A estação de metro da Encarnação ganhou um painel gigante com esculturas cheias de história

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Françoise Schein
Fotografia: Francisco Romão PereiraPAINELESCULTURASMETROENCARNAÇÃO_FRP, 15/09/2022

A estação de metro da Encarnação ganhou um painel gigante com esculturas cheias de história

Quase 20 anos depois de ter metido o dedo na estação do Parque, a belga Françoise Schein instalou um painel com 32 esculturas na estação Encarnação. E está tudo ligado.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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A rede do Metropolitano de Lisboa é também uma galeria de arte pública, com intervenções assinadas por artistas como Querubim Lapa, Júlio Pomar, João Vieira, Maria Keil, Júlio Resende, a dupla Vieira da Silva e Árpád Szenes e também a artista belga Françoise Schein, que deu cor à estação do Parque (Linha Azul) em 1994 sob o tema das Descobertas e dos Direitos Humanos. Schein está agora de regresso à cidade e com ela trouxe o “Mapeamento inacabado do conhecimento”, a nova obra de arte da estação da Encarnação.

Com 12 metros de comprimento e 2,5 de altura, é um painel gigante que integra 32 esculturas feitas a partir de aço, madeira, vidro e objectos encontrados – e que, na sua maioria, se inseriram inicialmente num projecto mais vasto imaginado em 1995, juntamente com a arquitecta norte-americana Elaine Monchak: o Café Cartográfico, que seria instalado por cima da estação do Parque. Esse projecto acabou por ser suspenso devido a questões orçamentais. Só que as esculturas já tinham sido produzidas e ficaram até hoje guardadas num armazém em Paris, a ganhar pó.

Hoje, na Encarnação, as esculturas estão intrincadas umas nas outras. Mas vale a pena aproximar-se e descobrir todos os pormenores, numa obra que está enquadrada por uma caixilharia desenhada pelo arquitecto Alberto Barradas, o autor desta estação inaugurada no ano de 1992. “O trabalho que aqui se vê é uma longa história de criação, eu diria que é quase um milagre”, disse Schein durante a apresentação da obra, que decorreu no passado dia 15 de Setembro e que é descrita pela artista como uma “reencarnação”, sem trocadilho intencional.

Françoise Schein
Francisco Romão PereiraMapeamento inacabado do conhecimento

Esta história começa em Nova Iorque, onde a artista viveu durante 11 anos, entre 1978 e 1989, e onde descobriu um livro que a marcou: Os Descobridores, de Daniel Boorstin (1914-2004), sobre o pensamento humano e as descobertas da humanidade, desde a invenção do tempo. “Com muita alegria, pesquisa e trabalho criei a estação do Parque sobre os grandes descobrimentos marítimos portugueses, com 450 mil azulejos, todos pintados à mão”, começa por lembrar. E foi em Lisboa, durante a criação desses painéis, que acabou por conhecer pessoalmente Boorstin, com quem falou sobre o livro que tinha lido em Nova Iorque. “Foi assim que nasceu o desejo de criar uma série de obras sobre estas temáticas.

Ao mesmo tempo, em 1995, o Metro encarregou-me de construir o Café Cartográfico”, continua. Um projecto de arte e arquitectura em cima da estação do Parque, para criar um espaço cultural e de lazer nesta área”, lembra, sublinhando a participação da arquitecta norte-americana Elaine Monchak na concepção desse projecto. “Mas um dia, infelizmente, tivemos de parar tudo porque o projecto já não podia ser realizado, por razões várias. Por isso as obras dormiram durante 20 anos num armazém em Paris – até 2020, quando o Metro encontrou uma solução, finalmente. Uma reencarnação que foi muito feliz”, descreveu a artista. Schein explicou que o trabalho que imaginou em 2021 não é muito diferente do que criou em 1995. Algumas peças são novas, outras foram renovadas e outras acabaram por não integrar o resultado final, numa empreitada que demorou nove meses a ser concluída.

Françoise Schein
Francisco Romão PereiraMapeamento inacabado do conhecimento

Com obras espalhada um pouco por todo o mundo, “é sob as cidades, nas suas estações de metro, nos parques e nos muros, que ela justapõe o texto dos Direitos Humanos de 1948 entremeado a imagens, textos filosóficos e literários e cartografias da cultura e história locais”, lê-se na biografia do site oficial da artista. Mas nesta colecção de 32 esculturas, a belga dá a volta ao mundo em ciência, já que todas as peças têm como tema as grandes invenções da humanidade. No entanto, há uma espécie de homenagem à sua obra dos anos 90, através de uma escultura em miniatura de 16 dos painéis principais que criou para a Estação do Parque, que representam diversas viagens marítimas portuguesas, aqui instaladas em torno de um grande mapa mundo. Estão lá várias rotas marítimas feitas por navegadores de diferentes países desde a Antiguidade, passando por Marco Polo, vikings, muçulmanos, chineses, ingleses, holandeses ou franceses.

Há muito mais para descobrir – e para isso é que pode contar com a ajuda de um guia na parte de trás do painel, que descreve as partes que remetem para um “império celestial” com a Lua, as estrelas e as mitologias a elas associadas representando a invenção do tempo; para o sistema astronómico de Ptolomeu, onde a Terra era o centro do Universo; para as rotas da seda por terra e mar; para o mapa de Copérnico que coloca o Sol no centro do Universo, em vez da Terra; para Isaac Newton e o fenómeno gravitacional do Universo; para a invenção da técnica tipográfica por Gutenberg; ou, por fim, para a modernidade do século XXI, num “espelho do território mundial sobrecarregado de tudo”. Este “Mapeamento inacabado do conhecimento” está instalado numa das entradas da estação, mas para ver bem de perto, tem primeiro de passar cartão.

Estação da Encarnação. Rua General Silva Freire (Olivais). Seg-Dom 06-30-01.00.

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