Força de trabalho imigrante. E dinheiro. Muito dinheiro. A seleção do Catar chega para o seu primeiro jogo em uma Copa do Mundo com uma trajetória que se confunde muito com a história do próprio país. Após 12 anos desde que foi eleita a sede do Mundial, milhões de dólares foram gastos e muitos jogadores formados. E importados.
A lista dos 26 convocados do técnico Félix Sánchez tem jogadores que nasceram em nove países diferentes, incluindo o Catar. A comissão técnica é espanhola. Um espelho da nação que tem quase 90% da população composta por estrangeiros, que fazem tudo girar.
Catar x Equador abre a Copa do Mundo neste domingo, às 13h (de Brasília), com transmissão da TV Globo, ge e sportv
Catar e Equador se enfrentam na abertura da Copa do Mundo 2022
Catar é uma nação recente. Sua independência veio em 1971, e a história de sua seleção também começa naquela década. O país árabe descobriu suas reservas de petróleo e gás natural, que turbinam a economia, na década de 1940. Mas apenas neste século abriu os olhos para o mundo.
O país atraiu megaeventos e mirou no esporte para melhorar sua imagem diante da comunidade internacional. E para manter tudo em pé, cerca de 750 mil indianos, 400 mil nepaleses, 300 mil egípcios e outros milhares de centenas de nacionalidades diferentes trabalham no Catar. Os cataris são cerca de 340 mil. É quem tem o dinheiro e manda, dizem os trabalhadores imigrantes.
SELEÇÃO DE IMIGRANTES
JOGADOR | POSIÇÃO | CLUBE | ONDE NASCEU | ORIGEM/2ªNAC. | PROFISSIONALIZAÇÃO |
Boualem Khoukhi | DEFENSOR | Al-Sadd | Argélia | Argélia | Catar |
Ali Asad | MEIO-CAMPISTA | Al-Sadd | Bahrain | Bahrain | Catar |
Salem Al-Hajri | MEIO-CAMPISTA | Al-Sadd | Bahrain | Bahrain | Catar |
Saad Alsheeb | GOLEIRO | Al-Sadd | Catar | Catar | Catar |
Tarek Salman | DEFENSOR | Al-Sadd | Catar | Catar | Catar |
Homam Ahmed | DEFENSOR | Al-Gharafa | Catar | Catar | Catar |
Jassem Gaber | DEFENSOR | Al-Arabi | Catar | Catar | Catar |
Ismail Mohamad | MEIO-CAMPISTA | Al-Duhail | Catar | Catar | Catar |
Naif Al-Hadhrami | ATACANTE | Al-Rayyan | Catar | Catar | Catar |
Hassan Al-Haydos | ATACANTE | Al-Sadd | Catar | Catar | Catar |
Khalid Muneer | ATACANTE | Al-Wakrah | Catar | Catar | Catar |
Akram Afif | ATACANTE | Al-Sadd | Catar | Catar | Bélgica |
Yousef Hassan | GOLEIRO | Al-Gharafa | Catar | Egito | Catar |
Ahmed Alaaeldin | ATACANTE | Al-Gharafa | Catar | Egito | Catar |
Meshaal Barsham | GOLEIRO | Al-Sadd | Catar | Sudão | Catar |
Abdelkarim Hassan | DEFENSOR | Al-Sadd | Catar | Sudão | Catar |
Abdelaziz Hatim | MEIO-CAMPISTA | Al-Rayyan | Catar | Sudão | Catar |
Moustafa Tarek | MEIO-CAMPISTA | Al-Sadd | Egito | Egito | Catar |
Karim Boudiaf | MEIO-CAMPISTA | Al-Duhail | França | Argélia | Catar |
Mohamed Muntari | ATACANTE | Al-Duhail | Gana | Gana | Catar |
Bassam Al-Rawi | DEFENSOR | Al-Duhail | Iraque | Iraque | Catar |
Mohammed Waad | MEIO-CAMPISTA | Al-Sadd | Iraque | Iraque | Catar |
Pedro Miguel | DEFENSOR | Al-Sadd | Portugal | Cabo Verde | Portugal |
Assim Madibo | MEIO-CAMPISTA | Al-Duhail | Sudão | Mali | Espanha |
Musaab Khidir | DEFENSOR | Al-Sadd | Sudão | Sudão | Catar |
Almoez Ali | ATACANTE | Al-Duhail | Sudão | Sudão | Áustria |
É como ocorre na seleção. O craque do time, Almoez Ali, nasceu no Sudão. Há ainda um argelino, dois do Bahrain, um argelino nascido na França, um ganês, dois iraquianos, um português e mais dois sudaneses. Dos 14 jogadores nascidos no Catar, cinco têm outra nacionalidade.
Mas há algo em comum a quase todos os jogadores: eles se profissionalizaram no Catar. Apenas quatro atletas dos 26 convocados não começaram sua carreira no país árabe. O futebol virou uma política de Estado, e a captação de talentos foi um dos métodos para atingir o sucesso.
Academia de U$ 1,3 bilhão formou a seleção
Uma moderna academia esportiva que custou U$ 1,3 bilhão, fundada em 2004, formou 18 dos 26 jogadores do Catar. A Aspire é peça fundamental do projeto catari para desenvolver o esporte no país, especialmente o futebol. O técnico Félix Sánchez deixou a base do Barcelona para se juntar ao projeto em 2006.
Ele comanda a seleção desde 2017 e, na véspera da estreia na Copa do Mundo, exaltou o orgulho de ver tal trajetória levar ao Mundial.
“Agora é a culminação de um ciclo de 16 anos trabalhando no país. Me sinto sortudo. Fiz parte de um projeto no mundo do futebol. Não é habitual estar 16 anos no mesmo país, evoluindo e seguindo os passos de jogadores e da equipe nacional”, afirmou Sánchez.
– Não achei que ia estar aqui sentado como comandante da seleção nacional em uma Copa do Mundo. É um orgulho muito grande, não só por mim e por todos os jogadores – completa o espanhol.
A evolução do futebol no país, mesmo que financiada por muito dinheiro, foi reconhecida pelo técnico rival deste domingo, Gustavo Alfaro.
– O Catar vem preparando para essa partida faz mais de 12 anos. E faz cinco, seis meses que têm um grupo formado. Isso faz que seja uma seleção muito ordenada nesse aspecto. Claro, que não tem jogadores nas ligas mais importantes da Europa. Mas uma equipe bem ordenada pode complicar a vida de qualquer um. Não é um dado menor que Catar foi campeão da Ásia. Tem uma conquista – disse o treinador do Equador.
“Não é um mero protagonista que vem jogar porque é o que organiza. Trabalharam como academia, como formação, como política”, analisou o argentino.
Tudo isso levou o Catar da 93ª posição no ranking da Fifa no fim de 2018 ao 50º posto atualmente. E aumentou a esperança de surpreender no Mundial.