Socialista e feminista revolucionária, Eleanor Marx (1855-1898) viveu amarrada a homens vivos e mortos – do companheiro oportunista ao fantasma do seu pai, a figura que inspirou revoluções um pouco por todo o mundo. Não é um acaso o filme começar no funeral do autor d’O Capital. Miss Marx procura resgatar Eleanor, ou Tuddy, do epíteto “filha de”, e colocá-la no seu merecido lugar na história dos movimentos de trabalhadores na Europa: uma pioneira do feminismo marxista, da dinamização sindical e da luta pela abolição do trabalho infantil.
Uma história trágica e um percurso nada convencional para uma mulher do século XIX são caracterizados como uma “vida punk”. O filme deixa essa colagem óbvia quando arranca, nos créditos, com o caos sonoro do punk rock dos norte-americanos Downtown Boys. Mas esse dinamismo desaparece logo da tela, dando lugar a um filme de época convencional, com alguns fogachos de energia sempre que nos focamos na luta laboral.
É difícil não nos lembrarmos de Marie Antoinette. Embora uma socialista e uma monarca absolutista não pudessem estar mais distantes, ambos os filmes procuram trazê-las para o século XXI. Miss Marx é uma espécie de versão espelho (com menos orçamento e energia) do filme de Sofia Coppola. O objetivo de falar para 2021 fica claro quando Eleanor reconhece o progresso feminino, mas recorda que, “apesar destes direitos acrescidos, as mulheres inglesas, casadas ou solteiras, continuam moralmente dependentes dos homens e são ainda maltratadas por eles”. A libertação dos trabalhadores, pela qual Eleanor luta, funciona como uma projeção da sua própria prisão ao peso das responsabilidades familiares e ao companheiro adúltero e endividado de quem tem de cuidar.
Uma ótima Romola Sadie Garai, no papel de Eleanor, é um dos destaques de um filme que prefere dizer que é punk a mostrar-nos que é.
Veja o trailer do filme
Miss Marx > De Susanna Nicchiarelli, com Romola Garai e Patrick Kennedy > 107 minutos