A “afinidade” entre a música de intervenção e a mensagem de libertação cristã | Sete Margens

Alfredo Teixeira em conferência dia 16

A “afinidade” entre a música de intervenção e a mensagem de libertação cristã

| 14 Abr 2024

25 Abril capitular, 25Abril, Catarina Castel-Branco, Mendo Castro Henriques

Cartaz 50 anos do 25 de Abril, com desenho de Catarina Castel-Branco e frase de Mendo Castro Henriques, para exposição na Galeria Diferença, a partir de 23 Abril 2024, nos 50 anos do 25 Abril 1974. Imagem cedida pelos autores.

Podem algumas canções de intervenção ligadas à Revolução de 25 de Abril de 1974 relacionar-se com o catolicismo? Sem querer “batizar” aquelas músicas, o compositor e antropólogo Alfredo Teixeira vai procurar mostrar que há uma “afinidade” que une alguma linguagem bíblica e cristã à música de cantores como José Afonso, José Mário Branco, Lopes-Graça, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho e outros. Esse será um dos motes para um debate sobre o tema “A cantiga está na rua”, que decorre através de videoconferência na próxima terça-feira, 16, a partir das 18h30. 

Alfredo Teixeira, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, antecipa ao 7MARGENS a conversa de dia 16, que será promovida pelo Centro de Reflexão Cristã. Nela vai referir “um traço que porventura é menos habitual” nos pontos de vista de diversas pessoas que trabalham estes temas: “A forte afinidade que o universo musical da canção de intervenção tem com o que se passava também no espaço das comunidades católicas”. Há uma grande relação, acrescenta, entre algumas imagens bíblicas e as realidades do povo oprimido, que anseia por liberdade e um futuro melhor: “Não quero, apesar de tudo, ‘batizar’ a canção de intervenção, nem quero fazer dos cantores de intervenção necessariamente cantores religiosos. Não é disso que se trata, mas antes de perceber que, de facto, há um universo de representações, de linguagens que, num dado momento, se cruzam e alargam, obviamente, a sua influência.”

João Andrade Nunes, Alfredo Teixeira, música litúrgica, São Tomás de Aquino

Alfredo Teixeira: “Há um universo de representações e linguagens que se cruzam entre a canção de intervenção e as comunidades católicas” Foto © João Andrade Nunes.

Fernando Lopes-Graça, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, José Mário Branco e Sérgio Godinho são alguns dos nomes cujas canções estarão em foco na intervenção de Alfredo Teixeira. “Estamos a falar de vários cantores que lançam discos nessa altura [no início dos anos 1970] e todos eles têm esta marca forte de presença, de imagens e linguagens de intervenção, sempre muito próximas de uma semântica da libertação, que tem fortes contactos também com o imaginário cristão”, sublinha Teixeira. Para ele, o universo da canção de intervenção foi, sem dúvida, um dos suportes mais importantes da Revolução do 25 de Abril, dando como exemplos os temas Acordai, de Lopes-Graça, ou Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, de José Mário Branco. 

Quando questionado sobre que melodias ligadas ao 25 de Abril mais o marcaram, o compositor remete para o seu universo de memórias pessoais. “Quando aconteceu o 25 de Abril, eu tinha nove anos. Estava presente em grupos de crianças e adolescentes no universo paroquial católico e, portanto, tenho uma memória clara de cantar algumas dessas canções”, conta.

Fanhais: "Para quem conviveu com Zeca, é evidente que deixa o exemplo de um homem que pôs toda a sua arte ao serviço da cidadania." Na imagem, Zeca Afonso a escrever. Foto © Francisco Fanhais, cedida pelo autor.

José Afonso, diz Alfredo Teixeira, é o músico que talvez mais o tenha marcado. Na imagem, Zeca a escrever. Foto © Francisco Fanhais, cedida pelo autor.

José Afonso, diz, é o músico que talvez mais o tenha marcado. “Nos [primeiros anos] da minha juventude iniciei uma atividade também composicional, que ainda hoje conservo e, nesse contexto, comecei a trabalhar sobre estas canções. Algumas das minhas primeiras composições para coro são, inclusive, reescritas e harmonizadas a partir de canções do Zeca Afonso”.

Alfredo Teixeira sintetiza: “Terei como objetivo demonstrar que, de alguma maneira, o 25 de Abril, que é conhecido como a Revolução dos Cravos, poderia ter também um outro nome, que é a Revolução da Canção”, esclarece o antropólogo. “O processo da Revolução é um golpe militar, que teve no Movimento das Forças Armadas um operador essencial. Porém, é também uma revolução cultural. E a canção é, desse ponto de vista, um laboratório muito interessante para compreender essa transformação”, acrescenta.

O co-autor, com João Andrade Nunes, de Vimos do Mar e da Montanha, classifica a Revolução de Abril como “uma espécie de lugar de encontro”. “Quando observamos as fotografias de alguns dos grandes fotógrafos, fotojornalistas que acompanharam os dias da revolução, percebemos que a rua parece ser um lugar de festa. Vemos militares, junto de crianças e de pessoas que tocam instrumentos musicais, que acenam com gestos de alegria, uma espécie de misto entre uma ação militar e uma ação festiva, que é uma coisa bastante paradoxal”, observa. 

Alfredo Teixeira convida todas as pessoas interessadas no tema da canção de intervenção ou que queiram aprender um pouco sobre ele a assistirem a esta conferência. O acesso à sessão pode ser feito através de um link do Zoom. 

Entre outras, Alfredo Teixeira abordará ainda estas músicas:

Trova do Vento Que Passa, por Adriano Correia de Oliveira

 

Os Homens que Vão Para a Guerra, de Lopes-Graça

 

Sou Barco, de Luís Cília

 

Balada do Outono, de Zeca Afonso

 

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