Mesmo com mais de 40 anos de carreira na TV, no teatro e no cinema, Lilia Cabral define seu papel em "Fuzuê" como diferente de todos os que já viveu. Na trama de Gustavo Reiz, a atriz interpreta Bebel Montebello, uma mulher elegante e discreta, mãe de Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e avó de Bernardo (Theo Matos). As características da personagem, como doçura, generosidade e amabilidade, foram determinantes para Lilia decidir aceitar o trabalho na novela das 19h.
— As pessoas gostam muito de ver uma transformação. A mudança não está no visual, mas na alma. Está em como o personagem fala e se coloca. Essa é a grande transformação. Não adianta vir toda estilizada quando não se tem o que dizer. Começo meus personagens sempre de dentro para fora. Nunca de fora para dentro. Bebel não podia ser diferente. É elegante, mas sem exagero. É uma mulher cuja elegância está no comportamento. Não precisa estar cheia de pulseiras e brincos para mostrar que é chique. Pode estar de jeans — avalia a atriz.
Na trama, Bebel é viúva de César (Leopoldo Pacheco) e acaba dando chance a um antigo amor, Nero (Edson Celulari). O romance entre os dois, inclusive, era algo muito esperado pelo público. Lilia, no entanto, rejeita o rótulo de "amor maduro" para o casal:
— Nem questiono se é um amor maduro. A vida inteira isso aconteceu. Já vi na minha própria família, onde teve gente que perdeu marido cedo e de repente retomou a vida. A gente abre o coração sempre. O que gosto de ver é uma torcida de gente jovem olhando pra gente como um casal, não como duas pessoas maduras, e torcendo para que dê certo. O público entendeu que tanto o Nero como a Bebel podem começar outra vida e ser felizes.
Desde o início de "Fuzuê", o público também se encantou com as cenas fofas entre Lilia Cabral e Theo Matos. Os dois já fizeram, por exemplo, uma cena dançando a música de abertura da novela, de Michel Teló:
— O Theo é muito especial. É um menino inteligente, carinhoso e disciplinado. Ele sabe a hora que tem para brincar e sabe ouvir. Responde ao que pedem. Me divirto com ele.
- TV e famosos: se inscreva no canal da coluna Play no WhatsApp
Apesar de ser um dos grandes nomes da teledramaturgia, Lilia só conquistou sua primeira protagonista no horário nobre em 2011, em "Fina estampa", de Aguinaldo Silva. Na época, tinha 54 anos e fez muito sucesso como a faz-tudo Griselda. Atualmente com 66, a atriz faz uma análise sobre etarismo, que é o preconceito contra qualquer pessoa baseado em sua idade:
— Às vezes a vida está mais favorável para personagens mais velhos e às vezes a ter personagens mais novos. Não penso muito nisso. Não sou de ficar esperando acontecer. A gente corre atrás e cria. A maturidade mostra que não há necessidade de ficar o tempo todo mostrando o seu trabalho. O bom é fazer bons trabalhos, bons personagens. Fico orgulhosa dos que faço.
Lilia sempre esteve atenta aos cuidados com o corpo e a aparência, também instrumentos do seu trabalho na TV:
— Gostaria de malhar mais, mas malho pouco quando estou trabalhando. Gosto de andar, isso eu faço. O corpo tem que ter exercício, sim, mas tem que fechar a boca também. A maturidade faz você pensar em comer diferente. Na hora do almoço, se estou na TV, vou procurar comer sempre algo leve, não gorduroso. Sempre levo alguma coisa leve também para que não fique pesada. Não bebo nada também, isso ajuda muito. Não bebo cerveja, não bebo champanhe nem vinho. Desde sempre. Nunca fumei também. E a genética da minha família também é boa.
Após o fim das gravações de "Fuzuê", Lilia e a filha, Giulia Bertolli, vão filmar a adaptação para o cinema do espetáculo "A lista" e planejam viajar pelo Brasil com a peça. Ela trata da relação de uma professora aposentada de Copacabana com sua vizinha em meio à pandemia da Covid-19:
— Temos o mesmo camarim. Comemos o mesmo lanche juntas. Mas, quando entramos em cena, estamos como atrizes. Acho que meu olhar para ela é de profundo respeito, profunda admiração e orgulho, mas estamos jogando. E jogamos muito bem, porque estamos numa sintonia boa.
Em agosto, Giulia, fruto do relacionamento da atriz com o economista Iwan Figueiredo, decidiu deixar a casa dos pais e morar sozinha após 26 anos:
— Dá uma ponta forte às vezes no coração, mas ela se preparou, estudou e tem autonomia. A gente educou para isso. Ela já tinha pensado nisso antes da pandemia, que só atrasou. Agora que teve a possibilidade é um crescimento. Faz parte e é necessário. A minha casa sempre estará aqui. É muito bonitinho vê-la cuidando da casa e pedindo para a gente tirar o sapato quando vamos visitá-la.