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Por Memória Globo

Em 1969, ano de estreia do Jornal Nacional, a televisão ainda era em preto e branco. Os apresentadores Hilton Gomes e Cid Moreira tinham, ao fundo, a antiga logomarca da Rede Globo.

Com a chegada da cor na televisão brasileira, em 1972, o cenário do JN ganhou uma cara nova. Aparece pela primeira vez o mapa-múndi ao lado da logomarca do Jornal Nacional. O cenário era formado por um fundo azul com as letras do telejornal em amarelo. No período, existiam muitos problemas técnicos. Um deles foi o uso do chroma-key. No Jornal Nacional, várias vezes o azul do chroma passou para os cabelos grisalhos do apresentador Cid Moreira. Para tentar solucionar dificuldades desse tipo, a empresa Colortran fez uma série de seminários para os técnicos e iluminadores da Globo. Foi sugerido que se mudasse o tom de azul do chroma e que os apresentadores não usassem camisas brancas e ternos de cores que pudessem se misturar com o azul. Como Cid Moreira estava normalmente queimado de sol – ele jogava tênis com frequência –, teve que passar a usar roupas em tom pastel, para compensar a luz e permitir uma iluminação equilibrada.

Cid Moreira e Hilton Gomes na bancada do Jornal Nacional, 1971. — Foto: Ronaldo Fonseca/Agência O Globo

A ERA HANS DONNER

Em 1979, Hans Donner ganhou um concurso interno na Globo e criou o novo cenário do Jornal Nacional. O cenário trazia as letras do selo “JN” em perspectiva ao fundo. Foi acrescentada mais uma parede, com dois monitores de cada lado, o que possibilitou o jogo de câmeras e maior movimentação dos apresentadores. No cenário antigo, criado por Mário Monteiro, atrás da bancada havia apenas uma tapadeira, com a logo do JN, o que não permitia variações no enquadramento que ambientava a apresentação de Cid Moreira e Sérgio Chapelin. O enquadramento dos locutores no Jornal Nacional passou do close para o plano americano (que mostra a imagem do apresentador até a cintura). O cenário do telejornal ganhou mais uma parede, o que possibilitou o jogo de câmeras e uma maior movimentação dos apresentadores.

O primeiro cenário criado por Hans Donner ficou no ar apenas dois anos. Em 1981, novamente sob responsabilidade de Hans Donner, o cenário do Jornal Nacional passou por mais uma mudança. Foi criada uma nova bancada e, ao fundo, um mapa-múndi em relevo passou a fazer parte do cenário. O logo do telejornal também sofreu alterações, deixando de ter a marca da Rede Globo integrada às letras “JN”. A vinheta de abertura acompanhou essa evolução, passando por modificações em 1981 e 1982. Em 1983, foi ao ar a primeira vinheta de abertura do Jornal Nacional feita a partir dos recursos da computação gráfica. Para fazer essa vinheta, que mostrava um globo flutuando na tela, de onde saíam diversos “JN”s, Hans Donner usou apenas imagens geradas por computador. Até então as aberturas eram finalizadas num equipamento de trucagem chamado Oxberry.

Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional, década de 1970. — Foto: Peter Schneider/Globo

Cid Moreira e Sérgio Chapellin na bancada do Jornal Nacional, década de 1980. — Foto: TV Globo

Cid Moreira e Sérgio Chapelin na bancada do Jornal Nacional (década de 1980) — Foto: Acervo/Globo

“Imagina o telespectador, em casa, vendo o globo, com os gomos, flutuando? E os ‘JN’s vindo em sua direção. Para mim, era como se fossem as notícias vindo de todas as partes do mundo. Esse era o conceito visual” – Hans Donner

Em 1985, o cenário ganhou telas ao fundo, que permitiam a exibição de imagens relacionadas à reportagem chamada pelo apresentador. Eram os chamados “selos over the shoulder“, porque ficavam acima do ombro dos locutores.

Após a colaboração na criação desse cenário, o trabalho da Arte do Jornalismo aumentou de escala. Um recurso usado para enriquecer as reportagens do Jornal Nacional foi pensado pela equipe de Arrabal em 1992. Eram as reconstituições de fatos sob forma de desenhos ou de gravações com atores. Isso acontecia quando a equipe não tinha imagem do acontecimento relatado na reportagem. Ao longo do ano, foi montada uma espécie de subdepartamento para atender aos editores. Era uma equipe de 20 pessoas – 16 ilustradores e quatro editores de videografismo – sob o comando de Roberto Simões e Hélio Bueno. Em geral, as cenas eram gravadas com figurantes. Quando não havia tempo, a solução era recorrer aos desenhistas Ricardo Rocha, no Rio, e Walter da Silva Gomes, em São Paulo. Profissionais ágeis, eles conseguiam concluir a sequência do fato em cinco ou seis pranchas e em, no máximo, duas horas. As gravações levavam, em média, o dobro desse tempo.

DEPARTAMENTO DE ARTE DO JORNALISMO

Em maio de 1989, o diretor de Arte da Central Globo de Jornalismo, Delfim Fujiwara, e os designers Alexandre Arrabal e Luis Felippe Cavalleiro promoveram uma renovação nos cenários e nos efeitos visuais do Jornal Nacional. Pela primeira vez, a Arte do Jornalismo projetaria elementos cenográficos para o JN. A vinheta com o logotipo JN foi aprimorada por computação gráfica. No cenário de abertura, o fundo em tons de azul, com o símbolo da emissora, foi encurvado para dar impressão de profundidade.

Nesse processo, foram montados dois cenários: um fixo e outro móvel. O fixo, criado por Hans Donner, era uma bancada de acrílico, iluminada por luz neon vermelha, onde ficavam os locutores. O móvel era composto de desenhos feitos num computador gráfico, que davam um tratamento visual particular a cada reportagem. Essas imagens ocupavam toda tela ao fundo do apresentador e substituíam o tradicional selo (as ilustrações e fotografias, que ficavam enquadradas ao lado do locutor durante a apresentação das reportagens).

Mais de cinquenta selos foram montados para ilustrar assuntos relacionados às editorias de economia, política, esporte e geral. Enquanto Cid Moreira lia uma notícia sobre inflação, por exemplo, o telespectador via uma seta crescendo em perspectiva no vídeo.

Gilda Rocha, na época cenógrafa do departamento de Arte, ajudou na confecção dos selos e lembra que “os selos ganharam a tela cheia, ambientando toda a apresentação. Para isso, colocamos nas laterais do cenário uma tapadeira verde com rodinhas, que era empurrada para a cena por um assistente, quando necessário. Para o público não perceber as bordas na movimentação, o cinegrafista fazia um leve deslocamento de câmera. No novo cenário, o público via, nos intervalos das ilustrações, o fundo dégradé azul, que foi pintado cuidadosamente à mão”.

Em 1996, a troca de apresentadores coincidiu com a mudança do cenário do Jornal Nacional. A equipe da Arte do Jornalismo, liderada por Alexandre Arrabal, ficou responsável pela nova concepção, que manteve a estética implantada por Hans Donner nos anos 1980. O cenário continuou com as linhas sinuosas, porém com características mais dinâmicas e mais possibilidades para a câmera passear no estúdio e explorar diferentes efeitos de luz.

O diretor Jorge Queiroz ajudou a definir essa nova concepção cenográfica do JN, que manteve o azul que é sua marca registrada. A principal novidade em relação ao cenário anterior foram os logos do JN, que passaram a ser sustentados por um fio quase imperceptível, dando a ideia de flutuarem no ambiente. No cenário anterior, esses logos eram bidimensionais, aerografados no fundo.

REDAÇÃO COMO CENÁRIO

No dia 26 de abril de 2000, quando a Globo comemorava 35 anos, o Jornal Nacional entrou no ar completamente reformulado. A bancada deixou o estúdio tradicional e passou a ser vista em um mezanino, tendo como fundo a redação do Jornalismo da Globo no Rio. A bancada foi transformada em área de trabalho, com um monitor e um computador; o mezanino fora construído a três metros e meio de altura do chão.

Jornal Nacional: Redação como cenário (2000)

Jornal Nacional: Redação como cenário (2000)

Na abertura do JN, uma grua passou a mostrar as atividades da redação, passeando, lentamente, no sentido da bancada. Nesse movimento, entram em cena sete painéis de 12 metros de largura, presos ao teto. Ao final, formam um grande mapa-múndi estilizado, com o Brasil no centro.

O formato era único no mundo e unia dois tipos de cenário: apresentava a redação ao fundo e, simultaneamente, ilustrava os assuntos com imagens gráficas atrás dos apresentadores. Todas as mudanças vieram acompanhadas de inovações tecnológicas. As ilustrações, por exemplo, são projetadas por um refletor. Em vez de inseridos por chroma-key, os selos passaram a ser sobrepostos, misturando-se ao fundo real da redação. A imagem era formada à medida que o apresentador começa a falar no assunto. A produção de selos é diária, sempre de acordo com os assuntos que serão abordados no noticiário daquele dia.

“Tudo começou em 1998. A equipe de Arte de Jornalismo e Esporte estava convencida de que era necessário pensar algo novo para os anos 2000. Montamos um grupo com pessoas que se destacavam pela criatividade. Desenvolvemos um protótipo misto que possibilitaria enquadramentos típicos de estúdio, inclusive com o uso de nossas ilustrações, mas que também contemplaria outros recursos”, conta Alexandre Arrabal. E complementa que terminada a fase de projeto, iniciou-se a obra, que durou oito meses. A equipe do Jornal Nacional permaneceu trabalhando na redação, enquanto um novo estúdio, atrás dos tapumes, era erguido no mezanino.

Inaugurava-se ali a era tecnológica do departamento de Arte da Globo.

“Essa não foi a primeira nem a última mudança no cenário, mas foi definitivamente um marco. Um portal de passagem: quando a câmera voou sobre a redação e passou pelo buraco criado na caixa do estúdio A, estávamos saindo de uma era romântica e ingressando numa mais tecnológica, onde surgiriam projetos complexos e ambiciosos, marcados por intenso planejamento. Um tempo em que a criatividade seria mais importante ainda.” – Alexandre Arrabal

EM 2017, UMA REDAÇÃO COMPLETAMENTE NOVA

No dia 19 de junho de 2017, o Jornal Nacional foi transmitido do recém-inaugurado prédio de Jornalismo da Globo, no Rio de Janeiro. O novo cenário foi montado dentro de um espaço que reúne jornalistas de TV e internet – em uma área de 1.370 m², ocupados por 189 postos de trabalho, 18 ilhas de edição, três de pós-produção, duas cabines de locução e salas de reunião. Tudo ao redor do moderno estúdio do JN.

A redação é composta pelas equipes da Editoria Rio, G1 Rio, Bom Dia Brasil, além do Jornal Nacional. A GloboNews tem no local um posto avançado, para facilitar a integração com a cobertura de notícias relativas ao Rio.

No fundo da redação, uma tela de LED retrátil – com 16 metros de largura, três de altura e cerca de três toneladas – dá um efeito 3D aos recursos gráficos do estúdio. As artes projetadas podem ser vistas de diferentes perspectivas, segundo o movimento das câmeras.

O estúdio também tem duas câmeras operadas por braços robóticos. Suas trajetórias são pré-fixadas ou guiadas por sensores a partir do movimento dos apresentadores. Também há uma câmera de trilho de chão, que se desloca acompanhando a curva do cenário, e outra de trilho aéreo, que dá uma visão ampla de toda a redação.

“Em 2017, nossa ideia era trazer modernidade, ao retratar o tempo hiperconectado em que vivemos. As necessidades do modelo de apresentação que propúnhamos para o JN implicavam o uso de tecnologia de ponta. Além disso, nada do que precisávamos estava pronto, “nas prateleiras”. Cada item teve que ser customizado, adaptado ou mesmo criado para o projeto. Desenhos, simulação, prototipagem e testes eram atividades constantes– Alexandre Arrabal

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu e William Bonner participam da inauguração da nova redação do Jornal Nacional, 19/06/2017.

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu e William Bonner participam da inauguração da nova redação do Jornal Nacional, 19/06/2017.

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