Resenha: As vinhas da ira - John Steinbeck - Encanto Literário

Resenha: As vinhas da ira – John Steinbeck

Idianara Lira

Porque o homem, ao contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica do universo, cresce para além de seu trabalho, galga os degraus de suas próprias ideias, emerge acima de suas próprias realizações.” (trecho do livro)

A primeira vez que li As vinhas da ira, foi em 2010, quando cursava a faculdade de Letras e na época, a obra me impactou profundamente. Mês passado li novamente e a carga emocional de anos atrás, manteve-se intacta, ou seja, a narrativa me atingiu e emocionou da mesma forma que fizera antes.

SINOPSE:
Dez anos depois do início da Grande Depressão de 1929, Steinbeck criou um manifesto perene com foco na luta dos excluídos. As vinhas da ira representa o confronto entre indivíduo e sociedade, através da epopeia da família Joad, expulsa pela seca dos campos de algodão de Oklahoma, para tentar sobreviver como boias-frias nas plantações de frutas do Vale de Salinas, na Califórnia.

Publicado em 1939, As vinhas da ira marcou o auge da carreira de John Steinbeck, vencedor do Nobel de Literatura em 1962 e se mantém como um documento social e um marco da literatura, pois Steinbeck retratou a situação do homem moderno diante das dificuldades, a pobreza e a privação em um universo feroz, protagonizado por vítimas da competição e párias sociais.

Ao testemunhar as debilidades humanas diante de um sistema econômico implacável, nos deparamos com situações repletas de dramaticidade. O realismo do texto, com fortes tons naturalistas, expõe o escritor como experimentador de inovadoras técnicas narrativas, ricas em simbolismo e elaboração mítica.

Com maestria, John Steinbeck consegue transmitir de forma muito clara a exploração e o drama vivido pelos locatários de terras de Oklahoma nos EUA no início da década de 30, os quais lutam pela sobrevivência e pela dignidade humana em condições desesperadoras. A obra aborda ainda a importância da união familiar, a busca pelo respeito e a empatia pelo próximo.

Apesar de estarem habituados a lidar com um terrível fenômeno climático que eram as grandiosas tempestades de areia, também chamadas de Nevascas Negras (este fenômeno foi resultado direto da ação do homem sobre o ambiente e atingia as grandes pradarias dos EUA, espalhando o desespero e o caos por onde passavam na forma de enormes nuvens negras de poeira) os locatários não estavam preparados para o ávido capitalismo, que lhes expulsariam das terras onde moravam. 

“A poeira misturara-se ao ar como se formassem um só corpo; era uma emulsão de ar e de poeira. As casas foram fechadas e trapos, enfiados nas frestas das portas e das janelas, mas a poeira penetrava de maneira sutil, uma poeira fina que não se via e que se assentava qual pólen nas mesas, nas cadeiras, nos pratos de comida.” (trecho do livro)

Assim, estes moradores das regiões rurais que viviam de forma tranquila sem patrões e produtores de seus próprios alimentos, se veem de repente frente a um futuro incerto que lhes ocasionou uma devastação não apenas física, mas também moral: cercados pela exploração injusta do trabalho, a qual era praticada pelas mãos e pela intransigência dos próprios seres humanos, além de sofrerem com a falta de uma moradia (ainda que modesta) e do alimento diário necessário para sobreviver. 

O livro nos mostra uma busca frustrada que resulta apenas na ira, sentimento que se apodera das famílias em êxodo quando percebem que foram atraídas para uma falsa promessa de vida melhor. Com o decorrer da narrativa, vemos a exploração humana alcançar índices terríveis de injustiça social, violência moral e física, as quais tomam o lugar da esperança, transformando-a em desespero e culminando na luta silenciosa das greves, que buscavam, além de melhores salários, principalmente o alimento básico e vital.

“Caminhamos porque somos obrigados a caminhar. É o único motivo por que todos caminham. Porque querem alguma coisa melhor do que têm. E caminhar é a única oportunidade de se obter essa melhoria. Se querem e precisam, têm que ir buscar.” (trecho do livro)

As vinhas da ira abre os olhos do leitor para as dificuldades dos trabalhadores imigrantes e faz com que admiremos a força de vontade, caráter e a coragem com que eles lutavam diariamente para conseguirem viver sem perder seus valores humanos apesar de todas as provações. Ao retratar as dificuldades de um povo sofrido e miserável, o autor nos faz repensar nossos próprios valores dentro da sociedade e nossas atitudes e queixas perante a vida.

JOHN STEINBECK (1902-1968) construiu um lugar significativo na literatura americana como um escritor compromissado com as questões de seu país. Trabalhadores, pessoas comuns e os dramas sociais que os cercam sempre foram o tema de sua literatura.
O autor escreve sobre a consciência americana e tornou-se célebre por seus textos de teor social e pela delicadeza com que tratou temas difíceis, como a pobreza durante a depressão dos anos 1930. Um dos grandes escritores do século XX, destacou-se com dois cobiçados prêmios literários concedidos em todo o mundo: o Pulitzer e o Nobel. Em 1940, a adaptação de As vinhas da ira para o cinema, estrelada por Henry Fonda, rendeu ao filme Cinco indicações ao Oscar.

ESCREVA UM COMENTÁRIO

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Post Anterior Próximo Post