Felipe Melo: 'Fernando Diniz é um gênio do futebol'

Felipe Melo: 'Fernando Diniz é um gênio do futebol'

O zagueiro do Fluminense dá longa entrevista à FIFA e nos conta qual é o principal e surpreendente do time carioca. Depois, faz uma retrospectiva de sua longínqua carreira.

FIFA
  • Felipe Melo elege o que define o Fluminense: 'Saber correr para trás. O que cansa é perder'

  • O veterano zagueiro relembra grandes momentos da carreira e planeja virar técnico de futebol

  • Flu decide vaga na final da Libertadores contra Inter nesta quarta; campeão vai à Copa do Mundo de Clubes da FIFA

Aos 40 anos – e mais de 20 como jogador profissional –, Felipe Melo pode fazer uma viagem, e tanto, por suas memórias. No Cruzeiro, um Vanderlei Luxemburgo no auge rumo à tríplice coroa. Na Espanha, o trabalho com um emergente Unai Emery pelo Almeria. Depois, na Itália, aulas táticas com Cesare Prandelli. Agora, a rotina com Fernando Diniz no Fluminense. Para além do prestígio dos nomes citados, o que mais impressiona é a capacidade de o zagueiro do Flu de esmiuçar todos os times de sua carreira em detalhes. Você percebe que ele poderia passar horas e horas nessa retrospectiva. Daí que, com uma bagagem dessas, esta frase sobre o novo técnico da Seleção Brasileira ganha ainda mais impacto em conversa com a FIFA: “Diniz é um gênio do futebol, um cara que enxerga o que os normais não conseguem enxergar”.

Era uma resposta sobre o que o teria surpreendido no contato diário com o treinador que liderou que levou o Flu a mais um título do Campeonato Carioca, desbancando o poderoso Flamengo, e conduz o Tricolor à sua final da Copa Libertadores após 15 anos. PAra chegar lá, o time superou enorme desafio contra o Internacional.

“Com o trabalho que ele faz diário, de movimento livre, todo dia eu aprendo alguma coisa nova. Só que ele trabalha muito! Um pré-jogo, com jogo na quarta-feira, na terça-feira a gente corre 5.5 km de baixo de 43 graus de sol do Rio de Janeiro. Aqui não tem rachão, tem trabalho”, desenvolve o veterano. “Para mim está sendo fantástico porque quero me tornar um treinador.” E aí todas as observações que Felipe Melo desenvolve num piscar de olhos fazem bem mais sentido.

Explicando o FluminenseExplicando o Fluminense

O debate em torno dos times de Fernando Diniz no futebol brasileiro girou, por muito tempo, em torno de alguns pontos. O mais recorrente deles pode muito bem ser a simples intenção de construir a saída de bola a partir do goleiro, mas de pé em pé – a “saidinha”, como se convencionou dizer. Quando questionado, porém, sobre o que definiria este Fluminense, Felipe Melo não poderia ser mais surpreendente. “Falam de toquinho. Mas é um time de guerreiros, de fato. A torcida canta isso, e é verdade. O ponto forte é correr para trás, defender nosso gol. É ficar junto atrás da linha da bola de forma muito rápida e objetiva. São 11 zagueiros em campo quando não temos a posse. E aí que começa a nossa preparação para fazermos o gol”, diz. “O Diniz fala uma coisa com propriedade: o que cansa é perder. Correr para trás da linha da bola não cansa.”

O zagueiro, então, procura um exemplo internacional para relativizar o que faz o seu time: o Arsenal de Mikel Arteta. “As pessoas que entendem de futebol veem muito mais que um toque de bola. Elas veem uma equipe que está buscando, armando uma arapuca para sair na cara do gol adversário. Eu gosto de citar exemplos: o Arsenal brigou até o final com o grande campeão Manchester City, e mais pelo modo como defendiam do que pelos toques de bola. O Arsenal pouco dava chance para o adversário! Quando não tinha a bola, todo mundo corria para trás. Por isso, o Arsenal conseguiu brigar com o City até o final.”

A arte de lapidar A arte de lapidar

Felipe Melo destaca outra característica de Fernando Diniz como técnico: saber elevar o jogo de seus comandados. “Ninguém falaria que o Fluminense ganharia o Carioca da maneira que ganhou. O cara mudou toda a maneira de o time trabalhar, com alguns caras que eram dados como mortos. O tal do Felipe Melo era ex-jogador, o Ganso não jogaria mais, o [goleiro] Fábio era muito velho... E aí temos o Nino e o André hoje na Seleção e outros que subiram muito.” Por isso ele faz campanha para que Diniz seja efetivado à frente da Seleção, projetando o que ele poderia fazer com a atual geração, lançada por Tite no ciclo rumo ao Qatar 2022. “A tendência é a Seleção melhorar muito porque muda o estilo de jogo. Quando você tem ouro ou diamante bruto nas suas mãos, e existem alguns diamantes já lapidados na Seleção Brasileira, mas também tem muitos em estado bruto, se você pega alguém que saiba lapidar, você chega muito forte na Copa do Mundo.”

Quem mais entendeu Felipe MeloQuem mais entendeu Felipe Melo

A trajetória do jogador nunca é feita só de aplausos. Felipe Melo bem sabe disso. Seja por lances pontuais, como a expulsão contra a Holanda, pelas quartas de final da Copa do Mundo da FIFA de 2010, ou pelo temperamento que já foi bem mais intempestivo e, para muitos, virou sua principal marca.

Agora, se tem um público que não deu a menor bola para isso foi a torcida do Galatasaray, clube que ele defendeu de 2011 a 2015, tendo vencido três ligas e três copas nacionais.

“Foram quatro anos de ápice total da minha carreira. É uma torcida que condiz com minha personalidade, foi perfeito. Amo o torcedor do Galatasaray e amo o povo turco, estão sempre no meu coração.”

Ainda assim, para o já veterano, restava uma etapa a cumprir em sua já longínqua carreira: voltar ao Brasil para ser acolhido também por seus compatriotas. “Decidi voltar mesmo com a contradição de alguns da milha família. ‘Vão pegar no seu pé’, me diziam. Mas pude ajudar o Palmeiras a sair da fila na Libertadores, no Paulista, e me tornar um ídolo. Penso que eu me torneio um ídolo do Palmeiras, né?”, questiona, retoricamente.

Agora, Felipe Melo curte a euforia apresentada pela torcida do Flu – lembrando que, no caso de o Tricolor avançar à final da Libertadores, fará o jogo decisivo, único, em casa, no Maracanã.

“Costumo dizer, sem medo, que nós somos Davi enfrentando nossos gigantes. Com muita humildade, com nossa torcida que tem feito a diferença. A torcida do Fluminense... Palmas para eles!”

Três saltos de Felipe Melo Três saltos de Felipe Melo

Para chegar aos 40 anos como figura relevante de um time semifinalista de Libertadores, Felipe Melo precisou passar por muita coisa. E diz que, se o jovem meio-campista que se profissionalizou pelo Flamengo no início dos anos 2000, soubesse que ainda estaria em atividade mais de duas décadas depois, teria ficado bastante impressionado. “Meu sonho era apenas me firmar como atleta de primeiro time e aí seguir a carreira. Chegar aos 40 anos por um grande clube, e ainda de zagueiro, podendo ajudar muito a equipe, seria muita surpresa”, diz. Três escalas fizeram a diferença para entender essa longevidade: 1 – Cruzeiro em 2003 O jovem volante fez parte de uma das maiores temporadas de um time brasileiro, que sagrou campeão estadual, brasileiro e da Copa do Brasil, sob a batuta de Luxemburgo. As conquistas engrandeceram seu currículo bem cedo, mas, para ele, seu maior ganho foi fora de campo no convívio com “um grande treinador”.

“Ele me ensinou a ser profissional. Pude aprender a me tornar um atleta de fato. Eu era um garoto, estava aprendendo a lidar com a fama, com o gostinho de começar a ganhar dinheiro, mas não tinha uma estrutura profissional.”

2 – Anunciação europeia

Felipe Melo chegou ao futebol europeu em 2005. Mas só foi na temporada 2007/08 que ele provou que poderia ir longe no Velho Continente. “Passei por alguns momentos atribulados, mas o Emery, que hoje é um grande treinador no cenário mundial, me ajudou muito, me dando a chance de jogar como volante, minha posição. Num tripé do meio-campo, eu fazia o box-to-box.”

"Nós tínhamos um tripé no meio-campo e eu fazia o corredor pela direita. Sempre fui um cara de muita força e técnica. Foram sete gols na competição, fui eleito melhor jogador pelo torcedor do Almería, fui eleito melhor volante no Campeonato Espanhol com o Xavi do Barcelona. Ali foi o primeiro grande ápice na minha carreira.

3 – Prancheta viola Depois do Almería, Melo se transferiu para a Fiorentina, dirigida por Cesare Prandelli, num choque cultural de escolas. “A escola italiana é, para mim, a melhor taticamente, com um dos melhores treinadores que tive taticamente, o Prandelli. E aí mudei a posição mais uma vez, até drasticamente, para ser o primeiro homem à frente da zaga, o volante raiz. Tínhamos eu e [Ricardo] Montolivo, que posteriormente jogou na seleção da Itália e no Milan, que era o cara que pegava essa segunda bola. Eu roubava e fazia o trabalho sujo, verticalizava, e me tornei o melhor volante da Serie A, chegando à Seleção”


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