Arqueólogos britânicos escavaram um ataúde antigo num cemitério de 1.600 anos no norte da Inglaterra. Segundo eles, a descoberta pode lançar luz sobre o final da Grã-Bretanha romana e o estabelecimento dos reinos anglo-saxões.
Descoberto durante uma escavação arqueológica em Leeds, o caixão forrado de chumbo continha os restos mortais de uma mulher aristocrática que provavelmente viveu no século 4.
Arqueólogos também encontraram os restos de mais de 60 pessoas que viveram na área mais de mil anos atrás. Alguns dos corpos foram enterrados de costas, com as pernas estendidas, conforme os costumes do final da era romana. Outros foram sepultados conforme a tradição anglo-saxônica, na qual os corpos frequentemente eram enterrados com objetos como facas e prendedores de roupas.
A escavação arqueológica fez parte de um processo de consulta para uma empresa que pediu permissão para construir no local. Arqueólogos haviam descoberto anteriormente na região construções de pedra do final da era romana e várias estruturas no estilo arquitetônico anglo-saxônico.
“Em muito pouco tempo começamos a encontrar sepulturas”, contou David Hunter, o arqueólogo principal do Serviço de Assessoria Arqueológica de West Yorkshire, que trabalha com as autoridades de planejamento da região. “Elas têm o potencial de nos dar informações muito melhores sobre como se deu essa transição da população romana para a Inglaterra anglo-saxônica.”
Segundo Hunter, a presença de pessoas tanto do final da era romana quanto do início da era anglo-saxônica no mesmo cemitério é incomum. A possibilidade de o cemitério ter sido usado nas duas eras vai determinar a importância da descoberta.
A ocupação da Grã-Bretanha pelos romanos, entre o ano 43 d.C. e por volta de 410 d.C., transformou a cultura regional, com a chegada de pessoas da Europa, Oriente Médio e África que ali se estabeleceram. Vilarejos e cidades com feiras foram erguidos por volta do século 3, e objetos romanos passaram a ser mais comuns até mesmo nas áreas rurais pobres, segundo a organização English Heritage, responsável por cuidar dos sítios pré-históricos, castelos medievais e fortes romanos da Grã-Bretanha.
Após a retirada romana da Grã-Bretanha, a sociedade ficou muito mais insular e provinciana, disse Hunter. Muita coisa sobre esse período ainda é desconhecida, incluindo como a área fez a transição entre ser parte do Império Romano, no início do século 5, e da nação inglesa, no século 10.
“Diferentes pessoas têm diferentes teorias sobre como isso pode ter acontecido”, disse Hunter. “Pode ter acontecido por cooperação ou por agressão.”
Essas descobertas podem somar-se ao que é sabido sobre uma era em grande medida não documentada, disse o arqueólogo. A datação por radiocarbono pode ajudar a determinar exatamente quando os corpos foram enterrados. Exames químicos podem lançar luz sobre a dieta e a origem ancestral das pessoas.
Os pesquisadores também querem entender por que há uma série de instâncias em que duas ou três pessoas foram enterradas na mesma sepultura, e também por que há diferentes estilos de sepultura no mesmo cemitério.
Hunter disse que os dois estilos diferentes de sepultura podem se dever a razões práticas. Como a área já era reconhecida pelos britânicos romanos como um cemitério, teria sido mais fácil para grupos subsequentes usarem o mesmo local para enterros.
A descoberta das sepulturas foi feita em fevereiro de 2022, mas só foi anunciada na segunda-feira (13) para que o sítio pudesse ficar protegido, possibilitando a realização de testes com alguns dos artefatos encontrados, disse a Câmara Municipal de Leeds em comunicado à imprensa. A descoberta de um caixão forrado com chumbo é raro. Segundo Kylie Buxton, supervisora das escavações no sítio, apenas algumas centenas de ataúdes desse tipo foram encontrados na Grã-Bretanha até hoje.
A Câmara de Leeds não divulgou a localização exata da escavação. Quando a análise for concluída, o caixão de chumbo pode ser exibido no Leeds City Museum numa exposição sobre costumes fúnebres.
Fuente FOLHA DE S.PAULO
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