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Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, anuncia que tem tumor no esôfago

No comando do país de 2010 a 2015, líder de 88 anos é referência para setores da esquerda na América Latina

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Buenos Aires

O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica, 88, anunciou nesta segunda-feira (29) que está com um tumor no esôfago. Mujica deixou a Presidência em 2015 e ainda é considerado uma das principais referências dos setores de esquerda na América Latina.

O comunicado sobre a doença foi feito pelo próprio Mujica em uma entrevista coletiva com a participação de ativistas. Ele disse que o diagnóstico foi feito durante exames de rotina na última semana.

Ainda que tenha demonstrado resiliência, uma das principais figuras da política uruguaia também alertou para sua condição de saúde. Segundo ele, quimioterapia ou cirurgia são opções pouco prováveis —Mujica carrega uma doença imunológica há mais de 20 anos que afeta, entre outras coisas, o funcionamento dos rins.

"Mais de uma vez a morte rondou minha cama, mas eu fui protegido. Desta vez parece que ela vem com a foice em punho", disse Mujica sentado em frente a bandeiras do MPP (Movimento Participação Popular), que lidera. "Veremos o que acontece."

"Enquanto puder, seguirei militando e entretido com minhas verduras", seguiu ele, que se dedica à agricultura em casa.

Contatada pelo jornal local El País, sua médica pessoal, Raquel Pannone, afirmou que não há detalhe que possa ser compartilhado sobre o quadro de saúde ou as eventuais linhas de tratamento dado que o diagnóstico do tumor é muito recente.

Ex-guerrilheiro tupamaro, Mujica foi eleito em 2009, quando derrotou nas urnas Luis Alberto Lacalle, o pai do atual presidente uruguaio, Lacalle Pou, de centro-direita. Quando empossado, no ano seguinte, tornou-se o presidente mais velho da história do país sul-americano.

Mujica foi preso político da brutal ditadura militar uruguaia durante 13 anos. Viveu em condições subumanas, como relatado por ele e por colegas de cárcere diversas vezes, e foi também torturado.

Desde que deixou a Presidência, Mujica assumiu como senador. Mas renunciou ao cargo em 2020, em decisão antecipada pela pandemia de coronavírus, mencionando a doença autoimune e crônica que possui e sobre a qual nunca trouxe detalhes a público.

Neste meio-tempo e, notadamente desde o fim da pandemia, Mujica se fez presente em diferentes campanhas de figuras de esquerda e centro-esquerda na vizinhança, sendo visto como uma espécie de conselheiro do setor. Ele participou ativamente da campanha de Lula (PT) à Presidência em 2022, quando o líder petista disputou contra Jair Bolsonaro.

Numa tarde de domingo na avenida Paulista, entre o primeiro e o segundo turno, era possível vê-lo próximo de um trio elétrico tirando fotos e selfies e acenando para milhares de presentes no cartão postal de São Paulo que participavam de um ato em defesa do petista.

Ao comentar o anúncio sobre o tumor de Mujica no X, Lula chamou o uruguaio de irmão. "Minha admiração e solidariedade. Você é um farol na luta por um mundo melhor", escreveu.

Mais recentemente, um posicionamento seu chamou atenção. Mujica criticou o desenrolar do processo eleitoral na Venezuela e disse que o regime parece não jogar com as regras da democracia.

Chamou atenção pelo fato de alguns governos de esquerda na região serem comedidos em suas críticas à ditadura, que tem inabilitado opositores políticos em número crescente.

Neste fim de semana, uma das principais figuras do chavismo, o procurador-geral Tarek William Saab, criticou Mujica publicamente e relacionou o Uruguai ao narcotráfico. "Todo país que legaliza drogas faz um pacto com os traficantes de drogas", disse ele, referindo-se à pioneira legalização da produção e da venda de maconha no Uruguai.

O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, durante evento no Paraguai
O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, durante evento no Paraguai - Cesar Olmedo - 15.abr.23/Reuters

"O que Pepe pode falar? Quando esse senhor legalizou a droga no Uruguai, as mortes e as pessoas doentes nas ruas se tornaram incontáveis para um país tão pequeno", acrescentou ele.

O número de crimes violentos no país de fato cresceu após a legalização da droga. Os estudos se dividem na razão para esse cenário, mas apontam que disputas para controle dos pontos de venda e pouca segurança estão entre os motivos.

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