Conheça W. E. B. Du Bois, um dos maiores intelectuais do movimento negro - Revista Galileu | Sociedade
  • Marília Marasciulo
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W. E. B. Du Bois em 1918. Sociólogo estadunidense foi um dos maiores intelectuais e ativista do movimento negro (Foto: Wikimedia Commons)

W. E. B. Du Bois em 1918. Sociólogo estadunidense foi um dos maiores intelectuais e ativista do movimento negro (Foto: Wikimedia Commons)

Muito antes do famoso movimento por direitos civis liderado por Martin Luther King Jr., um sociólogo e historiador negro lançava as bases para a luta contra o racismo e justiça social que perduram até hoje, um século e meio depois de seu nascimento.

William Edward Burghardt Du Bois, nascido em 23 de fevereiro de 1868 no interior do estado de Massachusetts, é uma das figuras mais importantes do movimento negro estadunidense: além de publicar diversos livros, foi um dos fundadores da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), a maior e mais influente organização por direitos civis dos EUA. Também foi um grande defensor do pan-africanismo, que defendia a libertação das colônias africanas das potências europeias e buscava fortalecer os laços e a solidariedade entre os diferentes grupos africanos vítimas da diáspora.

Du Bois viveu até os 95 anos e morreu em Accra, Gana, em 27 de agosto de 1963, um dia antes de Martin Luther King Jr. proclamar seu famoso discurso “Eu Tenho Um Sonho” em Washington. Conheça mais sobre sua história:

Leis Jim Crow e racismo
Du Bois cresceu em uma comunidade relativamente integrada, frequentando a escola pública local e sendo encorajado pelos professores a seguir a carreira intelectual. Apesar de ter experimentado racismo nesse contexto, como relata em sua obra, foi ao se mudar para Nashville para cursar faculdade que se deparou com o racismo sulista. Na época, vigoravam as leis Jim Crow, que impunham segregação racial. Embora tivesse acreditado que as ciências sociais pudessem fornecer o conhecimento necessário para o combate ao racismo, sua experiência no sul o fez perceber que mudanças sociais profundas só seriam alcançadas com protestos e ativismo.

Oposição a Booker T. Washington
A visão de Du Bois ia contra a do principal líder negro da época, Booker T. Washington. Ele pregava que os negros deveriam aceitar a discriminação e ganhar o respeito dos brancos trabalhando duro e prosperando economicamente. Para Du Bois, em vez de libertar os negros da opressão, tal atitude só serviria para perpetuá-la.

Doutorado em Harvard
Ao completar os estudos na Universidade Fisk, ingressou em Harvard, onde estudou história de 1888 a 1890. No ano seguinte, continuou os estudos em Harvard, ingressando no doutorado de sociologia. Em 1892, recebeu uma bolsa de estudos para frequentar a Universidade de Berlim e realizar parte de seus trabalhos acadêmicos por lá. De volta aos Estados Unidos, completou o doutorado e, em 1895, tornou-se o primeiro homem negro do país a receber um Ph.D. da Universidade Harvard.

As Almas da Gente Negra
Du Bois publicou mais de 20 livros ao longo de sua vida, além de publicações acadêmicas, novelas, poesia e estudos científicos. Um dos mais marcantes foi a pesquisa feita sobre a população negra da Filadélfia, a primeira do país que se propôs a identificar desafios sociais da comunidade e para a qual ele entrevistou 5 mil pessoas. Sua maior obra, porém, é As Almas da Gente Negra, publicada em 1903, na qual escreveu sobre a dificuldade existencial de grupos oprimidos a partir de sua própria experiência. Assim, ele definiu o conceito de “dupla consciência”: a necessidade de ter a consciência sobre como esse grupos enxergam a si mesmos e como o mundo os enxerga.

Ativismo
Em 1905, Brooke T. Washington ajudou a estabelecer o Compromisso de Atlanta, segundo o qual negros concordariam em não protestar por direitos civis, desde que tivessem acesso a empregos e justiça criminal. Em resposta, Du Bois reuniu um grupo de pensadores negros e criou o Movimento Niágara, que tinha como objetivo lutar por melhores condições de vida e direitos civis. Eles chegaram a escrever uma proclamação demandando o direito de votar e realizavam assembleias periódicas, mesmo com riscos de tais atitudes em um país segregado.

Em 1909, Du Bois participou da fundação da NAACP, e foi diretor de pesquisa e publicidade da organização até 1934. Foi também consultor na fundação das Nações Unidas em 1945, levando as demandas da comunidade afro-americana para a organização, e escreveu o manifesto “An Appeal to the World” (Um Apelo para o Mundo), em que denunciou a negligência dos Estados Unidos com os direitos humanos dos negros.

Comunismo
Du Bois acreditava que o capitalismo era uma das principais causas do racismo, e durante toda a vida apoiou ideais socialistas. Em 1951, por causa de seu apoio a ideais russos, foi acusado de ser um agente não registrado de uma potência estrangeira. Embora tenha sido considerado inocente, Du Bois se tornou desiludido com o país natal. Em 1961, tornou-se membro do Partido Comunista e se mudou para Gana, obtendo a cidadania e onde viveu até sua morte.