Jantar com desconhecidos: conheça a modalidade oferecida por apps de amizade

"Hoje em dia para conhecer pessoas você tem alguns aplicativos, mas eu não quero só namoro, entende. Eu quero conhecer pessoas, quero criar conexões. O grande lance é você estar aberto porque você vai conhecer pessoas diferentes. Eu, por exemplo, deixo as conversas rolarem e aí, dependendo da mesa, você fala sobre espiritualidade, sobre trabalho, família, traumas e assim por diante. É sempre uma grande descoberta", contou.

Essa é a proposta de aplicativos como o Timeleft, que foi criado em Portugal e "desembarcou" recentemente no Brasil. Além dele, o Confra é outra plataforma parecida que também está ganhando o público interessado em novas amizades.

Pra ter acesso ao jantar com desconhecidos, o usuário faz um cadastro nos aplicativos e coloca as informações básicas sobre personalidade, profissão e interesses. Depois é só escolher uma modalidade de preço pelo evento, que pode variar de R$29,90 a R$199.

A motorista de aplicativo Camilla Siqueira já acumula três idas a jantares com desconhecidos e disse que, em uma das experiências, o bate-papo com a turma foi tão legal que virou "after" até a madrugada.

"Eu vou fazer 40 anos. As minhas amigas estão casadas e eu normalmente não tenho ninguém que me acompanhe nesse tipo de programação. Eu quando vi a oportunidade achei interessante, pois poderia conhecer novas pessoas e novos restaurantes aqui no Rio. Eu acho que vale muito a pena, primeiro porque o algoritmo mandou muito bem, já que uniu as pessoas que não tinham divergências. Deu super certo e o entrosamento foi muito bom na mesa", disse.

Retomar a vida social pós-pandemia foi o que motivou a analista tributária Elida Pires a acessar o Bumble, aplicativo que tem agora a versão para amizades e não apenas para relacionamentos amorosos. Na plataforma, ela procurou pessoas com interesses em comum, deu "match" e marcou encontros. Dessa conexão inicial, segundo a analista, já surgiram amizades especiais.

"Eu trabalho e estudo de casa, então não tenho um círculo social no meu escritório e na faculdade. Dessa forma, surgiu uma necessidade de me conectar de novo com as pessoas. Eu moro em Belo Horizonte e acabei me conectando com pessoas de fora da cidade. Por exemplo, eu me conectei com uma amiga de São Paulo e a gente conversa quase que diariamente e temos interesses muito parecidos. Sempre que ela vem a Belo Horizonte, a gente se encontra e a gente já tem uma relação bem profunda", relatou.

Existem, ainda, aplicativos que promovem atividades sociais e profissionais a fim de aumentar a rede de amigos, como o Meet Up. Lá, o usuário pode fazer conexões por meio de grupos que se juntam para praticar ioga, esportes, gastronomia e até idiomas. Um exemplo é o Clube Poliglota BH, que se reúne todos os sábados para promover uma boa conversa em inglês, espanhol, francês e até em libras. O organizador Silvandino Assis disse que muita gente nova aparece depois de ver o anúncio na plataforma.

"A pessoa chega de outra cidade e já sabe que, ao chegar no Meet Up, vão ter grupos que estão se organizando em função daquele tema. É o tema que você gosta e é uma das plataformas que traz muitas pessoas pra gente, acho que toda semana chega alguém. A pessoa chega, começa conosco, frequenta, faz um grupo de amizade e aí tem os outros grupos dentro do grupo. Então, as pessoas se reúnem para ir para ao cinema e escutar músicas que gostam, por exemplo. É o que mais acontece", contou.

O antropólogo e colunista da CBN Michel Alcoforado avalia que esses aplicativos retomam as primeiras comunidades virtuais da década de 1990, quando a internet começou a ficar popular. Mas ele vê com ressalva a ideia de criar amizades duradouras dessa forma.

"Amizade que a gente gosta e quer levar para a vida toda é baseada muito na categoria fundamental no nosso modo de pensar, que é a categoria do acaso. A gente gosta de acreditar que tem um acaso, que é quase como se fosse a magia do encontro. E quando você vai para um Timeleft, uma plataforma dessa já intencionado a dar conta de sair de lá com um amigo, as chances de você sair de lá com amigo são muito baixas, porque eu não tenho essas chances do acaso. A gente perde essa dimensão da vida cotidiana que é fundamental para uma amizade andar pra frente", avaliou.