reunião de pessoas por um motivo especial, então um fotógrafo de even- tos é frequentemente designado ou contratado para capturar as festividades. Empresas usam fotógrafos de eventos para relações públicas, documentação e comunicações internas. Família: as imagens de família são geralmente registradas por seus mem- bros. Porém, um ramo fotográfico em expansão é o do fotógrafo de família, que retrata o estilo de vida da família, acompanha a evolução dos bebês ou da gravidez. Esse tipo de fotografia é utilizado em conjunto com a fotografia social. Fine art/artística/conceitual: a fine art é uma fotografia que valoriza a visão criativa do fotógrafo. A fotografia artística muitas vezes não captura o mundo como ele é: o artista cria imagens que primeiro se formam em sua mente. Assim, ele usa fotografias ou elementos da fotografia para demonstrar ou exibir a sua visão. Os artistas criativos criam imagens com e sem manipulação para contar uma história, evocar um sentimento ou fazer uma declaração. A fotografia artística é criada para o prazer pessoal, a exibição e/ou a venda. Fotodocumentário: um projeto de fotodocumentário difere do fotojornalismo pois parte de um planejamento antecipado e de um estudo sobre como contar uma história. A intenção de um documentarista fotográfico é revelar um lado invisível de dada história. As imagens documentais fornecem uma melhor com- preensão de um fato e são mais aprofundadas do que o fotojornalismo cotidiano. Golden hour/pôr do Sol e nascer do Sol: fotografar o Sol é um desafio de fotometria, pois o ambiente está escuro e o Sol começa a brilhar. O truque geral para esse tipo de fotografia é definir o seu ISO para pouca luz e estabilizar a sua câmera. Depois de verificar e decidir a sua localização, certifique-se de bloquear o seu ponto focal e ajustar o tempo da sua foto (antes, durante ou depois do nascer do Sol). Guerra: é um ramo do fotojornalismo e do fotodocumentário. Os fotó- grafos são frequentemente fotojornalistas enviados para contar a história de um conflito para uma ou algumas publicações ou meios de comunicação. Essa é uma das formas mais perigosas de fotografia; é utilizada para mídia, livros históricos, documentação e arquivos do governo. Robert Capa é um dos icônicos fotógrafos de guerra. 11Fotografia High Dynamic Rage (HDR): as imagens em HDR combinam a diferença de iluminação de várias imagens, utilizando versões mais claras e mais escu- ras da mesma foto para criar uma imagem esteticamente agradável e de alto contraste. A foto HDR depende de várias fotografias do mesmo objeto e do seu enquadramento em diferentes exposições; em seguida, as imagens são mescladas por meio de um software. High key: a técnica de utilizar uma grande quantidade de luz “estourando” o objeto principal é comum em importantes revistas de moda e em editoriais. Na técnica de high key, a grande massa luminosa torna o tema fotografado nítido e com contornos definidos, eliminando todas as sombras com aparência de ilustração. Imobiliária: é um ramo da fotografia em expansão. As imagens de imóveis são utilizadas para comercialização e finalidades editoriais. Para produzir imagens que mostram o interior de imóveis a serem comercializados são neces- sários equipamentos de iluminação e, em muitos casos, lentes grande-angulares. Industrial: as imagens dos ambientes industriais, o registro do processo de produção e a documentação do trabalho constituem uma área da fotografia com diversas utilidades. Há uma preocupação com a segurança do fotógrafo, pois geralmente ele fotografa em ambientes com risco, daí a utilização de drones atualmente. Há um desafio quanto à iluminação: para mostrar grandes espaços de trabalho, o fotógrafo deve utilizar diversas técnicas combinadas com uma variedade de lentes. Infravermelha: a luz infravermelha é uma luz que fica além do espectro visível humano. Em outras palavras, é uma luz que o olho humano não pode ver. Por isso, fotografá-la requer filmes ou câmeras equipados com dispositivo de captura de imagens em infravermelho. Cores, texturas, folhas, peles e outros elementos refletem essa luz de maneira única. A tecnologia de fotografias infravermelhas foi desenvolvida para usos militares, mas é utilizada por artistas que deram novos significados às alterações de cores. Fotógrafos como Bradley G. Munkowitz e Tracy Arm recorem a essa técnica. Light painting: a fotografia de pintura de luz (light painting) é frequente- mente descrita como faixas de luz captadas por meio de uma longa exposição. No entanto, a pintura de luz inclui a técnica de capturar várias imagens indivi- duais de um mesmo tema usando fontes de luz singulares em cada configuração e, em seguida, agrupando cada imagem em uma foto com iluminação artística. Lomo/lomografia: esse é um gênero especial de fotografia em que as imagens são produzidas em equipamentos simples, geralmente câmeras au- tomáticas analógicas de baixo custo. O nome é originário das câmeras russas Lomo Kompakt, dos anos 1980. Elas eram conhecidas pela sua lente desfocada Fotografia12 e suas aberrações cromáticas. A partir dos anos 1990, jovens começaram a utilizar esses equipamentos de forma intuitiva e espontânea, sem se preocupar com regras de composição e com a valorização do objeto fotografado. Longa exposição: imagens que representem a dimensão do tempo são obtidas com o ajuste de velocidade lenta do obturador. É necessário que a câmera esteja estável, de preferência em um tripé. A foto exibe um borrão consistente (por exemplo, um risco dos faróis de um carro), criando uma sensação de movimento e de passagem de tempo. Low key: trata-se de uma técnica de iluminação fotográfica que se trans- formou em um estilo. Utilizando apenas uma luz, como chave, e um alto contraste, as imagens em low key valorizam as sombras nítidas e dão destaque às formas. Esse tipo de fotografia é amplamente utilizado,em publicidade, especialmente em campanhas de produtos do segmento de luxo, como per- fumes, joias e acessórios. Macro: a fotografia macro consiste em imagens microscópicas fotografadas com uma lente macroangular, ou seja, de ampliação. Há uma série de equipa- mentos voltados para essa área. A utilização pode envolver desde uma imagem de um inseto para uma pesquisa até imagens para ilustrar livros e revistas. Medicina/odontologia: o registro fotográfico de procedimentos médicos e hospitalares é geralmente realizado por médicos ou fotógrafos com conheci- mento especializado. As imagens são utilizadas para estudos, para determinar padrões procedimentais ou até um padrão de qualidade. Minimalista: é o segmento da fotografia que utiliza o mínimo de elementos em uma imagem. É uma técnica que se tornou um estilo fotográfico muito utilizado em capas de revistas e livros, bem como em embalagens e outros segmentos comerciais. Pode-se dizer que é um estilo que induz a atenção visual aos detalhes apresentados sem distrações. Moda: a fotografia de moda se concentra em roupas, estilo e acessórios. Os fotógrafos de moda criam imagens usando modelos ou conjuntos comer- ciais. As imagens são utilizadas por designers, corporações, revistas, para marketing e publicidade. Montagem: as montagens ganharam aceitação como uma área da fotografia desde as fotomontagens da Bauhaus, escola de arte de vanguarda alemã. Atu- almente, o processo é digital e utiliza softwares de manipulação de imagens, de modo que é possível processar centenas de fotografias, fundi-las, alterá-las e compor montagens criativas. Motion blur: as imagens tiradas com o desfoque de movimento exibem traços, pistas e marcas de um objeto em movimento capturado durante uma única exposição, devido ao movimento rápido do objeto ou à exposição pro- 13Fotografia longada. Outro método para criar uma impressão de movimento é mover a câmera em velocidades de obturador variadas. Outras técnicas incluem girar a câmera e movê-la para frente ou para trás. Newborn: trata-se de um ensaio fotográfico dos primeiros dias de um bebê, normalmente até o 15º dia. Esse tipo de fotografia depende de uma produção de cenários, roupinhas e acessórios. Normalmente, o bebê é colocado em poses, dormindo ou acordado. Trabalhar nessa área depende de uma habilidade de lidar com recém-nascidos. Esse estilo fotográfico ficou famoso pela fotógrafa Anne Geddes, que fotografa crianças em cenários inusitados. Panorâmica: a fotografia panorâmica captura imagens de formato amplo, juntando diversas imagens fotografadas em sequência. As fotografias panorâ- micas não são limitadas a paisagens. Elas dependem de configurar a câmera em um tripé e travá-la em uma posição horizontal ou vertical nivelada antes de inclinar ou efetuar o movimento panorâmico para capturar as várias exposições que mais tarde precisarão se sobrepor. Caso você utilize um smartphone, há uma guia de auxílio do movimento da imagem panorâmica. Paisagem: a paisagem sempre foi um tema presente na fotografia. O fo- tógrafo Ansel Adams consolidou sua carreira com paisagens de parques ecológicos norte-americanos, por exemplo. São recorrentes as imagens de montanhas, rios, florestas, entre outros elementos naturais. É necessário um grande conhecimento de fotometria e iluminação natural. Passado e presente: o recurso de comparar uma imagem do passado com uma imagem do presente se potencializou com o uso da manipulação digital e das redes sociais. A ideia é que o fotógrafo recrie uma fotografia antiga usando elementos-chave de localização para mostrar as diferenças entre o presente e o passado. Esse é um recurso fotográfico que pode ter usos no fotojornalismo, em fotodocumentários, entre outros. Pássaros: o desafio de capturar pássaros é humanizá-los, tornando os seus olhos visíveis e capturando-os em pleno voo. Trata-se de um exercício de paciência. Os equipamentos devem ter lentes teleobjetivas (zoom) de 90 até 600 mm. É necessário conhecer as aves e as possibilidades da região. Além disso, o fotógrafo deve antecipar o comportamento das aves e escolher o horário certo, além de pensar na composição. Paparazzi: é o nome que se utiliza para designar fotógrafos independentes que buscam flagrantes e imagens de celebridades como atores, políticos e atletas. Tais imagens alimentam sites, portais de notícias e fofocas. Geral- mente, os paparazzi são conhecidos por buscar cenas inusitadas e registrar momentos incomuns das pessoas. O nome desse tipo de fotógrafo é originário do personagem de Walter Santesso no filme A Doce Vida, de Federico Fellini. Fotografia14 Perspectiva falsa: a fotografia de perspectiva forçada (ou falsa) utiliza uma ilusão de óptica para enganar o olho humano, que percebe que algo está mais próximo, maior ou menor do que na realidade. Um exemplo dessa téc- nica é quando um turista parece estar encostado na Torre inclinada de Pisa. A distância entre o objeto e o turista é ajustada para que ambos pareçam ter a mesma altura. Pericial: essa é a documentação fotográfica de acidentes e cenas de crimes para o trabalho legal ou policial. Esse tipo de fotografia requer procedimentos adequados e a capacidade de explicar as imagens e a cena claramente em um processo legal. A fotografia forense é usada principalmente por advogados e governos. Pet/animais de estimação: os animais de estimação são, atualmente, componentes da família. Fotógrafos de pets são capazes de capturar a essência e a personalidade do animal. Alguns fotógrafos se concentram no retrato, en- quanto outros criam fotografias de ação. A fotografia de animais de estimação é solicitada por indivíduos, famílias, clínicas veterinárias e pet shops, embora existam alguns usos mais comerciais. Pinhole: trata-se da imagem produzida por uma câmera rudimentar feita com lata, caixa de fósforo ou caixa de sapato (entre outros objetos). A câmera não tem lentes nem diafragma, apenas uma câmara escura, o material fotos- sensível e a abertura por onde a luz entra. O tempo de exposição depende de o fotógrafo abrir e fechar o orifício de entrada de luz. Essa ferramenta é utilizada no aprendizado de fotografia e necessita de grande quantidade de luz para gerar a imagem. O efeito impressiona pela originalidade. Preto e branco: imagens em preto e branco remetem à tradição mais antiga da fotografia. O uso da escala de cinza é um limitador, mas ao mesmo tempo realça a percepção de formas. Destaca-se a utilização de contrastes e brilhos, as formas em destaque e a distinção da realidade. Redes sociais: a produção de fotografias para alimentar páginas de Ins- tagram, Facebook e Twitter se tornou uma área promissora. Conforme as exigências do público, surge a necessidade de um fotógrafo profissional, utilizando equipamentos e lentes apropriadas. Há a estratégia de conhecer quais imagens angariam mais seguidores e cliques. Retratos: na fotografia de retratos, o aspecto mais importante é o foco e a qualidade no registro da pessoa e de seu comportamento. A fotografia de rosto depende da escolha da iluminação (natural ou artificial). A direção da posição das pessoas é algo que deve refletir a personalidade do fotografado, e não resultar em uma pose artificial. Você deve evitar elementos que chamem a atenção e não informem sobre a pessoa na foto, como acessórios, camisetas 15Fotografia estampadas e outras formas de desviar o olhar. Atualmente, os retratos são muito utilizados em publicações e em redes sociais. Um bom retratista deve observar como o retratado aceita a sua imagem. Fotógrafos como Steve Mc- Curry e Richard Avedon possuem estilos diferentes de retratos, por exemplo. Rua: a fotografia de rua é um estilo de fotografia documental que captura momentos cotidianos. É um estilo fotográfico fortemente influenciado por fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Roberto Doisneau e Elliott Erwitt. Geralmente, é uma cena flagrante ou natural de fotografia vista de forma a criar uma sensação,estética. As pessoas são os assuntos mais comuns na fotografia de rua. Esse tipo de imagem é mais usual para fotografia artística e publicações. Subaquática: capturar a vida e a beleza do mundo subaquático é uma forma de arte rara e depende de muita técnica de mergulho, equipamento e tratamento de imagens. Além de ter uma variedade regular de iluminação e lentes, você vai precisar de caixas e anéis para manter o seu equipamento seguro e estanque. Still life/produtos: a fotografia still life é melhor definida como a arte de clicar fotos de objetos imóveis. São imagens que remetem aos retratos de natureza-morta, com um arranjo estético e uma luz apurada. Isso forma um amplo espectro, pois inclui vários outros gêneros de fotografia, como fotogra- fias de flores e alimentos, além de fotos de animais e pessoas. Na publicidade, esse estilo fotográfico é utilizado em larga escala para fotografar produtos. Tilt-shift: é a técnica que consiste no deslocamento da objetiva para alterar a profundidade de campo. O efeito visual produzido nas fotografias transformam paisagens em “miniaturas”; essa é outra técnica que muda a perspectiva do espectador e cria a ilusão de profundidade de campo. Muitas vezes, usando fotos aéreas, uma profundidade de campo é aplicada a um único ponto, o que cria o efeito de que tudo na imagem é muito menor do que parece. Time-lapse: a fotografia time-lapse é obtida por meio de várias imagens feitas ao longo do tempo. A ideia é registrar ou demonstrar as mudanças de um local ou o crescimento de uma planta, por exemplo. Esse tipo de fotografia é comum para imagens estáticas e de vídeo. A fotografia com lapso de tempo é usada para vídeo, marketing, ciência e documentação. Veículos: a fotografia de carros e veículos é um estilo popular que pode ser utilizado por hobbie ou profissionalmente. É importante definir a velocidade do obturador no intervalo recomendado de 1/125 de segundo para fotografar veículos em movimento. Também é importante evitar reflexos e evitar foto- grafar com a luz intensa do meio-dia. Se o carro for o seu tema, lembre-se de considerar como o ambiente o enquadra e acrescenta interesse à sua foto. Fotografia16 Viagem: mostrar lugares nunca antes vistos é a essência do fotógrafo desde o início da portabilidade das câmeras e dos laboratórios fotográficos, no século XIX. Esses fotógrafos geralmente fotografam a sua localização para documentar ou contar uma história visual de suas viagens. Fotógrafos de viagens fotografam a paisagem, as pessoas, os animais, os aspectos cul- turais, os eventos e os costumes. Eles vendem as suas imagens para agências de estoque, revistas, empresas associadas ao local e para o mercado da arte. Vida selvagem/animais: esse tipo de fotografia implica a criação de ima- gens de animais na natureza. O foco é a exibição de animais em seu ambiente natural, sem a intervenção humana. Capturar imagens de alta qualidade em ambientes naturais requer muita paciência e uma sensibilidade que permita que você identifique o momento certo de clicar. Desde 2014, tramita no Brasil um projeto de lei que visa a regulamentar a profissão do fotógrafo. Há um intenso debate sobre a exigência de diploma e de cursos técnicos. Outro ponto muito discutido no projeto e polêmico para os fotógrafos é delimitar o que compreende a atividade do profissional da fotografia. Os repórteres fotográficos a serviço de empresas jornalísticas já possuem regulamentação (BRASIL, 1969). Comunicação por meio de imagens: o fotojornalismo e a fotografia publicitária A comunicação é o processo de partilhar algo, tornar algo comum. Nesse sentido, é um fenômeno inerente à vida. Por meio da comunicação, o ser humano sobrevive no mundo, cria imaginários, conta histórias e desenvolve crenças que partilha. A princípio, para haver comunicação, são necessários um emissor e um receptor da mensagem, capaz de decodifi cá-la e reconstruir o que o emissor pensou ao comunicar. Na linguagem cotidiana, há o suporte verbal (palavras e estruturas lexicais) e o não verbal (gestos, símbolos, ima- gens, entre outros). Ao considerar o uso da fotografia na comunicação, você deve compreender a função desse meio, bem como os efeitos perceptivos e cognitivos que ele causa no receptor. A fotografia não é meramente uma ilustração de algo, mas possui um papel fundamental na comunicação; ela informa, registra, documenta, 17Fotografia explicita e gera percepções. Por isso, não se deve compreendê-la como um “espelho do real”, como era tendência no final do século XIX. A fotografia também não é simplesmente a alteração do real, uma simplificação e uma distorção da realidade. Na verdade, ao mesmo tempo em que apresenta a sua imagem, a fotografia possui um vínculo com o objeto real (DUBOIS, 1993). Duas áreas são prioritárias para você conhecer a aplicação da fotografia na comunicação: o fotojornalismo e a fotografia publicitária. A seguir, você vai conhecer melhor cada área e ver como a fotografia se insere nelas. Fotojornalismo A principal função da imagem no fotojornalismo é informar o público e, con- sequentemente, “[...] mostrar, revelar, expor, denunciar e opinar [...]” (SOUSA, 2004, p. 22). O fotojornalista lida com a imagem do acaso e do instante como sua matéria-prima. Assim, a sua habilidade técnica deve ser coerente com essa função. O fotojornalista deve ser capaz de avaliar situações e aconteci- mentos e pensar na melhor forma de registrar uma imagem, ora por instinto, ora por refl exo. O olhar de um fotojornalista é seletivo, sempre em busca da oportunidades de registrar um acontecimento. A inserção da fotografia nos jornais e revistas do século XIX não foi pacífica e tranquila. Os editores da época argumentavam que as imagens não se adaptariam aos costumes e padrões de credibilidade. Porém, em pouco tempo, a imagem utilizada em veículos de imprensa como jornais e revistas passou a ter um papel fundamental na cultura ocidental. Sousa (2004) divide o fotojornalismo em duas vertentes. Veja a seguir. Sentido amplo: o fotojornalismo é a atividade de produção fotográfica informativa, interpretativa, documental e ilustrativa que dá suporte ao fato noticioso e atual narrado pela imprensa. Assim, toda fotografia utilizada intencionalmente para noticiar algo pode se tornar um registro de um acontecimento, independentemente do produto editorial (revista, fotodocumentário, etc.). Sentido restrito: o fotojornalismo é a atividade que visa a informar, contextualizar, esclarecer e definir pontos de vista por meio do registro fotográfico de acontecimentos. Há, nesse sentido, uma diferença prática entre o fotojornalista e o docu- mentarista fotográfico. Enquanto o fotojornalista raramente sabe o que vai fotografar, utilizando a pauta fornecida por repórteres e editores, o fotodo- Fotografia18 cumentarista se organiza em projetos temáticos e planeja as suas imagens para contar uma história e/ou documentar algo. A imagem fotográfica, no fotojornalismo, pode ser utilizada como fotografia de notícias, registrando o momento e o fato. Além disso, podem-se utilizar imagens atemporais, como no caso do fotodocumentarismo. Atualmente, o fotojornalismo tem se transformado devido às tecnologias de captura de imagem presentes em celulares, câmeras de seguranças, drones, etc. Dois questionamentos permeiam o debate acerca do fotojornalismo atual: quanto à forma — a importância da estética fotográfica em detrimento da informação; quanto ao conteúdo — o valor da notícia ou o espetáculo das imagens. Para compreender esse debate, considere o slogan da revista Paris Match, criada em 1949, que se tornou icônica para o fotojornalismo: “o peso das pa- lavras, o choque das imagens”. Seguiram esse lema os fotógrafos de revistas nacionais como O Cruzeiro, especificamente Jean Mazon, Manchete (anos 1950 a 1980) e Realidade (anos 1960 a 1980). Nas reportagens ilustradas, a imagem contribuía para criar o acontecimento, e não mais servia,como um suporte para o texto. Isso valorizava o fotojornalista, que passava a pensar nas imagens como uma história sequencial. Nesse mesmo raciocínio, a Revista Life, criada em 1936, reafirmava a ideia do repórter fotográfico como um cronista de imagens, cuja experiência no local dos acontecimentos trazia um testemunho real dos fatos. Nesse contexto, a famosa frase de Robert Capa desafiava os fotojornalistas: “se sua foto não ficou boa é porque você não chegou perto o suficiente”. Chamadas por teóricos como Roland Barthes de fotografias-choque, as imagens do fotojornalismo desse período produziam um impacto que atraía o público. Essas imagens são carregadas de sentido e “[...] consiste[m] menos em traumatizar do que em revelar aquilo que estava oculto [...]” (BARTHES, 1984, p. 55–56). A partir dos anos 1980, surgem novas formas de utilização da imagem no fotojornalismo, como você pode ver a seguir. Fotojornalismo ideológico e engajado: o fotógrafo toma um ponto de vista e define o seu posicionamento ideológico por meio das imagens. São muito comuns nesse período matérias cujo conteúdo é ponderado e imparcial, e as imagens condenam e julgam o objeto da revista. Essa característica é marcante no fotojornalismo do início dos anos 1980 em 19Fotografia revistas como Visão, fundada pelo grupo estadunidense Vision Inc., que, com uma ideologia liberal, criticava o estatismo, o intervencionismo econômico e os movimentos sindicais da época. Estética publicitária ou cinematográfica: nas produções jornalís- ticas dos anos 1990, a estética se sobressaiu em detrimento do valor noticioso. Não havia mais a imagem-choque, mas a história a partir de um conceito estético, criticado por esvaziar o valor jornalístico. As imagens apresentam dramas de pessoas, comovem, mas não trazem nenhuma notícia. Imagem digital: nos anos 2000, as imagens feitas por meio de dispo- sitivos digitais como câmeras de celulares de amadores e câmeras de segurança passam a apresentar a realidade vivida diretamente, sem um intermediário. Questiona-se o papel do repórter fotográfico e destaca- -se a participação dos leitores. A imprensa busca uma saída com as imagens posadas, esteticamente bem elaboradas, porém sem ação. São chamadas de imagens-espetáculo, em uma referência aos conceitos de Sociedade do Espetáculo, de Debord (1997, p. 14): “[...] o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens [...]”. Para aprender mais sobre fotojornalismo, assista ao documentário franco-ítalo-brasileiro O Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Salgado. O filme discorre sobre a vida e a obra do fotodocumentarista brasileiro Sebastião Salgado. Lançado em 2015, o longa é essencial para se compreender o papel do fotógrafo de conflitos e guerras e o seu ponto de vista. Fotografia publicitária “Ver uma vez é melhor do que ouvir cem vezes”: esse provérbio, atribuído ao fi lósofo chinês Confúcio, visa a demonstrar o poder de impacto de uma imagem. À imagem é atribuído o caráter da instantaneidade e a possibilidade de atrair o olhar. É nesses pilares que se apoia a utilização da imagem na área publicitária. A imagem como um discurso de persuasão, de convencimento de uma ideia, é utilizada desde a Idade Média, período em que as igrejas possuíam Fotografia20 pinturas e afrescos que narravam vidas dedicadas à fé e passagens bíblicas. Sem dúvida, essa era uma forma de impactar fiéis que não compreendiam o latim (língua em que eram celebradas as missas) e não sabiam ler. As pessoas buscam nas imagens algo que lhes falta em seu ambiente físico, em seu grupo social. Além disso, interpretar imagens faz parte da natureza humana. Os seres humanos vivem mediados por imagens, e as mensagens publicitárias são formas expressivas que demonstram desejos, necessidades e funcionalidades contemporâneas, traduzindo visualmente a cultura. O teórico de cinema Aumont (2001), em seu livro A Imagem, questiona: “Por que se olha uma imagem?”. Com essa questão, ele indica um caminho para se estudar a aplicação das imagens na publicidade. Primeiro, é preciso considerar a imagem um produto pensado e elaborado para gerar um sentido e atingir uma finalidade; uma imagem nunca é aleatória e sem sentido. As imagens são produzidas na publicidade visando a atingir usos, costumes, crenças individuais e coletivas. A princípio, as pessoas olham as imagens porque querem que elas sirvam para algo, que as orientem, que as confortem, que as choquem e que as façam se esquecer de algo. Aumont (2001), ao pensar do ponto de vista do espectador, define que as razões para se observar uma imagem derivam de uma noção simbólica criada pelas pessoas para intermediar (ou, melhor, mediar) a relação entre elas próprias, a realidade e a imagem. Com isso, Aumont (2001), baseado na obra de Rudolf Arheim, sugere três formas de a imagem se relacionar com o real. Veja a seguir. A imagem como representação: a representação implica que uma coisa esteja no lugar de outra, ou seja, uma imagem representaria algo concreto. Essa forma de representação baseia-se no pressuposto de quem observar a imagem terá uma referência direta de algo concreto e vivenciado. A imagem como símbolo: nesse sentido, a imagem simbólica representa algo abstrato. Ou seja, algo externo à experiência vivida no mundo concreto; ao se observar a imagem, o elemento abstrato é evocado 21Fotografia imediatamente. Há certo vínculo da imagem com algo que o elemento abstrato evoca. Como exemplo, considere uma imagem que evoca o sentimento da maternidade, do amor ou do ódio. A imagem com valor de signo: a imagem, nesse caso, representa algo que não possui nenhum vínculo, ou seja, é uma imagem à qual se atribui um significado. Tome como exemplo uma placa de trânsito circular vermelha com uma seta para cima cortada por uma linha; você sabe que significa “proibido ir em frente”, mas a imagem em si contém nenhum ou poucos vínculos com a experiência real. As situações em que a publicidade utiliza as imagens são mais complexas do que as definições de Aumont (2001). Porém, essas três funções podem au- xiliar você a compreender as estratégias mais simples e usuais de utilização de imagens. A imagem como representação é utilizada nos anúncios no momento em que se apresenta um produto em sua forma de consumo. Por exemplo: a foto de um prato de comida pressupõe alguém que irá comer; além disso, ao mostrar um refrigerante, uma imagem apresenta também a sua forma de consumo. Quanto ao símbolo, a publicidade o utiliza ao oferecer resultados intangíveis para produtos e serviços. Considere, por exemplo, a alegria gerada por um sabão em pó, a satisfação de ter a casa cheirosa e a realização de possuir um carro: são formas alegóricas de atribuir elementos abstratos aos produtos. Por fim, o valor de signo é fortemente utilizado nos anúncios nos logos, na identidade visual, na identidade sonora e em outros elementos. A imagem publicitária tem, ao mesmo tempo, de ser percebida, atrair a atenção da audiência e ser inteligível. Com isso, há um desafio, pois nem sempre o que causa atenção visual é uma imagem inteligível. Elementos que possam distrair o espectador devem ser evitados para não causar ruído na mensagem publicitária. Na construção da imagem publicitária, o padrão visual é a defi- nição visual. Todas as informações necessárias do produto devem aparecer, as cores devem ter o máximo de coerência com o produto real. Muitas vezes, a manipulação de imagens é utilizada para realçar formas, tonalidades, cores e outros atributos de um produto. A imagem publicitária evidencia a relação entre o registro verbal e o visual. Eco (1997), em seu livro A Estrutura Ausente, demonstra uma metodologia de análise de uma publicidade a partir de um sistema de códigos visuais (triádica do signo de Pierce). Ele decompõe uma imagem publicitária em camadas. Para essa análise, Eco (1997) divide em cinco níveis,a imagem publicitária. Aqui, interessam os três primeiros itens, pois os dois últimos referem-se à argumentação. Veja a seguir. Fotografia22 Nível icônico: inclui os elementos concretos da imagem e representa-os de forma semelhante ao objeto de referência. Nível iconográfico: utiliza dois tipos de código, um histórico e outro publicitário. A publicidade utiliza símbolos convencionais e de conheci- mento geral (por exemplo, a auréola como elemento da santidade). Além disso, a publicidade sempre cita a si mesma, ou seja, utiliza convenções simbólicas criadas no próprio campo publicitário. Nível tropológico: são imagens geradas por figuras de retóricas clás- sicas, ou seja, são metáforas visuais, hipérboles, antonomásias, entre outras. Assim, no nível tropológico, reproduz-se o que se faz verbal- mente, porém com imagens. Acesse o link a seguir para conhecer o Clube de Criação, uma entidade sem fins lucrativos cuja proposta é valorizar e preservar o acervo da criatividade da propaganda brasileira. https://www.clubedecriacao.com.br/ AUMONT, J. A imagem. 6. ed. Campinas: Papirus, 2001. BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre fotografia. Rio Janeiro: Nova Fronteira, 1984. DEBORD, G. Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DUBOIS, P. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus, 1993. ECO, U. A estrutura ausente. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997. SOUSA, J. P. Fotojornalismo: introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004. 23Fotografia Leituras recomendadas BRASIL. Decreto-lei nº 972, de 17 de outubro de 1969. Dispõe sôbre o exercício da profissão de jornalista. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0972. htm. Acesso em: 18 jul. 2019. CLUBE DE CRIAÇÃO. c2019. Disponível em: https://www.clubedecriacao.com.br/. Acesso em: 18 jul. 2019. EDGAR-HUNT, R.; MARLAND, J.; RAWLE, S. A linguagem do cinema. Porto Alegre: Book- man, 2013. FRIZOT, M. (ed.). A new history of photography. Köln: Könemann, 1988. MARINOVITCH, G.; SILVA, J. O clube do bangue bangue. São Paulo: Cia das Letras, 2003. Fotografia24 PRODUÇÃO AUDIOVISUAL Adriano Miranda Vasconcellos de Jesus Iluminação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir iluminação. Listar os tipos de iluminação. Aplicar a iluminação na fotografia. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a luz e as suas propriedades físicas. Para começar, você vai ver como identificar a matiz, o brilho e a saturação, elementos que compõem a qualidade da cor. Ainda na primeira parte do capítulo, você vai ver como o olho humano enxerga as cores e conhecer a teoria tricromática da visão, que influenciou a escolha das cores primárias. Por fim, você vai se familiarizar com o círculo cromático. Na segunda parte do capítulo, você vai conhecer os tipos de ilu- minação, que incluem a luz natural, a luz disponível e a luz de estúdio fotográfico. Na terceira parte, você vai ver como se dá o uso da iluminação na fotografia de estúdio. Você vai aprender a identificar fundos, flashes, cabos, difusores, refletores, rebatedores, tripés, gelatinas, bandeiras e mesas still. Propriedades físicas da luz A luz que você vê em seu dia a dia é uma pequena e estreita faixa de ra- diação eletromagnética que atinge os seus olhos. A íris é um músculo cuja função é controlar a entrada dessa luz na retina, a fi m de proteger e orientar a atenção visual. Em 1666, Isaac Newton, astrônomo e cientista inglês, verificou que a luz branca que entrava em um orifício circular, ao ser refratada por um prisma, projetava cores em um espectro visível — vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta (Figura 1). Sua pesquisa visava a corrigir uma aberração cromática nos telescópicos da época. Assim, Newton criou o telescópio refletor (newtoniano). Em seu experimento, ele percebeu que os olhos humanos captam apenas uma pequena faixa da radiação solar. A partir disso, pesquisas poste- riores identificaram outras cores imperceptíveis aos olhos humanos, como as infravermelhas, as ultravioletas, as ondas curtas, os raios X e os raios gama, entre outras formas de ondas. Figura 1. Isaac Newton e a descoberta do espectro visível da luz. Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com. A iluminação na fotografia apresenta três propriedades físicas importantes: a intensidade, a projeção de sombras e as cores. A intensidade, ou amplitude da iluminação, é percebida pelo brilho da imagem. As sombras geram texturas e volumes, permitindo ao fotógrafo moldar e valorizar os temas fotografados. Iluminação2 A luz é emitida em linha reta, por isso as sombras são projetadas; porém, é possível trabalhar com luzes refratadas com o uso de lentes, a fim de distorcer a projeção das luzes. Por fim, as cores só existem pois existe luz. Assim, uma maçã é vermelha pela projeção da irradiação luminosa sobre ela e pelo que ela absorve e reflete. Se você alterar a cor da luz, vai alterar, consequentemente, a cor da maçã. Geralmente, chama-se a luz do dia de “branca”, e as suas variações são medidas por “temperaturas de cor”. Esta expressão é derivada da fonte luminosa, seja o Sol, os filamentos de lâmpadas ou os flashes eletrônicos, que emitem ou não calor e alteram a percepção de cor. Espectro eletromagnético e sua percepção Os olhos humanos percebem a gama de cores entre os espectros 400 e 700 nm. As vibrações de cores acima e abaixo dessa indicação são imperceptíveis. Isso fi ca claro quando você vê um arco-íris ou um prisma que fragmenta o raio de luz branca, por exemplo. O conhecimento dessas variações luminosas é importante para o fotógrafo quando ele necessita manipular ou realçar alguma cor. Na Figura 2, a seguir, você pode ver o espectro eletromagnético. Figura 2. Espectro eletromagnético; em destaque, a área visível. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. 3Iluminação Esse pequeno espectro de luz é visível no momento em que atinge a retina. Para compreender o processamento visual da luz em seu olho, você precisa entender o campo receptivo, que é a região da retina que a luz influencia na atividade neural, ou seja, a região estimulada pela luz, que o cérebro traduz como cor. Você vê a cor pois essa informação o ajuda a reconhecer e classificar alguns objetos. Os olhos consideram a cor em três aspectos: matiz — é a cor padrão, ou seja, reconhecer a matiz é saber distinguir um vermelho de um azul; brilho — é a intensidade de uma cor que reflete a luz; saturação — é a sensação que se tem de uma cor mais viva ou pálida, e essa alteração se dá pela quantidade de branco presente na cor. Considere um daguerreótipo, imagem obtida por meio do aparelho de mesmo nome numa folha de prata sobre uma placa de cobre. A qualidade de um daguerreótipo é notável até os dias de hoje. A impressão que se tem ao observá-lo é de que se trata de um espelho que manteve a imagem reproduzida, pois as áreas do iodeto preservam a sua propriedade reflexiva. Outra percepção é de que a imagem fica literalmente em baixo-relevo, o que ocorre devido ao mercúrio. São várias as graduações do mercúrio que geram amálgama com a prata, criando uma escala de cinza quase infinita. Os tons de preto de um daguerreótipo são intensos, pois a placa de prata polida, vista de determinado ângulo, não reflete luz. Na retina, há cones que são especializados em ver cores (Figura 3). Esses cones são fibrilas nervosas que são sensíveis à luz e respondem a ela. Eles são divididos em três grupos: o primeiro é sensível às cores laranja e vermelho; o segundo, às cores amarelo e verde; e o terceiro grupo, ao azul. Esses receptores de cones são a base da teoria tricromática, que indica que o olho humano percebe as cores pelo estímulo ativo de dois ou de todos os três tipos de cones, e no cérebro a cor é determinada conforme o nível relativo de estimulação de cada,tipo de cone. Esse é um sistema muito eficiente de visão, que consegue detectar milhões de cores mesmo com base em apenas três tipos de cones (EYSENK, 2017). Em sua retina, você tem cerca de 100 milhões de cones sensíveis às imagens. Iluminação4 Há outras espécies animais que têm mais de três tipos de cones, de modo que a sua percepção de cores ocorre de outras maneiras. Figura 3. A estrutura de um olho humano e a disposição dos cones no fundo da retina, ligando os estímulos à rede neural. Fonte: Sakurra/Shutterstock.com. A luz branca e as cores primárias Com base na teoria tricromática, ou seja, na noção de que os seres humanos estão pré-dispostos a enxergar três cores e as demais surgem da combinação destas, estabeleceu-se arbitrariamente que as cores primárias são: azul, ver- melho e amarelo. Porém, para efeito da aplicação de cores, seja em uma iluminação teatral ou em uma tela de computador, estabeleceu-se que essas combinações são formas aditivas, ou seja, as cores se misturam (se sobrepõem) para resultar em outras. Nesse sentido, as cores primárias aditivas são o vermelho, o verde e o azul. Mesmo que o verde não seja uma cor primária na tricromia perceptiva, ele é um importante componente para a combinação de cores. Além da forma aditiva, há a mistura de cores de forma substrativa, ou seja, em combinações substrativas. É o caso das impressões ou corantes em que as cores primárias são ciano, magenta e amarelo. Como você pode notar, a noção de “cor primária” é uma escolha arbitrária que serve para organizar a mistura de cores e que auxilia a compreender a estrutura das combinações. 5Iluminação Círculo cromático e suas combinações O círculo cromático é uma forma de organização das cores que facilita a compreensão de suas composições (harmônicas ou não). Geralmente, o cír- culo cromático é apresentado com base em 12 cores. No círculo, é possível perceber, a princípio, as cores primárias e as cores secundárias, derivadas de combinações (Figura 4). Figura 4. Círculo cromático. Fonte: Sandy Storm/Shutterstock.com. As combinações de cores são úteis para o trabalho com fotografia e ilu- minação, pois fornecem referências sobre o padrão de cores com que se está trabalhando. As cores complementares, as que harmonizam entre si, podem ser as cores monocromáticas, análogas e tríades. As cores utilizadas para realçar e causar um impacto visual seriam as análogas complementares e as tétrades. É possível identificar, no círculo cromático, as chamadas cores quentes (com predominância de amarelo e vermelho) e as frias (com predominância de azul e roxo). Iluminação6 Tipos de iluminação Na etimologia da palavra “fotografi a”, há uma pista da importância da luz: a palavra photo ou phos, em grego, signifi ca “luz”, enquanto graphein signifi ca “marcar”, “registrar” ou “desenhar”. Assim, “desenhar com a luz” é o principal recurso da fotografi a e, consequentemente, das produções audiovisuais. Um fotógrafo deve conhecer os tipos de iluminação, que são sua matéria-prima de trabalho. Dessa forma, ele pode compor formas, cores, volumes e outros aspectos de produção de sentido para o espectador. Por fi m, a luz pode modifi car o tema, o clima e o sentido da imagem fotográfi ca. A seguir, você vai conhecer os tipos de iluminação e os seus efeitos. Luz natural O primeiro desafi o de um fotógrafo é reconhecer na iluminação as suas nuances e os seus aspectos essenciais. No geral, as pessoas estão acostumadas com o padrão luminoso da iluminação artifi cial, usada em suas casas, ambientes de trabalho, de estudo e de lazer. Assim, quando há apenas a iluminação solar, ela causa estranhamento. Experimente fi car um dia inteiro sem ligar nenhuma iluminação artifi cial e repare na riqueza das nuances das cores, nos tipos de sombras e luz que se perdem com a iluminação artifi cial. O trabalho de um fotógrafo envolve saber qual é a iluminação natural mais adequada para a sua imagem. Dependendo do que se deseja, é necessário ter paciência para aguardar a luz correta, bem como um ângulo e uma elevação do Sol que remetam a determinadas sensações e emoções. Além disso, conhecer a iluminação natural é fundamental para o trabalho em estúdio: no momento de reconstruir uma iluminação natural, você deve ser o mais fiel possível. Por exemplo, uma luz amarela remete a um final de tarde, a uma luz de outono e assim por diante. Ao fotografar com iluminação natural, é possível utilizar recursos para ate- nuar sombras ou gerar mais contrastes. Caso a luz solar projete muitas sombras duras em um rosto, o fotógrafo pode utilizar um rebatedor para iluminar o lado oposto do rosto, ou até mesmo um tecido de difusor para deixar a luz solar menos incisiva e, portanto, com uma sombra mais suave. Luz diurna A luz diurna depende exclusivamente da iluminação solar e de suas va- riações. Dependendo da inclinação, altera-se a cor. A luz solar acima 7Iluminação da atmosfera terrestre é de 5.900 K. Abaixo da atmosfera, em horário de pico, ou seja, no máximo de sua luminosidade, ela atinge 5.780 K. Por isso, considera-se que a luz branca, aquela de 5.500 K, assemelha-se à luz do Sol do meio-dia. Enquanto a Terra se desloca, o Sol varia a sua posição, alternando de cor entre branco, amarelo, laranja e até mesmo vermelho. Essa alteração de cores é resultado de uma dispersão de radiação de luz: a luz azul tende a se dispersar mais do que a vermelha, daí a luz avermelhada quando o Sol está inclinado em relação à Terra. Nas câmeras digitais, é possível ajustar o balanço de branco (white balance) para corrigir as cores, tendo como padrão a luz de 5.500 K. Em dias nublados, por exemplo, as cores tendem a ficar mais azuladas do que em dias sem nuvens. Atualmente, existem diversos aplicativos que auxiliam na indicação da posição do Sol e da Lua. Confira um deles no link a seguir. https://qrgo.page.link/ENhNV Com os aplicativos atuais, é possível planejar com exatidão o horário para fotografar. Isso auxilia o trabalho com paisagens, arquitetura e fotografia aérea, entre outras que utilizam a luz natural. A seguir, veja algumas variações da luz natural. Luz matutina: logo ao nascer do Sol, a luz possui uma qualidade avermelhada e amarelada profunda. É o momento em que pode haver uma névoa devido à mudança de temperatura, o que potencializa ainda mais o efeito solar. A iluminação inclinada propicia silhuetas mais definidas e uma atmosfera especial. Luz do meio-dia: quando o Sol está a pino, as sombras estão projetadas de forma a achatar as imagens, ou seja, produzindo menos volume. Não é recomendado fotografar pessoas nessa luz, pois ela gera sombras fortes no nariz e no pescoço. Porém, fotografias de paisagens e fotografias arquitetônicas adquirem um efeito interessante. Luz crepuscular: a iluminação do final do dia proporciona efeitos luminosos no céu, com grande variedade de cores. As sombras ficam Iluminação8 extensas devido à inclinação solar. Diferente da luz matutina, que é suave e difusa, a luz crepuscular é mais forte e definida. As imagens de pôr do sol são as mais recorrentes nesse tipo de iluminação. Luz noturna: a lua cheia, o céu estrelado e as luzes da cidade ao fundo geram uma iluminação com características noturnas rica para o trabalho do fotógrafo. A dificuldade de fotografar à noite ocorre devido à medição da luz, que deve ser feita considerando-se baixas velocidades do obturador; daí a importância do uso de um tripé. O efeito visual é apresentar uma imagem diferente daquela vista a olho nu. Ou seja, a ideia é mostrar nuances da noite que só são percebidas pelo olhar fotográfico. Luz disponível Contrapondo-se à iluminação natural, a luz disponível trata-se da iluminação artifi cial que não é elaborada ou produzida especifi camente para a fotografi a. Nesse sentido, o fotógrafo adequa-se às condições de iluminação disponíveis no ambiente. Por isso, a iluminação disponível é conhecida também como “iluminação de,ambiente”. As luzes de ambiente não são projetadas para a fotografi a: ora misturam lâmpadas frias e incandescentes, ora não são ba- lanceadas, ora não se preocupam com a difusão ou a qualidade da sombra. Essa profusão luminosa é um desafio na hora de o fotógrafo mensurar a luz e regular o seu equipamento. Fotojornalistas, fotodocumentaristas e fotógrafos artísticos não consideram essa diversidade de iluminação um problema, mas uma inesgotável fonte estética e criativa. Nessas condições, é possível explorar altos contrastes e aberrações cromáticas, bem como variar o tempo de exposição da fotografia. A seguir, veja alguns tipos de luz frequentemente encontrados. Lâmpadas incandescentes: são as lâmpadas encontradas comumente nos lares. Elas são feitas por um filamento de tungstênio que emite uma luz amarelada, gerando uma atmosfera confortável e aquecida. Deve-se tomar cuidado ao corrigir a cor de uma lâmpada de tungstênio, pois pode-se gerar outra percepção. Esse tipo de iluminação aciona a memória do espectador com referência a determinado ambiente. A luz fica em torno de 3.400 a 3.200 K. As lâmpadas de led ou frias que simulam as luzes amareladas não atingem esse patamar de cor e não apresentam resultado semelhante. Lâmpadas frias: incluem lâmpadas de led, fluorescentes, entre outras. Esse tipo de iluminação distorce as cores, porém para os tons frios do 9Iluminação círculo cromático. As lâmpadas frias misturam tons não harmônicos como magenta, verde e laranja. As mais problemáticas são as luzes fluorescentes, pois oscilam e não possuem um padrão luminoso de cores, alterando as ondas e portando cores. Na fotografia digital, é possível corrigir a aberração cromática com a alteração do balanço de branco. Luz de rua: no Brasil, a maior parte da iluminação de rua é feita por lâmpadas de vapor de sódio, resultando em luzes amareladas. As lâmpa- das de mercúrio são mais raras, porém são encontradas com frequência em estádios de futebol e resultam em uma luz azulada. Luz de velas: é uma iluminação com temperatura de cor na faixa de 1.500 a 2.000 K e com tons dourados variados e oscilantes, que podem resultar em um rico efeito de iluminação. A dificuldade é regular a câ- mera conforme a quantidade de velas, lamparinas ou fogueiras. Apesar de ter uma beleza ímpar, a luz de velas às vezes é insuficiente para a fotografia. No filme Barry Lyndon (1975), o diretor Stanley Kubrick utilizou um conjunto óptico de lentes com abertura de diafragma F 0.7 para filmar apenas com luz de velas. Essa mesma lente foi utilizada nas missões espaciais da National Aeronautics and Space Administration (NASA) nos anos seguintes. Luz de shows e espetáculos: é uma iluminação feita para audiência ao vivo. O efeito esperado é gerar camadas de profundidade cênica, atraindo a atenção. Além do seu propósito ser bastante específico, essa iluminação é variável e às vezes insuficiente para o equipamento foto- gráfico. Ela exige do fotógrafo um grande conhecimento de fotografia em baixa velocidade do obturador e o uso de lentes claras, ou seja, com aberturas de diafragma por volta de F 2.8, F 2.0, F 1.8 ou F 1.4. Luz de estúdio A luz de estúdio é a iluminação criada, desenvolvida e calibrada para a foto- grafi a. Nesse tipo de iluminação, não se considera nem a luz natural, nem a luz disponível. A luz fotográfi ca é projetada em um estúdio preparado para não receber nenhuma outra luz. A ideia é ter o controle total da iluminação. Há dois tipos de iluminação de estúdio: luz contínua e fl ashes. Veja a seguir. Luz contínua: tipo de iluminação ininterrupta cujo efeito pode ser observado na fotografia. Porém, a desvantagem é o gasto das lâmpadas e o calor (caso você utilize lâmpadas incandescentes). Atualmente, Iluminação10 estúdios utilizam luzes contínuas de led, pois evitam o calor e possuem durabilidade maior. Porém, é necessário fazer o ajuste de cor e o balanço do branco da câmera. A evolução dos equipamentos de iluminação em led alterou o mercado fotográfico, criando novas possibilidades para a luz contínua. Flashes: é o tipo de iluminação mais utilizado, pois é possível obter uma grande carga luminosa para áreas amplas sem a necessidade e o risco de uma iluminação contínua. Os flashes são equipamentos leves e portáteis e possuem ajuste quanto à intensidade e à temperatura de cor. A desvantagem é ter de identificar a exposição correta após o dis- paro ser feito. A comunicação entre flashes é possível via cabo, rádio ou fotocélula. Os flashes portáteis são os dispositivos de iluminação mais comuns da fotografia, sendo utilizado em eventos e atividades noturnas. Os flashes de estúdio utilizam as lâmpadas de modelagem (lâmpadas incandescentes de baixa voltagem) para visualizar as áreas de incidência da luz do disparo. O estúdio fotográfico e os seus equipamentos No mercado fotográfi co, há dois tipos de estúdio: um com paredes brancas e outro com paredes pretas. O estúdio fotográfi co com paredes brancas pode ser utilizado como uma caixa de luz que refl ete o objeto fotografado. Já o estúdio com paredes pretas é melhor utilizado para trabalhos que depen- dem de um controle maior de iluminação. Em alguns casos, há janelas nos estúdios para a utilização da luz solar. Um estúdio bem montado é um local onde o fotógrafo pode desenvolver o seu trabalho criativo reproduzindo uma iluminação natural, criando novas atmosferas ou até mesmo iluminando de forma a evidenciar alguns elementos e esconder outros (como na fotografi a publicitária). O uso do estúdio fotográfico possibilita um trabalho de qualidade, pois esse espaço conta com equipamentos próprios para modelar a luz e criar ilusões de tempo e espaço. O espaço necessário para montar um estúdio varia conforme o tipo de fotografia a ser realizada. Para um trabalho em que aparece uma ou duas pessoas, um espaço de 3,0 m de largura por 4,0 m de profundidade pode ser suficiente. Vários estúdios são montados em cômodos de casas, apartamentos e até mesmo em garagens. Na Figura 5, a seguir, você pode ver um estúdio fotográfico padrão. 11Iluminação Figura 5. Estúdio fotográfico padrão. Fonte: Kovalov Anatolii/Shutterstock.com. A iluminação de um estúdio pode ser montada no teto, por meio de um grid, ou no chão, utilizando tripés de luz. A iluminação no teto facilita a circulação no ambiente, porém dificulta o ajuste das luzes. A seguir, veja os principais equipamentos encontrados em um estúdio profissional. Fundo (backdrops): os fundos devem oferecer uma imagem limpa e coerente com o tema fotografado. Evite fundos desenhados ou com texturas muito fortes e evidentes, pois limitam o trabalho. Pense que o fundo deve passar desapercebido pelo espectador. Tenha pelo menos três variações essenciais: o preto, o branco e os coloridos. O material pode ser algodão (oxford), poliéster, papel grosso, TNT, entre outros. Para a escolha do material, é importante saber que tipo de iluminação será utilizada. Alguns materiais podem ser reflexivos, podem amassar ou sujar com facilidade. É fundamental que não apareçam marcas de costuras e emendas no fundo. A medida pode variar a partir de no Iluminação12 mínimo 150 cm de largura e no mínimo 200 cm de altura. As medidas dependem do uso. Os fundos podem ser apoiados por varão, presos na parede em altura suficiente para que se faça uma curvatura no chão, ou dispostos sobre o espaço, para que os objetos ou pessoas fotografadas fiquem em cima deles. Eles também podem ser sustentados por tripé de fundo, que pode variar em altura, largura e posição. Diversas lojas especializadas comercializam fundos, especialmente se o segmento for retrato, newborn e books fotográficos. Flashes: há quatro tipos básicos de flash — embutido, externo, dedicado e anelar. O flash embutido já vem com a câmera, está acoplado e é acionado muitas vezes de forma automática. Você deve tomar cuidado com esse flash, pois ele geralmente não tem ajuste e, por,ser frontal, pode projetar muitas sombras. O flash externo é o mais comum em estúdio por sua flexibilidade e pela possibilidade de utilizar difusores e refletores. Geralmente, os flashes externos possuem controle de intensidade e o seu acionamento pode ser por fio, rádio ou fotocélula. O flash dedicado é o que se encaixa na sapata da câmera. Ele é versátil (tem várias possibilidades de ajuste) e pode ser utilizado em conjunto com os flashes externos. Por sua vez, o flash anelar é uma variação do flash dedicado, porém que se encaixa na lente com a possibilidade de uma luz circular ideal para rostos e fotografia macro. O flash acionado produz um lampejo de luz, portanto a câmera deve estar com velocidade entre 1/125 e 1/250 no ajuste do obturador. Cabos de sincronia e sapata: o acionamento dos flashes externos pode ser feito por meio de um adaptador na sapata da câmera e de um cabo que se liga ao flash. Esses equipamentos podem ser substituídos por um conjunto de rádio flash, que tem a mesma função, porém sem cabo. Nos flashes externos atuais, é comum o uso de fotocélula. Assim, apenas um flash é ligado à câmera e os demais são acionados conjuntamente no disparo pelo acionamento da fotocélula. Para isso, o estúdio deve estar sem muita luz ambiente. Difusores: a luz difusa proporciona uma sombra suave, criando vo- lumes. Estes são os dois tipos de difusores mais populares: softbox e sombrinhas. Os softboxes, como o nome indica, têm o objetivo de tornar a luz suave, semelhante a uma cortina leve. São equipamentos úteis por fornecerem controle unidirecional sobre o painel difusor. Há várias opções de tamanhos e tipos de materiais. O softbox exige um grau de 13Iluminação compreensão de luz maior do que as sombrinhas, pois varia conforme o tamanho da superfície difusora, a distância do que é fotografado e o seu posicionamento. As sombrinhas podem ser rebatedoras (o flash atinge o interior da sombrinha e retorna uma luz difusa) ou difusoras (a luz do flash passa pelo material da sombrinha, de modo semelhante ao que ocorre no caso do softbox). Elas podem variar de tamanho e material refletor (prateado, dourado ou branco). O tom prateado da sombrinha realça a pele branca, enquanto o tom dourado realça a pele negra; porém, esse uso não é uma regra. O ajuste da sombrinha se baseia na proximidade entre o flash e a superfície interna (mais próximo, luz dura; mais distante, luz suave) e no posicionamento do objeto. A sombrinha é um equipamento simples de operar e fácil de montar e guardar, sendo o mais utilizado por fotógrafos profissionais e amadores. Refletores: os refletores auxiliam no direcionamento e na modelagem da luz, mantendo a sombra dura, sem difusão. Os refletores comuns podem ter o seu tamanho alterado conforme a área a iluminar. Eles são utilizados como luz de fundo, luz de contorno, luz de detalhe e contraluz, entre outros efeitos. Basicamente, há refletores cônicos, paraboloides (parabólicos), snoot (que concentram a luz), barndoor (com abas laterais e possibilidade de inserir gelatinas coloridas), entre outros. Rebatedores: são superfícies de tecido metálico (dourado ou prateado) ou tecido branco em estrutura leve e dobrável que podem ser usadas para rebater uma luz principal e gerar uma iluminação suave em segundo plano. São utilizados em iluminações internas e externas. O uso dos rebatedores depende da percepção do iluminador, que deve compreender o papel desses recursos como atenuantes de sombras. Tripé da câmera: a escolha do tripé da câmera é fundamental para a eficiência do trabalho. No estúdio, a câmera no tripé evita retrabalho de enquadramentos e ajustes, agilizando a produção. O tripé é útil para produzir imagens muito baixas ou altas em um estúdio sem a dificuldade de operar a câmera. A escolha da cabeça do tripé pode variar entre tilt (possibilita os movimentos para cima e para baixo, fotos verticais e horizontais e giros de 360º) e ball head (permite girar um pouco menos do que 360º e pode ter problemas na fixação). A forma de engate rápido e soltura da câmera é um diferencial dos tripés modernos. Gelatina: é um filtro plástico colorido resistente ao calor utilizado para a iluminação. As gelatinas estão disponíveis em rolo ou folha, conforme Iluminação14 o tipo. Podem ter a função de difusão da luz ou de correção de cores de lâmpada (tungstênio, fluorescente, diurna). Há variações em poliéster (mais baratas) que geram efeitos de cores. Podem ser acopladas em barndoors ou em suportes específicos. Também há tubos fluorescentes gelatinados que produzem o mesmo efeito. Bandeiras: são superfícies opacas grandes ou pequenas utilizadas para gerar sombras e cobrir a luz em determinados lugares. Evitam luzes indesejadas e até mesmo os flares (luzes projetadas na lente da câmera). Mesa de apoio: em um estúdio fotográfico, é necessária uma mesa de apoio para o bloco de notas, para os acessórios de luz utilizados, para os objetos de cenas e até mesmo, eventualmente, para integrar a cena fotografada. Mesa still: é uma superfície translúcida que pode ser iluminada pelos lados e por cima. É utilizada para a foto de produtos e objetos. As mesas podem ser adquiridas em lojas especializadas ou até mesmo montadas com equipamentos caseiros, conforme o uso. O procedimento de trabalho em um estúdio de fotografia depende de um planeja- mento prévio e de um registro passo a passo do ajuste dos equipamentos, do tema e das luzes. Por isso, ter em mãos um bloco de notas é fundamental para a produtividade no estúdio, especialmente considerando que utilizar esses espaços envolve sempre um custo por hora ou por dia. O processo de iluminação de um objeto em estúdio depende do arranjo das luzes que incidirão nele e dos seus efeitos. A seguir, você vai ver um esquema de luz versátil que pode ser adaptado a diversas situações, variando posição, intensidades, qualidade de sombra e cor. Conhecer a iluminação de três pontos vai auxiliar você a compreender melhor o uso da luz básica de estúdio. Iluminação de três pontos 1. Luz principal (key light): é a primeira luz a ser posicionada, a que tem maior importância na imagem. Ela fornece ao espectador a noção de 15Iluminação tempo e espaço pretendida. É uma luz que visa a demonstrar a forma e a dimensão do objeto. Não é obrigatório o uso de uma luz principal; a sua omissão possibilita uma luz de silhueta, por exemplo. Essa luz pode ser dura ou suave (utilizando refletores ou difusores). Em uma iluminação de três pontos, ela deve estar em relação à câmera em um ângulo de 30º a 60º. Quanto ao tema fotografado, ela pode estar abaixo ou acima da linha dos olhos. O posicionamento padrão é um pouco acima da linha dos olhos, em um ângulo de 30º. 2. Luz secundária: o uso apenas da luz principal projeta sombras fortes no lado oposto. Assim, a luz secundária é utilizada como comple- mento da luz principal, compondo desde 90º até 180º em relação a ela. Geralmente, essa luz deve ser um pouco mais escura do que a principal, e a projeção de sombras pode ser suave ou dura. Também é possível utilizar refletores para direcionar essa luz e até mesmo bandeiras para evitar a iluminação indevida da lente ou de áreas. A luz secundária pode ser feita ainda por meio de rebatedores e por luz natural, quando necessário. 3. Contraluz: é a luz que destaca o tema do fundo e que cria uma espécie de contorno, iluminando o cabelo e ombros das pessoas fotografadas. Ela fornece um aspecto de tempo, podendo represen- tar uma luz diurna, de fim de tarde e até mesmo noturna. Pode ser utilizada também como preenchimento do fundo, sendo rebatida em paredes ao fundo e ao lado. Exemplos de iluminação de retratos em estúdio Luz low key Você já deve ter notado que algumas imagens, geralmente em preto e branco, apresentam silhuetas marcadas por uma iluminação expressiva. Utilizada em campanhas publicitárias relacionadas a produtos de luxo, como perfumes, carros,e joias, a luz low key é uma técnica criativa e fácil de utilizar. Os seus principais elementos são a luz principal intensa e um ambiente escuro, se possível com fundo preto. A iluminação geralmente está próxima do que é fotografado, de modo a produzir os efeitos de realce e alto contraste. Para essa técnica, não é recomendado o uso de difusores, pois a luz dura produz um efeito mais impactante. Refl etores como snoot e barndoor são ideais para esse tipo de iluminação. Na Figura 6, veja um exemplo de fotografi a feita com iluminação low key. Iluminação16 Figura 6. Retrato em low key. Fonte: Nuno Monteiro/Shutterstock.com. Luz high key Enquanto a iluminação low key cria alto contraste entre o claro e o escuro, a iluminação high key utiliza uma tonalidade que quase elimina áreas escuras, diminuindo o contraste e aumentando o brilho das imagens. É o estilo de iluminação que frequentemente se vê na televisão, em fi lmes e anúncios publicitários. A vantagem desse tipo de iluminação é que pode ser utilizado para uma variedade de temas sem necessitar de um ajuste para cada disparo, como é o caso da low key. Por outro lado, a high key não proporciona o efeito dramático das iluminações low key. A falta de sombras da imagem conduz a atenção para outros elementos, como cores e formas. O clima de uma fotografia high key é leve e agradável, favorável para registros de casamentos, recém-nascidos e alimentos, bem como para imagens publicitárias de produtos (Figura 7). É possível utilizar iluminação contínua 17Iluminação com led e rebatedores; o importante é haver um preenchimento de luz no ambiente. Além disso, é possível tratar a imagem com efeito de high key posteriormente em softwares de edição de imagens. Figura 7. Retrato em high key. Fonte: Matusciac Alexandru/Shutterstock.com. EYSENK, M. Manual de psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2017. Leituras recomendadas AUMONT, J. A imagem. 6. ed. Campinas: Papirus, 2001. MIRANDA, A. Estratégias do olhar fotográfico, teoria e prática. São Paulo: Paulus, 2014. THE photographer's ephemeris. In: PHOTOEPHEMERIS. Colorado: Crookneck Consulting, 2019. Disponível em: https://www.photoephemeris.com/. Acesso em: 17 jul. 2019. PRAKEL, D. Iluminação. Porto Alegre: Bookman, 2010. Iluminação18 FOTOJORNALISMO: APLICAÇÕES E INOVAÇÕES Juliane do Rocio Juski O mercado do fotojornalismo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a atuação do repórter fotográfico nas redações. Definir a atuação do repórter fotográfico em agências de notícias. Explicar a atuação do repórter fotográfico freelancer. Introdução A era digital e a crise na mídia impressa estão afetando significativamente o mercado de trabalho em fotojornalismo. Em uma época em que pra- ticamente qualquer um possui um smartphone com câmera e registra todos os fatos in loco, parece ser um desafio atuar profissionalmente. No entanto, o mercado está se expandindo mesmo com a precarização dos profissionais e os problemas de divulgação e apropriação indevida de direitos autorais. A imagem, em especial a fotografia, sempre ocupou um papel central como elemento crítico no jornalismo, capaz de realizar denúncias sociais e contar histórias dramáticas. E essa demanda por histórias visuais só aumentou com o avanço das redes sociais. Mas a era digital criou novos desafios. Assim, é fundamental que os futuros profissionais de comuni- cação compreendam como essas dificuldades afetam seu trabalho e impactam o mercado de fotojornalismo. Neste capítulo, você vai ver como o repórter fotojornalista atua nos mais variados segmentos, incluindo as redações dos meios de comuni- cação tradicionais, as agências de notícias e o trabalho autônomo como freelancer. Além disso, você vai descobrir como a era digital e as novas tecnologias impactam a atuação do fotojornalista. 1 O fotojornalismo Desde a invenção da fotografi a por Louis Daguerre, em 1839, a história da humanidade passou a ser retratada em imagens, impactando diretamente a própria percepção da realidade. O surgimento da fotografi a está atrelado à Revolução Industrial, e a espantosa velocidade com que a reprodução técnica da imagem atraiu o interesse das populações ao redor do mundo está entre as mudanças de paradigma mais signifi cativas da contemporaneidade. Atu- almente, é impossível imaginar como seria o mundo sem a fotografi a; afi nal, a sociedade contemporânea é imagética. Em meio a esse contexto de poder da imagem, o mercado para fotógrafos nos mais diversos segmentos vem se expandindo. Um exemplo é o campo de foto- jornalismo, que observa uma onda crescente de demandas cada vez maiores dos veículos de mídia e agências de notícias por profissionais, sejam eles freelancers ou não. Além disso, há clientes nos setores público e privado que necessitam registrar em imagens os acontecimentos e as informações que desejam divulgar. No entanto, cabe ressaltar que a atuação de um profissional de fotojornalismo vai além de apontar a câmera e clicar; a atividade envolve conhecimentos e técnicas que mesclam o campo do jornalismo ao da fotografia. Como resultado, obtém-se o registro de imagens que aproximam o público dos acontecimentos e, por vezes, refletem o talento, a criatividade e o rigor técnico e estético dos profissionais por trás das lentes. Desse modo, um importante passo para refletir sobre o atual mercado de trabalho e as frentes de atuação em fotojornalismo é compreender que o trabalho exige o conhecimento das técnicas e um olhar diferenciado para as pessoas e para o mundo, destacando o valor da notícia em imagens. O fotojornalismo é um campo singular dentro do jornalismo. Ele utiliza a fo- tografia como veículo de notícia, observação, informação, análise e até de opinião sobre o comportamento e a conduta social. Segundo Sousa (2002), a fotografia de cunho jornalístico cumpre a função de mostrar, revelar, expor, denunciar e opinar. As informações promovidas pelas imagens captadas auxiliam na conquista da credi- bilidade da informação textual. Afinal, as imagens servem como provas irrefutáveis dos acontecimentos, como um “espelho da realidade”. Portanto, como destaca Sousa (2002, p. 5), “[...] o domínio das linguagens, técnicas e equipamentos fotojornalísticos é, assim, uma mais-valia para qualquer profissional da comunicação”. O mercado de fotojornalismo oferece uma série de possibilidades profissionais e estilos fotográficos. O profissional que opta por atuar com fotojornalismo pode trabalhar em redações de jornais, agências de notícias, portais de conteúdo, ou até optar por trabalhar de forma independente e empreendedora como freelancer. Como o principal intuito do fotojornalismo é informar, as imagens que registram O mercado do fotojornalismo2 acontecimentos (classificadas como fotonotícia, fotorreportagem e fotossequência) são gêneros do fotojornalismo e podem ser registradas tanto por profissionais ligados aos grandes veículos de comunicação como por profissionais autônomos. Como o mercado de fotojornalismo fornece inúmeras possibilidades de atuação, é essencial compreender quais são os principais gêneros fotográficos utilizados nesse campo. A finalidade dos registros fotojornalísticos é informar os leitores sobre acon- tecimentos de interesse público. Para divulgar as informações, é possível utilizar três gêneros como recursos. Veja a seguir. Fotonotícia: consiste em uma única imagem com alto teor informativo, no qual a imagem busca retratar a notícia em si. Fotorreportagem: refere-se a uma história narrativa de determinado assunto contada por meio de fotografias. As fotorreportagens, segundo Sousa (2002), consistem no gênero nobre do fotojornalismo, pois estão associadas a um trabalho mais completo e atrelado a investigações ou denúncias sociais. Fotossequência: mais usada como ensaio fotográfico, a fotossequência é um conjunto de imagens destinadas a retratar uma,cena ou uma notícia, funcionando como animação ou narração de uma história. Fotojornalista e repórter fotográfico Há diferenças entre o fotojornalista e o repórter fotográfi co. A principal dife- rença consiste na formação acadêmica. O repórter fotográfi co é normalmente formado em jornalismo. Já o fotojornalista é um fotógrafo com formação acadêmica em outras áreas que não as de comunicação. No entanto, ambos exercem a mesma função: informar por meio de imagens. Essa diferenciação também é apontada por Recuero ([2000]), que destaca que o repórter fotográfico é identificado por critérios técnicos utilizados na hora de fotografar. Ou seja, não basta um jornalista tirar fotos para ser considerado um repórter fotográfico; ele precisa saber utilizar o equipamento profissional e identificar nos acontecimentos momentos a serem noticiados e informados. Para Recuero ([2000], p. 12), “[...] um bom fotógrafo deve saber identificar as imagens que melhor irão informar e de certa forma se adaptar aos textos. A informação, o entretenimento e o poder de indução para o jornal fazem parte das qualificações de uma imagem fotojornalística”. 3O mercado do fotojornalismo Além disso, Recuero ([2000]) destaca que os fotojornalistas não são apenas ilustradores de eventos ou retratistas de matérias; eles são profissionais que buscam oferecer ao leitor uma visão dos fatos e acontecimentos. Isso ocorre por meio das imagens capturadas por suas lentes fotográficas, que devem gerar reflexões e questionamentos no público leitor. Portanto, o trabalho do repórter fotográfico é algo muito mais amplo, com reflexo na construção e na percepção da realidade. Se você considerar o crescente avanço da tecnologia de captação de ima- gens, que permite o manuseio de equipamentos por qualquer pessoa, vai compreender por que a profissão de fotojornalista está em expansão. Afinal, o campo do fotojornalismo precisou se adaptar à nova realidade e passou a ampliar suas frentes de atuação. Se antes o profissional estava limitado a atuar nas redações dos veículos de comunicação, atualmente há demandas por imagens fotojornalísticas advindas tanto de agências de notícias como de empresas e organizações do setor público, do setor privado e do terceiro setor. Essa expansão promoveu um aumento nos segmentos de atuação, bem como tornou o mercado mais competitivo. Isso ocorreu porque uma imagem fotojornalística não precisa ser tirada apenas por um fotojornalista ou repórter fotográfico. O que classifica o teor noticioso da imagem é seu conteúdo, não sua autoria. Essa dissociação entre o conteúdo e sua produção possibilitou a atuação de profissionais que não possuem formação em comunicação, jorna- lismo ou até mesmo fotografia. Alguns dos principais nomes do fotojornalismo brasileiro, como Sebastião Salgado e Walter Firmo, não são formados na área. Atuação em veículos midiáticos A área mais tradicional de atuação fotojornalística são os veículos de comunica- ção de massa, em especial os jornais impressos e revistas — âmbitos de origem do fotojornalismo. Segundo Recuero ([2000]), a fotografi a para publicação em jornal possui algumas características próprias, tais como diferenciações em sua concepção e seu enquadramento. Além disso, as imagens devem ser adequadas aos veículos, isto é, devem se adaptar ao espaço específi co destinado à pauta, o que precisa ser considerado no planejamento do fotojornalista. Outra característica apontada por Recuero ([2000]) é o fato de que os jornais são, por natureza, imediatistas. Além disso, pedem que as imagens produzidas possuam aspectos especiais, destacando o elemento noticioso principal. Para o autor, o imediatismo da informação faz com que a fotografia realizada para os jornais tenha duração efêmera. Veja: O mercado do fotojornalismo4 As fotografias de jornais são mais relacionadas ao dia a dia e, portanto, retratam mais a vida em toda a sua realidade de fatos imediatistas, imprevisíveis, e são estes momentos e acontecimentos que despertam a atenção, a curiosidade, o interesse público e que podem envolver personalidades, comunidades, partidos políticos ou organizações sociais (RECUERO, [2000], p. 19). Para Recuero ([2000]), essa característica de despertar a atenção e a curiosi- dade do público leitor é a faceta mais importante da fotografia jornalística. “Os jornais utilizam este tipo de fotografia como uma de suas formas de comunicação de grande poder de impacto junto ao público” (RECUERO, [2000], p. 20), que pode compreender melhor o assunto por meio das imagens registradas. Além disso, os fatos internacionais também apresentam grande visibilidade devido à sua repercussão. De acordo com o referido autor, em notícias do cenário internacional, a fotografia possui ainda mais relevância, pois situa o leitor em relação ao acontecimento, dando mais detalhes sobre o que o texto informa. Para que a fotografia jornalística cumpra todas as suas funções com maestria, os repórteres fotográficos devem ser orientados pela equipe de redação e pelo editor do jornal sobre o que, onde e como fotografar. A escolha desse enquadra- mento e dos acontecimentos é denominada “pauta fotográfica”. É exatamente por meio da pauta que o fotojornalista trabalha. “A pauta deverá direcionar as fotos que o repórter terá que realizar, porém ela nunca poderá ser suplantada pela criatividade, o momento exato de catar a ação” (RECUERO, [2000], p. 20). Desse modo, a rotina de um fotojornalista nas redações se inicia com uma reunião de pauta fotográfica. Nessa reunião, o profissional recebe os direciona- mentos sobre os assuntos e acontecimentos que vai registrar naquele dia, além de saber qual será o espaço destinado às imagens (se vai produzir uma foto para a primeira página ou para uma matéria de quatro páginas, por exemplo). Segundo Recuero ([2000]), o trabalho diário do fotojornalista inclui ainda chegar antecipadamente aos acontecimentos pautados, com a credencial de profissional de imprensa para realizar seu trabalho e, se possível, ser o último a retirar-se do local. Essas simples atitudes podem render imagens únicas e especiais. Isso ocorre porque, ao adiantar-se, o profissional pode estudar antecipadamente a iluminação e os locais mais propícios para o melhor enquadramento, escolhendo o melhor posicionamento para o desempenho de suas tarefas pautadas. Após os registros, é preciso selecionar as imagens que melhor se adaptam ao espaço destinado à pauta e que oferecem a melhor relação texto–imagem. Ou seja, a fotografia vai complementar as informações narradas na matéria, destacando em detalhes os aspectos noticiosos de maior impacto para o público leitor. 5O mercado do fotojornalismo Você deve ter em mente que, embora o assunto seja direcionado pela pauta editorial, a maneira de captar as imagens e registrar os acontecimentos é de inteira responsabilidade do fotojornalista. Ele deve selecionar o equipamento mais adequado, as técnicas que vai utilizar para compor o enquadramento das imagens, o ângulo de obtenção das fotografias e, portanto, a visão que dará para a notícia registrada. A força de uma fotografia de jornal decorre da observação do fotojornalista e do poder de síntese da imagem clicada. “A eficiência da informação que [a fotografia] contém e a carga da realidade do acontecimento são também alguns aspectos que irão caracterizar esta forma de comunicação não verbal” (RECUERO, [2000], p. 20). Outra observação é com relação à rapidez e à agilidade que o fotojornalista precisa desenvolver para capturar os acontecimentos e conseguir um bom resultado. Afinal, muitas vezes as fotos são feitas no calor dos acontecimen- tos, ou até mesmo em situações que envolvem um risco iminente para os profissionais. É preciso, portanto, ter agilidade na tomada de decisões sobre o que fotografar e sobre quais angulações escolher para registrar melhor os fatos. Isso exige prática, atenção às ações que estão ocorrendo ao redor e conhecimento dos fatos,que possuem mais interesse para a opinião pública ou que ilustram melhor as informações publicadas. Essa agilidade e essa destreza são fundamentais para os profissionais que atuam em redações e veículos de comunicação, uma vez que não existe outra possibilidade de registrar os acontecimentos, ou seja, “[...] a informação aqui, se tem ou não se tem!” (RECUERO, [2000], p. 21). Essas características são essenciais para aqueles profissionais que desejam atuar no mercado de veículos impressos, por exemplo, pois o repórter foto- gráfico precisa mostrar os acontecimentos em imagens; não é possível apenas relatá-los. “Os fotógrafos profissionais devem, no entanto, ter presente uma definição ao realizarem seus trabalhos, suas fotografias não devem apenas ‘ilustrar’ versões dos acontecimentos, mas traduzir o fato em imagens” (RE- CUERO, [2000], p. 21). Com relação a esse imediatismo, Sousa (2000, p. 200) faz um alerta ao afirmar que hoje se assiste a uma “[...] industrialização crescente da produção rotineira de fotografia jornalística, centrada no imediato e não no desenvol- vimento global dos assuntos, nos processos — mais ou menos lentos — de investigação”. Portanto, o autor alerta que, mesmo com as solicitações do O mercado do fotojornalismo6 veículo, é preciso que o fotojornalista atente ao contexto como um todo e compreenda a importância da sua imagem para retratar os fatos noticiosos. Ele deve ter em mente que as imagens vão, por vezes, situar o leitor e oferecer um ponto de vista sobre as informações publicadas. Além dos jornais, outros veículos que utilizam bastante as fotografias jornalísticas são as revistas. Para Recuero ([2000]), é preciso destacar a diferença da produção fotojornalística de jornais e revistas. Afinal, como você já sabe, o jornal tem um caráter de urgência nas imagens. Por sua vez, a revista possibilita um controle melhor do cenário e da iluminação; assim, permite ao fotojornalista trabalhar de maneira mais elaborada e planejada. “O controle que se exerce sobre o assunto a ser fotografado e a ausência de ‘movimentação dos acontecimentos’ dão de certa maneira uma maior possibilidade para que o fotógrafo consiga realizar um traba- lho mais aprimorado, onde a técnica tem uma importância muito maior” (RECUERO, [2000], p. 14). Em suma, embora os registros fotográficos para jornais e revistas tenham suas peculiaridades, sua função primordial é registrar fatos, acontecimentos e momentos decisivos para a história. Portanto, as imagens produzidas por repórteres fotográficos ou fotojornalistas precisam informar, acima de tudo, e também questionar, esclarecer e opinar sobre as notícias, oferecendo aos leitores de jornais e revistas uma tradução dos fatos. 2 Agências de notícias: frente de atuação do fotojornalismo O mercado de trabalho em fotojornalismo se alterou drasticamente nos últimos tempos. Com a demanda crescente de imagens que retratavam problemas glo- bais e a falta de recursos dos veículos de comunicação para manter jornalistas em sucursais, emergiu o trabalho desenvolvido pelas agências de notícias. Mas, afinal, o que são agências de notícias? Somavía (1980) descreve as agências como organismos estrangeiros que fornecem informações dentro de cada nação. Ou seja, são as organizações que fornecem notícias aos veículos de comunicação, devido à inviabilidade de os jornais manterem um correspondente em cada país do mundo. Erbolato (1983) corrobora essa definição ao destacar que as agências de notícias têm como principal objetivo obter informações e documentação sobre os acontecimentos que 7O mercado do fotojornalismo sirvam para exprimir ou relatar os fatos narrados. No entanto, atualmente, não há apenas agências de notícias internacionais; há agências locais que produzem conteúdo para os veículos nacionais. As agências de notícias podem ser classificadas de acordo com sua orga- nização jurídica. Veja a seguir. Particulares: agências que surgiram por iniciativa própria e são ad- ministradas por empresas privadas. Cooperativas: agências que surgiram por meio de um consórcio de vários jornais, que as mantêm e administram. Estatais: agências de notícias criadas por governos e mantidas pela administração pública. Há ainda a classificação das agências de acordo com sua finalidade: as agências gerais são aquelas que divulgam todo e qualquer aconte- cimento noticioso; as agências especializadas se dedicam exclusivamente a difundir informações sobre determinados segmentos e assuntos; as agências fotojornalísticas distribuem apenas fotografias jornalísticas; as agências de artigos se dedicam a produzir matérias especiais assi- nadas por nomes de destaque do jornalismo nacional ou internacional; as agências nacionais são agências locais que fornecem notícias sobre um único país; as agências internacionais divulgam informações de e para todo o mundo (ERBOLATO, 1983). Uma agência de notícias é, portanto, uma distribuidora e fornecedora de conteúdo jornalístico em demanda contínua. Ela funciona como um jornal para jornalistas, uma vez que seu público é composto pelos profissionais jornalistas, que dão forma à notícia e a publicam para ser lida pela população em geral. Os veículos de comunicação se enquadram como clientes das agências, pois normalmente pagam quantias mensais para ter o direito de reproduzir e publicar o conteúdo produzido pelas agências. Além dos veículos de comunicação, outros tipos de empresa — como bancos, investidoras e instituições públicas que desejam acompanhar em tempo real todas as informações ao redor do mundo — também são clientes das agências de notícias. No entanto, essa demanda pode custar alto, uma vez que agências de notícias produzem um alto volume de matérias e buscam escoar essas informações de maneira ampla. O mercado do fotojornalismo8 Em uma comparação com o mercado, as agências de notícias trabalhariam com o atacado de informações, fornecendo suas produções aos veículos midiáticos. Já os canais de comunicação atuariam como varejo da notícia, por disponibilizarem as informações para o público final. Você deve considerar ainda que as notícias publicadas nos jornais constituem apenas uma pequena parte da imensa produção das agências de notícias, que fornecem diariamente matérias sobre os mais distintos assuntos. Entre as principais agências de notícias contemporâneas, estão a Reuters, a Associated Press (AP) e a France-Presse (AFP), que assinam a maior parte do conteúdo disponibilizado por agências de notícias ao redor do mundo. Segundo Erbolato (1983), as agências não podem ser categorizadas como mídia nem como veículos de comunicação, pois não publicam diretamente para os leitores e especta- dores, mas enviam seu material para os veículos, que, estes sim, falam diretamente com o público. No entanto, esse aspecto não é verdade por completo. Afinal, com o crescimento do jornalismo on-line e do acesso aos portais de notícias, muitas pessoas acompanham as informações nos próprios portais disponibilizados pelas agências. Ou seja, mesmo não chegando de maneira ampla ao público final, as agências não são organizações fechadas e exclusivas; elas oferecem opções de acesso às informações para o público leitor de qualquer parte do mundo. Segundo Erbolato (1983), as agências de notícias surgiram em meados do século XIX, com a fundação da Agência Havas pelo escritor e tradutor Charles-Louis Havas, por volta de 1835. Com sede em Paris, a agência enviava informações importantes e notícias internacionais por meio de telegramas para os jornais impressos, que lhe pagavam por esse serviço. Após alguns anos, dois funcionários da Havas, Paul Reuter e Bernhard Wolff, fundaram em Londres e Berlim, respectivamente, outras duas agências concorrentes, a Reuters, em 1851, e a Wolffs Telegraphisches Bureau, em 1849. Anos mais tarde, a Havas alterou seu nome para France-Presse. Ela permanece até hoje como uma das principais agências de notícias,do mundo. Outra agência internacional renomada é a Agenzia Stefani, criada em 1853 por Guglielmo Stefani em Turim. Essa agência ganhou destaque no cenário internacional como a agência mais influente da Itália. 9O mercado do fotojornalismo Agências de notícias de fotojornalismo Existem agências de notícias especializadas na disseminação de fotografi as jor- nalísticas. Recuero ([2000]) destaca que a primeira agência especializada em fotojornalismo surgiu com Robert Capa, David “Chin” Seymour, George Rodger e Henri Cartier-Bresson: a agência Magnum. O objetivo da agência era manter um controle mais efi caz sobre a divulgação do trabalho desenvolvido pelos foto- jornalistas, pois eles estavam enfrentando muitos problemas com a reutilização de suas imagens e com publicações que desrespeitavam os direitos autorais. O modelo proposto pelos fotógrafos foi bem aceito pelo mercado, passando a servir como protótipo para futuras agências especializadas em fotojornalismo. Desse modo, como destaca Recuero ([2000]), as agências especializadas em fotojornalismo são, em sua maioria, associações de repórteres jornalísticos e fotógrafos que atuam como fornecedores de imagens jornalísticas para os grandes veículos. “Estas associações possuem finalidades diversas, que podem ser a de trocar informações, conhecimentos e promover o estudo e a discussão da fotografia e seus avanços tecnológicos, como também a de preservar os trabalhos realizados tanto na autoria como na sua conservação” (RECUERO, [2000], p. 23). Para Sousa (2000), desde os anos 1970 e 1980, as agências de fotografia têm contribuído para a ampliação e a propagação do fotojornalismo de qualidade. “Agências que consagram o fotojornalismo de autor e de projeto de duração indefinida têm seguido o modelo aberto pela Magnum, agência a que Sebastião Salgado pertenceu. São os casos das americanas Contact e JB Pictures e da francesa Vu” (SOUSA, 2000, p. 202). Para o autor, essas pequenas agências especializadas têm contribuído significativamente, junto aos jornais e revistas de qualidade, para ampliar as produções da fotografia jornalística e romper com as rotinas e os critérios de noticiabilidade dominantes nas redações dos A guerra civil americana intensificou a promoção das agências nos Estados Unidos e fez com que os maiores jornais de Nova Iorque se unissem para formar a Associated Press em 1845. Depois disso, jornalistas e correspondentes de guerra eram enviados aos campos de batalha para reunir informações sobre o conflito. A Associated Press logo se firmou no mercado, sendo a única agência estadunidense por mais de 50 anos, até que a United Press e a International News Service fossem fundadas, respectivamente em 1907 e 1909. Em 1958, as duas agências se fundiram e formaram a United Press International (UPI). No Brasil, a primeira agência de notícias foi fundada em 1931, por Assis Chateaubriand: a Meridional de Notí cias, atual D.A. Press. Logo, também surgiram a Agência Brasil e a Agência Estado. O mercado do fotojornalismo10 grandes veículos, como a velocidade, a atualidade e a ação. Essas agências vêm transformando o fotojornalismo e proporcionando resultados de alto valor simbólico e estético, com imagens que realmente aprofundam os assuntos abordados, afinal não há o imediatismo exigido pelos veículos. Os profissionais possuem mais liberdade criativa e mais tempo para produzir suas imagens, o que resulta em qualidade técnica e estética superior. Além da divulgação das fotos produzidas, as agências oferecem um suporte legal e de logística aos repórteres fotográficos e fotojornalistas. Elas auxiliam os profissionais na confecção de contratos e registros, na solicitação de serviços, na organização de viagens e documentação, assim como na organização de projetos, na busca por financiamentos e investidores para os projetos e em diversas outras necessidades. Segundo Recuero ([2000]), as agências também realizam um serviço de preservação de direitos autorais das obras de seus associados. Muitas vezes, elas funcionam como um banco de imagens que disponibiliza as fotos produzidas ao público interessado mediante um pagamento por direito de uso. Apesar de as agências de notícias existirem desde o século XIX, até hoje as informações sobre elas são muito restritas, dada a sua importância para a história do jornalismo e do fotojornalismo, mesmo elas produzindo e divul- gando diariamente um volume imenso de informações. É irônico que muitas pessoas e até mesmo os próprios jornalistas desconheçam o papel das agências e a sua função na consolidação do jornalismo. A agência de fotojornalismo mais prestigiada do mundo Criada em 22 de maio de 1947, em Nova Iorque, pelos fotógrafos Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, George Rodger e David Seymour, além de William e Rita Vandivert, a Magnum Photos Inc. é a agência de fotojornalismo com maior prestígio no mundo. Com mais de 70 anos de história, a agência permanece até hoje como símbolo de excelência em fotografi a jornalística, unindo jornalismo e arte. Desde sua criação, a Magnum reúne um seleto grupo de fotógrafos reconhecidos internacionalmente pela qualidade estética de seus trabalhos. Ao longo de sua trajetória, a agência sofreu com perdas irreparáveis, em especial na década de 1950. Em 1954, um dos fundadores, Robert Capa, perdeu a vida ao pisar em uma mina no Vietnã. Outro fundador da agência, David Seymour, foi morto com um tiro de metralhadora no Canal de Suez em 1956. Além disso, atualmente a agência enfrenta problemas devido à disseminação de imagens no ambiente digital. 11O mercado do fotojornalismo A essência da Magnum é o equilíbrio entre jornalismo e arte. Além disso, seus fotógrafos associados se mantêm fiéis aos princípios estabelecidos pelos fundadores da agência: respeito à individualidade, visão pessoal e interpretativa dos fatos. Ou seja, a Magnum sempre priorizou o olhar individual de cada fotógrafo para o registro dos acontecimentos; esse olhar representa a identidade de cada profissional e, por isso, deve ser respeitado. O que unifica os trabalhos produzidos sob a chancela da Magnum é o conceito de jornalismo autêntico e o olhar humanista com que os fotógrafos enxergam e registram o mundo. A agência Magnum foi criada com o intuito de estimular as ideias criativas dos fotógrafos associados e também como forma de controlar os direitos autorais das imagens. Ou seja, a agência defende desde o princípio que os direitos autorais pertencem aos fotógrafos, e não aos veículos em que as imagens seriam publicadas. Desse modo, até hoje os fotógrafos da Magnum enviam suas imagens com enqua- dramentos específicos, legendas e comentários detalhados para que elas não sejam alteradas, modificadas ou publicadas fora de contexto. Ao longo de sua história, a Magnum já teve em seu quadro de associados inúmeros fotógrafos renomados internacionalmente, incluindo o brasileiro Sebastião Salgado (ZEHBRAUSKAS, 1998). A Figura 1, a seguir, mostra a equipe da agência em 1990. Figura 1. Fotógrafos da Magnum em encontro realizado na cidade de Paris em 1990. Fonte: Magnum Photos (1990, documento on-line). O mercado do fotojornalismo12 3 Empreendedorismo e autonomia no fotojornalismo O campo do fotojornalismo se transformou radicalmente nos últimos anos, principalmente em decorrência do ambiente digital e do jornalismo on-line. Como você sabe, na web as imagens são publicadas em tempo real, sem o intermédio de um profi ssional. Com essa crescente demanda por imediatismo e registros cada vez mais instantâneos, difi cilmente são encontrados os modelos tradicionais de atuação dos repórteres fotográfi cos em produções fotojorna- lísticas próprias dos jornais e revistas. Nesse cenário, ampliou-se a atuação das agências de notícias, mas também surgiu a demanda por fotografias isoladas. Esse mercado foi assumido pelos fotojornalistas freelancers, que atuam de forma autônoma, sem vínculo com os meios de comunicação ou com as,agências de notícias. Como destaca Recuero ([2000]), o campo do fotojornalismo exige sempre a presença de um profissional com uma câmera na mão para registrar os acontecimentos, mas isso nem sempre isso é viável. Assim, surgem oportunidades para que repórteres fotográficos sem vínculo empregatício com qualquer órgão da imprensa trabalhem indo ao encontro dos acontecimentos para obter registros e, posteriormente, vender essas imagens para os meios de comunicação interessados. Este repórter fotográfico independente, sem vínculo empregatício, que surge na época moderna, irá se caracterizar pela liberdade, tanto no que se refere à obtenção das imagens como na forma de trabalhar. O poder de decisão sobre o que fazer e o que não fazer, onde ir, o que fotografar lhe possibilitarão a obtenção de imagens únicas, onde muitas vezes os profissionais ligados a algum órgão de comunicação não estarão presentes (RECUERO, [2000], p. 23). Segundo Recuero ([2000]), a atuação profissional fotojornalística na mo- dalidade freelancer possui vantagens como a liberdade para a captação de imagens e assuntos, o poder de decisão sobre o que e como fotografar, além da flexibilidade de horários. Mas há também inúmeras desvantagens, como a falta de garantias de que as imagens produzidas serão adquiridas pelos meios de comunicação e a incerteza sobre o valor a ser oferecido pelo trabalho. Nos últimos anos, houve um aumento no número de profissionais que passaram a atuar de maneira autônoma, mas em contrapartida os profissionais passaram a ter no fotojornalismo uma atividade complementar de renda. Se- gundo dados da pesquisa realizada pela organização World Press Photo (2018), cerca de 62% dos fotojornalistas que participaram do estudo trabalhavam de 13O mercado do fotojornalismo forma autônoma e apenas 59% atuavam como fotojornalistas em tempo inte- gral. Esses dados refletem a realidade do mercado e a diminuição dos postos de trabalho oficiais em meios de comunicação. Por outro lado, os números mostram o aumento crescente de profissionais autônomos e freelancers que atuam esporadicamente na captação de registros fotográficos. Esse novo cenário trazido pelo fotojornalismo digital gera discussões e reflexões sobre a precarização do trabalho, a desvalorização profissional do fotojornalista e as dificuldades financeiras enfrentadas por quem atua de maneira independente. Para o sócio da agência de fotografias Nitro Ima- gens, fundada em 2003 em Belo Horizonte, Leonardo Campos Drumond, o empreendedorismo é uma alternativa plausível para o mercado de trabalho destinado ao fotojornalismo: “É um caminho caro e difícil, mas é um caminho que trilho há 13 anos e tem funcionado. O que permite, por exemplo, suporte para os projetos autorais, que são a verdadeira realização de um fotógrafo” (COVISÃO, 2016, documento on-line). Atualmente, o mercado de fotojornalismo está em expansão e oferece grandes oportunidades para os profissionais que desejam atuar no registro de acontecimentos. É preciso compreender, no entanto, que a demanda por imagens aumentou, mas isso não resultou em um aumento dos postos de trabalho em redações. Houve um aumento das possibilidades de atuação em frentes de trabalho alternativas (por exemplo, agências de notícias) e como freelancer. Portanto, mesmo em um espaço em crescimento, há oportunidades e disputas na mesma proporção. Para se manter no mercado, o profissional que deseja atuar em fotojor- nalismo precisa se atualizar constantemente, compreender as demandas e olhares do cenário atual, bem como identificar os riscos que assume ao cobrir determinados eventos, como manifestações ou situações de conflito. Por outro lado, por meio do seu trabalho, o profissional é capaz de registrar fragmentos da história em imagens e traduzir por meio de uma fotografia sentimentos e emoções humanas que nenhum texto é capaz de explicar. Fotojornalismo na assessoria de imprensa Outra possibilidade de atuar de forma independente no mercado de fotojornalismo é atendendo à demanda por imagens jornalísticas para assessoria de imprensa e mídias sociais. O fotojornalismo, na atualidade, exige dos profi ssionais um conhe- cimento mais abrangente e multimidiático. Ou seja, o repórter fotográfi co precisa clicar boas fotos, mas também produzir esse conteúdo nos mais diversos formatos O mercado do fotojornalismo14 (material impresso, material digital, mídias sociais e assessorias de imprensa). Desse modo, o profi ssional acaba por utilizar não apenas os recursos fotográfi cos, mas também recursos de áudio e vídeo para complementar seu registro. A importância de registrar os acontecimentos e o poder de impacto de uma imagem vêm ganhando a atenção também dos profissionais de comunicação que atuam no setor privado, em especial nas agências de comunicação e assessorias de imprensa. O mercado de comunicação compreende que, para atuar de maneira integral e sinérgica, todos os elementos comunicativos devem ser bem elaborados. No caso de releases, por exemplo, quando texto e imagem são bem desenvolvidos, há um impacto e um resultado muito mais efetivos. Segundo Ana Paula Ruschel, jornalista e criadora da Oficina das Palavras, tanto a imagem quanto o texto escrito possuem o mesmo impacto na atração de leitura. Para a jornalista, um material bem elaborado exige que a fotografia que acompanha o texto represente a qualidade do conteúdo, ou seja, é preciso produzir uma imagem que condiz com a essência e a reputação da organização promovida (A IMAGEM, 2009). Segundo Rodella (2011), a fotografia produzida para as assessorias de im- prensa deve reforçar ou transmitir uma imagem positiva da organização, assim como ter um formato adequado à s redações. Para isso, é preciso manter as carac- terísticas do gênero fotojornalístico e se enquadrar nos critérios de noticiabilidade. O fotoassessorismo se aproxima do fotojornalismo pelo seu cará ter de registro do acontecimento, mas se distancia dele ao intencionar manter uma imagem, no sentido amplo, subjetivo, favorá vel ao assessorado, tanto da organizaç ã o como de seus dirigentes. A intencionalidade do repó rter fotográ fico em assessoria de imprensa é transmitir ao leitor um registro bené fico de seu assessorado. Em razã o disso, ocorre uma premeditaç ã o da imagem a ser produzida, de forma a valorizar esteticamente o cená rio, bem como organizar personagens e objetos a serem fotografados. O repó rter-fotográ fico manipula enquadra- mentos, planos, focos e pensa com antecedê ncia os conceitos e valores que quer transmitir para o leitor (RODELLA, 2011, p. 35). Portanto, é necessário produzir uma foto no ângulo certo, no momento certo. E o fotojornalista vem ao encontro dessa necessidade, pois é um profissional que conhece as demandas do mercado jornalístico e compreende as múltiplas facetas da organização. Assim, o resultado de um material produzido por um fotojornalista não se apresenta como material publicitário ou autorretrato; está em jogo a captura de imagens que retratem o principal conceito do cliente e traduzam a essência organizacional. 15O mercado do fotojornalismo Nas assessorias de imprensa, o fotojornalismo atua na construção da ima- gem do cliente. E isso é realizado por meio da seleção do enquadramento, da perspectiva e da composição da imagem. Essa retratação não é uma manipu- lação da imagem, e sim o trabalho do fotojornalista de projetar e traduzir nas fotografias o conteúdo das informações que deseja transmitir. E não é tarefa fácil representar em imagens o comportamento organizacional. Para Ana Paula Ruschel, “[...] trabalhar a imagem de um cliente é fazer uso de uma gama de recursos profissionais que atinjam o resultado almejado no momento da contratação (do serviço)” (A IMAGEM, 2009, documento on-line). Assim, os registros fotojornalísticos atuam não apenas para complementar o conteúdo de um release ou na cobertura de um evento corporativo, mas também como regis- tros documentais para,a memória organizacional. Nesse sentido, eles registram o desenvolvimento da instituição e o reflexo das políticas implementadas pela organização e por seus líderes. Essa memória fotográfica é essencial para construir o imaginário histórico e a cultura organizacional. Afinal, ela representa rupturas e transformações, como momentos de consolidação e conquistas. Portanto, o assessor de imprensa busca auxiliar seu cliente no momento de trans- mitir uma informação visual sobre a organização, seus produtos e serviços. Além disso, busca promover ações comunicativas que expressem a essência organizacional, refletindo-a também nas fotos divulgadas. O fotojornalismo é o campo capaz de traduzir essas necessidades em imagens fotográficas oportunas e responsáveis. A IMAGEM. O fotojornalismo na assessoria de imprensa. 2009. Disponível em: https:// aimagem.wordpress.com/2009/06/04/o-fotojornalismo-na-assessoria-de-imprensa. Acesso em: 2 fev. 2020. COVISÃO. O mercado de trabalho do fotojornalismo na era da Internet. [S. l.]: Medium, 2016. Disponível em: https://medium.com/@fotojornalismopi/o-mercado-de-trabalho-do- -fotojornalismo-na-era-da-internet-be24a74c8b7. Acesso em: 19 fev. 2020. ERBOLATO, M. Té cnicas de codificaç ã o em jornalismo. Petró polis: Vozes, 1983. MAGNUM PHOTOS. History. London, 1990. Disponível em: https://www.magnumphotos. com/about-magnum/history. Acesso em: 19 fev. 2020. RECUERO, C. L. Fotojornalismo: a histó ria, a prá tica e a té cnica. Atlas, [2000]. Disponí vel em: https://www.academia.edu/12187717/FOTOJORNALISMO_A_história_a_prática_e_a_ técnica. Acesso em: 1 fev. 2020. O mercado do fotojornalismo16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. RODELLA, C. A. Fotoassessorismo: a imagem fotográfica na assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Maringá. Discursos Fotográficos, v. 7, n. 10, 2011. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/9213. Acesso em: 2 fev. 2020. SOMAVÍ A, J. A estrutura transnacional de poder e a informaç ã o internacional. In: MATTA, F. R. (org.). A informaç ã o na nova ordem internacional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. SOUSA, J. P. Fotojornalismo: uma introduç ã o à histó ria, à s té cnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Porto: [s. n.], 2002. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/ sousa-jorge-pedro-fotojornalismo.pdf. Acesso em: 31 jan. 2020. SOUSA, J. P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Florianópolis: Letras Con- temporâneas, 2000. WORLD PRESS PHOTO. The state of news photography 2018. Amsterdam, 2018. Dispo- nível em: https://www.worldpressphoto.org/getmedia/4f811d9d-ebc7-4b0b-a417- f119f6c49a15/the_state_of_news_photography_2018.pdf. Acesso em: 19 fev. 2020. ZEHBRAUSKAS, A. Magnum foi criada em 1947. Folha de S. Paulo, 1 mar. 1998. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs01039806.htm. Acesso em: 2 fev. 2020. 17O mercado do fotojornalismo FOTOJORNALISMO: TÉCNICAS E LINGUAGENS Camila Olivia de Melo O ato fotográfico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você será capaz de: Identificar as competências do repórter fotográfico. Listar as atitudes desejáveis do repórter fotográfico. Catalogar acervos fotográficos. Introdução O repórter fotográfico, sendo um profissional polivalente, utiliza em seu trabalho as teorias do jornalismo e as técnicas da fotografia. Por isso a técnica, a estética e a práxis desse profissional com câmera nas mãos faz parte das competências necessárias nesse campo de saber. Neste capítulo, você vai poder identificar as habilidades que um re- pórter fotográfico precisa adquirir para a execução de seu trabalho em campo. Para isso, verá as atitudes esperadas de um profissional da área do jornalismo e a importância da organização do trabalho digital, em especial das fotografias produzidas por esse profissional, já que a catalogação e a criação descritiva de metadados para as imagens são fundamentais para a sua preservação digital. As diferentes habilidades do repórter fotográfico Pode-se afi rmar que a fotografi a de imprensa possui três principais dimensões: a técnica, a estética e a deontológica (o conjunto de regras a guiar essa profi ssão). O repórter fotográfi co na contemporaneidade está diante da multiplicação e do acesso livre aos saberes da fotografi a. Nesse sentido, o produto imagético desse profi ssional (a fotografi a jornalística) reúne diferentes técnicas, expressa estética documental e, para contar os acontecimentos de maneira visual, segue determinados parâmetros da profi ssão (PEIXOTO, 2018). As pautas jornalísticas destinadas aos repórteres fotográficos nem sempre serão realizadas em território seguro, podem ser em meio a conflitos sociais e culturais — são histórias contadas visualmente que chegarão aos olhos do público por meios diversos. O fotógrafo Simon Norfolk (2017, p. 6) nos apresenta uma metáfora que vale para o seu trabalho: tirar uma foto produziria uma força, a “[...] ignição em um motor de combustão”. Segundo Norfolk (2017), quando se depara com repórteres fotográficos do cotidiano, ou seja, pessoas comuns com suas câmeras e celulares nas mãos, o que guiará o seu olhar será a força em contar histórias reais. Mas esse, aparentemente, é o objetivo comum entre todas as pessoas que direcionam suas câmeras portáteis ao mundo. Por isso, determinadas competências dão suporte ao registro imagético dos fatos. Contudo, a fotografia de imprensa não pode ser considerada apenas como uma “imagem notícia”. Peixoto (2018) nos lembra que ela traz também “pontos de vista”. Nesse sentido, quais seriam as habilidades a guiar um jornalista com câmera fotográfica nas mãos? A partir dos textos clássicos de Shuman (1894, 1903), Peixoto (2017) elucida que um repórter fotográfico trabalha a partir de uma convergência de práticas profissionais e possui a competência de um escritor, mas irá produzir seu conteúdo por meio de imagens; escreve não com palavras, mas com fotogra- fias. Por isso, o direito de uso de imagens (autoria, copyright e catalogação) deve ser alguma das preocupações desse profissional — um recurso comum são as autorizações de uso de imagem que devem ser debatidas com quem cederá a sua imagem. Os manuais de jornalismo servem como base para a maior parte do que se entende (e se pratica) na área da fotografia jornalística. Sendo assim, o repórter fotográfico precisa compreender a dimensão técnica (tanto textual como imagética), que “[...] diz respeito à caracterização do atributo da atualidade como um fator primordial para a compressão tanto da estrutura da cadeia de produção quanto da cadeia de consumo das imagens” (PEIXOTO, 2017, p. 26). Ou seja, a teoria jornalística é fundamental para embasar a produção das imagens e os registros dos fatos, de modo que esse produto informativo possa ser comercializado e distribuído ao público. Quanto à dimensão estética alguns detalhes se fazem fundamentais. Segundo Paul Lowe (2017), o repórter fotográfico terá que demonstrar a capa- cidade em criar cor e tom. Ou seja, em fotos preto e branco ou coloridas, a luz terá que ser compreendida como crucial à sua produção. Além disso, reconhecer O ato fotográfico2 quais câmeras são adequadas para cada situação é uma das competências que se espera de um repórter fotográfico. Nesse sentido, o autor aponta o modelo reflex monobjetiva (single-lens reflex, SLR) como eficaz para a maioria das situações, pois permite utilizar diferentes objetivas e zooms. Portanto, um equipamento versátil facilitará a movimentação em campo. A pauta jornalística será o,guia do repórter fotográfico. Certamente ela não é um circuito fechado, mas é necessário que o objetivo da produção esteja nítido ao repórter. O fotojornalista desenvolverá os fatos não por meio de palavras, mas por imagens. O detalhe dos objetos e as pessoas que encontra em cena a serem fotografadas operam como frases e palavras em um texto. Assim, em campo, o repórter irá identificar aquilo que poderia fornecer as informações desejadas, escrevendo sobre isso com imagens. Porém, não através de seus olhos, mas com o olhar da câmera. Nesse contexto, Paul Lowe (2017) indica aos profissionais: “[...] antes de tudo, lembre-se do que você está tentando dizer com sua imagem, então pense em como expressar isso usando as técnicas formais disponíveis pra você a fim de comunicar o conteúdo da imagem” (LOWE, 2017, p. 23). A fotografia nesse sentido atinge força por conta de seus “detalhes”, como propõe, no trecho a seguir, Roland Barthes (1984) — uma fotografia nessa perspectiva não poderia apenas descrever a cena, ela viria carregada de “al- guma coisa”. Como a fotografia é contingência pura e só pode ser isso (é sempre alguma coisa que é representada) — ao contrário do texto que, pela ação repentina de uma única palavra, pode fazer uma frase passar da descrição à reflexão —, ela fornece de imediato esses ‘detalhes’ que constituem o próprio material do saber etnológico (BARTHES, p. 49, 1984). Por fim, percebe-se que a dimensão ontológica das práticas profissionais vinculadas ao repórter fotográfico ainda estão sendo configuradas. A seguir, serão apresentadas algumas dessas condutas que guiam a profissão. Por ser campo recente nas pesquisas acadêmicas, a fotografia e o jornalismo servem como base a esse profissional, que conta com a arte sensível e dos detalhes da fotografia (BARTHES, 1984) e com os saberes da economia das notícias que o campo da comunicação oferece (CURADO, 2002). 3O ato fotográfico Atitudes de um repórter fotográfico O que se espera de um repórter fotográfi co se equivale ao que se deseja encontrar em um jornalista. O profi ssional que irá contar fatos por meio de imagens, seja para televisão, para meio impresso ou mídias sociais, como afi rma Olga Curado (2002, p. 50) “[...] tem a curiosidade do repórter e a sensibilidade do artista fotográfi co”. Portanto, além da formação técnica e acadêmica, é preciso sensibilidade artística. Ao sair para cumprir as pautas, que podem variar de duas até sete por dia, esse profi ssional terá que conhecer o conjunto da pauta, seus objetivos e o que será de fato importante para transmitir aos olhos do público. O repórter fotográfico, ao chegar da pauta, deverá selecionar aquelas imagens que melhor contarão a sua história. Essa seleção é debatida com o editor-chefe, que irá encaminhar esse produto imagético para as outras etapas da cadeia de comunicação. Nesse sentido, boa comunicação e diálogo são atitudes desejáveis. A corrida contra o tempo não poderá limitar o diálogo O ato fotográfico4 em equipe. Olga Curado (2002), preocupada com os conflitos no dia a dia das redações, aponta as seguintes ações e atitudes importantes no cotidiano da profissão. Conteúdo: na produção de conteúdos, o compromisso será jornalístico, o interesse do público será prioridade e a linha editorial da empresa precisa estar alinhada a responsabilidades sociais. A captura das imagens precisará expressar esse compromisso. Marcas/consumidor: relações comerciais e prestação de serviços entre patrocinadores e jornalistas não poderão ultrapassar o limite do serviço contratado. O lugar do repórter fotográfico nessa relação não poderá ser o de consumidor, terá de cumprir a pauta e o registro da cena. Estabelecer vínculos não profissionais entre marcas e empresas jornalísticas fere o compromisso com o público. Atividades políticas: entra em questão a objetividade da transmissão de imagens, já que, caso o repórter fotográfico esteja vinculado a alguma atividade partidária, essa visão acabará, de alguma maneira, interferindo no registro dos acontecimentos. Portanto, a participa- ção em frentes políticas precisará ser nitidamente discutida com o editor-chefe. Atividades financeiras: a obtenção de lucro pessoal, vantagem eco- nômica ou uso de informação para benefício próprio é inaceitável em profissionais que lidam com a transmissão e a visibilidade de informa- ções obtidas apenas por esse meio. Facilidades e gratuidades: haverá situações em que o jornalista terá que negar a oferta de troca de favores e gratuidades; o material a ser produzido e a imagem a ser registrada não poderão receber interfe- rência de empresas, instituições ou qualquer tipo de “generosidade”; a gratuidade (acomodação, refeição, transporte) terá um preço implícito, e o compromisso do repórter fotográfico deve ser com a pauta e com as necessidades de seu público. O repórter fotográfico é, na maioria dos casos, o primeiro a chegar. Frente às cenas do acontecimento, existe urgência em transmitir rapidamente as ima- gens captadas, mas, para que a foto seja produzida, é necessário conhecimento técnico e foco nos objetivos da pauta para, assim, encontrar o melhor local para posicionar a câmera. Em campo, o repórter aplica a técnica da fotografia para produzir produtos jornalísticos. Assim, estar bem posicionado em cena fará muita diferença no resultado. O trabalho, no entanto, não é finalizado 5O ato fotográfico até as imagens serem enviadas, muitas vezes do local ao qual a pauta levou o repórter fotográfico (CURADO, 2002). Por fim, é importante, ainda, o senso de urgência e oportunidade. Na corrida pela primeira imagem ou, ao menos, pela imagem que dirá o que a pauta solicita, será necessária certa combustão, como propõe o fotógrafo Simon Norfolk (2017). A força de contar histórias reais e manter a ética em produzir conteúdos que levem informação ao público torna o trabalho do fotógrafo também o de um jornalista. Em 1987, foi aprovado o código de ética dos jornalistas, que prevê determinadas condutas ao exercício da profissão. Barbeiro e Lima (2002) nos transcrevem seus artigos e destacam os trechos a seguir, que nos auxiliam a pensar sobre as atitudes dentro do jornalismo. Artigo 6º - O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e de finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética. Artigo 7º - O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e eu trabalho se pauta pela precisa apuração dos aconteci- mentos e sua correta divulgação. Artigo 8º - Sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a origem e a identidade das suas fontes de informação. Artigo 9º - É dever do jornalista: a. divulgar todos os fatos que sejam de interesse público; b. lutar pela liberdade e pelo pensamento de expressão; c. defender o livre exercício da profissão; d. valorizar, honrar e dignificar a profissão; e. opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como de- fender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem; f. combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar a informação; g. respeitar o direito à privacidade do cidadão; h. prestigiar as entidades representativas e democráticas da categoria. Note que, independentemente da posição a se ocupar na linha de produção da comunicação, esses preceitos são a base para o exercício na área. O repórter fotográfico é fotógrafo, mas antes é também jornalista. O ato fotográfico6 Organização e catalogação Para que o resultado do material fotográfi co se torne um recurso disponível (seja para usuários da Web ou para o público do meio de comunicação), as imagens digitais precisam ser organizadas e sistematizadas. Portanto, é necessário que a informação imagética passe pelo processo de descrição e catalogação, e será com ferramentas e software específi cos que a organização dos metadados (as infor- mações textuais da imagem) será,realizada. O trabalho de organizar as imagens em espaços virtuais faz parte do exercício de visibilizar os conteúdos produzidos tanto pela instituição quanto pelo repórter fotográfi co. Esse trabalho é necessário para a garantia dos direitos autorias e para a sua preservação digital (SILVA, 2005). Portanto, a atividade de catalogar acervos fotográficos está ligada ao campo da ciência da informação, que, ao longo de seu desenvolvimento, têm ofertado soluções seguras para essa preservação digital. Nessa linha de pesquisa, para que os dados da imagem sejam recuperados (durante uma pesquisa na Web, por exemplo), é preciso que sua informação visual (e, assim, criam-se categorias de indexação) seja traduzida em texto. E quais seriam as informações essenciais para a catalogação de fotografias digitais? As pesquisadoras Renata Padilha e Lígia Café (2014), inspiradas em teóricos da ciência da informação, como, por exemplo, Manini (2008) e Kossoy (2001), apresentam um quadro organizador que pode auxiliar o trabalho de organização e catalogação. O texto descritivo da informação visual é denominado por Padilha e Café (2014) como metadado, que gera a descrição dos aspectos intrínsecos da imagem. A seguir, veja as principais categorias textuais cujo preenchimento é incentivado durante a organização digital do material fotográfico: identidade do documento + características individuais (sobre o que é a foto); informações referentes ao assunto (o que o tema da foto diz); informações referentes ao fotógrafo (autoria, data e local); informações referentes à tecnologia (equipamento utilizado, estúdio ou em campo). Caso o repórter fotográfico seja responsável por inserir as informações nos campos descritivos, os software do pacote Adobe, em especial o Bridge, têm permitido a organização da informação textual nas imagens. As pesqui- sadoras elucidam a respeito do campo referente ao autor da imagem que se deve criar um descritivo textual em “[...] busca [de] identificar o fotógrafo e/ou estabelecimento, autor do registro, enquadrando-o num cenário social 7O ato fotográfico diante das relações que o envolvem. Este tópico traça a identidade pessoal e profissional do autor” (PADILHA; CAFÉ, 2014, p. 105). A respeito dos metadados, que são a maneira textual em organizar a in- formação contida na fotografia, vale ressaltar o que Silva (2005) destaca: a organização dos produtos visuais realizadas pelos repórteres fotográficos precisa refletir na eficácia de sua busca na Web, por exemplo. Por isso, os termos utilizados nas palavras-chave e na descrição de seu assunto serão fundamentais a sua preservação digital. [...] os metadados podem ser utilizados para avaliações ou descrições breves ou indicações acerca de restrições de acesso ou direitos de propriedade e reprodução que podem auxiliar usuários em decisões anteriores à cópia de arquivos por transferência (downloading). Podem ainda ser utilizados no gerenciamento e administração de recursos de redes digitais (metadados administrativos), essenciais para que se assegure a atualização de recursos da Web (SILVA, 2005, p. 17). No link a seguir, você pode visualizar o espaço virtual no qual as fotografias jornalísticas da revista Radis, vinculada ao Ministério da Saúde, são anexadas. Utilizando um endereço gratuito, os repórteres fotográficos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) organizam em pastas temáticas as fotografias (resultado das pautas da revista). Observe que as informações de catalogação dessas imagens estão registradas dentro da plataforma flickr.com e não exatamente como informação de metadado inserida na imagem. As informações que constam são de registro técnico do equipamento do usuário que compartilhou a imagem. https://qrgo.page.link/yzKrX Outro exemplo é o Banco de Imagens da Fiocruz, que abriga e disponibiliza fo- tografias diversas. Esse sistema se diferencia do espaço flickr.com, já que opera por um sistema próprio da instituição. As fotografias desse banco recebem metadados descritivos e em cada fotografia existe a informação contida na imagem, por exem- plo, seu tema, sua autoria, data e local. Observe que em cada imagem existem os seguintes campos: Acervo: Fundação Oswaldo Cruz. Visitas: 1748. ID: 230. Palavras-chave: castelo, céu, cúpula, fiocruz, iluminação, noite, torre. Direito patrimonial: Fundação Oswaldo Cruz. O ato fotográfico8 Por fim, vale ressaltar que o trabalho da catalogação dos acervos foto- gráficos, seja via instituição ou atividade individual, precisa ser planejado e seguir os sistemas atualizados de organização digital, garantindo a autoria e a integridade do profissional que realizou a sua produção. O esforço em manter-se atualizado diante das transformações de arquivos de informação está ligado ao fato de almejar e “[...] facilitar o acesso e a recuperação da informação pelos pesquisadores [e público em geral] que buscam no acervo da instituição sua fonte de informação” (PADILHA; CAFÉ, 2014, p. 108). Adicionado: 12/9/2013. Criado: N/A. Cores. https://qrgo.page.link/vcyyM Sendo assim, a maneira como se organizam os acervos fotográficos se diferencia e dependerá da política de cada instituição e empresa de comunicação. Enquanto algumas optam por distribuir seus acervos com pouca informação de metadados (como o caso da revista Radis), outras dedicam-se e contam com equipe para a catalogação detalhada, como é o caso do Banco de Imagens da Fiocruz. BARBEIRO, H.; LIMA, P. R. Manual de telejornalismo: os segredos da notícia na TV. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BARTHES, R. A câmera clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. CURADO, O. A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002. KOSSOY, B. Fotografia e história. 2. ed. São Paulo: Ateliê, 2001. LOWE, P. (Org.). Mestres da fotografia: técnicas criativas de 100 grandes fotógrafos. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MANINI, M. P. A fotografia como registro e como documento de arquivo. In: BARTALO, L.; MORENO, N. A. (Org.). Gestão em arquivologia: abordagens múltiplas. Londrina: EDUEL, 2008. p. 119–183. MILLEO, H. Fotojornalismo: planejando a pauta. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Henry Milleo. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=RSAUFxbVs6I&t=88s. Acesso em: 9 dez. 2019. 9O ato fotográfico Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. NORFOLK, S. Prefácio. In: LOWE, P. (Org.). Mestres da fotografia: técnicas criativas de 100 grandes fotógrafos. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. PADILHA, R. C.; CAFÉ, L. M. A. A organização de acervo fotográfico histórico: proposta de descrição. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, v. 5, n. 1, p. 90–111, 25 mar. 2014. PEIXOTO, J. G. M. O surgimento do fotojornalismo a partir de um olhar para os primeiros manuais da profissão. Comunicologia, Brasília, v. 11, n. 2, p. 20–35, jul./dez. 2008. SHUMAN, E. L. Practical journalism: a complete manual of the best newspaper methods. New York: D. Appleton and Company, 1903. SHUMAN, E. L. Steps into journalism: helps and hints for young writers. Illinois: Corres- pondence School of Journalism, 1894. SILVA, R. R. G. Manual de digitalização de acervos: textos, mapas e imagens fixas. Sal- vador: EDUFBA, 2005. O ato fotográfico10 FOTOJORNALISMO: TÉCNICAS E LINGUAGENS Adriano Miranda Vasconcellos de Jesus Equipamentos fotográficos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os principais equipamentos para fotografia analógica. Identificar os principais,equipamentos para fotografia digital. Montar um estúdio fotográfico. Introdução Ao longo do tempo, o campo da fotografia acompanhou a evolução tecnológica como poucos e de forma rápida, intensa e dinâmica. No início, contava-se apenas com câmeras analógicas, que foram desenvolvendo-se e apresentando-se em formatos pequenos, médios e grandes, sempre baseando-se em película/filme para a produção fotográfica. Posterior- mente, passou-se ao trabalho com câmeras digitais, que se baseiam em sensores fotossensíveis (CCD e CMOS) em seu funcionamento. Neste capítulo, portanto, você vai conhecer a diferença principal entre uma câmera analógica e uma câmera digital e saberá reconhecer os principais formatos de filmes analógicos de pequeno, médio e grande formato. Além disso, verá características como o corpo da câmera, con- troles de luz e fotômetro, lentes intercambiáveis e a alteração do valor da sensibilidade. Em relação às digitais, você verá mais a fundo o principal fator de diferenciação de um equipamento fotográfico, o sensor, diferen- ciando os sensores CCD e CMOS e compreendendo suas formas de uso e funcionamento. A partir disso, serão apresentados os tipos mais comuns de câmeras digitais: D-SLR, mirrorless, action cam e médio formato. Por fim, você também vai ver como montar um estúdio portátil para ser usado para retratos em fotojornalismo, conhecendo os itens necessários, as formas de uso e os equipamentos que são indispensáveis. Câmaras e equipamentos analógicos A escolha de um equipamento fotográfi co depende do conhecimento das carac- terísticas básicas de cada tipo de câmera fotográfi ca. É importante destacar que a diferença principal entre uma câmera analógica e uma câmera digital é que a analógica utiliza uma película (fi lme) para registrar as imagens, enquanto a câmera digital utiliza sensores fotossensíveis (CCD e CMOS). A fotografi a analógica foi em grande parte substituída pela digital devido aos avanços dos sensores, tipos de câmeras e à facilidade no processamento de imagens, mas a fotografi a analógica não está obsoleta e nem extinta. As características básicas dos equipamentos fotográfi cos analógicos permanecem até hoje nos equipamentos digitais, como, por exemplo, os controles de luz (obturador e diafragma). Conhecer a fotografi a ana- lógica nos auxilia na compreensão dos equipamentos modernos e suas aplicações. Na fotografia analógica, os tipos de câmeras eram divididos por tamanho e formato do filme fotográfico e pelo tipo de visor. Veremos, a seguir, os formatos de filmes analógicos. Formatos de filmes analógicos Ao considerarmos o formato dos fi lmes analógicos, estamos nos referindo ao tamanho e à proporção de altura e largura de um fi lme, material fotossensível que irá capturar a imagem. Nas câmeras contemporâneas, ainda é mantida a proporção de um fi lme como um critério de diferenciação de equipamentos, mas são utilizados sensores em vez de fi lme. O filme analógico possui variados formatos para usos específicos, e cada câmera permite um tipo de filme. Quanto maior o formato do filme melhor será a qualidade da imagem final, portanto, maior a definição da imagem permitindo ampliações e recortes da imagem. Confira, a seguir, os formatos mais comuns utilizados na fotografia. Pequeno formato: ■ 16 mm: formato especial que era utilizado nas câmeras Minox, uma câmera em miniatura utilizada para como câmera espiã, desenvolvida por Walter Zapp em 1936. O filme vinha em um pequeno cartucho para facilitar a troca na câmera. O formato 16 mm até hoje é um filme cinematográfico muito utilizado para documentários e reportagens. ■ 110 e 126: o formato 110 (retangular) e o 126 (quadrado) foram muito populares no final dos anos 1960 e vinham em cartuchos, facilitando o manuseio nas trocas de filmes. Foram responsáveis pela populariza- Equipamentos fotográficos2 ção da fotografia amadora, sendo utilizados em câmeras fotográficas compactas. Atualmente, são filmes difíceis de encontrar devido à sua baixa qualidade em ampliações e definição. ■ 135 (filme 35 mm): é o formato mais conhecido e utilizado tanto por amadores quanto por profissionais. Inicialmente, o filme era utilizado em câmeras de cinema, mas foram adaptados para o tamanho 24 × 56 mm, que se tornou padrão (inclusive para os sensores digitais). Atualmente, é o filme mais fácil de encontrar, com diversas categorias em diferentes sensibilidades (ISO). Médio formato: ■ 120 e 220: a diferença entre o 120 e o 220 era a quantidade de fotos que permitiam — o filme 120 gerava 12 fotografias no tamanho 60 × 60 mm e o 220 o dobro de fotos (24). Era possível, por meio de chassis, alterar a proporção da imagem, possibilitando fotos na proporção 60 × 45 mm, 60 × 60 mm, 60 × 70 mm e 60 × 90 mm. Era muito utilizado nas fotografias publicitárias e em trabalhos em estúdio de fotografia. Grande formato: utilizado prioritariamente em estúdio fotográfico profissional para produzir fotografias em alta resolução e extremamente precisas. Existem diversos tamanhos de filmes em grande formato, e os mais comuns são 4 × 5 pol, 8 × 10 pol e 11 × 24 pol. Sistemas de visor: rangefinder e SLR Outro critério para defi nir o tipo de equipamento fotográfi co analógico é quanto à forma de visualizar a imagem antes mesmo da produção da fotografi a, ou seja, antes do registro no material fotossensível. A princípio, podemos diferenciar os visores de câmeras como diretos (presentes nas câmeras compactas) e os sistemas SLR (Single Lens Refl ex), também conhecidos apenas como refl ex (TRIGO, 1998). Em câmeras compactas, em sua maioria, não vemos exatamente o que a lente está focalizando, a imagem é apresentada por um conjunto de lentes menores (rangefi nder) acima da lente principal. Nesse tipo de visor, ocorre com frequência um erro de distorção e enquadramento denominado paralaxe. O sistema SLR (Single Lens Refl ex) consiste em um modo efi ciente de visualizar exatamente o que a lente está enquadrando por meio de um sistema de espelho e um prisma que ajusta a imagem para a visualização correta. As câmeras fotográficas SLR (Single Lens Reflex) foram uma grande revo- lução nas câmeras fotográficas, aliando uma série de possibilidades técnicas e avanços tecnológicos. A estrutura dessas câmeras analógicas é encontrada nas atuais D-SLR (Digital Single Lens Reflex que são câmeras digitais) e, mesmo 3Equipamentos fotográficos com uma enorme variedade de modelos e marcas, preserva características que a tornaram a câmera mais utilizada atualmente. Na Figura 1, você pode conferir uma visualização das câmeras D-SLR, digitais compactas e rangefinder. Figura 1. Diagrama apresenta a visualização nas câmeras (a) D-SLR; (b) câmeras digitais compacta; (c) rangefinder. Fonte: Adaptada de Studio BKK/Shutterstock.com. Olho humano Olho humano Visor Visor LCD Arquivo digital Câmera DSLR Câmera digital range�nder Cartões de memória Visor Visor LCD Arquivo digital Cartões de memória Visor LCD Arquivo digital Câmera digital compacta Cartões de memória Vejamos, a seguir, algumas dessas características da câmera SLR, que também são encontradas nas D-SLR. Corpo da câmera: as câmeras SLR (e D-SLR) são equipamentos para uso externo, portanto, resistentes a variações de temperatura e umidade. São equipamentos portáteis e com estrutura de manuseio com elementos de borracha para não escorregar na mão. Controles de luz e fotômetro: as câmeras SLR (e D-SLR) possuem controle de velocidade (obturador) e abertura (diafragma) de forma Equipamentos fotográficos4 independente e versátil. Com isso, é possível produzir imagens com uma grande variedade de profundidade de campo e alterações de velo- cidade (congelando e borrando imagens), diferentemente das câmeras compactas, em que algumas funções são automatizadas, limitando o uso expressivo da câmera fotográfica. Lentes intercambiáveis: devido à possibilidade de visualizar o que a lente vê,,as câmeras SLR (e D-SLR) possuem diversas lentes que podem ser incorporadas no corpo da câmera para alterar a imagem, seja em uma lente macro (utilizada em aproximações microscópicas e em ambientes pequenos), seja em uma lente zoom (utilizada para fotografar itens a grandes distâncias). Com o recurso de troca de lentes, uma câmera SLR se torna um versátil instrumento de registro de imagens, mas com exigências técnicas específicas. Em câmeras compactas, não há a possibilidade de intercêmbio de lentes e, por isso, limita-se o equipamento a apenas o recurso do zoom, com qualidade limitada. Alteração do valor da sensibilidade (filme ou sensor): a possibilidade de escolher um filme (ou ajustar um sensor) com diferentes ISO possibilitou uma maior flexibilidade para fotografar cenas noturnas ou para quando se necessita uma maior velocidade do obturador sem precisar alterar o diafragma. O recurso de alterar a sensibilidade nos filmes é o mesmo princípio utilizado nos ajustes atuais de ISO, porém, nos filmes, o ajuste não poderia ser alterado foto a foto e dependia do tipo de filme adquirido. Objetivas das câmeras fotográficas As objetivas das câmeras fotográfi cas são elementos importantes para auxiliar no tipo de imagem que se deseja produzir. Popularmente, as objetivas são chamadas de lentes e, apesar da grande variedade existente, elas se defi nem em padrões de qualidade dos seguintes itens: material de fabricação, qualidade do cristal utilizado, polimento e lapidação, luminosidade, aberrações óticas e cromáticas. A defi nição de uma objetiva se dá pela distância focal, ou seja, pelo campo de visão que ela percebe na imagem. Assim, a defi nição da dis- tância focal determina o tamanho e capacidade máxima de enquadramento. A distância focal de uma objetiva é defi nida pela distância em milímetros da convergência da imagem até atingir o sensor ou fi lme de uma câmera fotográfi ca. Assim, quanto maior for a distância focal, menor será o ângulo de visão da imagem e, portanto, maior será o efeito de zoom de uma imagem. Podemos classifi car as objetivas conforme sua distância focal — veja, a seguir, algumas objetivas comuns no fotojornalismo. 5Equipamentos fotográficos Objetiva normal: compreende as objetivas composta por cinco ou seis elementos internos (lentes) e possui um campo de visão semelhante à perspectiva de um olho humano, ou seja, 50 mm. Assim, as distorções e perspectivas tendem a reproduzir o mesmo ângulo de visão do olho. Objetiva grande angular/olho de peixe ( fish eye): as objetivas possuem distâncias focais menores, que resultam em um ângulo maior de visão que pode atingir até 180°. As imagens podem ter as laterais distorcidas, proporcionando uma sensação de extensão visual. Teleobjetiva: são objetivas com distância focal maior e são ideais para fotografar objetos distantes. Porém, as teleobjetivas podem resultar em um aparente “achatamento da imagem” devido à maior profundidade de campo, onde o fundo e o primeiro plano podem aparecer no foco. Veja, na Figura 2, alguns exemplos de lentes. Figura 2. Conjunto de lentes (esquerda para direita): lente tele 70–200 mm, lente macro 17–40 mm, lente padrão 85 mm, lente padrão 50 mm e lente macro 24 mm. Fonte: Yuriy Seleznev/Shutterstock.com. Fotografia digital: sensores O que faz a fotografi a digital se diferenciar da fotografi a analógica é a forma como capta a luz e a transforma em informação binária (TRIGO, 1998). Essa conversão de luz para imagem eletrônica alterou os equipamentos, a forma de trabalho do fotógrafo e permitiu que a fotografi a estivesse presente em todos os celulares da atualidade. Equipamentos fotográficos6 A base da fotografia digital consiste na transformação das variações de intensidade de luz em sinais eletrônicos binários, que são digitalizados, pro- cessados e armazenados. A unidade mínima de captura de imagem é o pixel, ou seja, a imagem é fragmentada em uma grade com milhões de pequenos quadrados representando cada um uma cor, um brilho e um matiz. O dispositivo desenvolvido para capturar esses milhões de quadradinhos de uma imagem (pixel) são os sensores, presentes em câmeras digitais, câmeras de celulares, scanners, câmeras de segurança, webcams e em todos os dispositivos modernos de captura de imagem. O primeiro sensor a ser desenvolvido foi o CCD (Charge-coupled device — dispositivo de carga acoplada), que esteve presentes nas pri- meiras câmeras digitais. O CCD tem uma estrutura em forma de tabuleiro bidimensional com receptores fotossensíveis, cada um representando um pixel na imagem final. A estrutura do CCD é um pouco menor que um quadro de filme 35 mm, mas contém milhões de elementos sensíveis. Na câmera, essa estrutura está exatamente onde se posicionava o filme para ser exposto. A luz vinda das lentes é capturada no CCD, que transforma em uma imagem fragmentada em pixels. Os dados da imagem são arma- zenados em uma memória digital. Um sensor de CCD (Figura 3) tem como base uma estrutura, como um painel solar, composto por de 300 mil a 500 mil diodos sensíveis a luz por centímetro quadrado. Chamados de photodiode, eles têm a função de medir a quantidade de luz absorvida (fótons) e converter essa informação em carga elétrica (elétrons). Nesse sentido, uma imagem com carga elétrica alta é uma imagem brilhante. Figura 3. Sensor CCD de uma câmera D-SLR. Fonte: 25krunya/Shutterstock.com. 7Equipamentos fotográficos Porém, esses dispositivos de percepção da luz não medem somente a diferença entre som e luz, mas as variações de cores e suas nuances. Parte de uma estrutura de três filtros básicos para a percepção de luz — vermelho, verde e azul — e, a partir da combinação dessas três cores, os sensores são capazes de reconhecer milhões de cores diferentes. O painel fotossensível de um sensor é formado por conjuntos de filtros dessas três cores; para entender essa proporção, podemos imaginar cada photodiode como um copo e o sensor como um todo do tamanho de um campo de futebol. Com custos menores na produção dos sensores fotográficos, os preços das câmeras fotográficas digitais foram reduzidos, popularizando o formato digital (HEDGECOE, 2005). Com o desenvolvimento do sensor CMOS (semicondutor de óxido metálico complementar), alterou-se a forma tanto de fabricação dos sensores quanto de uso. Um sensor CMOS é mais simples de fabricar e, da mesma forma que o CCD, tem como base a conversão de luz em elétrons, porém, enquanto o CCD necessita de uma carga constante e acumulada para posteriormente processar uma imagem, o CMOS tem o uso otimizado da energia e cada pixel contém um amplificador de carga que permite a leitura individualizada. Os sensores CMOS estão atualmente presentes na maioria das câmeras fotográficas digitais, em celulares, câmeras de segurança, drones e action cam (como por exemplo a GoPro). Em comparação com os CCDs, os sensores CMOS geralmente consomem menos energia, não geram atraso no processamento das imagens e não requerem uma mão de obra tão especializada para fabricar. Diferem-se do CCD, pois, em sua estrutura, podem combinar sua função de sensor de imagem e o processamento de imagem em um mesmo circuito integrado. Em condições de luz muito forte diretamente no sensor, o CMOS tem uma melhor resposta, ou seja, não produz o efeito blooming comum nos CCDs. O efeito blooming é reconhecido quando um ponto de luz é “transbordado” para os pixels do lado, criando uma imagem superexposta e perdendo informações. Outra qualidade do CMOS em relação ao CCD é a capacidade de sensibilidade e velocidade, chegando até a um ISO de 4 milhões. Porém, em velocidades lentas, o CMOS apresenta uma desvantagem em relação ao CCD: a imagem na velocidade de 1/60 e 1/50 de uma hélice de helicóptero, por exemplo, apareceria totalmente distorcida. Equipamentos fotográficos8 Câmeras digitais Com o avanço da tecnologia dos sensores, as câmeras fotográfi cas evoluíram, transformaram-se e, hoje,,possibilitam para o usuário novas formas e faci- lidades de uso. O investimento em pesquisa para câmeras de celulares foi, pouco a pouco, incorporado nas câmeras digitais contemporâneas. Recursos como wi-fi , GPS, melhor aproveitamento da bateria e maior capacidade de armazenamento e processamento impulsionaram diferentes tipos de câmera (MORAZ, 2008). Vejamos, a seguir, alguns tipos de câmeras digitais. D-SLR (Digital Single Lens Reflex): semelhante às câmeras SLR ana- lógicas (que utilizam filmes), as câmeras D-SLR possuem diversos modelos para diferentes consumidores. No fotojornalismo, é o tipo de câmera mais utilizado devido à sua facilidade de encontrar objetiva, assistência técnica e pela facilidade de uso dos controles de luz. O design dessas câmeras, como se assemelha ao das SLR, facilitou a migração dos profissionais de filmes para o digital. Basicamente, essas câmeras são dividas pelo tamanho do sensor, sendo as D-SLR full-frame as câmeras profissionais com sensores no mesmo tamanho e proporção do filme fotográfico, mantendo, assim, a qualidade e o desempenho das objetivas. A maioria das objetivas, dos flashes e demais acessórios das câmeras SLR analógicas são compatíveis com as D-SLR, facilitando e estimulando a migração para o sistema de sensores. Câmeras mirrorless compactas: são câmeras de tamanho menor que as D-SLR, mas que incluem todos os seus recursos e até algumas vantagens. São denominadas mirrorless pois a visualização da imagem da objetiva é semelhante à de uma câmera SLR, mas sem utilizar espelhos, já que transmite a informação captada pela lente diretamente para um visor de LED. Em função de sua forma compacta, muitos fotojornalistas migraram para equipamentos mirrorless, aproveitando suas objetivas das câmeras D-SLR. Um ponto forte das câmeras mirrorless é a capacidade de gravar vídeos de alta qualidade. Action cam: são câmeras de ação, ou seja, fabricadas para serem uti- lizadas em condições extremas, com grande resistência a impacto. Geralmente, são equipamentos resistentes a choques e a provas d’água. 9Equipamentos fotográficos Apesar de contar com um pequeno sensor CMOS, a qualidade das imagens pode ser utilizada tanto para fotografia quanto para vídeo. São câmeras utilizadas em drones e em equipamentos de imagens subaquáticas. Médio formato: da mesma forma que a fotografia analógica, as câmeras de médio formato, em vez de filme, utilizam um sensor. O tamanho do sensor é o diferencial, pois é maior que o de uma câmera D-SLR full frame. Atualmente, esse tipo de câmera é utilizado para fins específicos, publicidade e outras produções fotográficas que necessitem de uma qualidade superior de imagens. Estúdio portátil O retrato é o estilo fotográfi co mais relevante no fotojornalismo; é nesse estilo que se constroem personagens, destacam-se atitudes e revelam-se comporta- mentos. A grande difi culdade do retrato é obter uma luz ideal ou desejada em algumas situações, de maneira que é importante contar com alguns equipa- mentos que permitem ter o controle da luz e do equipamento e concentrar-se no principal: o retratado. Um estúdio portátil é uma solução ideal para os fotojornalistas que neces- sitam de retratos e pode ser montado de diversas formas. Apresentaremos, nesta seção, alguns elementos essenciais para montar um estúdio portátil para fotojornalismo. O importante de pensar em um estúdio portátil é a facilidade de peso para o transporte que não comprometa a qualidade do trabalho. Câmera e objetiva Para o registro de retratos, o ideal são câmeras D-SLR ou mirrorless com sensores full frame, pois resultam em uma maior qualidade de imagem e, portanto, em uma melhor resolução fi nal. Outras câmeras fotográfi cas com sensores menores ou compactas podem ser interessantes, mas deve-se pesquisar, nesses casos, o tamanho máximo de ampliação de uma imagem sem perder defi nição. Quanto à objetiva, é importante escolher as versáteis, como, por exemplo, a lente 24 a 70 mm. São boas escolhas as lentes 50 mm e 85 mm pela pouca distorção da imagem — evitam-se as lentes macro e tele para retratos. Equipamentos fotográficos10 Computador e software É possível editar as imagens em um notebook no local utilizado para a sessão fotográfi ca, mas deve-se tomar cuidado com o ajuste e a calibração do monitor. Esse tipo de trabalho, quando é feito próximo ao fotógrafo, transmite uma segurança a imagem que será exibida na fotografi a. Quanto ao software, os mais utilizados para esse tipo de trabalho são Adobe Photoshop e Adobe Photoshop Lightroom, que já possuem procedimentos e etapas de trabalho pré-programadas para facilitar o ajuste das fotografi as. Iluminação (difusores e rebatedores) Geralmente, para iluminar retratos, são utilizados fl ashes que podem ser de estúdio ou portáteis conforme a intenção do trabalho. Caso sejam utilizados fl ashes de estúdio (mais potentes), pode ser necessária uma conexão com a rede elétrica. A utilização de rádio para a sincronia dos fl ashes auxilia, pois evita o cabo e a sapata da câmera, que costumam dar problema de contato e atrapalhar a sessão fotográfi ca. Quanto às modifi cações da luz, as sombrinhas com material translúcido ou metalizado são as mais fáceis e leves de serem transportadas e podem ser presas em tripés próprios ou outros lugares. Re- batedores, além disso, são úteis para compor a luz complementar quando se utiliza a luz natural. Fundo Em algumas situações, é necessário apresentar um fundo neutro para realçar melhor o personagem fotografado, de maneira que o fundo é um importante aliado. Optar por fundos neutros (pretos, brancos e cinzas) permite mais possibilidades para a fotografi a. Eles podem ser estruturados por um tripé suporte de fundo que facilita a montagem e desmontagem, sem ocupar espaço no local. Geralmente, são feitos em papel cartão e não permitem o refl exo da luz. Transporte Difi cilmente um fotojornalista irá contar com o auxílio de um assistente, de modo que é importante a escolha de duas bagagens: uma grande, com rodas para carregar tripés, fundo, iluminação, difusores, rebatedores, extensões e 11Equipamentos fotográficos computador, além dos diversos acessórios, e outra bagagem específi ca para equipamento fotográfi co, que acomode câmera, lentes, fl ashes portáteis, cartões de memória, carregadores e outros equipamentos menores (Figura 4). Figura 4. Estúdio fotográfico com possibilidade de ser transportado. Fonte: Africa Studio/Shutterstock.com. HEDGECOE, J. O novo manual de fotografia: guia completo para todos os formatos. São Paulo: Senac, 2005. MORAZ, E. Manual prático de fotografia digital. São Paulo: Digerati Books, 2008. TRIGO, T. Equipamento fotográfico: teoria e prática. São Paulo: Senac, 1998. Equipamentos fotográficos12 FOTOJORNALISMO: TÉCNICAS E LINGUAGENS Marcilene Forechi Fotografia conceitual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o retrato como técnica do fotojornalismo. Conceituar a fotografia de moda. Reconhecer a fotografia de produto e de gastronomia. Introdução O retrato pode ser classificado como uma das técnicas mais importantes do fotojornalismo. Trata-se de um tipo de fotografia que mostra pessoas que compõem ou estão inseridas de alguma maneira no fato jornalístico. No entanto, o retrato não é uma exclusividade do fotojornalismo, sendo muito usado na publicidade, no marketing e na fotografia de produto. Retratos podem ser de uma pessoa ou de várias, podem ser feitos em estúdio ou estar inseridos em um contexto. Assim, a foto do rosto da mo- delo que apresenta uma nova linha de maquiagem pode ser considerada um retrato, bem como a de dois atletas que vencem uma competição e posam para as câmeras. Neste capítulo, você vai se aprofundar sobre o retrato como técnica de fotojornalismo, vai conhecer algumas especificidades da fotografia de moda e saber mais sobre fotografia,de produto e de gastronomia. O retrato como técnica de fotojornalismo Retrato ou fotografi a? Houve um tempo em que as duas expressões eram usadas como sinônimas, quando fotografar não era uma prática comum, não havia acesso fácil a câmeras fotográfi cas e os meios de revelação e impressão das imagens eram muito caros. O retrato já foi associado às pinturas, que eram a forma de guardar as imagens de pessoas e lugares, quando não era possível reproduzi-las usando a luz. Assim, pintores como Leonardo da Vinci fi caram famosos pelos retratos que fi zeram de pessoas da nobreza e de importantes personalidades políticas. O retrato se classifica, segundo Sousa (2002), como um dos gêneros do fotojornalismo. Trata-se de uma modalidade que mostra para o público quem são as pessoas que aparecem nas narrativas jornalísticas. O repórter fotográfico, ao fazer retratos, deve ter a preocupação de mostrar mais do que apenas a faceta física da pessoa fotografada — é preciso que esse retrato esteja inserido no contexto do fato noticiado. Um bom retrato deve mostrar algum traço da personalidade, e a expressão facial é considerada de extrema importância, pois demonstra estado de espírito, sentimentos, emoções. O retrato necessariamente deve ter um rosto (ou mais), mas não precisa ser do tipo 3 x 4. Sousa (2002) aponta que há, basicamente, dois tipos de retrato, individual ou coletivo, e que, ainda, é possível distinguir retrato ambiental de retrato não ambiental. Mug shot De acordo com Sousa (2002), este é um tipo específi co de retrato não ambien- tal que corresponde a pequenas fotografi as do rosto das pessoas a partir dos ombros. São imagens comuns em entrevistas e outros registros jornalísticos em que o fotógrafo posiciona a pessoa em determinado cenário e faz o registro fotográfi co. Contudo, há, também, os retratos instantâneos, que são aqueles fl agrantes impossíveis de prever e que dependem do olhar atendo do repórter, de rapidez e de uso correto do equipamento. A principal tarefa dos fotojornalistas com esse tipo de fotografia é evitar que seja feita apenas uma imagem do rosto sorridente da pessoa. O profis- sional deve explorar detalhes expressivos, olhares, gestos. Nesse tipo de foto, há preferência pela imagem frontal, mas isso não significa que não se possa explorar outros ângulos. As mug shots podem ser tiradas em estúdio ou em lugares abertos e obtidas naturalmente, como em um instantâneo, mas esse caso é mais raro. Esse é o tipo de fotografia em que há um acordo entre o fotógrafo e o fotografado, que irá se posicionar de modo a atender o objetivo proposto. Retratos ambientais Os retratos ambientais fl ertam com o ambiente. Para que sejam considerados do tipo retrato, é preciso que o rosto das pessoas fotografadas esteja visível, ainda que não sejam o principal ponto da imagem. Nesse tipo de fotografi a, segundo Sousa (2002), o sujeito pode ser retratado no seu ambiente, de modo que os objetos que o rodeiam falem sobre sua personalidade ou seu Fotografia conceitual2 modo de vida (Figura 1). É o caso, por exemplo, de um médico fotografado em seu consultório, com os vários diplomas pendurados na parede e uma estante na qual se vê protótipos de parte do corpo humano. Figura 1. Retrato ambiental. Fonte: 5 claves... (2014, documento on-line). Segundo Sousa (2002), a luz natural deve ser a sua primeira opção para ambientes fechados. Em ambientes abertos, o início da manhã e o final de tarde são os melhores momentos, pois, segundo o autor, o ângulo da luz solar proporciona a obtenção de áreas de sombra, que dão volume. No caso do uso do f lash, deve-se evitar que a luz incida diretamente sobre a pessoa fotografada. Ele destaca, no entanto, que os efeitos obtidos com o f lash podem ser explorados dependendo da intenção que se tenha com aquela imagem. Os objetos e cenários presentes na cena devem reforçar a personalidade do fotografado, contanto que não distraiam a atenção do leitor. Para o autor, a melhor maneira de tirar proveito do ambiente é “[...] selecionar um espaço que seja habitual ao sujeito (ou ao grupo) retratado e que seja igualmente tão pessoal e característico quanto possível” (SOUSA, 2002, documento on-line). O cenário não deve “brigar” com a vestimenta ou o estilo do fotografado, a não ser que isso seja algo que contenha, em si, uma informação relevante. Deve-se focar em detalhes que digam sobre o personagem e que não precisam estar no rosto; pode ser a posição das mãos do pianista ou um objeto que o sujeito segura, por exemplo. 3Fotografia conceitual Veja, a seguir, elementos que se deve levar em consideração na fotografia de retrato. Foco nos olhos: principalmente no enquadramento tipo mug shot, em que são enquadrados o rosto até a altura dos ombros, os olhos costumam ser o destaque. Essa é a regra geral, mas pode ser que haja algum outro elemento que se destaque e que tenha relação com o contexto. Plano de fundo: é comum que o fundo seja desfocado, pois isso traz mais destaque para a personagem que está sendo retratada. Isso não deve ser feito caso o ambiente contenha informações que acrescentem à imagem. Evite amputações: amputações são cortes feitos em braços e pernas na hora do enquadramento. Na mug shot, isso vai ocorrer, pois o corte é feito nos ombros, mas é importante que nos demais enquadramentos esse cuidado seja tomado. No plano americano, em que o corte é feito na altura do quadril, deve-se evitar amputar as mãos. Evite olhos vermelhos: geralmente, basta tirar o foco do flash da direção dos olhos. Postura do fotografado: observe se a pessoa não está com os ombros encolhidos ou tensionados, costas curvadas, punhos cerrados. Se essas pos- turas fizerem parte do contexto, devem ser parte da informação do retrato. Repórteres fotográficos costumam não considerar ilustrações fotográficas como um gênero do fotojornalismo. Mas, segundo Sousa (2002), os manuais trazem esse tipo. Fotos ilustrativas são aquelas planejadas para causar certo efeito. São comuns no jornalismo, principalmente em reportagens e em capas de revistas, mas podem ser vistas, também, na propaganda e no marketing. São feitas em estúdio e contam com recursos de iluminação e inserção propositada de elementos na cena, além de montagens com elementos externos. As ilustrações fotográ�cas podem ser fotogra�as únicas ou fotomontagens, em que se combinam várias imagens. As tecnologias digitais facilitaram bastante essa prática. O uso costuma ser mais comum, no caso do jornalismo, em conteúdos mais leves, como moda, decoração, gastronomia, turismo. A fotografia de moda A fotografi a de moda tem história e está muito ligada ao surgimento das revistas de moda. Ao dar vida a criações estilísticas, esse tipo de fotografi a Fotografia conceitual4 age no imaginário e tem entre seus objetivos levar ao consumo de produtos, à divulgação de tendência e à consolidação de um conceito. Maia (2014) destaca que a fotografi a de moda é documental, mas não tem compromisso com a realidade. Segundo ela, a imagem opera como representação da moda. A fotografi a busca eternizar um momento e, assim, assegura a sobrevivência da moda, uma vez que, atuando tal como documento, pode relatar o seu desenvolvimento (MAIA, 2014). Para a autora, a fotografia de moda é uma maneira de induzir o consumo, pois tem a capacidade de agir no campo do imaginário, refletindo e induzindo comportamentos. O pronto principal da fotografia de moda é apresentar um modelo de vestimenta, difundir um produto ou segmento de moda e sonhos. Em seu artigo, Maia (2014) traça uma linha do tempo sobre o desenvolvimento da moda em sua relação com a fotografia. Segundo a autora, Gustavo Klint teria sido um pioneiro em fotografar mulheres da Belle Époque, em vestidos soltos e floridos. A fotografia, segundo Caroline Vargas (2008 apud MAIA, 2014), ganha novas perspectivas com os avanços tecnológicos das décadas de 1910 e 1920 e o surgimento,,em 1916, da revista francesa Vogue. A partir da metade do século XX, a fotografia de moda passa a representar o imaginário de um tipo de corpo e de atitude tomado como ideal de beleza. Os anos 1950 consagraram o visual da marca Dior, com mulheres jovens, brancas e dotadas de corpos esguios e muito magros. É nesse período que surgem as primeiras top models. A próxima década, os anos 1960, viu a cintura marcada deixar de ser uma regra, e a fotografia de moda trouxe uma concepção de conforto e praticidade. Nessa época, as modelos apenas vestiam as roupas e não havia a preocupação de comunicar, por meio da fotografia, algum tipo de atitude. Na década de 1970, a fotografia passa a ser marcada pela ação, pelos ce- nários e pelas equipes fotográficas. Contrastes de etnias começaram a ganhar importância, assim como os fundos, os cenários e o efeito fanning, fotos tiradas com baixa velocidade ao mesmo tempo que as modelos se movimentam, provocando um rastro na imagem. Já os anos 1980 são marcados pela expansão do consumo, pelos shoppings centers. Destacam-se modelos como Naomi Campbell (Figura 2), Cindy Cra- wford e Claudia Schiffer, que se tornam referências. As fotografias de moda passam a focar nas personalidades e atitudes dessas modelos, que se trans- formam em celebridades (MAIA, 2014). Os anos 1990 são marcados por uma transgressão como forma de romper com conceitos anteriores. Temas como morte, drogas e violência passam a integrar o mundo da moda, que começa a transitar em espaços da ética, da política e da estética. 5Fotografia conceitual Figura 2. Fotografia de modelos: Naomi Campbell. Fonte: Shanelle (2017, documento on-line). Esse foi um período em que o universo da imagem da moda privilegiou o real por meio da imperfeição, mas esse real era uma construção conceitual, com cenários, produções, iluminações, vestimentas. Esse foi o período que lançou, por exemplo, a modelo Kate Moss, com seu corpo muito magro e andrógino. Havia algo de destrutivo nas imagens de moda produzidas nesse período. O século XXI chega tentando resgatar o conceito de corpo saudável, entra em cena a diversidade e a naturalidade. Para Maia (2014, documento on-line), A moda funciona como um ref lexo do comportamento social. No século XXI, em um mundo extremamente conectado, em meio a uma indústria massificada, que se move em uma frequência desenfreada para atender às necessidades do consumo de uma sociedade cada vez mais individualista. Assistimos a supervalorização da imagem, como afirma Guy Debord (FEUERBACH, apud DEBORD, 1997), no nosso tempo, sem dúvida, preferimos a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à rea- lidade, a aparência ao ser. A multiplicação dos meios dos meios de comunicação teve um papel impor- tante no modo como o público se relaciona com a moda. A publicidade passa a servir como um instrumento da moda, com a função de criar necessidades que levariam ao consumo. A fotografia de moda passou a ser fundamental nesse processo. De modo geral, podemos dizer que existem quatro tipos de fotografia: editorial de moda, fotografia comercial, fotojornalismo de moda e fotografia de beleza. Fotografia conceitual6 Editorial de moda: tipo usado por estilistas para apresentar seus novos produtos ao mercado. Trata-se de um conjunto de fotos que vende um conceito, uma tendência e, geralmente, é publicado em revistas de moda. O espaço do editorial de moda é dedicado à exploração de conceitos e, por isso, não há muitas regras. A escolha da modelo é fundamental, pois, além das roupas, dos acessórios e do cenário, a sua expressão e performance são fundamentais. Fotografia comercial: trata-se de um tipo mais leve. Tanto o cenário quanto a performance das modelos são mais sutis, pois é importante des- tacar o produto que está à venda. Esse tipo de fotografia está presente em campanhas publicitárias, outdoors, capas de revistas. Também nesse caso há uma preocupação com a performance da modelo, mas ela busca mais uma identificação com a marca do que com algum conceito ou tendência. Fotojornalismo de moda: esse tipo de fotografia contém registro dos acontecimentos secundários ou fatos despretensiosos, como making of de editoriais, celebridades, desconhecidos estilosos nas ruas. Nessa categoria, estão inseridas as fotografias de eventos de moda, uma vez que são fatos tratados jornalisticamente em jornais e revistas. Fotografia de beleza: é parecida com a fotografia comercial, mas são valorizados aspectos estéticos ligados à pele, ao corpo, à maquiagem e ao cabelo — a atitude da modelo fica em segundo plano. É o tipo de fotografia que se usa em catálogos e revisas de cosméticos e produtos de beleza. A fotografia de produto e de gastronomia A fotografi a de produto é um segmento da fotografi a profi ssional que tem sido considerado um nicho promissor. O objetivo de quem faz esse tipo de fotografi a é divulgar e vender produtos e, por isso, existe a necessidade de destacar o valor do que está sendo exposto. Quem trabalha com vendas on-line tem demandado cada vez mais esse tipo de fotografi a, afi nal, o cliente tem que olhar e gostar imediatamente do que está vendo. Uma fotografia de produto deve ser o mais fiel possível a ele, pois isso é fundamental para transmitir o valor e a qualidade do que vai ser adquirido pelo cliente. No entanto, nem sempre isso acontece, e é comum que alguém peça uma comida em um restaurante, por exemplo, porque se encantou com a foto no cardápio, assim como é comum que a mesma pessoa fique decepcionada com o prato que recebe e que, nem de longe, lembra o produto exposto para a venda. Entre os tipos de fotografia de produto, destacam-se: 7Fotografia conceitual fotografia de fundo branco: o objetivo é destacar o produto e dar pos- sibilidade ao cliente de perceber detalhes do acabamento e do material de que é feito (Figura 3). Apesar do nome, é possível fazer esse fundo de outra cor, mas isso vai depender do destaque que o produto terá contra ele. fotografia em contexto: o objetivo é mostrar o produto sendo usado. Esse tipo de foto mostra o tamanho, o caimento (no caso de roupas e acessórios) e a forma recomendada de usar. Figura 3. Fotografia de produto. Fonte: Fotografia... (2018, documento on-line). É importante lembrar que, para fazer boas fotos de produtos, além de criatividade, é necessário conhecer a marca, entender o público da empresa, saber das preferências do público e da empresa, entre outros. Antes de fazer uma foto, é importante fazer um bom briefing com o cliente. Além disso, é importante pensar na composição da foto, se haverá elementos adicionais, se o fundo será branco, se haverá ideia de movimento. Fotografia de gastronomia Fotografar é uma atividade que exige criatividade, senso de oportunidade, agilidade e tantas outras características. A fotografi a de gastronomia, além disso, exige que o fotógrafo entenda, de saída, que fotografar gastronomia é mais complexo do que tirar foto de comida. Atualmente, ainda que todos pos- sam fazer fotos com seus telefones celulares, os estabelecimentos comerciais, Fotografia conceitual8 como bares, restaurantes, padarias, entre outros, contratam profi ssionais para explorar ao máximo a beleza de seus pratos a fi m de atrair clientes. Podemos dizer que fotografar gastronomia é captar imagens de alimentos, tornando-os visualmente atraentes e desejáveis. É preciso explorar texturas, cores e composição, de modo que os sentidos do observador sejam despertados. “Uma boa foto de comida é capaz de transmitir um senso de consistência, temperatura e até mesmo de paladar e olfato” (FOTOS..., 2018, documento on-line). Atualmente, a fotografia gastronômica tem sido bastante requisitada e tornou-se fundamental para o marketing no segmento de alimentação. Na fotografia gastronômica, é importante destacar a diferença entre a montagem do cenário, feita pelo fotógrafo ou alguém da equipe de produção, quando houver,,e o trabalho do food stylist. O fotógrafo de gastronomia é o profissional apto a extrair o melhor visual dos pratos e alimentos, de modo a despertar o desejo no observador. Em cafés, restaurantes e outros estabelecimentos, o prato já tem sua montagem predefinida e cabe ao fotógrafo usar o seu conhecimento para deixá-la atraente. Já o food stylist é o profissional que se encarrega de criar a apresentação comercialmente perfeita do alimento a ser fotografado. Esse profissional é requisitado em grandes redes de alimentos, agências de publicidade e marketing. Fonte: Ly (2018, documento on-line). 9Fotografia conceitual Para fotografar gastronomia, o profissional precisa ter pleno domínio das técnicas e do uso dos recursos do equipamento além de criatividade e atenção aos detalhes. Um bom fotógrafo de gastronomia deve ficar atento a quatro detalhes: montagem do cenário, iluminação, enquadramento da foto e edição. Cenário: o cenário sempre deve destacar o que o prato fotografado tem de melhor. Esse cenário pode conter ingredientes que compõem a receita, um fundo que dê destaque às cores dos alimentos, elementos que chamem para alguma experiência associada à comida. Uma foto- grafia de uma moqueca, por exemplo, ficará bem se houver tomates bem vermelhos e um maço de coentro na cena. Iluminação: esse é um fator dos mais importantes. A iluminação de frente deve ser evitada, pois reduz as sombras e nuances. As mais indicadas são as que vêm da lateral do prato. Uma dica é não usar flash para fotografar comida. Montagem (plating): diz respeito à montagem da comida dentro do prato. Esse é um detalhe que faz a diferença e que, junto ao cenário, à iluminação, às cores e ao enquadramento, oferecerá a possibilidade de uma experiência ao observador. Enquadramento: não existe uma regra que possa ser considerada padrão, mas existem questões que devem ser levadas em consideração, como a relação entre o ângulo fotografado e a iluminação. Alguns pratos poderão ser mais bem fotografados lateralmente, outros poderão ter o seu melhor ângulo se a lente for posicionada acima dele. Cores do alimento: as cores estimulam atividades cerebrais e, no caso de fotografia gastronômica, são fundamentais para despertar sentidos e levar os observadores ao desejo de experimentar. Se o prato fotografado tiver poucas cores, o fotógrafo pode jogar com elementos na composição do cenário. O World Press Photo é um dos maiores prêmios de fotografia do mundo. No link a seguir, você pode conferir 20 das 78 mil fotos enviadas por fotógrafos do mundo inteiro para a edição 2019 do prêmio. https://qrgo.page.link/P9vty Fotografia conceitual10 5 CLAVES para saber como hacer retratos ambientales. Blog Foto24, 2014. Disponível em: https://blog.foto24.com/5-claves-para-saber-como-hacer-retratos-ambientales/#. Acesso em: 1 nov. 2019. FOTOGRAFIA de produto: o que é, tipos e como tirar fotos dos produtos. Blog Foto- grafia Mais, 2018. Disponível em: https://fotografiamais.com.br/fotografia-de-produto/. Acesso em: 1 nov. 2019. FOTOS de comida: segredos da fotografia gastronômica. Blog Fotografia Mais, 2018. Disponível em: https://fotografiamais.com.br/fotos-de-comida/. Acesso em: 1 nov. 2019. LY, P. Food stylist. HUE News, 2018. Disponível em: http://news.baothuathienhue.vn/ food-stylist-a61232.html. Acesso em: 1 nov. 2019. MAIA, K. L. S. A. Fotografia de moda: arte procedente da máquina. Achiote, v. 2, n. 1, 2014. Disponível em: http://www.fumec.br/revistas/achiote/article/view/2706/1567. Acesso em: 1 nov. 2019. SHANELLE, J. Naomi Campbell slips back to the 90s. Blog Jasmine Shanelle, 2017. Dis- ponível em: https://jasmineshanelle.wordpress.com/2017/02/08/naomi-campbell- -generation-gap-campaign/. 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Acesso em: 1 nov. 2019. 11Fotografia conceitual FOTOJORNALISMO: TÉCNICAS E LINGUAGENS Candice Kipper Klemm Fotografia de natureza Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar equipamentos, acessórios e técnicas para fotografar a flora e a fauna. Reconhecer o papel da fotografia na preservação ambiental. Descrever aspectos da fotografia aérea e submarina. Introdução A fotografia de natureza se configura enquanto atividade não só criativa, mas também de cunho crítico social, já que tem um papel de conectar os indivíduos e pode ser uma ferramenta de conscientização coletiva. Além disso, essa prática se segmenta em diversas outras, como fotografia de paisagem, fotografia ambiental, fotografia macro, fotografia selvagem, aérea e submarina. Neste capítulo, você vai se aprofundar na fotografia de natureza, conhecendo as técnicas e os equipamentos mais apropriados para a reali- zação dessa atividade, bem como os elementos de composição indicados. Além disso, você vai ver destacado o papel da fotografia na preservação ambiental, vendo como utilizá-la como meio de conscientização social. Por fim, verá aspectos específicos da fotografia aérea e submarina. A natureza da fotografia Considerando que a fotografi a de natureza se enquadra como uma técnica do fotojornalismo, nada é mais apropriado do que utilizarmos as palavras de Henri Cartier Bresson, considerado o pai do fotojornalismo (ZATZ, 2004) e conhecido pela máxima “momento decisivo”, que “[...]seria o momento crucial em que todos os assuntos interligados no mesmo espaço interagem de maneira harmônica e dão à fotografi a um signifi cado único” (MARÇAL, [201-?], documento on-line). Bresson detinha um olhar apurado e nada precipitado. Suas fotografias eram construídas com lógica e muita paciência, resultando no momento decisivo, uma perfeita conjunção entre os três elementos essenciais da fotografia: fotógrafo, espaço e tempo. Essa harmonia nos fatores fizeram com que ele construísse imagens perfeitas técnica e criativamente, inspirando muitos outros fotógrafos. Ao iniciarmos os estudos sobre da fotografia de natureza, são necessário termos em mente que essa área exigirá do fotógrafo muito mais do que apenas técnica, mas, também, sensibilidade no olhar. A fotografia de natureza desperta emoção, fascinação e encantamento, além de uma consciência ecológica muito mais apurada que em outros segmentos da foto. A fotografia estabelece comunicação imediata, é uma linguagem universal que atrai a atenção das pessoas e que pode gerar um movimento em direção a mudanças. A expressão estética da fotografia pode colaborar na hora de chamar a atenção para questões ambientais. As imagens de paisagem são democráticas e podem levar as pessoas a pensar relações entre o homem e os fenômenos naturais. Ela é uma ferramenta na educação ambiental. No contato com a fotografia, o sujeito é conduzido a novas linguagens, inclusive à dimensão política dos fenômenos representados. As imagens informam, re- presentam, surpreendem e transmitem um significado. As fotografias fascinam e convidam o espectador a senti-las, percebê-las, julgá-las e interpretá-las (FOTOGRAFIA..., [201-?], documento on-line). Dentro da fotografia de natureza, consideramos relevante mencionar que técnicas específicas são fundamentais para que o objetivo desejado seja al- cançado. O fotógrafo de natureza pode querer especializar-se e, além disso, como vimos, essa área da fotografia compreende,subsegmentos, e para cada um deles são necessários equipamentos específicos. De modo geral, entre os equipamentos mais versáteis para se ter, destaca-se uma câmera com recursos. O que significa isso? É uma câmera que possibilita ao fotógrafo ter uma interferência de atuação no que diz respeito à velocidade, à profundidade de campo, ao ISO da câmera, a trocas de lentes. Nem todas as câmeras possuem essas característica: existem câmeras compactas nas quais as funções são reduzidas, não permitindo ao fotógrafo fazer, por exemplo, um zoom ou, então, abrir bem o diafragma. Assim, é necessário o uso de câmeras reflex, cujas lentes podem ser trocadas, permitindo compor diferentes características dentro da fotografia (BUSSELLE, 1993). Confira, a seguir, as objetivas mais utilizadas para a fotografia de natureza. Grande angulares: por serem objetivas que ampliam o ângulo de captura, essas lentes são muito utilizadas da fotografia de paisagem e aéreas (Figura 1). Variam de 10 mm a 35 mm. Fotografia de natureza2 Figura 1. Grande angular. Fonte: Cardoso (2018, documento on-line). Teleobjetivas: normalmente utilizadas para fotografia selvagem e flora, pois possibilitam limitar o campo de visão (Figura 2). São objetivas que vão de 60 mm a 1000 mm. Figura 2. Teleobjetivas. Fonte: Cardoso (2018, documento on-line). 3Fotografia de natureza Normal: a grande vantagem das objetivas normais é que são extremamente luminosas, ou seja, a sua abertura do diafragma é bem grande, o que possibi- lita a obtenção de uma profundidade de campo muito pequena, sem alterar o ângulo de visão, que se configura por ser o mesmo do olho humano (Figura 3). Figura 3. Normal. Fonte: [Lente 50mm] ([2018, documento on-line). Macro: objetivas cuja característica é proporcionar pouca profundidade de campo, trazendo destaque para o objeto fotografado (Figura 4). As mais comuns são 60 mm, 100 mm, 105 mm. Figura 4. Macro. Fonte: [ENCRYPTED] ([200-?], documento on-line). Fotografia de natureza4 Outro aspecto importante a ser considerado na fotografia de natureza são os acessórios necessários, como tripés, essenciais quando fotografamos em baixa velocidade, e filtros, que podem substituir objetivas, trazendo efeitos de contrastes acentuados ou mesmo transformando as objetivas em macro. Fotografia de natureza: uma ferramenta de conscientização Todos já ouvimos muitas vezes o velho ditado popular que diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Nesse sentido, podemos destacar que, além disso, uma fotografi a pode representar um instrumento de alerta e conscientização social, visto que, por trás das capturas imagéticas, podemos retratar com precisão aspectos que, muitas vezes, fi cam à margem das informações. Pesquisas vêm sendo desenvolvidas sobre a adequação dessa linguagem não verbal ao contexto da educação e a criação de uma conscientização social e ecológica nos sujeitos. A visão é um dos sentidos mais importantes nos humanos e, por isso, a fotografia pode ser uma excelente opção para driblar a falta de recursos na educação ambiental, sensibilizando e ensinando por meio de sua informa- ção e beleza (BORGES, ARANHA, SABINO, 2010, documento on-line). As imagens geram um impacto instantâneo, despertando a atenção e criando conexões com informações anteriormente recebidas. Quando o indivíduo é exposto a uma imagem, consegue ter uma dimensão maior do que está sendo abordado e estabelecer opiniões cujo embasamento é respaldado não somente por palavras, mas por demonstrações concretas dos fatos. Assim, estabelece-se uma dimensão entre o tempo e o espaço, proporcionando sensibilizações mais efetivas. No que diz respeito à utilização da fotografia de natureza como ferramenta de educação ambiental, por exemplo, podemos afirmar que, diferentemente da linguagem escrita ou verbal, a linguagem imagética proporciona uma cadeia de informações que, mesmo detalhadamente explicitadas em um texto, não conseguem provocar a mesma dimensão e impacto. Recorremos ao um exemplo altamente relevante acontecido no ano de 2019, em Brumadinho, no Estado de Minas Gerais, quando uma barragem cedeu e 5Fotografia de natureza um povo, de um minuto para o outro, viu suas vidas serem destruídas. Por mais fortes que fossem as palavras usadas para descrever a tragédia, o impacto não seria o mesmo sem a dimensão e a força da imagem do local antes e depois do desastre ambiental (Figura 5). Figura 5. Imagens mostram o antes e depois da tragédia em Brumadinho. Fonte: Tragédia... (2019, documento on-line). O mesmo podemos relacionar com as queimadas da Amazônia, também no ano de 2019 (Figura 6). Dada a dimensão dessa área, fica muito difícil dimensionar o real impacto ambiental que as queimadas deste ano provocaram. Quando ouvimos falar de milhares de focos de incêndio, milhares de quilômetros de mata devastados, não conseguimos, por mais informações que tenhamos, precisar exatamente o que isso representa e o real poder de destruição. Palavras perdem a força e o impacto que a imagem fotográfica representa. Diante disso, a fotografia de natureza representa, hoje, uma ferramenta de construção de uma consciência cultural/ambiental coletiva, e é a partir dela que Fotografia de natureza6 podemos dar voz ao que de mais precioso temos, nosso hábitat. De acordo com Borges, Aranha e Sabino (2010), educar o indivíduo por meio da percepção ambiental faz com que se crie um pensamento socioambiental permanente. Figura 6. Queimadas na Amazônia. Fonte: Queimadas... (2019, documento on-line). Construção de imagens aéreas e aquáticas Assim como na captura de imagens de animais selvagens ou simples paisa- gens, precisamos ter em mente que a fotografi a de natureza aérea ou aquática requer uma precisão de detalhes que o fotógrafo deve levar em consideração. Os retratos desses “mundos” ainda pouco explorados requerem habilidades como paciência, precisão e conhecimentos de luz. Diante desse contexto, apresentaremos alguns elementos de construção essenciais para as capturas fotográficas. Um dos elementos que devemos considerar no momento em que estamos construindo a imagem fotográfica é o papel das linhas (Figura 7). Isso significa que toda e qualquer imagem é constituída por esse elemento visual, e a sua abordagem correta implica na conquista do objetivo da imagem, ou seja, na conquista do direcionamento certo do olhar ao que se quer apresentar. 7Fotografia de natureza Figura 7. Linhas. Fonte: [Drone] ([201-?], documento on-line). Outro aspecto que se torna fundamental na prática da fotografia especial- mente aérea e aquática é a simplicidade. O que isso significa de fato? Manter a simplicidade significa eliminarmos elementos que possam distrair a atenção do nosso foco principal. Como em fotografias aéreas temos sempre a presença de muitos elementos, optar pelo que chamamos de composição aberta ou fechada é de fundamental importância. Uma composição fechada seria o mesmo que dispor as imagens dentro de uma moldura, de um quadro, dando destaque ao assunto principal e isolando os demais elementos que possam comprometer nosso foco de atenção. Na Figura 8, podemos perceber que o fotógrafo optou por isolar o objeto prin- cipal, estabelecendo uma espécie de quadro por meio das áreas de sombra. Figura 8. Arraia como objeto isolado. Fonte: [SNORKELING] ([2019, documento on-line). Fotografia de natureza8 No que se refere a uma composição aberta, diferentemente da fechada, estabelece-se como um aporte mais dinâmico para imagem. Isso não significa o movimento da cena, mas, sim, a sensação de movimento. A imagem pode ser dinâmica sem ter, necessariamente, movimento, basta despertar o movimento no olhar do espectador, fazendo com que ele circule seu olhar pela imagem, criando um movimento contínuo. Nas Figuras 9 e 10, as imagens provocam no espectador uma circulação do olhar por toda a imagem. Figura 9. Composição aberta e fechada. Fonte: [KLINGER] (2015, documento on-line).,Figura 10. Amazônia. Fonte: Mcleod ([201-?], documento on-line). 9Fotografia de natureza Para saber mais sobre a fotografia de paisagem, acesse o link a seguir e confira algumas dicas. https://qrgo.page.link/YEYPL BORGES, M. D.; ARANHA, J. M.; SABINO, J. A fotografia de natureza como instrumento para educação ambiental. Ciência & Educação, v. 16, n. 1, 2010. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132010000100009. Acesso em: 29 out. 2019. BUSSELLE, M. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 1993. CARDOSO, P. As melhores lentes para fotografia de paisagem e vida selvagem. In: ZOOM DIGITAL. [S. l.: s. n.], 2018. Disponível em: http://www.zoomdigital.com.br/as-melhores- -lentes-para-fotografia-de-paisagem-e-vida-selvagem/. Acesso em: 29 out. 2019. [DRONE]. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: https://c.pxhere.com/photos/b5/be/drone_ view_aerial_view_road_building_tree-1388202.jpg!s. Acesso em: 29 out. 2019. [ENCRYPTED]. [S. l.: s. n., 200-?]. Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/ images?q=tbn:ANd9GcSlq4z_csnX_-Eq8yMCSWMmGh-4AQTt5ywNPwxJBSEY4Qd7 6A7RTQ&sr. Acesso em: 29 out. 2019. FOTOGRAFIA de natureza é instrumento para educação e a luta contra crimes ambien- tais. In: ECYCLE. [S. l.: s. n., 201-?]. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Fotografia de natureza FOTOJORNALISMO: APLICAÇÕES E INOVAÇÕES Letícia Amaral Carlan Cor, luz e sombra no fotojornalismo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a expressividade da fotografia preto e branco. Reconhecer as múltiplas possibilidades da fotografia colorida. Identificar recursos de luz e sombra no fotojornalismo. Introdução Durante algum tempo, os fotógrafos precisaram conviver com diferentes correntes de pensamento a respeito do seu ofício. Alguns acreditavam que a melhor forma era manipular as imagens e criar fotografias influenciadas pelas artes plásticas, ao passo que outros acreditavam que a natureza devia ser mostrada de forma real, sem efeitos, nas imagens. A fotografia colorida trouxe inúmeras possibilidades de se retratar o mundo, porém era muito cara para a época. Aos poucos, no entanto, a técnica foi ficando mais popular, criando novas possibilidades para a área, como os recursos de luz e sombra, que permitem fazer fotografias com precisão e estética. Neste capítulo, você conhecerá a importância da fotografia em preto e branco e o quanto ela continua sendo utilizada até hoje. Além disso, verá as múltiplas possibilidades da fotografia colorida, bem como os recursos de luz e sombra utilizados no fotojornalismo. Por fim, conhecerá um pouco mais sobre o Photoshop, recurso de edição utilizado para manipular as imagens. Fotografia em preto e branco Quando a fotografi a colorida se tornou popular, nos anos 1970, algumas pessoas chegaram a pensar que a fotografi a em preto e branco estava com os dias contados. Afi nal, quem ia preferir ter recordações sem cor tendo à sua disposição um mundo de cores e possibilidades? Pois quem pensou isso, estava enganado. A fotografi a colorida foi, sem dúvidas, um grande avanço. No entanto, não signifi cou a extinção do preto e branco, uma vez que algu- mas pessoas seguiram utilizando essa técnica por ser mais barata, outros, por tradição e por uma certa relutância ao colorido, e alguns, por opção. Este último grupo demonstra que a fotografi a em preto e branco passou de uma condição técnica para uma escolha estética. Não existem, no mundo, situações em preto e branco, mas representá-las dessa forma é uma escolha do fotógrafo na busca por uma situação ideal. Segundo Flusser (1985, p. 23): As fotografias em preto-e-branco sã o a magia do pensamento teó rico, con- ceitual, e é precisamente nisto que reside seu fascí nio. Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato. Muitos fotó grafos preferem fotografar em preto-e-branco, porque tais fotografias mostram o verdadeiro significado dos sí mbolos fotográ ficos: o universo dos conceitos. Esses conceitos mencionados por Flusser (1985) referem-se, por exemplo, à composição da fotografia. Ao optar por realizar uma fotografia em preto e branco e não em cores, o fotógrafo, na verdade, desafia-se ainda mais, pois é preciso pensar em cada detalhe da composição, como luz e sombra, figurino, locação e modelo, tudo isso para o clique perfeito. Para Aumont (1993), a fotografia é um modo inédito de ver a realidade. Por isso, o olhar atento do fotógrafo tem tanto valor, pois é a partir dele que novas imagens da realidade serão criadas. Essas imagens não são a realidade em si, mas representam a realidade a partir do olhar do fotógrafo. Você já ouviu falar em poder fotogênico? Segundo Aumont (1993), o poder fotogênico é o acréscimo de verdade aos fatos nus realizado pelos fotógrafos. O termo foi utilizado até o fim da década de 1920. A fotografia levou algum tempo para ser considerada arte. Nesse percurso, dois movimentos ganharam destaque (AUMONT, 1993): Cor, luz e sombra no fotojornalismo2 Picturalismo: por volta,de 1900, produziu obras com o uso de mani- pulações e retoques em fotos com granulação aparente. Essa corrente estética se baseava nos meios plásticos (material, cor e pincelada) uti- lizados originalmente na pintura. Esse movimento sofreu críticas de alguns fotógrafos que queriam que as fotografias tivessem sua arte fundada na sua essência: “[...] o registro sem retoque da realidade [...]” (AUMONT, 1993, p. 308). Era como usar uma máquina fotográfica para fazer uma pintura. Corrente realista: entre 1910 e 1970, dividiu-se entre duas posições extremas sobre a expressividade fotográfica: ■ Acreditava que a arte do fotógrafo era a expressão da realidade e considerava necessário valorizar o real através dos enquadramentos e da iluminação. O fotógrafo precisava ter sua personalidade própria nessa arte de mostrar a realidade com a fotografia. ■ O fotógrafo devia anular-se para que a fotografia pudesse mostrar, revelar, algo que, sem ela, jamais seria visto. Essa revelação seria algo natural, feita a partir da fotografia. Quando se diz que uma pessoa é fotogênica, o que isso quer dizer? Significa que a pessoa é mais bonita em fotografia do que ao natural. “A foto mostra um encanto eventualmente ausente na pessoa real [...]” (AUMONT, 1993, p. 309). A Figura 1, a seguir, apresenta um exemplo de fotogenia no cinema dos anos 1960. Figura 1. A fotogenia no cinema dos anos 1960, Liberté la nuit (Philippe Garret, 1983). Fonte: Aumont (1993). 3Cor, luz e sombra no fotojornalismo Fotografia em cores A fotografi a surgiu em 1839, mas a fotografi a em cores só começou a ser popularizada em 1882, quando os irmãos Lumiére criaram o primeiro suporte para imagens a cores, o Autochrome. No entanto, as duas guerras mundiais atrasaram o progresso dessa técnica. Desse modo, somente na década de 1950 é que as marcas, como Kodak e Agfa, começaram a se preocupar com a qualidade dos fi lmes coloridos (DIAS, 2016). A revelação dos filmes a cores era complexa e cara. Além disso, o processo só era feito em laboratórios específicos das marcas, como Kodak. Todavia, com o aumento da procura por esse tipo de serviço, as marcas cederam autorizações de revelação e impressão a terceiros. O crescimento da fotografia a cores deu-se por uma série de fatores, tais como: a moda, a publicidade, a ciência e os fotógrafos amadores. Por exemplo, revistas como a Harper’s Bazaar (Figura 2) decidiram que, apesar dos altos custos, suas edições passariam a ter imagens coloridas (DIAS, 2016). Figura 2. Capa da Harper’s Bazaar com fotografia colorida (1948). Fonte: Dias (2016, documento on-line). Cor, luz e sombra no fotojornalismo4 Na época, as dificuldades para produzir fotografias coloridas com qualidade ainda existiam. A qualidade ruim dos filmes, a dificuldade de revelação e impressão, o tempo do processo e o alto custo eram fatores que tornavam a sua utilização ainda difícil. No entanto, a partir da década de 1970, as imagens coloridas passaram a ter uma qualidade excelente (DIAS, 2016). A fotografia é um dos meios mais eficientes de trazer informação e, com isso, difundir ideias e produtos. Com a fotografia em cores, foi possível avançar no que diz respeito à produção de informação para a sociedade. O fotógrafo William Eggleston foi o primeiro fotógrafo a realizar uma exposição solo de foto- grafia a cores no MOMA, em Nova Iorque, 130 anos após as primeiras fotografias (Figura 3). Figura 3. Fotografia a cores de William Egleston (1970) – Memphis. Fonte: Dias (2016, documento on-line). Luz e sombra no fotojornalismo A fotografi a depende da luz, de modo que, para as fotografi as em preto e branco, o que determina a nitidez e a textura dos objetos fotografados é a quantidade de luz que incide sobre eles. “O contraste na fotografi a preto e branco é obtido pela própria natureza das cores que vemos, e sua nitidez e textura são realçadas pela quantidade de luz correta que lhe é imprimida [...]” (LIMA, 1988, p. 85). 5Cor, luz e sombra no fotojornalismo Quando há excesso de luz em um ambiente, o contraste entre o que é claro e escuro é acentuado, retirando da fotografia os detalhes e as texturas. Os dias nublados são os melhores para quem deseja fotografar em preto e branco. Já nos dias de sol, os locais com sombras são mais adequados, para que a luz do sol não faça a luz estourar demais na fotografia. Assim, é possível fotografar e brincar com os efeitos de luz e sombra em uma fotografia. Isso é alcançado a partir do olhar apurado do fotógrafo que sabe manipular sua máquina e suas lentes para conseguir os efeitos desejados. O certo é que, quando se trata de luz e sombra, é possível alcançar tons mais dramáticos e mais leves a partir das composições criadas (Figura 4). Figura 4. Capa da Newsweek de 2011 apresenta a atriz Angelina Jolie com efeito de luz e sombra. Fonte: Fãs de Angelina Jolie (2011, documento on-line). A luz é formada por partículas (fótons) que se deslocam da fonte de energia luminosa (lâmpada ou sol) até se chocarem com um objeto que tenha cor. Algumas partículas são absorvidas e outras, refletidas. As superfícies escuras absorvem mais do que refletem, ao passo que as claras refletem mais do que absorvem (LIMA, 1988). Cor, luz e sombra no fotojornalismo6 Os editores de imagem Não há dúvidas de que o mundo real é muito lindo. Algumas vezes, no entanto, esse mundo, quando retratado nas fotografi as, não é tão real e bonito assim. Atualmente, quase todas as fotografi as encontradas na internet, nas revistas e nos jornais são tratadas em programas editores de imagem. O mais famoso deles é o Photoshop, no qual é possível tirar e inserir pessoas em uma fotogra- fi a, aumentar as cores, saturá-las ou deixar tudo em preto e branco, corrigir imperfeições e até mesmo diminuir silhuetas. Existe uma enorme discussão a esse respeito, como, por exemplo: o quanto esse mundo “photoshopado” está criando ideais inatingíveis de beleza? As mulheres querem atingir os corpos que veem na internet e nas revistas, porém nem a própria pessoa fotografada tem aquele corpo. A atriz Marina Ruy Barbosa saiu flutuando na capa da revista IstoÉ de dezembro de 2019. Além disso, houve edição no tamanho de cada pessoa, com pessoas maiores e outras menores, o que tornou a fotografia completamente desproporcional (Figura 5). Figura 5. Edição no Photoshop causa rebuliço nas redes sociais. Ninguém se deixou enganar pela capa da revista IstoÉ, cheia de erros de edição. Fonte: Revista Isto É (2019, documento on-line). 7Cor, luz e sombra no fotojornalismo AUMONT, J. A imagem. 8. ed. Sã o Paulo: Papirus, 1993. DIAS, A. P. A cor na fotografia: reflexão sobre a evolução histórica e ensaio prático. Portugal: Repositório Comum, 2016. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t &rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=5&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiWht2V8Zfm AhVaHLkGHfpnD1sQFjAEegQIBRAC&url=https%3A%2F%2Fcomum.rcaap.pt%2Fbitstr eam%2F10400.26%2F17220%2F1%2FA%2520cor%2520na%2520fotografia_Final_juri. pdf&usg=AOvVaw0i8PG2fTv4saS7205uSVOg. Acesso em: 30 dez. 2019. FÃS DE ANGELINA JOLIE. Angelina Jolie é capa da Newsweek de dezembro. 2011. Dispo- nível em: https://fasdeangelinajolie.blogspot.com/2011/12/angelina-jolie-e-capa-da- -newsweek-de.html. Acesso em: 30 dez. 2019. FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta. São Paulo: Hucitec, 1985. Disponível em: http:// www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Vilém_Flusser_-_Filosofia_da_Caixa_Preta.pdf. Acesso em: 30 dez. 2019. LIMA, I. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988. REVISTA ISTO É, São Paulo, n. 2605, 29 nov. 2019. Disponível em: https://istoe.com.br/ edicoes/. Acesso em: 30 dez. 2019. Leitura recomendada EDGAR-HUNT, R.; MARLAND, J.; RAWLE, S. A linguagem do cinema. Porto Alegre: Book- man, 2013. (Série Fundamentos de Cinema). Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é,extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Cor, luz e sombra no fotojornalismo8 FOTOJORNALISMO: TÉCNICAS E LINGUAGENS Rafael Sbeghen Hoff Fotojornalismo nas redes sociais e na internet Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir limites e usos da fotografia com celular. Conceituar fotojornalismo cidadão. Reconhecer direito de imagem. Introdução A rede mundial de computadores e seus espaços impulsionam a circu- lação e o consumo de imagens pelo mundo. Para o bom exercício da profissão, o fotojornalista deve entender, a partir de conceitos teóricos e desdobramentos práticos, como se dão as relações mediadas por esses dispositivos com o objetivo de otimizar seus recursos e potencializar seu trabalho. Neste capítulo, você vai se aprofundar sobre temas como internet, dispositivos e plataformas de compartilhamento de conteúdo, com ênfase na imagem. Além disso, vai conhecer questões relacionadas à legislação e ao direito autoral no país e, assim, terá instrumentos para o exercício ético, responsável e otimizado do fotojornalismo no contexto da cultura digital. Conceitos básicos em comunicação digital Para início de conversa, é importante esclarecer termos e conceitos funda- mentais para entender como se dão os usos e consumos de imagens na cultura digital contemporânea. Entre eles, destacamos, logo de início, a diferença entre internet e Web. Segundo o glossário apresentado por Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p. 234), internet é a “[...] rede global de computadores, conec- tados através de uma infraestrutura de hardware e software, cujas primeiras conexões foram estabelecidas nos EUA, no fi nal dos anos 1960”, enquanto Web é conceituada como o “[...] sistema hipertextual aberto, criado no fi nal dos anos 1980 no CERN. É um subconjunto das informações disponíveis na internet, organizadas em documentos interligados por hiperlinks e acessíveis através de softwares específi cos”, ou seja, um universo de conteúdos e páginas acessados dentro do espectro www (wide world web) em seus endereços. A internet é muito maior do que a Web. Na internet, há dados que não são acessados com programas (browsers) comuns e, por isso, estão escondidos em sua profundidade (deepweb). Já os buscadores comuns, como o Google, acessam apenas 30% dos conteúdos disponíveis na Web, uma vez que muitos dados estão armazenados em bancos de dados e, para acessá-los, é preciso uma “chave”. Um exemplo disso são os dados a respeito de veículos e multas de trânsito nos sites do Detran, em que só é possível acessar se o internauta tiver o número da carteira nacional de habilitação ou a placa e o Renavan de um veículo. Na Web, existem muitas plataformas de interação social em que os usuários podem trocar dados, como áudios, imagens e textos. Nessas plataformas, existem regras de interação nem sempre muito claras ao internauta comum, pois se escondem nas suas linhas de programação. É por isso que as plata- formas de interação social (também chamadas de redes sociais digitais) e os aplicativos de comunicação são chamados de dispositivos. O termo dispositivo na perspectiva foucaultiana refere-se a um ambiente ou sistema regido por regras que conformam as interações entre os seus elementos. Fica mais fácil entender essa questão quando pensamos no Facebook, por exemplo. A partir de um cadastro, o internauta cria uma identidade digital (uma conta) e pode ter acesso a uma plataforma que conecta outros perfis de usuários. Se o internauta tem 100 amigos conectados, em sua linha do tempo aparecem postagens de aproximadamente trinta por cento de todo conteúdo publicizado por seus amigos. Isso acontece por causa de fórmulas, expressas em linhas de programação, que limitam o acesso ao conteúdo postado. Es- Fotojornalismo nas redes sociais e na internet2 sas fórmulas são chamadas de algoritmos e fazem parte de todo e qualquer dispositivo de comunicação on-line. Araújo e Magalhães (2018, documento on-line) explicam como os algoritmos funcionam: Hoje, boa parte dos usos que fazemos de plataformas digitais são mediados por processos computacionais semiautônomos que estruturam como a infor- mação é produzida, acessada, organizada, legitimada ou descartada como irrelevante (ANANNY, 2016). Esses processos dependem da construção de identidades algorítmicas computacionais, sobre as quais usuários não são informados, mas que terminam por lastrear decisões essenciais de suas vidas (CHENEY-LIPPOLD, 2011). Em outras palavras, é comumente dito que, por serem opacos, algoritmos dependem de um achatamento da autonomia para funcionar da maneira como funcionam. Isso quer dizer que esses algoritmos ajudam os programas a ler o compor- tamento do internauta e classificar esse perfil a partir de suas interações, tipos de conteúdo que mais curtem, assuntos mais frequentes em suas conversas, etc., mesmo que não sejam visíveis pela grande maioria. Outra ação dos algo- ritmos é ler o conteúdo das imagens, identificando pessoas e até assuntos mais frequentes, ou mesmo a localização do registro por meio da geolocalização do aparelho de telefonia móvel, por exemplo. É com base nessas informações que as plataformas vendem os anúncios para públicos dirigidos, cobrando mais caro porque conhecem melhor os gostos e interesses dos consumidores. Entender esses conceitos é fundamental para falarmos de fotografia na internet, editada em programas digitais e compartilhada em plataformas ou aplicativos de comunicação. A partir da nossa performance nesses ambientes digitais, vamos construindo aquilo que Bruno (2012) chama de rastros digitais. Segundo a autora, são: [...] pegadas que deixamos nas redes de comunicação distribuída, especialmente na internet, onde toda ação deixa um rastro potencialmente recuperável, cons- tituindo um vasto, dinâmico e polifônico arquivo de nossas ações, escolhas, interesses, hábitos, opiniões, etc. Esses numerosos rastros digitais têm feito, como se sabe, a fortuna das empresas de rastreamento e mineração de dados para fins comerciais e publicitários (BRUNO, 2012, documento on-line). Assim, torna-se imprescindível aos fotojornalistas que aprendam a pre- encher os metadados dos seus conteúdos imagéticos postados, pois é a partir deles que os algoritmos poderão rastrear a origem e a autoria das imagens. 3Fotojornalismo nas redes sociais e na internet Fotografia com dispositivos móveis e qualidade A fotografi a jornalística exige do autor um domínio técnico para garantir visi- bilidade e legibilidade sobre a informação narrada, além de impacto visual e informativo. A visibilidade de conteúdos está associada a questões como nitidez e foco, ou seja, se aquilo que o autor quer mostrar está perceptível visualmente, sem ruídos que possam comprometer o processo comunicacional. Já a legibilidade é mais complexa, pois, além de dar a ver o conteúdo, exige do fotógrafo noções como enquadramento, relação fi gura-fundo e uso de signos para direcionar e ancorar a leitura naquilo que a intenção do autor elege como prioridade. Ler é produzir sentido para além daquilo que o espectador vê na imagem. Todas as noções técnicas da fotografia atual vêm da fotografia analógica, com exceção de sua velocidade. A forma como o registro analógico se dava, exigindo revelação e ampliação para acesso e circulação das imagens, mudou e, com isso, também alterou o nosso consumo em relação a elas. No entanto, as inter-relações entre fotografia analógica e digital são complexas. Aquilo que era considerado um “erro” no processo de revelação da imagem é incorporado à imagem digital hoje em dia como filtro. Um exemplo é o flare ou efeito luminoso gerado pela entrada de um raio de luz diretamente pela lente da câmera, produ- zindo um,ponto de forma geométrica, luminoso, sobre o assunto fotografado (Figura 1). Percebemos, então, que os conceitos de beleza ou “erro” fotográfico são transformados e tensionados pelos dispositivos e artefatos da cultura digital. Figura 1. Flare — efeito de “brilho” sobre a imagem. Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock.com. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet4 Outro aspecto importante a ser destacado quando tratamos de fotografias em redes sociais digitais está relacionado ao tema ou assunto a ser fotografado. Em seu artigo O instagramável: estética e cotidiano na cultura visual do Instagram, Manuela Salazar (2017) destaca que a portabilidade e a inexorável comunicação por meio da fotografia em dispositivos como o analisado no artigo impõem uma nova conjectura sobre o ato fotográfico, diferente daquele vivido no século XX, com as câmeras analógicas. Para ela, [...] a fotografia de hoje é transitória, maleável, imediata, e efêmera, a partir da lógica do feed — o carrossel de imagens das redes sociais, em que, a cada segundo, novos conteúdos substituem os “velhos”, compartilhados um segundo atrás. É uma fotografia “dedicada à exploração do olhar urbano e sua relação com a decadência, a alienação, o kitsch e a habilidade de localizar beleza no mundano” (MURRAY, 2008, 155)3. Ou seja, trata menos dos momentos especiais da vida doméstica ou da autorepresentação, e mais das pequenas descobertas visuais do dia-a-dia, retiradas da percepção sensível do cotidiano (SALAZAR, 2017, documento on-line). Se essa é a regra que guia as práticas contemporâneas, para se destacar, o fotojornalista deve exercitar a prática de produzir imagens mais pensadas, mais simbólicas e carregadas de significados. Só com essa prática reflexiva seria possível destacar-se diante do fluxo de efemeridades que desfilam nas linhas de tempo das mídias sociais digitais. Quando falamos de impacto visual e informativo, tratamos de abordagem sobre o tema, capacidade de retirar do enquadramento os ruídos e concentrar a informação visual naquilo que o fotógrafo elege como mais importante. Esse recorte pode acontecer na pós-produção, em um programa de edição de imagens, mas, em geral, acontece no momento da captação, in loco. A percepção, a seleção e a apuração técnica para registrar da melhor maneira possível aquilo que se quer dizer sobre um determinado fato ou personagem estiveram associadas durante muitos anos àquilo que Cartier-Bresson concei- tuou como “instante mágico”. 5Fotojornalismo nas redes sociais e na internet Figura 2. Expulsos da Terra — finalista do Prêmio Esso de Fotojornalismo de 2008. Foto: Foto... (2009, documento on-line). A Figura 2 mostra o “instante mágico” em que uma mulher com traços étnicos indígenas, de chinelos, saia e blusa, segurando uma criança nua nos braços, enfrenta e tenta parar o avanço de uma tropa de policiais, armados com cassetetes, escudos, botas e capacetes. O contraste entre a fragilidade da mulher e a brutalidade dos homens, ela sozinha e eles em grupo, potencializado pela expressão de dor e desespero da mulher, explicita a força informativa de que tratamos. Na percepção de Cartier-Bresson, esse instante captado pela lente do fotógrafo seria capaz de contar o “antes”, o “durante” e o “depois” em um único disparo, conhecido posteriormente como flagrante. Além do flagrante, o fotojornalismo impacta também pela força de suas mensagens visuais, mesmo quando a ação não é registrada em seu curso. A capacidade de sintetizar acontecimentos a posteriori está calcada na sensibilidade do fotojornalista em pesquisar e envolver-se com a pauta. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet6 Figura 3. Depósito humano — fotografia vencedora do Prêmio Vladmir Herzog de Direitos Humanos. Foto: Botega (2013, documento on-line). Na fotografia de Jefferson Botega (Figura 3), a força informativa não está explícita em um flagrante, mas na capacidade de sintetizar o conteúdo da pauta (superlotação carcerária e direitos humanos). É possível que os apenados da cena tenham colocado espontaneamente as mãos pela janela na porta da cela. Também é possível que o repórter fotográfico tenha sugerido aos apenados que demonstrassem pela janela o número de detentos residindo naquele recinto. Independentemente do processo produtivo, a força com que a imagem sugere a superlotação, o aperto, a falta de condições dentro de padrões mínimos de dignidade humana naquela situação fica estampada. Essa é a força informativa que se desloca do “instante mágico” para a narrativa que alia técnica e signos em uma construção imagética. 7Fotojornalismo nas redes sociais e na internet É possível que fotografias de flagrantes sejam captadas com smartphones pela portabilidade desses artefatos (o Brasil é um dos maiores mercados de smartphones do mundo), o que passa a ser interessante pelo aspecto do registro do inusitado, inesperado, improvável ou curioso no cotidiano, sem garantir a qualidade técnica (visibilidade e legibilidade) sobre o conteúdo. Por outro lado, uma fotografia pode ter bastante nitidez e muitos pixels de resolução (alta qualidade técnica), mas não impactar. Além disso, com o tempo em fluxo contínuo e muitas coisas acontecendo a todo o tempo em todo o mundo, seria humanamente impossível o fotojornalista estar em todos os lugares o tempo todo. Em geral, as pautas são comunicadas à redação durante seu acontecimento ou depois de terem acontecido. Soma-se à veri- ficação prévia da veracidade das informações o deslocamento da equipe de reportagem até o local do fato. Por essas razões, é preciso admitir: a maior parte do trabalho fotojornalístico não é baseada no registro do flagrante, e, sim, na narrativa dos acontecimentos depois que eles transcorrem ou daqueles que são agendados e controlados (entrevistas coletivas, solenidades, eventos artísticos) (Figura 4), sem grande impacto visual por conta do alto grau de previsibilidade. Figura 4. Eventos agendados têm maior grau de previsibilidade e menor impacto visual. Foto: Matej Kastelic/Shutterstock.com. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet8 Alguns veículos de comunicação incentivam a remessa de conteúdos (imagens, áudios, textos) de seus consumidores de notícias para as redações, constituindo uma rede de colaboração. Esses conteúdos, em geral, passam por um processo de apuração e lapidação para serem enquadrados nos padrões de qualidade do veículo. Além disso, em geral, são publicados em áreas específicas dos veículos, com a identificação de que aquele material não é produzido pela redação, mas constitui-se de colaboração “externa”. Mesmo assim, a legislação brasileira preconiza que a responsabilidade sobre os conteúdos publicados é tanto do autor quanto do veículo de comunicação que o veiculou. Esse dado se mostra relevante quando tratamos de danos morais causados por informações falsas ou que causam prejuízo social a alguém (mesmo que verdadeiras). Em geral, as pessoas prejudicadas optam por pedir reparação aos danos causados para os veículos de comunicação, e não para os autores dos textos e imagens. Isso se dá por causa do princípio de razoabilidade no campo do Direito: uma pena pecuniária não deve ser aplicada de maneira tão severa a ponto de pro- vocar o enriquecimento de uma das partes, nem tão branda a ponto da parte que lesou não “sentir” a punição. É por essa razão que muitas pessoas que se sentem lesadas entram na justiça pedindo ressarcimento por danos morais causados pelos veículos, e não pelos jornalistas (ainda que seja possível entrar na justiça contra os dois): jornalistas e fotógrafos ganham salários menores do que o faturamento das empresas que veicularam a imagem e, pelo princípio da razoabilidade, a punição pecuniária sobre a pessoa jurídica é maior do que sobre a pessoa física. Direito autoral e propriedade intelectual na Web O Artigo 5º da Constituição Federal assegura o direito de igualdade e de propriedade dos brasileiros:,“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988, documento on-line). Esse caput é seguido de incisos que orientam e ordenam diferentes instâncias da vida e da cidadania dos brasileiros, dos quais destacamos os que você confere no Quadro 1, a seguir. 9Fotojornalismo nas redes sociais e na internet X — são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. XXII — é garantido o direito de propriedade. XXVII — aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei- ros pelo tempo que a lei fixar. XXVIII — são assegurados, nos termos da lei: a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; o direito de fiscalização do aproveita- mento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representa- ções sindicais e associativas. Quadro 1. Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal O inciso X garante ao indivíduo o ressarcimento por dano moral a partir das suas caracterizações (calúnia, injúria, difamação). Já o inciso XI garante que o autor da fotografia (no caso específico deste estudo) seja também o proprietário dessa imagem (BRASIL, 1988). Essa situação só muda por força de um contrato reconhecido em cartório perante a Lei. Por esse motivo é tão importante atentar para as condições e para os regramentos presentes em contratos de trabalho de fotógrafos, por exemplo, já que temos duas situações correlatas, mas distintas: propriedade material e propriedade intelectual. Na primeira, intransferível, o autor da imagem tem assegurado seu nome vinculado à obra. Na segunda, o direito de comercialização e divulgação da obra pode passar do autor para outra pessoa (física ou jurídica). Mesmo no caso de cessão do direito ou comerciali- zação, a autoria não pode ser negada ao autor da fotografia. O inciso XXVII trata sobre a hereditariedade dos direitos materiais sobre a obra (BRASIL, 1988). No Brasil, uma fotografia tem os direitos de proprie- dade protegidos e garantidos ao autor ou aos seus herdeiros (neste caso, até 75 anos após a morte do autor, contados a partir de primeiro de janeiro do ano subsequente à morte), que podem comercializar e/ou usufruir de direitos regrados por contratos depois do falecimento. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet10 É emblemático o caso da fotografia de Alberto Diaz “Korda”, que registrou o guerrilheiro e médico Ernesto “Che” Guevara em um ato solene homenageando as vítimas do navio “La Coubre”, que trazia para Havana armas e munições aos então revolucionários. Em um instante entre a movimentação sobre o palanque durante a solenidade, o fotógrafo captou Che (com então 31 anos) e seu ar “consternado e raivoso”, vestindo uma boina e uma jaqueta em 5 de março de 1960. Korda nunca exigiu os direitos autorais da fotografia, que se transformou na imagem mais popular e reproduzida do século XX, embora tenha exigido cinquenta mil dólares para evitar que ela fosse usada em uma propaganda de vodca. O dinheiro que ganhou teria sido doado para o sistema de saúde cubano. A ima- gem, hoje, corre pelo mundo em domínio público, mas sua autoria não pode ser negada. Fonte: A história... (2017, documento on-line). O inciso XXVIII regulamenta que os brasileiros têm direito sobre o uso de suas imagens e sons e que cabe aos órgãos fiscalizadores, associações e sindicatos (além dos próprios indivíduos) vigiarem e zelarem por esses direitos (BRASIL, 1988). É com base nessa legislação e em outras de teor mais específico que o direito autoral se baseia. Por ser uma Lei Pétrea, ou seja, que não pode ser alterada por emenda ou projeto de lei, a Constituição Federal é o principal argumento para a defesa dos direitos de propriedade e intelectual sobre as obras imagéticas, não importando o meio em que são divulgadas. Ferramentas de pesquisa reversa têm ajudado fotógrafos no rastreio de usos e aplicações de suas imagens, garantindo, a partir dessas, seu direito autoral e proprietário. Ainda que o universo digital permita uma abundância de conteúdos, muitas vezes sem o 11Fotojornalismo nas redes sociais e na internet devido registro de dados como autoria e ano de produção, o material divulgado na internet não é de livre uso, e a apropriação indevida desses conteúdos pode gerar muitos problemas jurídicos aos mais descuidados com as questões legais. Exemplos recentes são postados quase que diariamente na internet a respeito de casos jurídicos envolvendo direitos de propriedade material ou intelectual. Além desses casos, a exposição de pessoas em situação vexatória também é passível de indenização. A atriz Isis Valverde, por exemplo, foi flagrada em uma cena em que deixa ver seu seio acidentalmente durante a gravação de uma novela. A imagem foi publicada pela revista Playboy e a Editora Abril, responsável pelo publicação, foi condenada a pagar R$ 40 mil para a atriz. Para saber mais sobre o caso da imagem envolvendo a atriz Isis Valverde, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/AEQfD No caso de uma imagem que é publicada em mídias sociais digitais e replicada por outras pessoas, mesmo em perfis pessoais, sem a creditação da imagem ou em caso de exposição de pessoa à situação vexatória, todos os que compartilharam essa imagem são cúmplices e passíveis de pena, segundo a justiça. Isso ocorre muito em casos de compartilhamento de imagens pessoais, com nudez, por aplicativos de conversa. Outro caso que exemplifica o uso inadequado de imagens e seus desdobramentos jurídicos é aquele envolvendo fotografias famosas, como o caso do jogador de futebol Pelé, comemorando um gol com soco no ar. Carlos Orlando Novais Abrunhosa, autor da imagem, ganhou mais de R$ 90 mil da empresa responsável pelos jornais O Globo e Extra, que publicaram a imagem sem autorização. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet12 Veja, no link a seguir, a notícia que explica a indenização que a Globo teve de fazer ao fotógrafo por usar foto de Pelé comemorando gol com soco no ar. A notícia de 2017 explicita como uma fotografia icônica e famosa, mesmo sendo bastante difundida, é protegida por direitos autorais. https://qrgo.page.link/kvsbf A HISTÓRIA por trás da foto mais famosa de Che Guevara. Blog Mídia Ninja, 2017. Disponível em: http://midianinja.org/news/a-historia-por-tras-da-foto-mais-famosa- -de-che-guevara/. Acesso em: 6 nov. 2019. ARAÚJO, W. F.; MAGALHÃES, J. C. Eu, eu mesmo e o algoritmo: como usuários do Twit- ter falam sobre o “algoritmo” para performar a si mesmos. In: ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 27., 2018, Belo Horizonte. Anais [...]. Minas Gerais, 2018. Disponível em: http:// www.compos.org.br/data/arquivos_2018/trabalhos_arquivo_0UTVQBQ76VDU93C71 N1A_27_6864_26_02_2018_13_27_22.pdf. Acesso em: 1 nov. 2019. BOTEGA, J. 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SALAZAR, M. M. O instagramável: estética e cotidiano na cultura visual do Instagram. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 40., 2017, Curitiba Anais [...]. Paraná, 2017. Disponível em http://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/ R12-0626-1.pdf. Acesso em: 1 nov. 2019. 13Fotojornalismo nas redes sociais e na internet Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Fotojornalismo nas redes sociais e na internet14 PRODUÇÃO GRÁFICA Derli Kraemer Tratamento de imagens Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer aspectos gráficos relacionados à fotografia. Identificar aspectos gráficos relacionados a vetores em geral. Trabalhar aspectos gráficos relacionados ao uso de figuras. Introdução Neste capítulo, você vai aprender como reconhecer os aspectos gráficos que estão relacionados tanto à fotografia quanto aos vetores, estudando suas diferenças. Você também vai estudar o uso de figuras nos trabalhos relacionados à direção de arte e ao design. Esses conhecimentos são importantes para que o profissional da produção gráfica possa exercer suas funções de forma aprimorada. Aspectos gráficos da fotografia No século XIX, a percepção do mundo foi modifi cada pelo surgimento da fotografi a. A tecnologia evoluiu do mais rudimentar sistema de captação até os métodos digitais do século XXI. A fotografi a é usada para registrar mo- mentos dos mais diversos, sejam domésticos ou profi ssionais. Uma imagem fotográfi ca é um meio de captura do momento, em que toda a informação é registrada sem erros, sem distrações, conforme a defi nição de McLuhan (1974). Ou, como disse Cesarotto (1996, p. 134), [...] a apreensão do real por meio dos olhos permite ao sujeito se posicionar perante o mundo externo que, por esta operação, é interiorizado e metabolizado pelo eu”. O estudo da fotografia vai além da imagem, aprofundando-se em suas características físicas e instrumentais. Segundo Shore (2014, p. 15), “[...] uma fotografia é bidimensional, tem bordas e é estática; ela não se move. Embora seja bidimensional, ela não é, rigorosamente, plana. A fotografia tem uma dimensão física”. O autor define plenamente o que é a fotografia com essa afirmação, pois, mesmo a fotografia sendo uma representação gráfica, colorida ou monocromática, impressa sobre papel ou na sua forma digital, e essencialmente plana, ao mesmo tempo, ela possui a profundidade que seu autor pretendia capturar. Trata-se da linguagem da fotografia. A linguagem é o método de comunicação humana não natural usado para transmitir ideias. Sendo assim, a linguagem transmite emoções e significados. A linguagem fotográfica pode ser transmitida por meio do processo físico- -químico da captura da imagem, revelada quimicamente e fixada em papel, usado largamente até meados dos anos 1990, ou pelo processo digital, em que o momento é capturado por sensores eletrônicos. A fotografia em foco A fotografi a, além de uma forma de transmissão de signifi cado, é um meio físico de representação gráfi ca plana, como apresentado anteriormente. Ao pensarmos na fotografi a como esse meio, abstraindo o seu conteúdo, temos um processo químico e físico sobre o papel, ou, então, expresso em largura e altura em código binário, que, traduzido na linguagem de computador, confi gura uma imagem bidimensional. Nesse âmbito, a fotografia pode ser usada como informação visual para ilustrar determinado trabalho, com base na capacidade de pregnância, isto é, de percepção da intenção do fotógrafo. Hoje, uma imagem é capturada de forma digital e armazenada de acordo com o sistema do fabricante do equipamento escolhido pelo profissional; os dispositivos mais utilizados são das marcas Canon, Nikon e Sony, grandes fabricantes de equipamentos fotográficos. Os equipamentos fotográficos armazenam as fotografias em formatos de ima- gem padronizados, geralmente permitindo a escolha por parte do utilizador da câmera. Ainda, quando as imagens são transmitidas para o computador, podem ser convertidas para formatos específicos, para uso em diferentes programas. Os formatos existentes se distinguem por aspectos como qualidade, compactação, padrão de cores e possibilidade de manipulação, dentre outros, conforme descrito a seguir. JPEG ( joint photographic experts group): formato padrão muito utili- zado por todos os fabricantes, além de ser muito comum na Web. Tem a característica de grande capacidade de compactação, possibilitando que imagens de boa qualidade possam ser armazenadas com pouquíssimo espaço. Porém, a sua compactação também descarta parte da informação da imagem. Isso não impede que seja usada em publicações, porém, é Tratamento de imagens2 necessário maior cuidado com a qualidade por parte dos profissionais que a utilizam. PNG (portable network graphics): esse formato suporta um padrão de cores excelente, além de apresentar fundo transparente, por meio de um canal alpha, e uma compressão sem perdas de informação. Entretanto, salva apenas no modo de cor RGB (red, green and blue, ou vermelho, verde e azul), portanto, adequado para meios digitais, não sendo o ideal para mídia impressa. TIF/TIFF (tagged image file format): é um dos formatos mais perfeitos de armazenagem de imagem. Possui alta qualidade e compressão sem perdas; porém, é necessário que a imagem seja mantida como TIFF do início ao fim do trabalho, sem conversões. Uma imagem JPEG, se convertida em TIFF, não melhora; ela permanecerá com a perda inerente de informações do formato JPEG. O TIFF é um excelente formato para mídia impressa. GIF (graphics interchange format): formato anterior à criação do JPEG, utilizado em computadores antigos que utilizavam sistema de 8 bits. Em imagens para Web que não necessitam de grande qualidade, esse formato é perfeitamente aceitável. BMP (Windows bitmap): preserva detalhes do arquivo original, não suporta transparências, sendo comum em computadores com sistema operacional Windows. É um dos formatos mais antigos, sendo inse- rido originalmente como uma solução Microsoft para representações fotográficas. EXIF (exchangeable image file format): semelhante ao TIFF, suporta de 8 a 48 bits, sendo recomendado seu uso para alta qualidade visual e impressa. As câmeras que capturam imagens nesse formato são escolhi- das por quem tem a necessidade de imagem sem perda de informação; entretanto, não são todos os programas de edição de imagens que têm suporte para esse formato. RAW: palavra em inglês que significa “cru”, em português; é, basi- camente, uma imagem sem perda e sem compactação. O resultado é uma imagem de grande qualidade de impressão, porém, em arquivos que consomem muito espaço de armazenagem. O formato RAW, na Nikon, chama-se NEF (Nikon electronic format) e é igualmente sem compactação. WebP: criado em 2010 pelo Google, tem um fator de compactação até 40% menor do que o JPEG e, assim como este, tem perda de informação, tendo as mesmas restrições para impressão que o JPEG. 3Tratamento de imagens PSD (Photoshop document): formato utilizado profissionalmente, na área do design. Permite o uso no modo de cor CMYK (cyan, magenta, yellow and black key, ou ciano, magenta, amarelo e preto) com alta qualidade, além de camadas, textos, transparências, vetores e outros filtros e funcionalidades típicas do software Photoshop. Em todos os casos,,as imagens digitais são constituídas de pixels, que con- sistem na menor parte de uma imagem. O conjunto de pixels tem a capacidade de variar de cores, dando a ilusão de forma, luz e cor, formando aquilo que compreendemos como fotografia (Figura 1). Figura 1. Exemplo de fotografia. Fonte: REDPIXEL.PL/Shutterstock.com. Se aplicarmos zoom na imagem, até chegarmos no ponto mostrado na Figura 2, veremos, então, o pixel. Tratamento de imagens4 Figura 2. Exemplo de fotografia com zoom no Photoshop. Fonte: Adaptada de REDPIXEL.PL/Shutterstock.com. Além da extensão da imagem, para conduzir uma imagem para um deter- minado trabalho, deve-se considerar também outros fatores, como a resolução da imagem, ou seja, a quantidade de informação que está contida na imagem digital para a reprodução. Dependendo dessa quantidade, medida em polegada quadrada, uma imagem pode ser usada para um jornal, que tem um papel de baixa qualidade, ou uma revista, que utiliza um papel de qualidade superior. Outra decisão que deve ser tomada é quanto ao modo de cor da imagem. Existem diferentes esquemas de cores, e sua aplicação depende de quem manipula a imagem. Por exemplo, uma fotografia em preto e branco utiliza um modo de cor greyscale, que contém apenas informações de escala mono- cromática. Um modo de cor RGB contém informações de vermelho, verde e azul, que são a base de cores para mídias eletrônicas, ou seja, imagens para TV, vídeo e websites, por exemplo. Finalmente, temos o modo para mídia impressa em revistas, cartazes, folhetos e outros formatos que precisam de alta qualidade e impressão offset: o modo CMYK. Baseado nas cores ciano, magenta, amarelo e preto, essas imagens são adequadas para a impressão de alta qualidade. 5Tratamento de imagens A história oficial da fotografia, segundo a revista Superinteressante (GODINHO, 2011), aponta dois inventores como “pais” dessa técnica: Henry Talbot, na Inglaterra, e Louis Daguerre, na França. Talbot fixou imagens em papel com um processo químico, enquanto Daguerre capturou imagens sobre uma chapa revestida de sais de prata, com revestimento de vapores de mercúrio para a sua fixação. Aspectos gráficos relacionados a vetores Enquanto a fotografi a digital é normalmente regida pelos formatos de imagem baseados em pixels, os gráfi cos baseados em vetores têm origem em expressões matemáticas, sendo que suas instruções produzem linhas e curvas, que podem conter preenchimentos, gerando ilustrações bastante complexas. Programas dessa natureza são utilizados para diferentes objetivos, desde arquitetura até design gráfi co. Um exemplo de uso dos gráficos vetoriais é o AutoCAD (Figura 3), um dos mais antigos programas de desenho vetorial, lançado em 1982 e dedicado ao desenho técnico. Suas funcionalidades são muito utilizadas por todos que necessitam de desenho técnico, como engenheiros, designers e arquitetos. Figura 3. Software AutoCAD. Fonte: Autodesk (2019a, documento on-line). Tratamento de imagens6 As possibilidades do desenho vetorial vão além da representação bidimen- sional e permitem seu uso também para desenho tridimensional. Na Figura 4 a seguir temos um exemplo de ilustração em 3D feita com um software chamado 3DsMax. Esse software usa vetores para criar representações. Embora pareça uma fotografia de um carro, este foi modelado a partir de esquemas técnicos do veículo; o cenário utilizado é a fotografia de uma estrada. Figura 4. Imagem desenvolvida no software 3DsMax. Fonte: Autodesk (2019b, documento on-line). Software baseados em vetores também são usados na publicidade e propa- ganda, sobretudo para compor ilustrações, logotipos, textos e anúncios. Corel Draw (Figura 5), Adobe Illustrator (Figura 6), bem como o software livre Inkscape, são usados em agências de publicidade e por designers gráficos para a criação de seus projetos. 7Tratamento de imagens Figura 5. Imagem desenvolvida no software Corel Draw. Fonte: CorelDRAW (2019, documento on-line). Figura 6. Imagem desenvolvida no software Adobe Illustrator. Fonte: Adobe (2019, documento on-line). Nesse tipo de software, a imagem não contém pixels, como dito ante- riormente; ela traz exclusivamente pontos e linhas. Isso permite ampliações sem perda de qualidade. Uma vez que não existem pixels, a impressão em grandes formatos utilizando ilustrações vetoriais produz excelentes resultados. Segundo Ambrose e Harris (2009), ilustrações vetoriais podem ser mostradas em qualquer tamanho, pois não dependem da resolução. Tratamento de imagens8 Imagens do tipo bitmap dependem da resolução para ter qualidade visual e de im- pressão. A resolução é medida em quantos pontos ou dots cabem em uma polegada (inch). Quanto maior a quantidade, melhor a qualidade da imagem. Por exemplo, uma resolução de 72 pontos por polegada (ou dpi, do inglês dots per inch) é adequada para uma imagem em um site; já uma resolução de 300 dpi pode ser usada em mídia impressa. O uso de figuras De acordo com o Glossário temático de produção editorial, elaborado pela Subsecretaria de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde (BRA- SIL, 2013, documento on-line), fi gura é uma representação por imagem, uma ilustração, que, por sua vez, pode ser um “[...] desenho, gravura, fi gura, fotografi a, mapa, diagrama, quadro, tabela, gráfi co”, ou mesmo elementos do design gráfi co, como logotipos ou logomarcas. Nesse sentido, ainda con- forme o Glossário, um logotipo é uma “[...] representação gráfi ca de empresa, instituição ou produto, que utiliza apenas caracteres para a sua identifi cação. [...] utiliza letras, siglas ou palavras com design marcante/especial. [...] Essa representação é uma assinatura institucional”. Já uma logomarca é descrita como um sinônimo para marca ou ainda como uma “[...] representação gráfi ca de empresa, instituição, produto, que utiliza elementos visuais — símbolos e caracteres — para a sua identifi cação. [...] a logomarca é a identidade visual da instituição” (BRASIL, 2013, documento on-line). Quando trabalhamos com figuras, precisamos estabelecer o objetivo do seu uso, uma vez que uma imagem é, essencialmente, uma forma de entregar informação, que permite uma complexidade única, conforme já mencionado anteriormente ao citar McLuhan (1974). A escolha da figura para comunicar uma ideia depende da interpretação da necessidade do cliente por parte dos profissionais que o atendem. Obviamente, uma figura criada para representar uma construção obedece às regras de desenho técnico, e sua função é puramente projetual. Entretanto, quando falamos sobre publicidade ou design gráfico, o trabalho com figuras é, sem dúvida, mais profundo. Uma marca, por exemplo, pode representar mais do que se percebe em uma primeira observação. 9Tratamento de imagens Conforme descreve o site Meio & Mensagem (BRADESCO..., 2018), a atualização e modernização da marca do banco Bradesco traz dois traços na base, que representam o tronco de uma árvore, com um corte em 30 graus na parte superior; reflete a confiança que a instituição tem no Brasil. Os traços trançados no topo da árvore transmitem o acolhimento e a proteção que a instituição oferece. A intersecção reforça a ideia de conexão com os clientes. A fonte usada na marca é própria, feita especialmente para esse fim, com linhas minimalistas. Todos esses significados são comunicados de maneira sutil, em conjunto com o todo da comunicação do cliente. Fonte: Bradesco... (2018, documento on-line). Outras peças produzidas com técnicas de ilustração também contam com a sutileza na transmissão do significado. Tanto a ilustração quanto a foto- grafia são capazes de criar imagens ilustrativas, que podem ser usadas para comunicar e, com isso, transmitir a mensagem pretendida pelo cliente. Os elementos visuais da ilustração conduzem um diálogo com o receptor, que consegue compreender a mensagem independentemente da origem do artista ou fotógrafo que a concebeu. É possível concluir que as ilustrações,vetoriais, pictóricas ou digitais podem usar essa linguagem não verbal para comunicar uma mensagem, seja qual for, tendo como base a capacidade de representação do artista, seja ele um publicitário, designer ou outro profissional que use essas técnicas. Tratamento de imagens10 ADOBE. Adobe Illustrator: develop your new favorite font design. 2019. Página para aquisição do software. Disponível em: https://www.adobe.com/products/illustrator/ typography-font-design.html. Acesso em: 23 set. 2019. AMBROSE, G.; HARRIS, P. Dicionário visual de design gráfico. Porto Alegre: Bookman, 2009. 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São Paulo: Cultrix, 1987. 11Tratamento de imagens PRODUÇÃO DE IMAGEM NA PROPAGANDA Marcilene Forechi Princípios de edição de imagens Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os aspectos técnicos relacionados ao tratamento e à edição de fotos. � Explicar os aspectos técnicos relacionados aos vetores em geral. � Descrever os aspectos técnicos relacionados a ilustrações, gráficos e tabelas. Introdução A relação dos profissionais de fotografia com as imagens mudou, con- sideravelmente, a partir do uso das tecnologias digitais, pois a forma como elas são visualizadas durante o processo de produção fotográfica, que inclui desde a captura até a pós-produção, é diferente. No processo de pós-produção, uma das mudanças mais significativas está na etapa de edição, que consiste na seleção das imagens que seguirão para as próximas etapas (tratamento e manipulação). Se na fotografia analógica era preciso fazer uma folha de prova, com as miniaturas de todas as imagens, na era digital, elas são visualizadas na tela do computador, por meio de programas de edição e tratamento, como o Photoshop. Neste capítulo, você identificará aspectos técnicos relacionados à edição e ao tratamento de fotos; e compreenderá o que são vetores, suas características e usos e os aspectos técnicos relacionados a ilustrações, gráficos e tabelas. 1 Aspectos técnicos do tratamento e da edição de imagens Edição, manipulação e tratamento de imagens costumam ser expressões usadas indistintamente, como se significassem a mesma coisa. É importante que você entenda as diferenças entre os termos usados para se referir ao que é feito após a captura das fotos. Existe um fluxo de produção fotográfica, da qual fazem parte a edição, a manipulação e o tratamento, etapas que podemos chamar de pós-produção. A mesma imagem pode passar pelas três fases ou apenas pelas duas primeiras e a decisão de fazer algum tipo de manipulação após o tratamento depende dos objetivos do trabalho. Na fotografia digital, essas três etapas do processo de produção fotográfica caminham juntas, mas nem sempre é fácil distingui-las. Cantídio Sousa Filho trata das mudanças ocorridas na produção fotográfica com a chegada dos equipamentos digitais e aponta algumas delas a partir de entrevista com foto- jornalistas. Uma das constatações é que a mudança provocada pelo surgimento da câmera digital alterou a relação com o processo fotográfico, principalmente por não ser mais necessário o uso do papel (SOUSA FILHO, 2017). Então podemos considerar que houve uma mudança na relação dos profis- sionais com a fotografia no aspecto material, desde o modo como as imagens são visualizadas e não mais manuseadas, na forma como elas são editadas e tratadas (por meio de programas no computador) e na possibilidade de alterações após a captura, que não seriam possíveis na fotografia analógica. Além disso, a rapidez entre o processo de captura e a edição se constitui como uma das principais diferenças. Sousa Filho (2017) lembra que, no processo analógico, era preciso esperar até que as imagens capturadas pela câmera fossem reveladas — o que demoraria, pelo menos, duas horas — para que a edição pudesse ser iniciada. Portanto, de acordo com o fotógrafo e professor de fotografia Willian Lima, a edição de fotos é um tipo de curadoria, ou seja, é o trabalho de selecionar, entre as imagens capturadas, aquelas que serão usadas no projeto fotográfico ou no veículo de comunicação. Editar, então, refere-se à seleção das imagens que seguirão o fluxo e passarão para as próximas etapas do processo de produção fotográfica (LIMA, 2018). Princípios de edição de imagens2 É comum que as pessoas falem em edição se referindo à fase do tratamento. O mais famoso programa de tratamento de imagem (Photoshop) é usado para edição de fotos e, em geral, nos referimos a ele como um programa de edição. O tratamento é a segunda etapa da produção, quando melhorias na qualidade das fotos são realizadas. Nele, é possível corrigir defeitos ou acentuar a cor, aumentar o brilho, ajustar o contraste e a saturação, entre outras possibilidades. Uma fotografia “crua” é chamada de RAW e precisa passar por um tra- tamento, que, antigamente, acontecia na etapa de revelação. Muitas vezes, ouvimos falar em edição quando as imagens estão, na verdade, na etapa de tratamento. Já a manipulação de fotos é um passo adicional, que pode, ou não, ser usado após o tratamento da imagem. Chamamos de manipulação de fotos o conjunto de técnicas que produzem alterações nas características de uma fotografia. Com a manipulação, é possível mudar o cenário, os efeitos de iluminação, as cores, inserir ou excluir objetos, etc. Muitos fotógrafos defendem que uma fotografia manipulada não é mais fotografia, mas, sim, uma arte gráfica (LIMA, 2018). Jorge Pedro de Sousa destaca que o retoque, a alteração, a supressão e a inclusão de elementos nas imagens fotojornalísticas foram procedimentos relativamente comuns ao longo da história. A novidade consiste, segundo ele, na facilidade de alterar imagens com as tecnologias digitais, sendo difícil encontrar fotos que não tenham sido tratadas ou manipuladas em programas de computador (SOUSA, 2004). Atualmente, o processo de edição de imagem é com o uso de programas nos quais são descarregados os dados brutos da câmera, ficando disponíveis na tela do computador. No processo analógico de fotografia, a edição era feita por meio dos negativos (filmes), a partir dos quais se faziam as folhas de prova, ou seja, as imagens eram impressas em tamanho pequeno para que,fosse feita a seleção. 3Princípios de edição de imagens As imagens digitais são formadas pela composição de três canais de cores: vermelho (R), verde (G) e azul (B), mas existe um quarto canal, o extra alpha, que não é suportado por todos os formatos e permite transparência ou ausência da informação de cor. É por meio desse canal, suportado pelo formato portable network graphics (PNG), que é possível sobrepor imagens sem que haja fundo a delimitá-las (CHAGAS, 2017). Programas de edição e tratamento de imagens Como vimos no início deste capítulo, a produção fotográfica nos dias de hoje é feita digitalmente. Os programas mais usados para edição também são usados para o tratamento e a manipulação. Por isso, é tão comum nos referirmos a eles como editores de imagens. Há muitos programas disponíveis, alguns gratuitos, inclusive. Selecionamos alguns deles, com base em um levantamento feito pelo site Tecmundo (BELIN, 2018). � Adobe Photoshop: sem dúvida o mais conhecido e usado software de edição e tratamento de imagens no mundo, seus recursos permitem vários tipos de intervenções. É possível aplicar efeitos, corrigir im- perfeições, criar a sensação de profundidade de campo, melhorar as formas e outros aprimoramentos. Esse programa pode ser usado no computador ou no smartphone, por meio de um aplicativo. � Adobe Photoshop Lightroom: ideal para quem não precisa de recursos tão avançados, mas precisa editar e tratar fotos com qualidade. É um programa de fácil manuseio, configurações predefinidas, ferramentas de ajustes rápidos e armazenamento em nuvem. � VSCO: é um aplicativo que foi pensado para uso em smartphone com sistema Android ou iOS. Possui recursos de edição similares aos exis- tentes no Instagram, com algumas possibilidades adicionais. Com ele, é possível editar manualmente com ajustes de sombras, cor e realce, fazer cortes, melhorar o contraste, alterar a nitidez e o brilho, entre outras possibilidades. � ProCamera: é um aplicativo de câmera de smartphone que permite fazer ajustes antes do clique. Assim, você tem controle sobre aspectos como exposição, foco, velocidade do obturador, International Organization for Standardization (ISO) e outras funcionalidades. A ideia é poupar Princípios de edição de imagens4 tempo no processo de pós-edição. Os recursos são mais avançados do que os existentes nas câmeras de smartphones. � Snapseed: é um aplicativo para smartphone que permite a aplicação de filtros um pouco mais elaborados do que os do Instagram e do próprio aparelho. Além dos filtros como grunge, retrô e outros tipos, há recursos que permitem girar, inclinar e alterar a composição da foto, além de inserir molduras, textos e outros recursos. A escolha pelo melhor programa de edição e tratamento de imagens depende do objetivo e dos resultados desejados. É importante conhecer os recursos disponíveis, testar suas funcionalidades e entender as diferenças e os poten- ciais de cada um. O uso profissional e amador também é um elemento a se considerar na hora da escolha. A tecnologia está em constante evolução e sempre surgem novos programas e atualizações para os já existentes, assim como alguns software são substituídos por versões mais atuais e deixam de ser produzidos e comercializados. 2 Aspectos técnicos de vetores Na computação gráfica, uma imagem pode ser classificada de duas maneiras: vetorial e raster (bitmap). Quando é produzida em um equipamento digital, o formato é o bitmap, que em tradução literal significa “mapa de bits”, ou seja, significa que pequenos pontos de cor, chamados de pixels, agrupam-se para formar a imagem que vemos na tela do computador, da câmera fotográfica ou do smartphone. Essas imagens são chamadas de bitmaps ou raster. Os principais formatos desse tipo de arquivo são: joint pictures expert group (JPG ou JPEG), portable network graphics (PNG), graphics interchange format (GIF) e TIFF. Uma imagem vetorial é composta por linhas e pontos. Trata-se de uma imagem dinâmica e sua maior vantagem é possuir alta qualidade de resolução. A transformação de bitmap para vetorial ocorre por meio do uso de programas específicos e se chama vetorização. O principal benefício de uma imagem vetorial é a escalabilidade, ou seja, a possibilidade de que ela seja ampliada muitas vezes sem perda de resolução. Enquanto a bitmap tem limite de ampliação, a vetorial não tem limite. Por isso, qualquer imagem que seja usada em peças publicitárias ou em grandes superfícies precisa, necessariamente, ser vetorizada. A imagem vetorial é 5Princípios de edição de imagens gerada a partir de formas geométricas, como curvas, elipses, polígonos, textos, entre outros elementos. Diante das duas opções apresentadas (Quadro 1), você pode estar se per- guntando, afinal, qual delas é a melhor? Não se pode afirmar que uma seja melhor ou pior, a não ser em função do uso que ela terá. Uma das variáveis a serem consideradas é o formato de arquivo, pois, embora existam dois tipos de imagens, há vários formatos de arquivos que as comportam. Fonte: Adaptado de Categorias... (2020). Imagem vetorial Imagem bitmap Vetores são formas que carregam informações de cor, dimensões, linhas e curvas em equações. Essas equações são traduzidas para imagens vetoriais, que podem ser editadas e sofrer alterações na sua forma, cor e tamanho sem perder resolução. Bitmap é um conjunto de pixels (também chamados de pontos) que carrega uma informação de cor. Uma imagem bitmap é formada pela união dos pixels. A qualidade de bitmap é medida em dots per inch (DPI) ou pixels por polegada. Quanto maior for o DPI de uma imagem, maior será sua definição e qualidade. Quadro 1. Diferença entre imagem vetorial e bitmap Os arquivos mais utilizados na internet são JPG, GIF, PNG, portable do- cument format (PDF) e bitmap (BMP), cada um com características técnicas específicas (como você pode ver a seguir), pois oferecem modos de compressão distintos de pixels (SARDINHA, 2012). � JPG: surgiu em 1983 e é um dos formatos mais usados por quem com- partilha imagens na Internet. Seu tamanho é pequeno, o que facilita o armazenamento, pois ocupa pouco espaço na memória do computador ou do smartphone. Como comprime o arquivo, há perda de qualidade. Para usar esse formato, a premissa é que o tamanho do arquivo (reduzido) seja mais importante do que a qualidade da imagem. Portanto, não é o formato adequado para impressões de alta qualidade. Princípios de edição de imagens6 � GIF: é um arquivo leve e bastante popular nas redes sociais, pois produz movimento para as imagens. Como ele trabalha com poucas cores (256 cores), não é comum o uso em fotografias. Os arquivos nesse formato são pequenos e, portanto, facilmente compartilháveis. Segundo Sardinha (2012), foi criado em 1987 e usado nos primeiros vídeos dos computadores de 8 bits, antes do JPG. Ainda é considerado bom para gráficos, desde que o número de cores seja limitado. Não é um arquivo usado para impressão. � PNG: foi criado pela Adobe para substituir o GIF, em 1996. Entre suas vantagens está a capacidade de cores e a existência do canal alpha, que permite transparência do fundo e vários níveis de opacidade. Além disso, permite imagens de alta qualidade em tamanhos razoáveis para uso na Internet. Sua desvantagem em relação ao GIF é não possuir os recursos de animação. � PDF: criado pela Adobe, em 1993, é um formato bastante versátil, pois pode armazenar bitmaps, vetores e textos. Esse é um formato recomen- dado para impressões, como manuais de instruções, publicações digitais (e-books, apresentações), pois oferece alta qualidade. � BMP: suportam milhões de cores, mas têm a desvantagem de serem pesados, o que dificulta o uso e o compartilhamento. Segundo Sardinha, como os arquivos não são comprimidos, o envio na internet é muito lento. Uma imagem de 800 × 600 pixels, por exemplo, ocupa cerca de 1,5 megabytes. Esse tipo de formato era muito comum na década,de 1990, mas não é recomendado devido ao tamanho. É importante saber que, ao contrário das imagens disponíveis na Internet, nos formatos mencionados, as vetoriais são trabalhadas em programas de design gráfico, como o Corel Draw, o Adobe Illustrator e o Inkscape (de código aberto e totalmente gratuito). Há basicamente três modos de criar imagens vetoriais (RIBEIRO, 2018): � partindo do zero, desenhando polígonos, escolhendo cores e preen- chendo imagens; � abrindo um arquivo bitmap em um editor e desenhando por cima da imagem, como se criasse uma cola digital; � usando ferramentas automatizadas de vetorização dos programas de edição. 7Princípios de edição de imagens É possível, como dito anteriormente, editar, tratar e manipular imagens no Photoshop, mas os programas mais usados para esse trabalho com vetores são o Corel e o Illustrator. Quanto maior for a resolução de uma imagem, mais pixels ela vai precisará. Uma câmera digital de 10 megapixels usa mais de 10 milhões de pixels por imagem. Com esse tipo de câmera é possível conseguir fotografias de alta qualidade. Já em um smartphone, com uma câmera de 2 megapixels, a qualidade será inferior. Na figura a seguir é possível comparar uma ampliação feita em vetor e em bitmap (FIGUEIREDO, 2016). 3 Aspectos técnicos de ilustrações, gráficos e tabelas O processo de edição envolve outros recursos, como ilustrações, gráficos e tabelas, que são criados em programas específicos e podem ser tratados e manipulados. Os produtos gráficos são tudo aquilo que se produz digitalmente para ser usado na Internet, impresso ou aplicado em diferentes superfícies. Dependendo do tipo de imagem que você irá trabalhar, precisará de programas distintos (CHAGAS, 2017). Princípios de edição de imagens8 Os principais programas para a criação de imagens bitmap são: Adobe Photoshop, Corel Paint Shop Pro, Corel Painter, Corel Photopaint e Gimp; já os principais programas para vetoriais são: Adobe Illustrator, Corel Draw, Freehand, Inkscape, Real Draw e Xara. Diante das possibilidades de produção, edição, tratamento e manipulação de imagens na era digital, é comum que haja questionamentos sobre os aspectos éticos do uso dessas ferramentas, uma vez que, por meio delas, é possível criar “realidades”. Joao Batista Freitas Cardoso, ao falar sobre as implicações éticas na publi- cidade e no jornalismo, destaca a ideia de que a representação das coisas no mundo das imagens está “tomando o lugar do mundo real” e a nossa realidade sendo “interpretada por meio das informações fornecidas pelas representações visuais veiculadas pela mídia” (CARDOSO, 2013). Para além de aspectos técnicos envolvendo o uso de imagens, há o modo de perceber e representar a realidade, que envolve mais do que o tratamento de um modo geral. O uso de gráficos e tabelas nas produções publicitárias e jornalísticas ganha força à medida que as ferramentas se tornam mais acessíveis e, culturalmente, estamos condicionados às interpretações do mundo por meio de imagens. Há impactos diferentes no receptor em relação a números apresentados em um texto ou por meio de gráficos e tabelas, coloridos, interativos e que organizam e interpretam a realidade daqueles números. É preciso considerar na comunicação por imagens, segundo Cardoso, três variáveis: o código, o texto e o contexto. A produção de um gráfico ou tabela, por exemplo, deve considerar os dados absolutos presentes no material original e as intenções do produtor, que irá interpretar e dispor esses dados para conduzir o observador a determinado percurso de leitura. Porém, a leitura de imagens não supõe um percurso qualquer, pois o observador, segundo Cardoso, recorre às suas referências internas e mapas mentais já existentes. Dessa forma, a produção gráfica deve considerar o público para o qual se destina. Cardoso (2013) diz que é preciso usar elementos visuais que fazem parte do repertório do público, para que, assim, seja possível “pren- der a atenção” e “manter o controle da comunicação”. Nesse sentido, as manipulações fotográficas e o uso de recursos gráficos criam “situações inesperadas”, capazes de capturar a atenção do observador e despertar sentido nas leituras que ele fará. 9Princípios de edição de imagens BELIN, L. 12 dos melhores programas para editar fotos e vídeos no PC e no celular. Tecmundo, Curitiba, 30 ago. 2018. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ software/133765-12-melhores-programas-editar-fotos-videos-pc-no-celular.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. CARDOSO, J. B. F. Fotografia, realismo e ética: a manipulação digital no jornalismo e na publicidade. Cuadernos.info, Santiago, n. 33, p. 133–144, dez. 2013. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0719-367X2013000200 012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 10 mar. 2020. CATEGORIAS Impressão. Graphimax, Porto Alegre, 2020. Disponível em: http://www. graphimax.com.br/suporte/impressao/. Acesso em: 10 mar. 2020. CHAGAS, Z. Todos os formatos de imagem explicados e avaliados para você. Rock Content, Belo Horizonte, 20 jan. 2017. Disponível em: https://rockcontent.com/blog/ formatos-de-imagem/. Acesso em: 10 mar. 2020. FIGUEIREDO, A. Bitmap: o que é, para que serve e como funciona. Tecnoveste, Brasília, 16 mar. 2016. Disponível em: https://www.tecnoveste.com.br/bitmap-o-que-e-para- -que-serve-e-como-funciona/. Acesso em: 10 mar. 2020. LIMA, W. Diferenças entre edição, tratamento e manipulação de fotos. Fa- lando de Foto, [S. l.], 26 out. 2018. Disponível em: https://falandodefoto.com.br/ diferencas-entre-edicao-tratamento-e-manipulacao-de-fotos/ RIBEIRO, R. O que são vetores e como vetorizar uma imagem? Rock Content, Belo Horizonte, 5 nov. 2018. https://comunidade.rockcontent.com/como-vetorizar-uma- -imagem/. Acesso em: 10 mar. 2020. SARDINHA, C. Entenda os formatos de arquivos de imagens. TechTudo, Rio de Janeiro, 7 maio 2012. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/07/ entenda-os-formatos-dos-arquivos-de-imagem.html. Acesso em: 10 mar. 2020. SOUSA, J. P. Fotojornalismo: uma introdução à história, às técnicas e à linguagem jor- nalística da fotografia na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004. 124 p. SOUSA FILHO, C. A linguagem da fotografia digital e os novos desafios para o fotojor- nalismo. Ininga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPI, Teresina, v. 4, n. 1, p. 4–21, jan./jun. 2017. Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/ininga/ article/view/5905. Acesso em: 10 mar. 2020. Leituras recomendadas BARROSO, C. Adobe Photoshop Lightroom 4: O guia completo para fotógrafos digitais. 2. ed. Balneário Camboriú: Photos, 2012. 564 p. MARTINS, N. Fotografia: da analógica à digital. São Paulo: Senac, 2014. 280 p. Princípios de edição de imagens10 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Princípios de edição de imagens TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Mariana Pícaro Cerigatto Editores de imagens Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar programas de edição de imagens (priorizar softwares gratuitos). Descrever formas de utilização de editores de imagens no ensino e aprendizagem. Aplicar o uso das ferramentas dos editores de imagem. Introdução As tecnologias de informação e comunicação (TICs) inovam o cenário da educação e disponibilizam novas ferramentas para o processo de ensino e aprendizagem. No entanto, para que seja bem-sucedido, o uso dessas ferramentas exige diferentes reflexões. Hoje, como você sabe, as pessoas vivem cercadas de modernidades tecnológicas.,Assim, buscam, a cada dia, se inserir nas novas dinâmicas como participantes ativas da cultura digital. Nesse contexto, a educação tem o grande papel de promover a inclusão digital. Neste capítulo, você vai ver como os editores de imagens se inserem no âmbito educacional. A ideia é que você reflita sobre o uso desses softwares como recurso tecnológico e educativo, observando as suas principais características e possibilidades pedagógicas. Softwares gratuitos de edição de imagens Os editores de imagens são programas que modifi cam arquivos de imagens, promovem melhorias na qualidade das imagens, realizam montagens, etc. Existem várias opções de softwares voltados para a edição de imagens, desde os mais sim- ples — como o Paint, da Microsoft — até os mais profi ssionais — como o Adobe Photoshop, famoso e muito utilizado. No entanto, alguns programas, como é o caso do Photoshop, exigem algum investimento, já que a sua licença não é livre. Com a popularização das câmeras digitais, os programas de edição de imagem se tornaram mais comuns e fundamentais em qualquer computador. Isso impulsinou o desenvolvimento de softwares livres de edição de imagem. Existem várias opções gratuitas para download na internet. A seguir, você vai conhecer algumas delas. PhotoScape Disponível em português, o PhotoScape (Figura 1) é um editor de imagens fácil de usar, ideal para o usuário que não tem experiência com softwares de edição. Além de possibilitar edições básicas — como recortar imagens, mudar a tonalidade, o contraste e o brilho —, ele oferece a possibilidade de converter fotos em outros tipos de arquivos, fazer colagens e montagens, trabalhar com gifs animados, etc. Figura 1. Tela principal do PhotoScape. Fonte: Samba Tech (2017). Editores de imagens2 GIMP Outra opção de software gratuito e popular voltado para a edição de imagens é o GIMP (Figura 2). Esse software oferece recursos básicos e até edições profi ssionais, que se aproximam das que podem ser realizadas com ferra- mentas do Photoshop. Por ser um software livre, permite contribuições de desenvolvedores e usuários ao redor do mundo. Figura 2. Tela principal do GIMP com a imagem do logotipo do programa. Fonte: Samba Tech (2017). Polarr Esse programa, cuja interface você pode ver na Figura 3, também oferta gra- tuitamente ferramentas básicas de edição de imagens — recorte de imagens, aplicação de fi ltros, ajuste de cor, luz, saturação, brilho, contraste, etc. 3Editores de imagens Figura 3. Tela com recursos de edição do Polarr. Fonte: Samba Tech (2017). A seguir, você vai ver como utilizar esses programas em processos de ensino e aprendizagem. Editores de imagens no processo de ensino e aprendizagem Os editores de imagens podem ser inseridos em processos de ensino e apren- dizagem. Essa inserção está em sintonia com o contexto contemporâneo, que valoriza o visual. Ernst Gombrich (1999), um dos historiadores da arte mais célebres do século XX, já dizia que a civilização atual valoriza e apela para o uso de imagens o tempo todo, desde quando acorda até a hora de dormir. As imagens estão na televisão, nos jornais e revistas, nos outdoors, nos folhetos, nas redes sociais. Conforme reforça Mitchell (2012), as imagens exercem um enorme poder no mundo contemporâneo. Assim, ao refletir sobre a utilização de editores de imagens, você deve considerar não somente o manuseio da ferramenta em si, mas também o trabalho com a linguagem não verbal. Ao trabalhar com esses programas, você deve ter em mente que as imagens carregam significados, mediam conhecimentos e são uma forma de expressão. Editores de imagens4 Para haver um uso crítico e pedagógico dos programas de edição de imagens nas escolas, a mediação do professor é fundamental. É ele quem garante um “tom” educacional na utilização desses programas, para que não sejam usados de forma aleatória e sem objetivos pedagógicos. O professor, com objetivos e planos de aula bem definidos, deve auxiliar na mediação dos processos de ensino e aprendizagem com o uso dessas ferra- mentas. Ele também precisa estimular os alunos a interagirem com os recursos provenientes desses programas de forma crítica e criativa. Assim, a tecnologia, por si só, não constitui uma nova prática pedagógica. É preciso pensar na apropriação e na exploração desses e de outros programas com propósitos pedagógicos. O objetivo é que a tecnologia seja uma aliada na construção de uma prática consciente e criativa, assim como na construção do conhecimento de forma colaborativa. Dessa maneira, você deve evitar o uso meramente instrumental. Com relação a isso, Behrens (2000, p. 103) afirma que “[...] a inovação não está restrita ao uso da tecnologia, mas também à maneira como o professor vai se apropriar desses recursos para criar projetos metodológicos que superem a reprodução do conhecimento e levem à produção do conhecimento”. Uso crítico e criativo Em sala de aula, você pode utilizar os editores de imagens de diversas for- mas. Os alunos podem entrar em contato com essas ferramentas por meio de computadores, em laboratórios de informática, e com o uso de dispositivos móveis. Afi nal, a maioria dos programas de edição de imagens dispõe de versões para uso em smartphones. O professor pode trabalhar com edição de ilustrações e fotografias, criação de desenhos, etc. Pode também trabalhar em diferentes níveis de ensino, faixas etárias e áreas disciplinares, favorecendo diversas habilidades: a coordenação motora, as habilidades operacionais, as habilidades colaborativas e também a criticidade e a criatividade. É importante que você esteja atento principalmente à criticidade e à cria- tividade. Os programas de edição de imagens permitem a criação de imagens autorais, colagens, montagens, etc. Neles, também é possível aplicar filtros, criando e recriando novos sentidos nas imagens. Assim, as ferramentas de edição podem ser aproveitadas com um viés artístico. O trabalho criativo com as imagens ainda deve estar acompanhado de habilidades ligadas à criticidade. A criação e a recriação de imagens devem considerar aspectos éticos, relacionados ao uso autoral e aos direitos de imagem. 5Editores de imagens Como uma edição de imagens pode contribuir para falsos realismos? Como a edição de imagens e os filtros podem distorcer uma imagem real? Como é possível manipular uma imagem com as ferramentas de recorte e edição? Como uma imagem ganha outro sentido com a aplicação de filtros, o ajuste de cor, brilho, etc.? Quais são os aspectos legais e éticos envolvidos no uso e na edição de imagens? Essas são algumas perguntas que podem ser trabalhadas a partir do uso de editores de imagens no contexto escolar. As atividades com edição de imagens podem envolver várias áreas disciplinares. Além disso, podem servir para projetos interdisciplinares. O professor de biologia, por exem- plo, pode usar as ferramentas de zoom dos editores para mostrar com mais detalhes as estruturas de células e microrganismos. O professor de língua portuguesa pode trabalhar com a “gramática visual” ao estudar a linguagem da fotografia, em conjunto com o professor de arte. O professor de história pode trabalhar com os alunos o restauro de imagens, além da comparação entre imagens de locais fotografados antigamente e atualmente, em um projeto que une saberes de outras disciplinas — como a geografia. As ferramentas dos editores de imagens Para compreender melhor o uso de ferramentas dos editores de imagens em am- biente escolar, Santana (2014) realizou uma investigação junto a professores de arte de 5º a 8º anos do ensino fundamental. Ela estudou o uso de recursos tecnológicos que eles faziam no Colégio Estadual Jayme Canet, em Curitiba (PR), em 2014. Para investigar como são trabalhados os recursos tecnológicos, assim como a metodologia utilizada, se propôs o uso das ferramentas do software GIMP. Assim, foi feita uma capacitação dos professores para o uso do GIMP, com aplicação de um,conteúdo didático-pedagógico em arte. Por meio dessa formação, a ideia era apresentar o caráter pedagógico das tecnologias contem- porâneas. Além disso, os professores deveriam refletir sobre possibilidades metodológicas para o ensino da arte. Com relação à inserção de programas como o GIMP no ensino, considere o seguinte: Muitos trabalhos recentes não são mais objetos puros e simples, mas campos de possibilidades, obras em transformação derivadas da utilização de novas Editores de imagens6 ferramentas digitais. Nesse sentido podemos dizer que a criação de um sof- tware específico para o tratamento das imagens assume grande importância, convertendo o engenheiro-programador num indivíduo próximo do artista (BERNARDINO, 2010, p. 55). A seguir, você vai ver alguns exemplos do uso do GIMP e de suas ferramentas. O uso do GIMP no ensino de arte O software GNU — Image Manipulation Program, também conhecido como GIMP, é um editor de imagens que apresenta funcionalidades completas. Além de oferecer instrumentos de edição, dispõe de ferramentas para a criação de imagens. Entre os recursos de edição, estão o pincel (brush), o lápis (pencil), o retoque (airbrush) e a clonagem (clone). O software possui ainda um sistema de correção de “serrilhado” nas ima- gens de alta qualidade, bem como uma ferramenta para aplicar efeitos de gradiente e mistura, apresentando boas soluções para a edição de imagens. Becker, Oliveira e Bidarra ([2010]) afirmam que o GIMP, usado de forma planejada, pode ser um importante instrumento artístico, levando o aluno a pensar e a trabalhar a arte contemporânea. São inúmeras as possibilidades de ressignificação da imagem a partir do GIMP: O uso desses recursos de forma planejada e pautada no conhecimento em arte pode gerar produções interessantes e significativas que levem o aluno a elaborar seu pensamento artístico e a trabalhar com ele de forma consistente. Outro ponto relevante é que a criação e/ou a manipulação das imagens pode ser pensada e repensada de forma mais ampla com a utilização dos meios tecnológicos, os quais oferecem uma diversidade de possibilidades. Pelo uso de novas tecnologias, o aluno tem a possibilidade de desenvolver sua capacidade de pensar e de fazer arte contemporaneamente (BECKER; OLIVEIRA; BIDARRA, [2010], p. 11). O GIMP ainda oferece recursos para a criação de gráficos, logotipos e fotos, a alteração de cores, a combinação de imagens utilizando camadas, a remoção de partes indesejadas e a conversão de arquivos entre diferentes formatos de imagem digital. Por exemplo: pode-se converter uma imagem de determinada extensão em outras extensões de arquivo de imagem — como .jpg, .gif, .png, etc. —, de acordo com a mídia em que se pretende divulgar (imagens divulgadas na internet costumam usar o formato .jpg). Uma das possibilidades interessantes para o trabalho com a disciplina de arte diz respeito às ferramentas do GIMP que permitem recriar imagens 7Editores de imagens a partir de filtros e edições característicos de movimentos artísticos da arte moderna, como o cubismo e o expressionismo. Veja na Figura 4, a seguir. Figura 4. O GIMP possui uma ferramenta que aplica efeitos característicos da arte moderna, como os impressionistas (a) e os cubistas (b). Fonte: Santana (2014). Como você viu, o professor de arte pode ensinar os alunos a transformar imagens originais e a aplicar efeitos como os apresentados na Figura 4. As- sim, os estudantes são capazes de compreender melhor as características do cubismo e do impressionismo, por exemplo. Além disso, conseguem entender a contribuição de cada tipo de filtro para o sentido geral de cada imagem. Esse é apenas um exemplo entre as inúmeras possibilidades didáticas do uso do GIMP. O professor pode escolher determinadas ferramentas de acordo com os conceitos e temas trabalhados nas aulas. Obviamente, a disciplina de arte abre mais espaço para se trabalhar com editores de imagens, mas os professores de cada área podem pensar em como inserir a temática da imagem em suas aulas. Editores de imagens8 Você pode aprender mais sobre o GIMP e sanar