As origens do romance-folhetim do espaço textual ao recorte de uma obra de ficção - Pedagogia
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As origens do romance-folhetim do espaço textual ao recorte de uma obra de ficção

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ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
https://dx.doi.org/10.1590/1517-106X/2031736
As origens do romAnce-folhetim: 
do espAço textuAl Ao recorte de 
umA obrA de ficção
The origins of The serial: from TexTual space 
To The Trimming of a work of ficTion
Jean-Yves Mollier
Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines
Versalhes – França
ORCID 0000-0003-3853-8247
Resumo 
Este artigo explora as mudanças ocorridas na literatura francesa no século XIX a 
partir da criação do folhetim enquanto espaço textual dedicado à crítica, situado no 
rodapé dos jornais, até a criação de um novo gênero literário: o romance-folhetim. 
Este novo modo de conceber a ficção, ritmado pela publicação cotidiana dos jornais, 
contribuiu para a expansão do público leitor e do mercado editorial, promovendo, 
assim, a popularização da literatura. Por outro lado, suscitou reações da crítica que, 
não admitindo a relação entre a literatura e o dinheiro, preferiu desqualificá-la, 
tachando-a de “literatura industrial”. Analisam-se aqui dois exemplos da época que 
denunciaram esse novo tipo de produção literária: um panfleto e um romance que 
atacam Alexandre Dumas e Honoré de Balzac. O artigo destaca igualmente que di-
ferentes suportes, ritmos de publicação, formatos e preços são fatores determinantes 
para a recepção de uma obra.
Palavras-chave: romance-folhetim; jornais; modos de publicação; modos de recep-
ção; materialidade do texto.
Abstract
This article explores the changes that 
occurred in French literature in the 
19th century, from the creation of the 
feuilleton as a textual space dedicated 
to criticism, located in the footer of 
newspapers, until the invention of a 
new literary genre: the serial. This new 
way of conceiving fiction, mensurable 
by the daily publication of newspapers, 
contributed to the expansion of reader-
ship and the publishing market, thus 
promoting the popularization of 
Résumé
Cet article discute les changements 
survenus dans la littérature française du 
XIXe siècle à partir de l’usage d’un es-
pace textuel situé au “rez-de-chaussée” 
de la page des journaux, consacré aux 
articles de critique, et qui accueillit un 
nouveau genre littéraire: le roman-feuil-
leton. Ce nouveau mode de concevoir 
la fiction, rythmé par la publication 
quotidienne des journaux, contribua à 
l’accroissement du lectorat et du monde 
de l’édition, et par tant à la populari-
JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
https://orcid.org/0000-0003-3853-8247
18 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
literature. On the other hand, it pro-
voked reactions from critics who, not 
admitting the link between literature 
and money, preferred to dismiss the 
serial as “industrial literature”. Here 
we analyze two 19th-century examples 
that denounced this new type of literary 
production: a pamphlet and a novel that 
attacked Alexandre Dumas and Honoré 
de Balzac. The article also emphasizes 
that different material forms, publica-
tion frequency, formats and prices are 
determining factors for the reception of 
a work.
Keywords: serial; newspapers; publica-
tion; reception; text materiality.
sation de la littérature. Par ailleurs, ce 
genre entraîna des réactions contraires 
de la critique qui lui colla l’étiquette de 
“littérature industrielle”. Deux textes de 
cette époque qui dénigrent ce nouveau 
type de production littéraire sont analy-
sés: un pamphlet et un roman attaquant 
Alexandre Dumas et Honoré de Balzac. 
Cet article souligne en outre le fait 
que les différents supports, rythmes de 
publication, formats de livre et prix de 
vente représentent des facteurs qui gui-
dent la réception d’une œuvre littéraire.
Mots-clés: roman-feuilleton; journaux; 
modes de publication; modes de récep-
tion; matérialité du texte.
Como já é sabido hoje em dia, de início o folhetim foi um 
espaço jornalístico (GUISE, 1975)1, aquilo que podemos chamar de 
“casa textual”, antes de se transformar em um verdadeiro gênero lite-
rário (THERENTY; VAILLANT, 2001; THERENTY, 2003, 2007). 
Esta mutação – a passagem do folhetim-romance ao romance-folhe-
tim – deu-se em cerca de trinta anos (DUMASY, 1989), em um ritmo 
que se acelerou nos dez anos anteriores à introdução maciça de ficções 
nos jornais franceses. O que antes era apenas uma seção dedicada à 
crítica teatral, musical ou científica, ou ainda à crítica dos “romances 
de novidade”, o folhetim vai transformar totalmente os hábitos dos 
franceses e impor novas maneiras de ler, além de contribuir a um só 
tempo para o declínio dos gabinetes de leitura (PARENT-LARDEUR, 
1981) e o florescimento das livrarias-editoras. Apesar de tais modifica-
ções na infraestrutura sociocultural da França terem levado um certo 
tempo – em diferentes ritmos em Paris e na província –, em alguns 
anos passa-se de um regime de apropriação do romance a um outro, 
e no início do século XIX ocorreu com o romance francês o mesmo 
que havia ocorrido com o teatro no século anterior na Inglaterra. A 
modificação do suporte de leitura havia acarretado uma mutação 
1 Esta tese, fundamental para o estudo do romance-folhetim, infelizmente é inédita.
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 19JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
radical do “sentido” das obras, e um autor como William Congreve 
havia mudado verdadeiramente de público, graças à reedição de suas 
comédias em um novo formato, e conforme outros dispositivos de 
apresentação (McKENZIE, 1991). 
Mesmo que provavelmente não seja possível transpor 
automaticamente as análises de Donald F. McKenzie de um gênero 
literário para outro, é possível indagar sobre a distância que separa a 
leitura de um romance publicado diariamente em folhetim – e muitas 
vezes com interrupções – da leitura da mesma obra fabricada especial-
mente para o público dos gabinetes de leitura – dois ou três volumes 
com diagramação muito arejada, com formato in-8 – ou, ao contrá-
rio, para a clientela das livrarias, em um pequeno volume compacto, 
o “formato Charpentier”, um in-18 que prevalece a partir de 1838 
(MOLLIER, 2015, cap. VII). As modificações da composição dos vo-
lumes, o formato que varia em função dos diversos grupos de leitores, 
seu preço, todos esses dispositivos externos impactam profundamente 
a recepção e modificam sem dúvida alguma o regime de leitura. Que 
Gustave Flaubert tenha imediatamente compreendido isso ou não, 
a publicação de Madame Bovary na Coleção Michel Lévy, em 1857, 
com o volume sendo vendido a 1 franco, desviou a obra de seu pú-
blico “natural” – algumas centenas ou milhares de leitores cultos e 
abastados – e facultou a aceleração das vendas – 25.000 volumes em 
um ano (MOLLIER, 1984, p. 341-346). Este abrupto e expressivo 
crescimento da demanda faz de Gustave Flaubert, imediatamente, 
um “escritor da moda”, procurado pelo leitor por causa do conteúdo 
pernicioso de suas obras e, por sua recepção, próximo de um Ernest 
Feydeau, autor de Daniel e de Fanny, romances que hoje ninguém 
compararia a Madame Bovary.
Augustin Sainte-Beuve não esperou pela generalização do 
fenômeno do romance-folhetim para publicar, em setembro de 1839, 
seu explosivo artigo intitulado De la littérature industrielle, e em 1845 
Alexandre Dumas e Honoré de Balzac já eram sistematicamente ata-
cados pelos caricaturistas. Alexandre Dumas era o alvo do panfleto 
Fabrique de romans. Maison Alexandre Dumas et Compagnie, assinado 
por Eugène de Mirecourt, jornalista e polígrafo, enquanto Honoré de 
Balzac tinha sido transformado por Louis Reybaud em personagem 
de um romance-folhetim, Les Idoles d’argile, publicado pelo jornal 
20 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
Le National, antes de aparecer em formato de livro, com um título 
levemente modificado, César Falempin ou les idoles d’argile par l’auteur 
de JérômePaturot (César Falempin ou..., 1845). Verdadeiro inventor 
do “folhetim a vapor”, o autor da Comédie Humaine surgia com os 
contornos de um empreendedor, schumpeteriano avant la lettre, que 
havia compreendido seu século, em tempos de vapor e velocidade, e 
decidiu utilizar a divisão científica do trabalho para dar aos leitores 
a porção de sonho ou de imaginação que supunha corresponder às 
suas preferências. Uma vez que o jornal havia transformado a vida 
dos franceses, a ponto de não se poder ser bem-sucedido nos negó-
cios sem ser dono de um jornal diário, Jules Granpré, o manager do 
romance de Louis Reybaud, era obrigado a dobrar-se às exigências 
do momento e usar, ele também, o jornal e seu folhetim romanesco 
para alcançar seus propósitos e vender as ações de sua mirabolante 
sociedade, a Compagnie Péninsulaire, que daria à Espanha uma linha 
de trens ligando os Pirineus a Gibraltar.
Para além daquilo que caracteriza a intriga de um romance-
-folhetim, que hoje em dia ninguém mais lê – porque até mesmo a 
obra mais conhecida de Louis Reybaud, Jérôme Paturot à la recherche 
d’une position sociale, se perdeu no esquecimento da história literária2 
–, o que nos interessa aqui é seu modo de publicação. Com efeito, 
o romance foi segmentado em fascículos, entregues mais ou menos 
diariamente para publicação, antes de ser publicado, a seguir, em 
volume, e vendido nas livrarias; o que pressupõe que são visados dois 
tipos de público com hábitos – e talvez com habitus – radicalmente 
distintos. O recorte em 29 capítulos – os mesmos equitativamente 
distribuídos entre os dois tomos que compõem a obra, comportando 
o primeiro volume 333 páginas e no segundo 334 páginas – requer 
ser estudado atentamente, por provavelmente corresponder àquilo 
que se supunha que um leitor ideal de um jornal diário parisiense 
de grande circulação poderia absorver a cada dia, ou pelo menos nos 
dias da semana em que era publicado o romance-folhetim. A leitura 
do National, do Constitutionnel, do Journal des Débats, de La Presse 
ou do Siècle mostra, com efeito, que a publicação da ficção alterna, 
conforme regras precisas, com a publicação às segundas-feiras de uma 
2 O romance, no entanto, foi republicado em 1997 por Sophie-Anne Leterrier, pela editora 
Belin (Paris).
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 21JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
crônica teatral, às terças, quartas e quintas de uma crônica musical, 
literária ou científica, sendo o final de semana, de preferência, reserva-
do às publicações do romance, cuja missão era a de satisfazer o desejo 
de evasão dos leitores.
O primeiro folhetim a vapor
Em fevereiro de 1845, pivô de um imenso maquinário que 
então funciona em sua plena capacidade, Alexandre Dumas havia 
sido vítima de um ataque violento destinado a desvalorizar sua pro-
dução e a revelar ao grande público a descarada exploração de um 
exército de ghost writers. Para o redator de Fabrique de romans. Maison 
Alexandre Dumas et Compagnie, o verdadeiro autor de Trois Mousque-
taires não era Alexandre Dumas mas Auguste Maquet, a quem ele se 
referia como “o chefe da manufatura” (MIRECOURT, 1845, p. 45), 
a empresa que, por conseguinte, assina o romance, ou, em outras pa-
lavras, para continuar com a mesma metáfora, aquele que estampilha 
sua “marca” ou carimba o produto fabricado em série. No mesmo 
momento, Louis Reybaud, o autor de Jérôme Paturot à la recherche 
d’une position sociale, um imenso sucesso do ano de 1843, publicava 
um romance inicialmente intitulado Les Idoles d’argile, mas que foi a 
seguir rebatizado com o título de César Falempin ou les idoles d’argile 
para integrar o catálogo da editora Michel Lévy Irmãos. É preciso 
ressaltar que seus editores, para anunciar suas futuras publicações, 
ainda utilizam a fórmula reservada aos livros destinados aos gabinetes 
de leitura, “pelo autor de Jérôme Paturot”, e não de seu patronímico, 
o que situa sua entrada na cena midiática em um momento crucial 
da história. Com efeito, seu estudo de costumes é publicado no exato 
instante em que a apropriação direta das obras em volumes com uma 
diagramação muito arejada, tendo como intermediário o gabinete de 
leitura, é substituída por uma outra forma de leitura, fragmentada 
e, desta feita, embalada pelo ritmo de publicação dos folhetins na 
imprensa.
Louis Reybaud, que o público conhecia como jornalista e 
observador social, acabara de publicar na Revue des Deux Mondes uma 
série de artigos posteriormente reunidos com o título de Études sur 
les réformateurs ou socialistes modernes, que lhe abriram as portas do 
22 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
Instituto de França e também as da Câmara dos Deputados, em que 
ele tomou assento em 1846. A revolução de 1848 não o surpreendeu, 
mas ele recusou suas mudanças de rumo; e, com Jérôme Paturot à 
la recherche de la meilleure des Républiques, igualmente publicado em 
folhetins e depois em volumes, e finalmente com uma série agressiva 
de ilustrações que aumentaram sua difusão, ele se tornou o pintor 
da reação antissocialista (MOLLIER, 1984, p. 73-75; 142-147). 
Duríssimo com George Sand – a musa de Ledru-Rollin, e na opinião 
de seus detratores a grande sacerdotisa da revolução –, e igualmente 
duro com todos os fazedores de sistemas que haviam tentado tirar 
proveito dos acontecimentos para solucionar a questão social, Louis 
Reybaud demonstrava a seu modo a mutação que levara a imprensa a 
invadir o campo literário ou a literatura a invadir o campo midiático 
(THÉRENTY, 2003; KALIFA et al., 2011). Uma vez que a distin-
ção entre esses dois campos era cada vez menos evidente – como se 
percebeu em 1842-1843, quando os leitores de Les Mystères de Paris 
transformaram Eugène Sue em reformista e rapidamente em socialis-
ta, representando os interesses do povo parisiense (GALVAN, 1998; 
LYON-CAEN, 2006) –, as fronteiras entre os dois universos tendiam 
a esmaecer, e a literatura invadia a vida, alterando completamente as 
práticas culturais e prenunciando a cultura de massa que vai prosperar 
depois de 1860 ou 1880 (KALIFA, 2001; MOLLIER, 2002, p. 72-
115; MOLLIER; SIRINELLI; VALLOTTON, 2006).
O sucesso de Jérôme Paturot, um autêntico tipo social da 
Monarquia de Julho, confirmava o talento daquele que, em César 
Falempin, havia produzido a análise mais acurada do fenômeno do 
romance-folhetim. Ilustrado pelo acontecimento que foram, em 
1842-1843, a publicação no Journal des Débats de Les Mystères de Paris 
de Eugène Sue, e no ano seguinte a publicação do Comte de Monte-Cris-
to, de Alexandre Dumas, este gênero literário estava revolucionando 
os modos de ler e impondo sua supremacia ao mundo inteiro. Com 
efeito, como foi acertadamente notado por Peter Brooks (2011), foi 
por meio da exportação da “imaginação melodramática” que a França 
bateu os outros países, e até mesmo a Inglaterra – na qual, entretanto, 
se originou com Walter Scott e Charles Dickens um movimento que 
levaria progressivamente o romance a suplantar a poesia e o teatro 
(MORETTI, 2000). Para além do conteúdo das obras de ficção e 
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 23JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
de suas temáticas, a maneira de levá-los ao conhecimento do público 
estava mudando sua recepção e provocando modificações em seu 
modo de escrita, as quais não haviam passado despercebidas aos olhos 
de Louis Reybaud. Em vez de utilizar a forma do ensaio e de deixar 
à discrição da revista de François Buloz o cuidado de divulgar suas 
análises – como havia feito em relação aos reformadores sociais –, 
com Les Idoles d’argile, Louis Reybaud optou pela via do romance 
para encenar a primeira “manufatura de folhetins” concebida por uma 
mente empreendedora, e levar seu leitor a percorrer as entranhas de 
seu universo mecânico.
Dividido em 29 capítulos e publicado em dois volumes na 
versão chamada de gabinete de leitura, postaà venda por Michel Lévy 
em maio ou junho de 18453, o romance descrevia o comportamento 
de Jules Granpré, um homem de negócios sem muitos escrúpulos 
e firmemente decidido a espoliar seus contemporâneos para satisfa-
zer suas ambições. Após ter fundado uma Companhia Peninsular, 
destinada a levantar o máximo de fundos, e ter tirado proveito de 
deputados e ministros para consolidar sua empresa, ele se volta para a 
imprensa e a propaganda comercial, a fim de dar à sua sociedade fun-
dações mais sólidas. Com o argumento de que “o jornal é necessário 
para que o folhetim seja consumido”, Jules Granpré se propõe a lançar 
seu próprio jornal diário, Le Phénix, fazendo com que Le Mistigris – 
romance segmentado em duzentos e quarenta episódios que o ferreiro 
das letras David vai fabricar para ele em uma usina situada perto da 
Étoile – seja o carro-chefe de sua estratégia de captação de assinantes; 
o endereço da usina não deixa nenhuma dúvida quanto à identidade 
do administrador, Honoré de Balzac, que vivia naquele momento na 
rua Raynouard, em Passy (César Falempin ou…, 1845, t. I, cap. X e 
XI).
Apoiando-se, sem o citar, no artigo de Sainte-Beuve publi-
cado na Revue des Deux Mondes de setembro de 1839 e intitulado De 
la littérature industrielle, Louis Reybaud fazia de Alexandre Dumas 
um mero amador e alçava Balzac à posição de verdadeiro inventor 
do “folhetim a vapor”. Assim, após ter levado seu leitor à lojinha de 
Alexandre Dumas – o qual havia acabado de assinar um contrato para 
3 O romance é anunciado com atraso, como ocorre frequentemente na Bibliographie de la 
France, em 9 de agosto de 1845.
24 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
entregar um romance de 200.000 linhas, remuneradas a 75 centavos 
a linha, e que, portanto, não tinha tempo disponível para se dedicar 
a mais uma encomenda –, Jules Granpré vai bater à porta de David, 
um dos quatro “ferreiros das letras”, que o recebe em sua “Manufa-
tura de Folhetins” (César Falempin ou…, 1845, t. I, p. 232). Depois 
de levá-lo para visitar sua usina, David propõe a Jules Granpré que 
escolha seu tipo de folhetim com base em uma amostragem, pois ele 
dispõe de folhetins “de todos os preços e para todas as preferências” 
(p. 234-235). Envaidecido por poder expor seus talentos e destacar a 
originalidade de sua fábrica de romances, ele exclama:
Ó meus confrades de folhetim, lutarei bravamente 
contra os senhores! Dizem que os senhores praticam um 
comércio de pequeno varejo, que promovem um traba-
lho doméstico e que, depois, os senhores estampilham a 
mercadoria com seu selo! Procedimentos pobres! Meios 
mesquinhos! Em breve, os senhores verão o que significa 
trabalhar por atacado e a vapor! O economista Adam 
Smith afirma que o alfinete só alcançou a perfeição a 
partir do dia em que foram necessários dez homens para 
fabricá-lo. Darei a vinte homens a tarefa de escrever o 
folhetim e o resultado será uma maravilha. (p. 236)
Após ter aceitado as propostas de Jules Granpré, David-Ho-
noré de Balzac exibe, para que ele a admire, a enorme máquina a 
vapor que alimenta sua empresa e os 50 cubículos numerados de 1 a 
51, nos quais estão trancados outros tantos escritores, recrutados em 
função de sua especialização:
Isto aqui representa um folhetim completo, dividido em 
capítulos. Quando acho um homem que possui o senti-
mento da natureza e descreve bem paisagens, eu o coloco 
no cubículo da paisagem. Aquele que tem uma pena 
sensível entra no cubículo do sentimento; aquele que 
possui o instinto do diálogo popular entra no cubículo 
do diálogo popular, e o mesmo ocorre com os outros. 
Cada um trata daquilo que sabe fazer melhor e, como 
afirma Adam Smith, deste modo, o folhetim alcança seu 
mais alto grau de aperfeiçoamento. (p. 237)
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 25JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
Para otimizar sua produção e dar a seus operários condições 
de trabalho agradáveis, o engenhoso empreendedor fez instalar em 
cada cubículo um dispositivo que jogava ar quente nos pés e ar frio na 
face: “A cabeça fria e os pés quentinhos, este é o ideal que concretizei 
em minha manufatura” (p. 238), conclui o filantropo explorador dos 
talentos de seus semelhantes, que se recusa a abusar dos trabalhadores, 
e ao mesmo tempo vive da venda do produto de uma imaginação 
que não lhe pertence. Sendo igualmente discípulo de Bentham, ele 
concebeu sua “manufatura de Folhetins” como um panóptico; e, de 
sua mesa de trabalho colocada no centro da usina, ele puxa todas as 
cordas que o ligam aos cubículos, confessando com uma indisfarçável 
alegria: “Sem me mover desta poltrona, eu dirijo tudo, eu vigio tudo” 
(p. 239). Fica assim claro que, inventor do “primeiro folhetim a vapor” 
(p. 241), o David de César Falempin foi mais longe do que o David 
Séchard de Illusions perdues, e encontrou a solução para o problema 
que o artesão Alexandre Dumas apenas esboça quando faz trabalhar 
três ou quatro modestos ghost writers que o ajudam a ganhar o pão de 
cada dia. Com Balzac, é o mundo industrial que se descortina para 
o leitor, e somente um observador social que tivesse lido um grande 
número de teóricos socialistas da primeira metade do século XIX po-
deria realizar essa descrição, que antecipa, por alguns ângulos, aquele 
universo que, um século mais tarde, será descrito por Aldous Huxley 
em Admirável Mundo Novo. Desde então, cada um tem seu lugar, 
aquele que lhe foi designado pelo Leviatã moderno, e o romance não 
depende mais totalmente da imaginação de um único criador ou de 
dois ou três associados; ele agora é fabricado por tantos especialistas 
quantos forem exigidos por uma divisão de trabalho perfeitamente 
racional.
Mesmo que Les Idoles d’argile se tenha proposto a ser, como 
Jérôme Paturot à la recherche d’une position sociale, uma ficção recreativa 
e engraçada, a vontade didática do pintor da vida social transparecia 
a cada página, e as reviravoltas da intriga acompanhavam o novo 
ritmo que a segmentação em folhetins cotidianos imprimia a uma 
obra destinada a esse modo de publicação. Como já referido, existe 
uma espécie de hiato entre as duas formas de publicação escolhidas, 
pois o volume de gabinete de leitura – recortado e com diagramação 
arejada, de modo a preencher a matéria de dois volumes in-8, quando 
26 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
um único pequeno in-18 compacto com o formato Charpentier teria 
bastado – pressupõe uma leitura que em nada se compara àquela dos 
folhetins. Os 29 capítulos do romance na versão impressa em dois 
tomos expressam, de modo imperfeito, o que o autor havia almejado 
fazer ao escrever para seus leitores do National, o importante jornal 
fundado por Adolphe Thiers, que estava a serviço de uma política 
conservadora.
Um recorte da obra ritmado pelo movimento do jornal
Como qualquer romance-folhetim que se preze, e cujo mo-
delo naquele momento é o romance Les Mystères de Paris, Les Idoles 
d’argile é um melodrama que utiliza os arquétipos do Bem e do Mal 
para fazer surgir duas espécies de personagens, os bons e os maus. 
Neste caso, trata-se do general barão Dalincour e de seu antigo sargen-
to das guerras do Império de Napoleão, o porteiro César Falempin. 
Este personagem, cujo nome aparece no título do romance publicado 
em volume, está firmemente decidido a proteger a filha do herói dos 
campos de batalha contra os maus-tratos de sua madrasta, Eléonore 
Dalincour, e de seu abominável cúmplice, Jules Granpré, “um quarto 
de corretor público”, cuja imaginação está voltada exclusivamente 
para espoliar aqueles que alguns anos mais tarde serão chamados de 
“gogos” (patos). Lembrando, por alguns de seus aspectos, um conto de 
fadas – mas se distinguindo deste gênero por seu final em que morre a 
vítima, Emma Dalincour –, o romance de Louis Reybaud é um estu-
do de costumes que descreve as falhas daqueletempo e denuncia a seu 
modo os estragos provocados pelo dinheiro, num universo em que o 
sentido de honra, de fidelidade e de amor se tornaram inexpressivos. 
Como Balzac e Eugène Sue, Alexandre Dumas e muitos outros au-
tores menos conhecidos, Louis Reybaud pretende prender a atenção 
do leitor por um efeito de suspense, e ao mesmo tempo lhe fornece 
os meios para melhor compreender seu século. Por seu viés didático, 
romance mais próximo de Les Mystères de Paris do que Le Père Goriot 
ou Illusions perdues, Les Idoles d’argile abraça as teses principais do 
jornal em que é publicado, a saber, um nacionalismo intransigente 
que associa o culto do grande imperador àquele do regime de Luís 
Filipe, rei dos franceses que reina ao abrigo da bandeira tricolor.
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 27JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
Quando se observa atentamente a segmentação da obra em 
função de sua publicação em formato de folhetins, vê-se que estes, 
de modo geral, são publicados nos finais de semana, às sextas, aos 
sábados e aos domingos, já que os jornais diários não respeitam o 
descanso dominical. Tendo sido iniciada em 18 de janeiro de 1845, 
um sábado, e encerrada na sexta-feira 14 de março, percebe-se que 
a publicação frequentemente começa às quintas-feiras e prossegue 
nos três dias seguintes, sem que haja, contudo, uma completa regu-
laridade. Apenas as segundas-feiras são sistematicamente reservadas 
ao folhetim dramático – ou seja, às representações que ocorrem nos 
teatros parisienses –, as terças-feiras podendo ser dedicadas à revista 
musical dos espetáculos e as quartas-feiras às sessões da Academia de 
Ciências. Eclético, mas levando em grande consideração as demandas 
de seus leitores, Le National é publicado em quatro páginas, sendo a 
última reservada – com uma proporção variável – aos anúncios que 
facultam o financiamento do jornal, enquanto a primeira página traz 
o comentário da atualidade política, nacional ou internacional, de 
acordo com as necessidades da conjuntura. Conforme a expressão já 
consagrada, o folhetim ocupa então o “rodapé do jornal” (THIESSE, 
1984); porém, contrariamente ao que se tenderia a acreditar, ele não 
se limita a essa localização e invade amplamente o espaço interno do 
jornal. Com efeito, Les Idoles d’argile ocupa o último terço da pri-
meira e da segunda página, a fim de dar ao leitor o conteúdo de um 
capítulo da edição do gabinete de leitura, mas que vem impressa em 
três colunas, tal como o jornal em seu conjunto, diferentemente do 
volume vendido em livraria4.
Uma única vez, para a inserção do capítulo XI, intitulado 
Quatro ferreiros das letras. Uma Manufatura de Folhetins, será necessá-
rio ocupar igualmente o último terço da terceira página, a fim de não 
romper o equilíbrio e trazer uma conclusão que não fosse um convite 
para ler a continuação “no próximo número” ou no dia seguinte. Pre-
visto desde o início, de acordo com as regras ainda em vigor antes de 
1848, para ser publicado a seguir em volume, o romance se apresenta 
4 Comparativamente, ver a análise estrutural do jornal La Presse para o ano de 1836 em 
THÉRENTY; VAILLANT, 2001, especialmente as páginas 60-78. O folhetim prolifera 
também da página 1 à página 2 ou 3, e o jornal de Girardin alterna o folhetim-romance 
e o folhetim dramático, musical ou científico.
28 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
ostensivamente como um livro dividido em dois tomos e 29 capítu-
los, com sua indicação no início de cada folhetim. Para ser mais exato, 
“o autor de Jérôme Paturot” – pois esta é a assinatura aposta em cada 
folhetim – havia firmado com Michel Lévy um contrato para a venda 
de Pierre Mouton, em outubro de 1844, e depois um segundo contra-
to, em março de 1845, quando o editor comprou César Falempin e Le 
Dernier des commis voyageurs, o primeiro integralmente publicado nas 
colunas do National, desde a véspera, devendo o seguinte ser publica-
do ao longo do ano (Arquivos Calmann-Lévy, dossiê Louis Reybaud; 
MOLLIER, 1984, p. 74-75). Comprado pelo valor de 1.200 francos 
– ou seja, pelo equivalente a 6.000 euros –, o romance, que havia sido 
rebatizado César Falempin visando tirar vantagem da popularidade 
junto aos leitores desse herói das guerras napoleônicas que havia se 
tornado um “Monsieur Pipelet” cheio de recursos, teria uma tiragem 
reduzida de 600 exemplares, vendidos por 15 francos (dois tomos 
por 7,50 francos cada um) e estritamente destinados ao mercado dos 
gabinetes de leitura. Assim, muito concretamente, são desenhados os 
contornos de dois grupos de leitores que podem ser parcialmente su-
perpostos; o primeiro é composto por leitores e leitoras do National, 
os quais, em sua maioria, não comprarão o volume para o conservar 
em sua biblioteca, nem tampouco irão ao gabinete de leitura para 
levar de empréstimo um dos tomos ou para ler in loco. É exatamente 
o que fará o segundo círculo de leitores: gastarão alguns centavos para 
satisfazer sua paixão e passar algumas horas bem aquecidos nessas ven-
das de leitura, ou para levar um dos volumes dedicados às aventuras 
de um melodrama que teria sido facilmente transposto para os palcos, 
caso um autor do “bulevar do crime” tivesse se interessado por ele.
Já que um dos ferreiros das letras, de certo modo, revela seu 
segredo ao afirmar que os autores dos romances-folhetim publicados 
pelos jornais mais importantes são remunerados a 75 centavos a linha, 
é fácil calcular que Louis Reybaud recebeu do National a bela soma de 
6.525 francos, pois cada folhetim continha aproximadamente 50 li-
nhas e ocupava três colunas em duas páginas. Pode-se, assim, calcular 
que um capítulo de um romance-folhetim equivalia a 300 linhas de 
um jornal, ou ainda era distribuído em 18 páginas de um volume de 
21 linhas de 7 palavras, ou seja, em média 2.500 palavras. Se conti-
nuarmos a desenvolver este modesto raciocínio contábil, que qualquer 
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 29JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
folhetinista com alguma experiência dominava inteiramente5, uma 
página compreendia mais ou menos 150 palavras, e um capítulo 18 
páginas, ou seja, aproximadamente 2.500 palavras. Esta é a base da 
remuneração dos autores, a qual acarreta, como se sabe, a tentação de 
multiplicar os diálogos e mudar de parágrafo, sendo que as reticências 
e os pontos de exclamação eram remunerados com o mesmo valor que 
qualquer palavra. Caso se prefira contabilizar caracteres ou “letras”, 
como fazia Maupassant, cada linha comportava 50 caracteres, o que 
perfazia uma média de 1.000 caracteres por página ou 18.000 por 
capítulo, e 330.000 por tomo, ou seja, 660.000 caracteres em um 
romance. Contudo, se forem deduzidas dessa conta as muitas páginas 
em branco, intercaladas entre os capítulos, e se forem consideradas 
as páginas com duas ou três linhas em final de capítulo, há na com-
posição de um romance uma média de 500.000 caracteres, ou seja, o 
conteúdo de um livro de bolso comum de nossos dias.
De um recorte a outro ou como ler um romance-folhetim
Não basta afirmar que não sabemos mais ler um romance-
-folhetim e que, por este motivo, somos hoje incapazes de apreender 
as obras do século XIX do modo como foram descobertas por seus 
contemporâneos. Mesmo nos esforçando para ler apenas um capítulo 
por dia e no final de semana, a fim de respeitar os ritmos impostos 
pelo jornal, não conseguiríamos recuperar os dispositivos mentais dos 
homens e das mulheres daquele tempo. Como foi brilhantemente de-
monstrado por Donald F. McKenzie, as formas produzem sentidos, e 
texto algum jamais chegou até nós senão em forma de livro impresso, 
com um determinado formato, ilustrado ou não, fabricado com um 
determinado papel agradável ao toque ou excessivamente seco, com 
um tipo de letra escolhido para chamar nossa atenção ou não. Para 
dar apenas um exemplo, leitor algum de Madame Bovary, naedição 
da Bibliothèque de la Pléiade em papel-bíblia, dobraria os cantos das 
páginas ou escreveria comentários a caneta, enquanto o mesmo leitor 
5 A correspondência de Maupassant fornece vários exemplos dessa prática. Ver uma carta 
de Maupassant datada de maio de 1889, endereçada ao diretor da Revue illustrée, na qual 
o escritor conta cada letra publicada, a fim de cobrar cada centavo devido pela revista 
(MAUPASSANT, 1973, t. III, p. 77-78).
30 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
não hesitaria em maltratar a mesma página da edição de bolso, a qual 
se presta aparentemente a todos os tipos de mutilações.
É vã, portanto, a esperança de desvelar completamente as 
estruturas mentais, ou como as refere Lucien Febvre (1947), as ferra-
mentas que permitiam a um leitor do século XIX ingerir a prosa de 
um jornal que hoje consideramos indigesta por nos parecer grosseira, 
austera, se comparada à tipografia arejada e, melhor dizendo, elegante 
de um jornal de nossos dias6. Contudo, a segmentação dos romances-
-folhetim em sequências adaptadas a uma publicação cotidiana nos 
ajuda a penetrar nesta câmara escura. Cada capítulo de um volume, 
chamado de gabinete de leitura, constitui uma espécie de cena em 
tamanho reduzido, na qual as personagens dialogam entre si, fortale-
cendo a comparação com o teatro (COLIN; CONRAD; LEBLOND, 
2013) e ressaltando a transmidialidade do gênero romanesco, propício 
a migrar de um suporte para outro (JENKINS, 2013)7. Melodra-
mático, logo híbrido, e assumindo características tanto do teatro 
quanto do romance, próximo do conto como bem destacou René 
Guise (1975, t. I), povoado por arquétipos que remetem aos mitos 
e às lendas mais remotas (VAREILLE, 1994), o romance-folhetim 
constitui uma narrativa mista especialmente adaptada à fragmentação 
em episódios que sustentam o suspense e mantêm alerta a curiosidade 
do leitor. Como ressalta Alain Vaillant em seu estudo sobre a “poética 
da eloquência jornalística”, o que o leitor do jornal diário dos anos 
1836-1848 parece querer
[...] não é ler um romance, mas ouvir contar uma história 
por um autor que, como o contador de histórias do salão 
ou ao pé da lareira, conhece todas as técnicas para manter 
a atenção: o ritmo veloz da narrativa, o recurso ao diálo-
go, a ironia ou, ao contrário, o patético e o espetacular, 
etc. (VAILLANT in THÉRENTY; VAILLANT, 2001, 
p. 106)
6 A primeira página de um jornal de 2017 comporta três ou quatro vezes menos caracteres 
do que seu homólogo de 1835-1845.
7 Remetemos igualmente a um colóquio fundador organizado por Jacques Migozzi e à sua 
introdução Fictions transmédiatiques: du rhizome au réseau (MIGOZZI, 2000, p. 7-24).
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 31JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
Uma vez que a literatura invadiu o jornal e que a informa-
ção se dispersou na narrativa literária, existe uma relação permanente 
entre aquilo que se vincula ao fait divers, uma seção sistematicamente 
presente nos jornais a partir dessa época, e aquilo que é do âmbito 
da ficção. Devemos então concluir que o leitor passava de uma seção 
à outra sem uma pausa para respirar? Fica a dúvida, pois os filetes 
que separam o espaço textual destinado ao folhetim são nitidamente 
marcados, e o próprio título da seção, Folhetim, ou ainda, às vezes, 
Variedades, já nos anos de 1839-1840 induzia a presença de uma fic-
ção, e, portanto, a introdução do leitor em um universo que não era 
o da realidade. Quanto a esse ponto, as análises de Richard Hoggart 
a respeito das leitoras britânicas dos anos 1950 (HOGGART, 1957) 
podem ser utilizadas e projetadas para 100 anos antes sem que haja 
grandes riscos de se incorrer em erro. A correspondência de Eugène 
Sue trocada com seus leitores, aliás, demonstra que, se estes se dirigem 
a ele como se ele fosse um reformista capaz de resolver os proble-
mas do momento, eles não deixam de conservar a certeza de que Les 
Mystères de Paris é um romance, acrescentando-lhe a esperança de 
que o romancista capaz de encenar essa ficção poderá, igualmente, 
encontrar os remédios apropriados aos flagelos que enfrenta a socie-
dade (GALVAN, 1998)8. Esta é provavelmente a razão pela qual sua 
eleição como Representante do Povo em Paris, em 1850, é repleta 
de significados, e o poder o atacará encarniçadamente – a leitura de 
Les Mystères du Peuple foi proibida pela censura em 1857, enquanto 
que no mesmo ano apenas alguns poemas de Les Fleurs du Mal foram 
censurados (LECLERC, 1991).
Como é possível perceber, em duas ou três décadas o roman-
ce sofreu mutações que decorrem, de início, do seu modo de difusão 
e, portanto, da sua recepção pelos leitores e, logo depois, da sua escri-
ta; a popularidade do folhetim dedicado ao “romance de novidade”, 
expressão típica daquela época, muito rapidamente convenceu os 
escritores a ceder à demanda, isto para não utilizar a mesma expressão 
que Sainte-Beuve, a ceder à encomenda. Mesmo que Balzac ainda 
pudesse exclamar, em 1829, “subscrevo ao in-12 mas gostaria de ser 
in-8”9 (BALZAC, 1960, t. I, p. 366; MOLLIER, 1992, p. 157-173), 
8 Para as cartas endereçadas pelos leitores de Eugène Sue ao Journal des Débats.
9 Carta de Balzac para Latouche, em 9 de janeiro de 1829.
32 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
revelando assim as mais íntimas aspirações de um jovem escritor que 
rejeita as limitações do gabinete de leitura e deseja apaixonadamente 
“ser publicado” com o formato do belo volume exibido nos salões 
da aristocracia e nas bibliotecas burguesas. Contudo, 10 anos mais 
tarde, ele acabou por aceitar as propostas de Gervais Charpentier e 
transformou seu modo de escrever para estar em conformidade com 
os horizontes de expectativa de seus leitores (GLEIZE, 2010, p. 97-
109).
Enquanto antes de 1800 tanto o romance quanto a poesia 
e o teatro pertenciam a um universo ainda relativamente fechado 
do ponto de vista social, a abertura das revistas à ficção pela via das 
pré-publicações desde 1829-1831, notadamente na Revue de Paris, 
na Revue des Deux Mondes, em La Mode e L’Artiste10, e a seguir sua 
maciça introdução no folhetim dos jornais, transformaram completa-
mente a recepção da literatura francesa. Mesmo que o fenômeno não 
seja um maremoto e que tenha havido muitas hesitações antes de se 
recorrer sistematicamente ao folhetim para impor o jornal, conforme 
o método recomendado pelo David-Honoré de Balzac de Les Idoles 
d’argile, o reinado do “folhetim costurado a mão” (THIESSE, 1984) 
ia modificar as práticas culturais por um período bastante longo.
Por esse motivo, a segmentação da ficção em capítulos cor-
respondendo à publicação de um livro com o formato dos gabinetes 
de leitura – o in-12 bem arejado em três volumes ao preço de 6 francos 
antes de 1830, o in-8 em dois ou três tomos por 7,50 francos após 
essa data11 – representa apenas um momento da história material do 
romance.
Vimos com César Falempin ou les idoles d’argile que Louis 
Reybaud havia trabalhado visando satisfazer dois públicos distintos 
e que seus capítulos correspondiam exatamente às seis colunas de 
um folhetim cotidiano publicado por um jornal de grande circula-
ção. Quando os romancistas não mais tiverem a certeza de ter seus 
folhetins aceitos pelos editores, eles deverão dobrar-se às exigências 
externas, reduzir seu folhetim às dimensões das quatro ou cinco co-
lunas do “rodapé”, que lhes será doravante reservado, e a passagem 
10 Para o estudo da genealogia do fenômeno, ver THÉRENTY; VAILLANT, 2001; e prin-
cipalmente GUISE, 1975.
11 Esta distinção não é uma regra absoluta, mas antes uma tendência.
ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018 33JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance...
para o volume vendido nas livrarias acarretará reescritas ou “costuras” 
correspondendo à nova segmentação. Logo, se não há modelo ou 
“molde” únicode um capítulo de romance típico do século XIX, 
para continuar com a metáfora apreciada por costureiras e alfaiates, 
devemos insistir naquilo que nos ensina Donald Francis McKenzie: 
se é verdade que as formas produzem o sentido, então o recorte dos 
romances em capítulos deve considerar necessariamente seu modo de 
publicação.
A observação que Balzac faz a Latouche confirma que um es-
critor, mesmo que ainda seja um novato, como é o caso de Balzac em 
1829, escreve pensando em um destinatário cuja aparência ele conhe-
ce, o volume do gabinete de leitura ou então, sonho ainda inacessível, 
o in-8, o volume nobre por excelência. Agasalhar-se no couro fulvo 
de um belo in-8 a fim de ser visto por todos, esta era a ambição do 
futuro pai da Comédie Humaine antes que o romance-folhetim viesse 
a impor sua lei e conferir ao volume “Charpentier”, o “Grande in-18 
inglês chamado ‘Jesus’”, a função doravante atribuída ao metro-padrão 
da glória literária. É exatamente o que afirma Théodore de Banville, 
quando escreve a Michel Lévy, em 1858, comunicando-lhe suas mais 
íntimas aspirações: “Como o senhor sabe, meu sonho sempre foi o de 
publicar minha poesia em sua biblioteca de 1 franco, pois esta, para 
mim que sou o pássaro raro dos poetas, representa a Popularidade”12. 
Ainda que neste caso estejamos longe do capítulo de romance, uma 
vez que se trata de poesia, a súplica de Banville coincide com a secreta 
esperança de Balzac, mas desta vez o pequeno volume triunfou sobre 
seu rival, embora o in-18 das coleções vendidas por 1 franco apresen-
tasse um “belo papel acetinado” de que não dispunha o antigo in-12, 
que não deixa de lhe ser comparável por seu tamanho muito parecido.
Tradução
Celina Maria Moreira de Mello
Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina
Universidade Federal de Rio de Janeiro 
12 Théodore de Banville a Michel Lévy, citado em MOLLIER, 1984, p. 255.
34 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
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36 JEAN-YVES MOLLIER | As origens do romance... ALEA | Rio de Janeiro | vol. 20/3 | p. 17-36 | set-dez. 2018
Jean-Yves Mollier é professor Emérito de História Contemporânea da Universida-
de de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, França, onde dirigiu por muitos anos 
o Centre d’histoire culturelle des sociétés contemporaines. Tem dedicado sua obra ao 
estudo da história do livro e da edição, das práticas de leitura e da censura do século 
XVIII ao século XXI. Autor de Edição, Imprensa e Poder na França do Século XX 
(Edusp; Unifesp, 2015); Edição e revolução: leituras comunistas no Brasil e na França 
(com Marisa Midori Deaecto, Editora UFMG; Ateliê Editorial, 2013); O Dinheiro 
e as Letras: História do Capitalismo Editorial (Edusp, 2010); O Camelô: Figura em-
blemática da comunicação (Edusp, 2009) e muitos outros títulos de referência para 
os estudos sobre a história do livro e da edição. E-mail: jean-yves.mollier@uvsq.fr
Recebido em: 16/01/2018
Aceito em: 15/07/2018
	Contents
	Sumário
	Editorial
	Elena Palmero González
	Ana Maria Lisboa de Mello
	Edson Rosa da Silva
	Marcelo Jacques de Moraes
	1. As origens do romance-folhetim
	Jean-Yves Mollier
	2. A concepção de vazio em Roland Barthes
	Rodrigo Fontanari
	3. Para além da morte
	Davi Andrade Pimentel
	4. Símbolo, complexo e mito
	Cristina Henrique da Costa
	5. Para uma outra modernidade
	Danielle Grace de Almeida
	6. Paul Éluard y César Vallejo
	Camilo Rubén Fernández-Cozman
	7. Poema corpo: corpo poema
	Wanderlan Alves
	8. Da página ao palco
	Gunter Karl Pressler
	Sandra Mina Takakura
	9. O poema fora do livro
	Leandro Pasini
	10. Inversão de papéis
	Clovis Carvalho Britto
	Paulo Brito do Prado
	11. Tendências distópicas no Brasil
	Ânderson Martins Pereira
	12. Sob o sol tropical
	Mônica Figueiredo
	13. O uso sublime de uma figura de linguagem 
	Mariella Augusta Pereira
	14. Travessias identitárias
	Dora Nunes Gago
	15. Horizontes da pós-colonialidade
	Vanessa Massoni Da Rocha
	16. Tragédia,comédia, romance de formação
	Kelvin Falcão Klein
	17. O poema como um todo
	Santiago Quiroz Pardo
	18. Mihai Eminescu en español
	Catalina Iliescu Gheorghiu
	19. A poética pessoana segundo Antonio Tabucchi
	Andrea Guerini
	20. Memória cultural e modos de transmissão 
	Ana Maria Lisboa de Mello

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