Aos 28 anos, Alice Wegmann vive uma personagem que reflete a dor que mais de 800 mil mulheres vivem por ano Brasil. Ela dá vida à Carolina, que é vitima de estupro pelo próprio tio Jayme, interpretado por Murilo Benício, em Justiça 2.
O homem é dono de um supermercado que leva seu nome em Ceilândia, no Distrito Federal, e garante o sustento de toda a família. Carolina é sua sobrinha e passa dois anos da adolescência sendo vítima de abuso sexual. Traumatizada, a garota vai morar no Rio de Janeiro, buscando distância de toda a situação e lá se casa com Gabriel, vivido por Túlio Starling.
Mas anos depois, o casal passa por dificuldades financeiras e ela se vê obrigada a voltar a morar com a família: sua mãe, Júlia (Julia Lemmertz), sua tia Ingrid (Rita Assemany) e o primo Elias (Giovanni Venturini), no Distrito Federal. Em seu retorno, Carolina é assediada novamente pelo tio e decide denunciá-lo - mesmo sem apoio dos parentes, que dependem financeiramente do empresário. Ele é preso e passa sete anos na cadeia. Ao sair, é absolvido também pela família.
"É difícil falar sobre preparação para uma personagem tão forte quanto a Carolina, porque é só na hora da cena que a gente vai entendendo e descobrindo tudo. Inclusive como é que lida com tudo isso. É muito difícil", falou a atriz em conversa com a Quem sobre o preparo para a série.
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Preparo para a personagem
Parte desta construção passou pela leitura do livro Abuso, da jornalista da Globo Ana Paula Araújo. Para a publicação, ela entrevistou cerca de 100 vítimas e familiares, criminosos, psiquiatras e diversos especialistas no assunto durante quatro anos. "Tem vários relatos que se parecem muito com a história da Carolina. De silenciamento, desse não apoio da família", refletiu.
Para além da bibliografia, a vida foi a maior fonte de inspiração para se emocionar com a personagem. "São histórias que nós, mulheres, sentimos quase todos os dias na pele. A gente só vai parar com o que eles chamam de mimimi quando eles pararem de fazer esse tipo de coisa. Quando uma mulher denuncia, o mundo inteiro quer descredibilizar, quer falar: 'ah, mas não é bem assim'. Mas, sim, é bem assim. Essas pessoas são criminosas", ressalta.
"Eles são criminosos"
De olho a como a arte acaba retratando a realidade, Alice ainda pontua que precisamos estar atentos à vida. "Essas pessoas não são apenas jogadores, não são apenas tios, não são apenas pais, eles são criminosos. Então, eles têm que pagar com justiça", afirmou ao lembrar os recentes casos de Daniel Alves e Robinho, condenados e presos por estupro.
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"Não é um erro, é um crime. Isso é crime e isso precisa ser denunciado. A gente sente que vai ser difícil o mundo mudar. Mas é por isso que acho tão importante contarmos essa história", pontuou, emocionada. "Muitas mulheres e homens verão essa série e entenderão que o mundo não pode ser assim. Temos que denunciar e parar de educar os meninos para serem machistas. Assim não dá mais. Espero que essa história chegue às pessoas que passaram por isso de alguma forma", concluiu.
Justiça 2 é uma série original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo, criada e escrita por Manuela Dias, com colaboração de Walter Daguerre e João Ademir e pesquisa de Aline Maia. A direção artística é de Gustavo Fernández, direção de Pedro Peregrino, Ricardo França e Mariana Betti, produção executiva de Luciana Monteiro e direção de gênero de José Luiz Villamarim. A antologia contará com a liberação de quatro episódios por semana, sempre às quintas-feiras.