Seis Irmãos, a crítica: a humanidade inquieta de um filme à beira das emoções | Universo Cinema

Seis Irmãos, a crítica: a humanidade inquieta de um filme à beira das emoções

Seis Irmãos, a crítica: a humanidade inquieta de um filme à beira das emoções

Simone Godano, em seu quarto filme com Seis Irmãos, continua demonstrando uma certa identidade narrativa, capaz de seguir e perseguir um grupo de personagens altamente reconhecíveis. Uma identidade narrativa, entre outras coisas, comedida e fluida, nunca ancorada numa linguagem obsoleta ou em compartimentos estanques. Os seus filmes, aliás, sejam mais ou menos bem-sucedidos (continuamos a acreditar que Cruz e Delícia de 2019 é, pelo menos até agora, o melhor), medem as emoções, alternando – na medida do possível – sorrisos com lágrimas. Parece trivial, mas a vida (e falamos de vida) não é toda preta ou branca: dentro de uma emoção existem centenas de outras, criando consequentemente um conflito perfeito para ser expresso no cinema.

Seis Irmãos Foto 8

Riccardo Scamarcio, Adriano Giannini, Gabriel Montesi, Valentina Bellè, Claire Romain, Mati Galey em Seis Irmãos. Foto de Lorenzo Pesce

Como acontece em Six Brothers que, se estivéssemos nos EUA, rotularíamos como comédia dramática; no entanto, estamos em Itália – e este tem uma forte identidade italiana, tagarela e distraída – e por isso a declinação geral lembra uma daquelas comédias familiares do início dos anos noventa, entre Monicelli e Paolo Virzì. Certamente não estamos forçando a comparação incômoda, mas é claro que Seis Irmãos traz em si um sopro que é de alguma forma a identidade de um determinado cinema, aproximando-se (será a locação?) também das comédias francesas, em que cada a sensação é exasperada. Pois bem, neste caso Godano foi bom em manter o controle da situação, sem exagerar, mas sim dando ao filme um propósito próprio, ainda que flutuante. Afinal, quão flutuante é uma família em ruínas cujas palavras, caretas e silêncios precisam ser rastreados.

Seis irmãos (facas?)

Seis Irmãos Foto 9

Foto de grupo do set de Seis Irmãos

A família em questão, que diríamos muito extensa, é a de um pai, Alicante Manfredi, que já não está connosco. Gravemente doente e com dois meses de vida pela frente, ele decide acabar com isso atirando-se do terraço do hospital. Este é o início de Seis Irmãos que, como o título antecipa, centra-se nas peças legadas àquelas seis crianças diametralmente diferentes. Briguentos, ressentidos, incompreendidos e incompreensíveis, encontram-se na casa do pai num Bordeaux cinzento, descobrindo que a herança que lhes foi deixada nada mais é do que um amontoado de dívidas e uma pérola chamada Luísa.

Luísa, tal como a sexta irmã, que as outras cinco só descobrem ter quando o testamento está prestes a ser aberto. Aqui estão todos juntos, então: Marco, Guido, Leo, Luisa, Gaelle e Mattia (excelente escolha de elenco: Riccardo Scamarcio, Adriano Giannini, Gabriel Montesi, Valentina Bellè, Claire Romain, Mati Galey), aos quais se soma Giorgia (Linda Caridi), esposa de Marco, e Nadine (Judith El Zein), última companheira de Manfredi. Cada um lutando com seus próprios demônios, com seus próprios tormentos, com suas próprias ilusões.

Humanidade inquieta

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Valentina Bellè e Gabriel Montesi, dois dos protagonistas de Sei Fratelli. Foto de Lorenzo Pesce

Explicado: as almas dos Seis Irmãos são de alguma forma subservientes aos seus papéis e às suas máscaras, desacostumadas à abertura e ao compromisso, representando consequentemente uma espécie de espelho da sociedade em que vivemos. A família Alicante, além de muito numerosa, também é ciumenta, ressentida, às vezes até inconstante e inconsistente. Os acontecimentos tomarão então conta (como a vida nos ensina), deixando os sentimentos dos personagens suspensos, fotografados num momento muito específico e confiados a uma liberdade que acompanha as interpretações do elenco, decididamente em parte. Em parte, está empenhado em exacerbar e aliviar uma tensão que, é preciso dizer, nem sempre corresponde à vontade da história, por vezes ineficaz para reflectir a genuína indecisão dos protagonistas. Mais profundamente, porém, Seis Irmãos é um filme com ângulos diferentes, nem todos coesos, mas ainda assim consistentes com o caminho traçado por um realizador que não tem medo de descrever uma humanidade tão complicada quanto extraordinária.

Conclusões

Roteiro altamente cinematográfico, equilibrado entre a scapigliatura francesa e a emoção italiana: uma família à beira da implosão, que Simone Godano conta em Seis Irmãos, uma comédia dramática melancólica e desequilibrada, onde o elenco (uma verdadeira vantagem, em termos de tamanho e substância) dá vida a uma espécie de jogo humano que culminará num final inteligente e eficaz.

Movieplayer.it 3.0/5 Classificação média 4.6/5 Porque gostamos

    O elenco, tudo em parte. Direção de Simone Godano. O fim.

O que está errado

    Alguns momentos sofrem de estase excessiva. A história demora um pouco para começar.