O casal real que mudou a cultura e os costumes em seu país e no exterior
- Lucinda Hawksley
- Da BBC Culture
Quando, em 1837, a rainha Vitória herdou o trono britânico, poucas semanas depois de ter completado 18 anos e após uma longa linhagem de monarcas homens, ela foi recebida como o símbolo de uma nova era no país.
E, naturalmente, logo começaram as especulações em torno de quem seria seu futuro marido. Sua mãe e o governo gostariam que ela se casasse com o príncipe Ernst, seu primo e filho mais velho do Duque de Saxe-Coburgo-Gota.
Mas Victoria se apaixonou pelo irmão caçula de Ernst, Albert, deixando os súditos deliciados com a ideia de um genuíno casamento por amor – e não por interesses, como costumavam ser as uniões reais de então.
O profundo afeto entre a rainha e o príncipe-consorte mudou para sempre a cultura britânica e até a ocidental – muitas tradições que mantemos hoje vieram do casamento de Vitória e Albert.
Anel de noivado e árvore de Natal
Tanto a rainha quanto o marido eram artistas talentosos e grandes colecionadores. Além de pinturas e esculturas, o casal gostava de trocar joias, o que ajudou a impulsionar este setor na época.
Quando o príncipe Albert deu à rainha um anel de noivado – um costume nada difundido na primeira metade do século 19 -, ele lançou uma moda que dura até hoje.
A troca de presentes que fazemos atualmente também se deve aos mimos de Albert para Vitória e dela ao marido. Eles se presenteavam a cada aniversário e a cada novo ano do casamento, assim como no Natal. O príncipe, sendo alemão, introduziu na Grã-Bretanha a tradição de ter uma árvore de Natal em casa.
Eles adoravam surpreender um ao outro em seus presentes. Em 1843, no 24º aniversário de Albert, a rainha encomendou ao pintor alemão Franz Winterhalter um retrato dela em uma pose considerada bastante sensual. Em seus diários, Vitória sempre descrevia o quadro como o favorito do marido.
Valorização de britânicos
Apesar de a rainha normalmente preferir artistas alemães, nacionalidade também de sua mãe, ela costumava comprar obras de britânicos.
No Natal de 1841, Vitória deu a Albert uma pintura de seu cachorro preferido, feita por Edwin Landseer, que acabou se tornando um dos principais retratistas dos animais domésticos do casal.
A monarca também adorava a obra do rebelde John Everett Millais, cujo retrato do primeiro-ministro Benjamin Disraeli, muito admirado por Vitória, foi decorado com uma moldura negra por ocasião de sua morte, a pedido dela.
Em meados da década de 1850, o jovem Lorde Leighton soube que teria uma carreira de sucesso quando sua primeira grande obra foi adquirida por Vitória.
Sem inibições
Apesar de reinar em uma época em que a simples exposição de um tornozelo feminino causava escândalo, a rainha gostava de viver rodeada de estátuas e pinturas de figuras nuas. O artista William Edward Frost era famoso por retratar corpos nus, e vendeu muitos quadros para Vitória e Albert.
Em seu aniversário de 1857, o príncipe-consorte ganhou da esposa uma estátua de Lady Godiva, modelada sensualmente em prata, ouro e laca. O autor era o escultor francês Pierre-Émile Jeannest, cuja obra Albert tinha elogiado na Grande Exposição de 1851, em Londres.
Albert tinha uma visão progressista das artes e se tornou membro da Sociedade Real de Literatura. Já a rainha era mais discreta. Ela adorava poesia, principalmente de Lorde Tennyson, afirmando, certa vez, que seu poema In Memoriam, que fala de luto, a consolou quando o marido morreu.
Vitória, no entanto, desprezava a moda corrente dos romances, principalmente se voltados para o público feminino. Ela despediu a ama de suas filhas quando descobriu que ela permitiu que as princesas lessem um romance em francês.
Lançadores de tendências
Os autores escoceses Robert Louis Stevenson e Walter Scott também devem seu sucesso a Vitória, que reinou em um período em que a rivalidade entre a Inglaterra e a Escócia estava no auge. O casal real era apaixonado pela Escócia e visitava o castelo de Balmoral sempre que podia, dando início a um interesse maior dos ingleses por seus vizinhos do norte.
De repente, o padrão tartan se tornou moda, sendo adotado pelas casas de alta costura. Os livros de Walter Scott se popularizaram, e a indústria turística escocesa floresceu.
A rainha Vitória também foi uma das primeiras a admirar uma das novidades de sua época: a fotografia. Ela foi a primeira monarca britânica a ter praticamente todo o seu reinado registrado em fotos.
O casal começou a colecionar imagens em 1842 e também gostava de posar para fotógrafos, ajudando a fotografia a ganhar a atenção do grande público em toda a Grã-Bretanha.
O teatro e a música também receberam grande apoio da monarca, que frequentava concertos e espetáculos. Vitória foi a primeira da coroa britânica a aceitar como nobre a profissão de ator, dando o título de cavaleiro a Henry Irving e de dama a Ellen Terry.
Colecionadores de arte como a rainha e seu marido foram fundamentais para garantir o patrimônio artístico da Grã-Bretanha, e seu amor pelas artes ajudou a transformar o país.
Em um mundo ainda dominado pela rigidez do sistema de classes, uma camada da sociedade completamente nova – a classe artística – foi criada durante o reinado de Vitória. Já nas últimas décadas do século 19, artistas, artesãos, escritores e atores começaram a ser considerados uma nova elite.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Culture.