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História das músicas de Cazuza no dia do seu aniversário

Lívia Nolla
10:00 04.04.2024
Brasilidade

História das músicas de Cazuza no dia do seu aniversário

Se estivesse vivo, poeta completaria 66 anos neste mês de abril; saiba mais

Lívia Nolla - 04.04.2024 - 10:00
História das músicas de Cazuza no dia do seu aniversário
Cazuza | Foto: Reprodução
Cazuza | Foto: Reprodução
Cazuza | Foto: Reprodução

Se ainda estivesse vivo, Cazuza estaria completando 66 anos neste 04 de abril de 2024.

O cantor, poeta e compositor carioca teve uma importância imensa para a nossa história e é um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos.

E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira, nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

por Lívia Nolla

Sobre Cazuza

Agenor de Miranda Araújo Neto , o Cazuza – cantor, poeta e compositor – é um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos.

Filho do produtor musical João Araújo – fundador da gravadora Som Livre Cazuza sempre viveu em um ambiente muito musical. Sua mãe, Lucinha Araújo, teve uma breve carreira como cantora e chegou a lançar dois discos.

Dono de uma genialidade impressionante com as palavras e de uma voz e habilidade vocal inconfundíveis, Cazuza começou sua carreira em 1981, como vocalista do Barão Vermelho – uma das maiores bandas de rock do Brasil.

Ao lado de Frejat, na época guitarrista do grupo, compôs os maiores sucessos da banda, como: Bete Balanço, Pro Dia Nascer Feliz, Todo Amor Que Houver Nessa Vida e Maior Abandonado.

Cazuza deixou a banda em 1985, para seguir em carreira solo. Caso você queira escutar a áudio-biografia completa do Barão Vermelho, escute o Acervo MPB Especial da banda, um podcast original da Novabrasil.

Antes de tornar-se vocalista do Barão Vermelho, Cazuza chegou a estudar Comunicação Social, trabalhou na Som Livre, e também fez parte da companhia teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revelou outros artistas como Regina Casé, Evandro Mesquita e Luís Fernando Guimarães. Foi lá que Cazuza cantou em público pela primeira vez.

Irreverente e cheio de personalidade, sua vasta obra fala sobre as inquietações de uma geração e transcende o tempo. Deixa um legado único, que revoluciona a música brasileira, ao unir o rock’n roll e a MPB, com clássicos como:

Exagerado (parceria com Ezequiel Neves e Leoni); O Tempo Não Para (parceria com Arnaldo Brandão); Codinome Beija-Flor (com Ezequiel e Reinaldo Arias); Faz Parte do Meu Show (parceria com Renato Ladeira); O Nosso Amor a Gente Inventa (parceria com Rogério Meanda e João Rebouças); Brasil (com George Israel e Nilo Romero); Preciso Dizer Que Te Amo (com Bebel Gilberto e Dé Palmeira); e tantos outros.

A parceria com Frejat foi até o fim da vida. Juntos, mesmo fora do Barão, compuseram ainda grandes clássicos como Ideologia –uma das canções mais importantes da vida de Cazuza – Poema, e Malandragem, que fez história na voz de Cássia Eller.

Cazuza | Foto: Reprodução Site Oficial
Cazuza | Foto: Reprodução Site Oficial

Cazuza nos deixou em 1990, com apenas 32 anos, vítima de complicações causadas pela AIDS. Foi a primeira personalidade brasileira a declarar publicamente que havia sido infectado com HIV, quando o assunto ainda era um tabu enorme. Esse ato de transparência ajudou muitas vítimas a lidarem melhor com a doença. Ele foi com os pais para Boston, nos Estados Unidos, para tentar a droga AZT, único tratamento disponível na época.

Após sua morte, seus pais fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que tem como objetivo proporcionar uma vida melhor a crianças soropositivas, por meio de assistência à saúde, educação e lazer.

Sua vida virou filme (Cazuza- O Tempo Não Para, 2004), peça de teatro (Cazuza, Pro Dia Nascer Feliz – O Musical, 2013) e foi contada em vários livros.

Você pode conferir todos os detalhes sobre a história do aniversariante do dia, na audiobiografia original e exclusiva Novabrasil – Acervo MPB Especial Cazuza.

Ou também nesta matéria especial que publicamos no ano passado, sobre a trajetória de Cazuza, e que conta com uma Playlist Especial, que traz as principais canções do aniversariante do dia, em ordem cronológica de lançamento.

Hoje, para prestar mais uma homenagem a Cazuza, este artista tão importante da nossa MPB, vamos contar a história de dois de seus maiores sucessos: Preciso Dizer Que Te Amo e Poema.

Cazuza | Foto: Divulgação
Cazuza | Foto: Divulgação

História da música Preciso Dizer Que Te Amo

Preciso Dizer Que Te Amo foi composta por Cazuza em parceria com Bebel Gilberto e , na época baixista da banda Barão Vermelho. Cazuza tinha acabado de sair do Barão, no auge da banda, após uma apresentação histórica no Rock in Rio de 1985, primeira edição do festival.

Ele e Bebel eram muito amigos desde a adolescência, tinham crescido na mesma rua e eram ambos filhos únicos. Ela, filha de dois dos maiores nomes da música popular brasileira: João Gilberto e Miúcha. Ele, filho de Lucinha Araújo e de João Araújo, dono da gravadora Som Livre. Por incrível que pareça, quando Cazuza deixou o Barão Vermelho, ele e se aproximaram ainda mais.

A composição dessa música nasceu de forma muito espontânea e orgânica, com um fluxo de pensamento contínuo, em uma das várias viagens que Dé, Bebel e Cazuza faziam para a casa da família de Cazuza em Petrópolis, na serra do Rio de Janeiro. Bebel e tinham apenas 20 anos e 21 anos, respectivamente, e eram namorados. Cazuza tinha 28.

começou a tocar dois acordes que ele tinha pensado para uma letra que Cazuza tinha mandado para ele, e conta que foi uma coisa quase que paranormal: o Cazuza começou a cantar a letra já com uma melodia, de repente ele pediu pra Bebel improvisar uma parte melodiosa na cabeça dela – que é aquele comecinho que ela entra cantando – e ela logo emendou mais uma parte da letra.

conta que tem a sensação de que a música nem é dele, de tão fácil que saiu. E Bebel Gilberto diz que a canção é a melhor que ela já compôs, que nasceu como um parto natural de uma criança.

Ambos lembram que a frase que tinha levado a sentir certa dificuldade de compor a melodia da canção anteriormente, que era: “É que eu preciso dizer que te amo / Desinstalar esse osso da minha garganta”, trecho que Cazuza queria usar, influenciado por uma leitura da Bíblia.

Quando e Bebel disseram que essa frase não encaixava, ele falou: “Por que vocês não me disseram isso antes?”. Subiu ao seu quarto e voltou em poucos minutos com a solução: “É que eu preciso dizer que te amo / Te ganhar ou perder sem engano”.

Logo, Cazuza pegou um gravadorzinho e gravou aquela versão icônica em que ele anuncia que vão começar a gravar “uma composição de autoria de Dé, Bebel e Cazuza“: “por favor, não façam barulho no ambiente!”, ele diz.

Bebel manteve essa fita guardada por muitos anos e essa versão entrou para uma coletânea chamada Red Hot and Rio, de 1996, que arrecadava fundos para combate do vírus da AIDS em todo o mundo. E o filme Cazuza, o Tempo Não Pára, de 2004, reproduziu a cena do trio gravando a música pela primeira vez, lá em Petrópolis.

Mas a música foi lançada mesmo em uma gravação da Bebel Gilberto, para o seu primeiro álbum, de 1986. No ano seguinte, Marina Lima – cantora já consagrada, de quem Cazuza era muito fã – gravou a canção em seu disco Virgem, fazendo com que a música estourasse nas rádios de todo o Brasil e rendendo à Marina o Prêmio Sharp de Melhor Intérprete e a Dé, Bebel e Cazuza o prêmio de Melhores Compositores.

Marina conta que a ideia dela era que Cazuza dissesse apenas a palavra “tanto” no fim do refrão “É que eu preciso dizer que te amo, tanto!”, mas que – quando levou ele para o estúdio para gravar com ela – Cazuza não conseguia se limitar a cantar só a palavra e queria cantar tudo junto com Marina Lima, fazendo a cantora desistir da participação do amigo na gravação.

Cazuza incluiu a canção em seu show O Tempo Não Para, de 1988, mas ela não entrou para o disco ao vivo, lançado no mesmo ano. Em 2001, 12 anos depois de sua morte, essa versão ao vivo entrou para a coletânea póstuma Preciso Dizer Que Te Amo – Toda a Paixão do Poeta.

E, como diz um dos responsáveis pela composição, Dé Palmeira, é uma música sobre um desencontro amoroso: é uma declaração de amor para alguém que está apaixonado por outra pessoa. Mas não importa. Quem canta, precisa dizer que ama, mesmo não sendo correspondido. Mesmo esse amor não se concretizando.

O apaixonado até tem esperança: “lembrando em cada riso teu qualquer bandeira” e fica ansioso esperando ser correspondido: “fechando e abrindo a geladeira a noite inteira”.

Cazuza e Frejat | Foto: Reprodução Site Oficial
Cazuza e Frejat | Foto: Reprodução Site Oficial

História da música Poema

Cazuza costumava escrever poesia desde criança e a avó materna, Alice, era a única pessoa para quem ele mostrava suas criações. Quando ela faleceu, Cazuza tinha apenas 17 anos e escreveu um poema belíssimo, que a mãe do artista – Lucinha Araújo – filha da Vó Lice – mandou fazer em bronze e colocar junto ao túmulo de sua mãe.

Nesta ocasião, a avó paterna de Cazuza, Maria José, falou para o neto que ele não esperasse ela morrer para fazer também um poema para ela. E assim aconteceu: no mesmo ano, 1975, Cazuza escreveu um poema para avó Maria José, que o guardou com muito amor – e a sete chaves – não mostrando para ninguém.

O poeta faleceu em 1990, com apenas 32 anos, vítima de complicações por conta do vírus HIV e a avó paterna só morreu muito tempo depois, já com 100 anos de idade. Em 1998, com o falecimento da sogra, Lucinha Araújo pediu para ficar com algumas fotografias e discos com dedicatórias, que dona Maria José tinha de Cazuza.

Junto com essas coisas, Lucinha encontrou o tal do poema, guardado há 23 anos. Ele pediu que Roberto Frejat – grande parceiro de composição de Cazuza durante muito tempo – musicasse o poema.

Quem gravou e lançou a canção – que levou o nome de Poema – foi outro grande amigo e companheiro de vida de Cazuza: Ney Matogrosso, em seu disco Olhos de Farol, abrilhantando ainda mais a obra-prima de Cazuza e Frejat e tornando-se a canção mais executada da carreira de Ney.

A canção fala da saudade de um tempo em que Cazuza era criança e o abraço da avó o consolava e confortava:

Eu hoje tive um pesadelo

E levantei atento, a tempo

Eu acordei com medo

E procurei no escuro

Alguém com o seu carinho

E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança

Do tempo que eu era criança

E o medo era motivo de choro

Desculpa pra um abraço ou um consolo”

 

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Cazuza.

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