Um rei decapitado e outro envenenado; as histórias de como a monarquia britânica pode ser cruel | CNN Brasil
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    Um rei decapitado e outro envenenado; as histórias de como a monarquia britânica pode ser cruel

    Carlos I e Carlos II tiveram destinos trágicos ao longo do século XVII

    Carlos I e Carlos II tiveram destinos trágicos durante a história do Reino Unido.
    Carlos I e Carlos II tiveram destinos trágicos durante a história do Reino Unido. Domínio Público

    Felipe Pereiracolaboração para a CNN

    A monarquia britânica pode estar cercada de luxo e de uma aura positivista hoje, mas já foi extremamente cruel com quem, em alguma forma, tentou ir contra ao Parlamento ou tinha ideias consideradas “liberais demais” para a época.

    Dois reis tiveram destinos trágicos durante a história do Reino Unido. Carlos I foi decapitado em praça pública, enquanto Carlos II foi perseguido e morto no que se considerava um caso de envenenamento.

    Nascido na Escócia em 1600, Carlos I ascendeu ao trono em 1625 após a morte do pai, Jaime I, já em uma batalha contra o Parlamento, que queria diminuir a importância do rei. Fiel ao conceito de direito divino dos reis, queria reinar de acordo com a própria consciência, mesmo que isso fosse contra os próprios súditos.

    Uma das medidas mais impopulares era a cobrança de impostos sem consentimento parlamentar. Tanto que Carlos I era visto como um monarca tirano. As políticas religiosas, aliadas ao casamento com uma católica, geraram antipatia e desconfiança de grupos religiosos.

    As fortes posições políticas e religiosas de Carlos I acabaram por levar à Guerra Civil Inglesa, em 1642. Derrotado três anos depois pelo Exército Novo, o rei saiu de Oxford em direção ao norte do país.

    Ele se rendeu para uma força escocesa e foi entregue para o Parlamento em Londres depois de demoradas negociações entre os políticos ingleses e escoceses.

    Meses depois, contudo, o rei conseguiu escapar ao julgar que tinha um novo aliado — coronel Robert Hammond, o governador parlamentar da Ilha de Wight. Só que foi preso novamente no Castelo de Carisbrooke.

    Mesmo deste local, negociou um acordo secreto com os escoceses, “O Compromisso”, em que os escoceses prometiam invadir a Inglaterra em nome de Carlos e restaurá-lo ao trono sob a condição do presbiterianismo ser estabelecido por três anos.

    O plano foi descoberto, e Carlos I foi considerado um traidor da Inglaterra. A ideia de julgar um rei era visto como insólita para todos, e Carlos repetidas vezes argumentou isso durante a defesa no processo.

    Em 26 de janeiro de 1649, o rei foi condenado à morte. Foi levado a uma seção pública no dia seguinte, declarado culpado e sentenciado. A decapitação aconteceu em 31 de janeiro no Palácio de Whitehall, em frente a uma multidão.

    Tal pai, tal filho?

    A morte de Carlos I criou uma república na Inglaterra. Que acabou não durando muitos anos. Carlos II, filho do rei morto, também lutou nas guerras. Foi preso, fugiu e recapturado.

    Em 5 de fevereiro, o parlamento escocês proclamou, em Edimburgo, Carlos II como “Rei da Grã-Bretanha, França e Irlanda”. Entretanto, a Escócia não permitiu a entrada no país a menos que ele aceitasse o presbiterianismo por todos os reinos.

    Quando as negociações empacaram, Carlos autorizou o general Jaime Graham, 1º Marquês de Montrose, a desembarcar nas ilhas Órcades com uma pequena força para ameaçar os escoceses com uma invasão, esperando forçar um acordo mais favorável.

    Graham achou que Carlos iria aceitar um acordo e assim decidiu invadir a própria Escócia, porém foi capturado e executado.

    Carlos prometeu que iria aceitar os termos de um tratado com o Parlamento, mas, mesmo assim, não foi tão popular. Com o crescimento da influência de Oliver Cromwell, na Escócia, as relações estavam cada vez mais abaladas.

    Cromwell se tornou “Lorde Protetor” e comandou a Inglaterra até morrer, em 1658. Foi aí que Carlos II começou um trabalho de recuperar o trono, mesmo ainda enfraquecido moralmente.

    O filho de Oliver, Richard, foi o novo Lorde Protetor, mas não tinha base de poder no Parlamento e no Exército Novo. Foi forçado a renunciar, acabando com esse tipo de governo.

    Após uma sequência de guerras civis, o parlamento se autodissolveu pela primeira vez e houve uma nova eleição geral depois de quase vinte anos. Sem ter opção de quem iria assumir o comando do país, o rei foi convidado a voltar, e aceitou. Porém, ao chegar, se surpreendeu: governava, mas era dominado pelo Parlamento.

    Em 1662, Carlos II casou com Catarina de Bragança, filha de dom João IV. O casamento foi político, e deu à Inglaterra privilégios comerciais com Portugal e as colônias portuguesas, além dos portos de Tanger (no Marrocos) e Bombaim (na Índia).

    Em troca, a Inglaterra prometeu proteger a independência de Portugal sobre a Espanha. Em 1678, Catarina foi acusada de tentar envenenar o rei. O marido a defendeu, até que nada ficou provado.

    Carlos II sofreu um acidente vascular cerebral na manhã do dia 2 de fevereiro de 1685, morrendo após quatro dias de cuidados no Palácio de Whitehall. Ele tinha 54 anos.

    A forma como tudo aconteceu — alinhada ao desconhecimento do AVC na época — levantou a suspeita de envenenamento, e isso ficou como sendo causa da morte por muitos anos. Apenas análises modernas identificaram que os sintomas eram semelhantes a uma disfunção renal. Carlos foi enterrado na Abadia de Westminster “sem qualquer tipo de pompa”, algo incomum até então.