4 pontos para entender o pensamento do filósofo Thomas Hobbes - Revista Galileu | Política
  • Marília Marasciulo
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Thomas Hobbes discorreu sobre a ideia de contrato social como fundamento da vida política (Foto: Wikimedia Commons)

Thomas Hobbes discorreu sobre a ideia de contrato social como fundamento da vida política (Foto: Wikimedia Commons)

O inglês Thomas Hobbes é considerado um dos pais da filosofia política. Sua obra-prima, O Leviatã, expõe a natureza antipolítica humana e a necessidade de, a partir de um contrato social, estabelecer um poder soberano que garanta a paz e a estabilidade. Hobbes também contribuiu para outros campos, como direito, história, ética e física, esse último principalmente por seus estudos em óptica.

Nascido em 5 de abril de 1588 no sudoeste da Inglaterra, desde cedo Hobbes teve uma educação em instituições tradicionais. Depois de obter o bacharelado em artes pela Universidade de Cambridge, foi indicado em 1608 para ser tutor do filho de uma família nobre, os Cavendish, condes de Devonshire. Com eles, incrementou sua formação intelectual e conheceu a Europa em uma viagem que durou de 1610 a 1615.

Diante das tensões entre os partidários da família real e os do parlamento, que culminaram na Guerra Civil Inglesa em 1642, Hobbes decidiu se exilar em Paris dois anos antes do início do conflito. Por sua relação com a nobreza, mantinha uma postura pró-monarquia, o que poderia colocá-lo em risco. Em Paris, serviu como professor de matemática do príncipe herdeiro Charles II e começou a escrever o que seria sua obra-prima.

O Leviatã foi publicado em 1651, mesmo ano em que terminou a Guerra Civil. Escrito e publicado em inglês (fato atípico para a época, quando as principais obras eram em latim), o livro buscou reafirmar a necessidade de um poder soberano e centralizador como forma de garantir a ordem. Não surtiu o efeito desejado, uma vez que o resultado do conflito foi a instituição de um governo parlamentarista e a redução do poder da monarquia.

No entanto, a obra e as teorias de Hobbes, que viveu até o dia 4 de dezembro de 1679, perduram até hoje como os fundamentos da filosofia política. Conheça os pontos essenciais:

1. Materialismo
A filosofia de Hobbes é materialista em essência. Primeiramente, busca refutar a metafísica, ou seja, afirma que tudo tem existência material. Disso deriva sua visão mecanicista, em que todos os fenômenos são explicados por força e movimento. Daí que o sistema filosófico de Hobbes aplica esse fundamento não apenas para explicar a ciência física, mas também a natureza humana e a política.

2. Natureza humana
Hobbes ousou diferir de Aristóteles. O filósofo grego defendia que o ser humano é naturalmente propenso a viver na polis, e não é capaz de compreender plenamente sua natureza até que exerça o papel de cidadão. Já o inglês contraria essa tese: para ele, o humano é naturalmente inadequado para viver em sociedade; julgando-se detentor de liberdade plena, ambiciona conquistar seus próprios interesses e prevalecer sobre os outros.

3. Contrato social
Para Hobbes, “o homem é o lobo do homem”. Ou seja, segundo sua tese da natureza humana, os indivíduos, buscando realizar seus interesses pessoais, acabariam criando uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). Ao mesmo tempo, por sua natureza mecanicista, o humano é um ser de matéria que tende a continuar em movimento, e que a maneira de obter isso é preservando a própria vida. Portanto, o único jeito de impedir a guerra total é os indivíduos abrirem mão da liberdade em troca de segurança e paz, assinando um contrato social que transfere todo o poder a um único soberano.

4. O Leviatã

Capa do livro O Leviatã, de Thomas Hobbes (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

Capa do livro O Leviatã, de Thomas Hobbes (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

Hobbes utiliza a imagem da besta marinha colossal do Antigo Testamento para ilustrar o poder governo central, que pelo contrato social teria o dever de ordenar todas as decisões da sociedade, livrando os indivíduos de matarem uns aos outros. Por sua relação com a nobreza inglesa, o Leviatã de Hobbes seria a monarquia absolutista e centralizadora; todavia, a metáfora cabe hoje ao Estado de modo geral, seja ele democrático ou não.