Virginia Woolf: conheça 7 curiosidades sobre a escritora - Revista Galileu | Cultura
  • Vitória Batistoti*
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Retrato da escritora britânica Virginia Woolf feito pelo fotógrafo George Charles Beresford, em agosto de 1902 (Foto: Wikicommus)

Retrato da escritora britânica Virginia Woolf feito pelo fotógrafo George Charles Beresford, em agosto de 1902 (Foto: Wikicommus)

Com nove romances publicados e trinta livros de outros gêneros, a escritora britânica Virginia Woolf se destacou como um dos principais expoentes da literatura ao longo do século 20 e permanecesse sendo um nome importante nos dias atuais.

Woolf foi revolucionária: falava sobre a figura feminina e às restrições que eram feitas às mulheres durante o período vitoriano. É dela a frase: “uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu, se ela quiser escrever ficção”.

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No dia 28 de março de 1941, Woolf tirou a própria vida por não receber nenhum diagnóstico ou tratamento para lidar com sua doença mental. Por isso, nessa data, homenageamos a história e a trajetória da escritora.

1) Adeline Virginia Stephen – seu nome de batismo – nasceu em 25 de janeiro de 1882 no distrito de Kensington, em Londres, na Inglaterra, do casal composto pela filantrópica Julia Stephen e do escritor Leslie Stephen. Devido a profissão de seu pai, desde jovem, Virginia teve contato com o mundo literário e não frequentou a escola: foi educada em casa.

2) Em 1912, Virgina se casou com o historiador Leonard Woolf, de quem herdou o sobrenome com o qual ficaria conhecida. Durante o período entreguerras (1918-1939), o casal passava o tempo realizando impressão de livros à mão – a atividade era um passatempo para Virginia quando escrever se tornava um processo estressante. Em 1917, Leonard e Virginia decidiram impressoras manual e fundaram sua própria editora, a Hogarth Press, que funcionava na sala de estar de casa. 

À frente do negócio, o casal Woolf publicou trabalhos pioneiros sobre psicanálise e obras estrangeiras traduzidas, especialmente da língua russa. Muitas obras do Grupo de Bloomsbury (círculo de intelectuais e artistas britânicos do qual Virginia e Leonard faziam parte) também foram impressas ali.

Em 1938, Virginia renunciou sua parte no negócio e Leonard encontrou um novo parceiro para o negócio, o poeta inglês John Lehmann.

Atualmente, “Hogarth” é um selo da The Crown Publishing Group, que faz parte da editora inglês Random House.

3) Como mencionado acima, Virginia fazia parte do círculo intelectual inglês denominado Grupo de Bloomsbury, que existiu entre 1905 até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Os membros da congregação moraram, trabalharam ou estudaram no bairro londrino de Bloomsbury. Alguns dos outros nomes participantes da turma são o economista John Maynard Keynes, o romancista Edward M. Forster e o escritor Lytton Strachey.

No entanto, eles não se denominavam um “grupo”: não haviam membros fixos e nem manifesto. Eram mais um bando de intelectuais contrários às convenções da vida Vitoriana e aos hábitos burgueses. Em contrapartida, eles acreditam no prazer – e isso até rendeu diversos casos amorosos entre eles. 

Esses eruditos influenciaram profundamente a literatura, a economia e questões sociais da época. No caso de Virginia, por exemplo, é notória sua contribuição para correntes do feminismo.

Em 2015, o canal britânico lançou a série Life in Squares, que traz como pano de fundo o famoso grupo. 

4) Um dos casos amorosos do Grupo de Bloomsbury era o de Virginia e o da poetisa Vita Sackville-West. Mesmo as duas sendo casadas com homens, elas nutriram uma relação amorosa intensa. Vale ressaltar que Vita foi a inspiração de Virginia ao escrever a obra Orlando (1928). Os relatos dessa paixão estão datados em diversas cartas, documentadas no livro The 50 Greatest Love Letters of All Time.

5)  Aos 18 anos, Woolf começou a escrever profissionalmente, iniciando seu trabalho com um artigo jornalístico. Seu primeiro romance saiu apenas anos mais tarde e ganhou o nome de A Viagem (1915), baseado em uma peça de teatro que havia escrito anos antes. A partir da primeira obra, a escritora passou a publicar diversos romances e ensaio e ganhou o título de uma das maiores romancistas do século 20 e uma das principais modernistas.

Os principais livros da escritora são Mrs. Dalloway (1925), Ao Farol (1927), Orlando (1928) e Um Teto Todo Seu (1929). Essas e suas obras restantes são marcadas pelo fluxo de consciência, técnica literária em que se escreve o processo de pensamento não-linear de uma personagem. A prática exime o uso de pontuação, por exemplo, porém, confere uma maior aproximação do leitor do com o inconsciente dos personagens (em termos gerais, é semelhante a um monólogo interior). 

Woolf também explora a sensibilidade e a psicologia de suas personagens, buscando sempre a identidade delas. 

O casal de intelectuais Virginia e Leonard Woolf (Foto: Wikicommus)

O casal de intelectuais Virginia e Leonard Woolf (Foto: Wikicommus)

6) A vida de Virginia foi marcada por tragédias. Aos 13 anos de idade, a garota vivenciou a morte de sua mãe. Sua meia irmã, Stella Duckworth (filha do seu pai com uma primeira esposa) passou a assumir o comando do lar, mas casou-se nos anos seguintes e morreu em sua lua de mel devido uma peritonite.

Anos depois, o pai de Woolf, Leslie, morreu de câncer. Esse episódio foi a causa de seu segundo momento de colapso mental.

Há biógrafos que digam, ainda, que Virginia vivenciou episódios de abuso quando ela tinha 6 anos de idade pelos seus dois meios-irmãos homens, Gerald e George Duckworth. Acredita-se que tais situações tenham causado trauma na escritora e que seriam o motivo para seus episódios depressivos e eventual suicídio. 

Em 1941, após o bombardeamento de sua casa em Londres durante a Segunda Guerra Mundial,  Woolf enfrentou um período de queda de criatividade em sua escrita e uma época depressiva, tal qual vivenciou quando criança. Em 28 de março, ela encheu os bolsos do casaco com pedras e se afogou no Rio Ouse, próximo à sua casa. Antes de partir, ela deixou um bilhete para seu marido, Leonard:

"Querido,
Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós."


7) Naquela época, a escritora nunca teve um diagnóstico de sua doença mental. Porém, hoje, muitos autores tentam descobrir o que ela enfrentava e imagina-se que tenha sido uma doença maníaco-depressiva. O escritor norte-americano Stephen Trombley acredita que Woolf tenha sido “vítima da medicina masculina”, pois nunca recebeu um nome ou tratamento para aquilo o que sentia. Há também quem diga que o que ela sofria seria um transtorno bipolar

8) É inegável a contribuição de Woolf para as correntes do feminismo e para os temas de lesbianismo. Muitas de suas obras, por exemplo, tratam da dificuldade que mulheres têm de se dedicarem à vida intelectual, pois enfrentam situações econômicas desproporcionais aos homens. Ela acreditava que a educação era o futuro para mudar essa realidade.

*Com supervisão de Thiago Tanji

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