Eucalyptus

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Eucalyptus
Eucalyptus tereticornis
Classificação científica e
Domínio: Eukaryota
Reino: Plantae
Clado: Tracheophyta
Clado: Angiospermae
Clado: Eudicotyledoneae
Clado: Rosids
Ordem: Myrtales
Família: Myrtaceae
Subfamília: Myrtoideae
Tribo: Eucalypteae
Gênero: Eucalyptus
L'Hér.[1]
Espécie-tipo
Eucalyptus obliqua
Espécies
Sinónimos[1]
  • Aromadendrum W.Anderson ex R.Br., 1810
  • Eudesmia R.Br., 1814
  • Symphyomyrtus Schauer in J.G.C.Lehmann, 1844
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Eucalyptus (do grego, eu + καλύπτω = "bem coberto") é um género de plantas com flor da família Myrtaceae que agrupa as espécies conhecidas pelo nome comum de eucalipto, ainda que o nome se aplique a outros géneros de mirtáceas, nomeadamente a algumas espécies arbóreas dos géneros Corymbia e Angophora. São, em termos gerais, árvores e, em alguns raros casos, arbustos, nativas da Oceania, onde constituem, de longe o género dominante da flora. O género inclui mais de 700 espécies, quase todas originárias da Austrália, existindo apenas um pequeno número de espécies próprias dos territórios vizinhos da Nova Guiné e Indonésia, e mais uma espécie (a mais setentrional) no sul das Filipinas. Adaptados a praticamente todas as condições climáticas, os eucaliptos caracterizam a paisagem da Oceania de uma forma que não é comparável a qualquer outra espécie, noutro continente.

Flor[editar | editar código-fonte]

A primeira descrição botânica do género foi da responsabilidade do botânico francês Charles Louis L'Héritier de Brutelle, em 1788. O nome do seu género, que poderia ser traduzido do grego como "boa cobertura" faz referência à capa ou opérculo que cobre os órgãos reprodutores da flor, até que cai e os deixa a descoberto. Este opérculo é formado por pétalas modificadas. De facto, o poder atractivo da sua flor deve-se à exuberante colecção de estames que cada uma apresenta, e não às pétalas, como acontece com muitas plantas. Os frutos são lenhosos, de forma vagamente cónica, contendo válvulas que se abrem para libertar as sementes .

Folhas (jovens e adultas), flores e frutos de Eucalyptus globulus

Folha[editar | editar código-fonte]

Quase todos os eucaliptos têm folhagem persistente, ainda que algumas espécies tropicais percam as suas folhas no final da época seca. Tal como outras mirtáceas, as folhas de eucalipto estão cobertas de glândulas que segregam óleo - este género botânico é, aliás, pródigo na sua produção. Muitas espécies apresentam, ainda dimorfismo foliar. Quando jovens, as suas folhas são opostas, de ovais a arredondadas e, ocasionalmente, sem pecíolo. Depois de um a dois anos de crescimento, a maior parte das espécies passa a apresentar folhas alternadas, lanceoladas a falciformes (com forma semelhante a uma foice), estreitas e pendidas a partir de longos pecíolo. Contudo, existem várias espécies, como a Eucalyptus melanophloia e a Eucalyptus setosa que mantêm a forma juvenil ao longo da sua vida. As folhas adultas da maioria das espécies, bem como, em alguns casos, as folhas juvenis, são iguais nas duas páginas do limbo, não existindo a habitual distinção, nas folhas, de página superior e página inferior. A maior parte das espécies não floresce enquanto a folhagem adulta não aparece. A Eucalyptus cinerea e a Eucalyptus perriniana constituem duas das raras excepções.

Casca espessa e protectiva

Casca (súber)[editar | editar código-fonte]

O súber, ou casca da árvore, tem um ciclo de permanência anual, podendo as várias espécies de eucalipto agruparem-se segundo a sua aparência. Nas árvores de casca lisa, cai praticamente toda a casca, deixando uma superfície de textura plana, por vezes manchada de várias cores. Nas árvores de casca rugosa, o ritidoma persiste agarrado ao caule enquanto vai secando lentamente. Muitas árvores, contudo, apresentam diferenciação a este nível, com casca lisa no topo e casca rugosa na base do tronco. De entre as árvores de casca rugosa, podemos distinguir:

Eucalyptus regnans com mais de 80 metros, numa área de exploração madeireira extensiva na Tasmânia.
  • De casca fendida - que apresenta longas fibras que se podem destacar em peças compridas. Apresenta ritidoma espesso e com textura esponjosa.
  • De casca dura - de aspecto rugoso e profundamente fendido, o seu ritidoma aparece geralmente saturado de uma resina exsudada pela planta que lhe dá uma coloração vermelho escura ou mesmo negra.
  • Tesseladas - com a casca fragmentada em flocos distintos, formando mosaico. Os fragmentos, que vão caindo com o tempo, têm semelhança com a cortiça.
  • Em cofre - composto por fibras de curta dimensão. Apresentando, algumas, tesselação.
  • Em faixa - em que a casca sai em longas e estreitas peças, ainda que aderentes em determinadas partes do caule. Podem aparecer na forma de longas faixas, fitas resistentes ou em pedaços que encaracolam.

Eucaliptos no Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Produção de eucalipto no Brasil
Plantação de eucaliptos no Brasil

Não há uma data exata da introdução do eucalipto no Brasil. Existem relatos que os primeiros exemplares foram plantados nas áreas pertencentes ao Jardim Botânico e Museu Nacional do Rio de Janeiro, nos anos de 1825 e 1868; no município de Amparo-SP entre 1861 e 1863; e no Rio Grande do Sul, em 1868. Entretanto, os primeiros plantios ocorreram de fato em 1868, no Rio Grande do Sul, mas por iniciativa do político Joaquim Francisco de Assis Brasil, um dos primeiros brasileiros a demonstrar interesse pelo gênero.[2] Foi implantado no Brasil em 1909 pelo engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, então funcionário da Cia. Paulista. No Brasil existem extensas áreas plantadas, sobretudo, no Estado de Minas Gerais, que possui cerca de 2% do seu território ocupados com eucaliptos. Um dos grandes municípios produtores do país, que há mais de trinta anos desenvolve a silvicultura, é o município mineiro de Itamarandiba. Atualmente esta cidade é um dentre os diversos pólos da produção de mudas clonais de Minas Gerais e do Brasil.[3]

Eucaliptos em Portugal[editar | editar código-fonte]

Em Portugal em 2017, de toda a área florestal, 24,4% é composta por eucaliptos.[4]

Géneros relacionados[editar | editar código-fonte]

Um pequeno género botânico de árvores similares, Angophora, conhecido desde o século XVIII, tem vindo a ser considerado, desde 1995, graças a evidências principalmente genéticas, um género mais próximo de algumas espécies que pertenciam género Eucalyptus, pelo que se decidiu criar o género Corymbia. Ainda que em géneros separados, os três grupos estão intimamente relacionados a nível genético, pelo que é perfeitamente aceitável que sejam vulgarmente designados como eucaliptos.

Importância econômica[editar | editar código-fonte]

Feller-buncher em colheita, no Brasil

Algumas das suas espécies foram exportadas para outros continentes onde têm ganho uma importância económica relevante, devido ao facto de crescerem rapidamente e serem muito utilizadas para produzir pasta de celulose, usada no fabrico de papel, carvão vegetal e madeira. Alguns defendem que a plantação de eucaliptos permite evitar o corte e abate de espécies nativas, para tais fins, pelo que seriam uma opção adequada a terras degradadas, promovendo-se a economia onde são cultivadas. Contudo, o assunto mantém-se polémico.

Uma das espécies mais comuns, na Península Ibérica, é o Eucalyptus globulus. Na América do Sul existem também extensas plantações das espécies E. urophylla e E. grandis.

Polêmicas e impactos[editar | editar código-fonte]

Aspecto de um povoamento florestal de Eucalipto
Terra indígena brasileira invadida por uma monocultura

O E. globulus foi introduzido na Califórnia em meados do século XIX, estando presente em muitos dos parques citadinos de San Francisco e noutras cidades do litoral daquele estado. A partir do seu uso como ornamental, naturalizou-se, sendo hoje considerado uma espécie invasora devido à sua capacidade para se implantar rapidamente nos habitats de clima mediterrânico da região, substituindo a vegetação nativa.[5] Nesse sentido, tem-se vindo a proceder na Califórnia à sua completa erradicação do solo.

Também em Portugal esta árvore se comporta como uma espécie invasora embora nenhuma medida de erradicação tenha sido levada a cabo sobretudo devido ao valor económico da espécie. Contudo, dado que o eucalipto consegue absorver grandes quantidades de água no verão, apresenta vantagem competitiva sobre as demais espécies vegetais, com consequências nefastas para a biodiversidade das florestas. Outra polémica em torno desta espécie prende-se com os fogos florestais, um flagelo recorrente em Portugal na época de verão. De facto os eucaliptos encontram-se entre as espécies que mais iniciam e propagam fogos florestais, e, simultaneamente, fazem parte das espécies mais resistentes ao fogo.[6] É possível que em Portugal muitos dos fogos florestais suspeitos de serem originados por queimadas ou incêndios criminosos sejam na realidade resultado da auto-combustão dos óleos voláteis libertados pelo eucalipto, especialmente nos dias de calor mais intenso e nos locais com maior concentração de eucaliptos.

No Brasil têm sido documentados importantes impactos ambientais e sociais derivados da grande expansão da monocultura do eucalipto, entre eles drástica redução da biodiversidade nas zonas plantadas, redução na qualidade e volume dos corpos d'água da região, assoreamento e eutrofização dos rios e lagos, contaminação do solo e corpos d'água devido ao uso de agrotóxicos e fertilizantes nas plantações, danos à microbiologia e à estrutura do solo, contribui para o esgotamento, ressecamento e erosão do solo, e favorece o surgimento de pragas e espécies invasoras.[7][8][9][10] Sendo espécie exótica no Brasil, e tendo um alto potencial invasor,[11] já é uma das piores espécies invasoras nas Unidades de Conservação brasileiras.[12] A expansão da monocultura vem sendo acompanhada pelo aumento de denúncias e flagrantes de violações à legislação trabalhista e ambiental e aos direitos humanos, grilagem de terras e problemas fundiários, êxodo rural, diminuição da produção rural, desmatamento de áreas nativas, e prejuízos às comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.[7][10][13]

Eucaliptos na cultura[editar | editar código-fonte]

As "coolibah trees", referidas na famosa canção tradicional australiana Waltzing Matilda, são eucaliptos das espécies Eucalyptus coolabah e Eucalyptus microtheca.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Eucalyptus». Australian Plant Census. Consultado em 11 de março de 2019 
  2. «Perguntas e Respostas - Portal Embrapa» 🔗. www.embrapa.br. Consultado em 26 de outubro de 2018 
  3. AZAMBUJA, W. Óleos Essenciais. Disponível em: <http://www.oleosessenciais.org/>. Acesso em 23 ago. 2010.
  4. «8 coisas que provavelmente não sabe sobre Portugal. Está mais urbano, tem mais floresta, mas a agricultura perdeu-se» 
  5. California Invasive Plant Council (Cal-IPC) Invasive Plant Inventory 2006 http://www.cal-ipc.org/ip/inventory/pdf/Inventory2006.pdf Arquivado em 10 de maio de 2008, no Wayback Machine.
  6. Santos, Robert L. (1997). «Section Three: Problems, Cares, Economics, and Species». The Eucalyptus of California. California State University. Consultado em 18 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 2 de junho de 2010 
  7. a b Programa Escravo, nem pensar! & Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis. Deserto Verde: Os impactos do cultivo de eucalipto e pinus no Brasil. Repórter Brasil – Organização de Comunicação e Projetos Sociais / Fundação Rosa Luxemburgo, 2011
  8. Moledo, Júlio Cesar et al. "Impactos ambientais relativos à silvicultura de eucalipto: Uma análise comparativa do desenvolvimento e aplicação no plano de manejo florestal". In: Geociências, 2016; 35 (4): 512-530
  9. Rodrigues, Gelze Serrat de Souza Campos et al. Eucalipto no Brasil: Expansão geográfica e impactos ambientais. FAPEMIG / UFU, 2021
  10. a b Dias, Deusira Nunes Di Lauro. "Cultura do eucalipto na região extremo sul da Bahia e seus impactos". In: Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento,2019; 4, 3 (7): 57-68
  11. Diniz, Fábio Vicentin & Monteiro, Reinaldo. "Composição e estrutura da comunidade vegetal em regeneração sob plantios de Pinus spp. (Pinaceae) em Rio Claro, SP". In: Revista do Instituto Florestal, 2008. 20 (2)
  12. Sampaio, Alexandre Bonesso & Schmidt, Isabel Belloni. "Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais do Brasil". In: Biodiversidade Brasileira, 2013; 3 (2): 32-49
  13. Biron, Carey L. "Brasil e Estados Unidos autorizarão os primeiros eucaliptos transgênicos". Revista do Instituto Humanitas — Unisinos, 26/08/2014

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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