A misteriosa origem do castelo em ruínas de Loures – NiT

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A misteriosa origem do castelo em ruínas de Loures

A estrutura em Casal de Montalchique é fonte de rumore e lendas. Entre elas, que por lá esta enterrado um cofre com o dinheiro doado para a construção.
Ainda ninguém o encontrou.

Quem se aproxima de Cabeço de Montachique, em Loures, não consegue deixar de reparar nas muralhas que se erguem pela encosta da pequena localidade. Há mais de 100 anos que as ruínas do sanatório Albergaria Grandella fazem parte da paisagem e encantam os curiosos com o seu formato de estrela de sete pontas, um desenho que se destaca sobretudo quando visto de cima. Nunca chegou a ser concluído, mas nem por isso deixa de ser um lugar surpreendente — e único no País.

Corria o ano de 1918 quando Francisco de Almeida Grandella, um abastado comerciante e industrial, doava um terreno de 3.500 metros quadrados para a construção de um edifício destinado ao tratamento e internato temporário de doentes de tuberculose. Juntou-se ainda o arquiteto Rosendo Carvalheira, que criou um mega projeto para o edifício. “O conjunto de projeto é muito simples, gracioso e pitoresco e fortemente inspirado em motivos portugueses”, escrevia a “Arquitectura Portuguesa” em julho de 1918.

Entre os séculos XIX e XX, a tuberculose atingiu proporções epidémicas um pouco por toda a Europa. Embora a vacina tenha sido criada por volta de 1906, o mundo assistiu à disseminação desta doença respiratória e contagiosa com maior incidência nas classes mais pobres. Criaram-se então os sanatórios — estabelecimentos que se destinavam ao isolamento e tratamento dos doentes. Ainda assim, apesar dos benefícios do “ar fresco”, 75 por cento dos internados acabavam por morrer num prazo de cinco anos. 

Naquele tempo, em Portugal, o Cabeço de Montachique ficava longe de tudo e seria, à partida, o local ideal para a implantação de um sanatório, a uma altitude de 200 metros. O Sanatório Albergaria — nome que Francisco de Almeida Grandella pretendia dar ao hospital que idealizou — começou a ser construído em 1919, mas não chegou a ser acabado.

O plano inicial previa quartos para 36 doentes em regime de internato gratuito, quartos para vigilantes, uma grande cozinha, refeitório, varanda de cura, farmácia, sala de pensos, arrecadações, banhos, forno crematório para pensos, desinfeção e enfermaria de isolamento. Havia ainda espaço para 14 moradias independentes que serviriam para albergar doentes ricos.

O sanatório iria ocupar uma área de 3.500 metros quadrados, incluindo os jardins. O arquiteto Rosendo Carvalheira juntou-se ao projeto e foi o responsável por projetar a estrela de sete pontas, inspirada num dos graus da maçonaria, que representa o “mestre perfeito”. Morreu antes de conseguir assistir ao lançamento da primeira pedra em 1919.

Quanto ao investimento, foi feita a venda de rifas, a cinco cêntimos, para angariar dinheiro para avançar com as obras, que pararam pouco depois de começarem por falta de verbas. Acabado de sair da Primeira Guerra Mundial, o País atravessava uma crise e Grandella, o principal acionista, acabaria por falir. Há quem diga que o responsável, desanimado com a situação, enterrou por ali um cofre com o dinheiro doado para a construção.

O edifício ficou inacabado até aos dias de hoje — mas ainda surgiram várias tentativas de o recuperar. Todas elas sem efeito. Quando Inácio Roseiro comprou o sanatório a meias com um amigo, há 20 anos, tinha intenção de recuperar as ruínas e fazer ali um lar de idosos. 

Devido a conflitos com a Câmara Municipal de Loures não foi possível concretizar o projeto, mas não desistiu. Mais tarde, o proprietário mandou projetar um hotel, aproveitando o traçado original e os materiais usados pelo arquiteto Rosendo Carvalheira, mas a ideia também não passou do papel.

Cansado de tantos entraves, decidiu colocar a propriedade à venda em 2018 por pouco mais de 800 mil euros, mas, até hoje, ninguém a comprou. Em 2020 ainda foi colocada em discussão pública a possibilidade de demolição das ruínas. A proposta originou uma petição com o objetivo de preservar a atual construção.

“As antigas ruínas do Sanatório Grandella representam não só a memória coletiva da população do Cabeço de Montachique, como marcam a importância histórica da zona, em determinado contexto sócio cronológico, nomeadamente no combate ao surto de tuberculose que atingia proporções epidémicas em toda Europa e Portugal na primeira década do século XX”, lê-se na petição.

Os residentes adotaram as ruínas como castelo e há quem lhes chame palácio, embora a estrutura imponente tenha mais semelhanças com uma fortaleza. Apesar de nunca ter servido o seu propósito inicial, é hoje um local que suscita curiosos que querem conhecer de perto estas ruínas. 

Carregue na galeria para descobrir algumas imagens das ruínas do sanatório Albergaria Grandella.

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