Com cinco cortes na convocação (Daizen Maeda, Atsuki Ito, Kyogo Furuhashi, Hayao Kawabe e Kaoru Mitoma, todos por lesão), além de cinco jogadores que não foram chamados porque já estavam lesionados (Ko Itakura, Daiki Hashioka, Reo Hatate, Keito Nakamura e Kosuke Nakamura), o Japão entrou em campo praticamente com uma seleção reserva. No máximo, dá para dizer que hoje são titulares Keisuke Osako, Yuta Nakayama (que pela primeira vez foi capitão) e Ayase Ueda, mas todos em posições que estão em aberto. Outro fator importante é o pouco tempo de treino. Alguns jogadores se apresentaram ontem ou anteontem e só treinaram uma vez antes deste jogo. Até por isso o técnico Hajime Moriyasu disse que priorizaria nesta primeira partida os jogadores que puderam se apresentar antes e treinar mais.

Mianmar já foi uma força do futebol asiático até os anos 1970, quando era considerada superior tecnicamente ao Japão. Seu auge foi o vice-campeonato da Copa da Ásia em 1968, quando ainda era chamada Birmânia. Aliás, foi um birmanês, Kyaw Dyn, um dos responsáveis por difundir o futebol no Japão (e o estilo de toque de bola que é usado até hoje) lá atrás no início da trajetória da seleção nipônica nos anos 1920 (saiba mais no livro Samurais Azuis). Hoje, porém, a situação é completamente diferente. Atualmente em 158º no ranking da Fifa, a seleção de Mianmar, treinada pelo alemão Michael Feichtenbeiner, está entre as mais fracas do continente e a diferença para o Japão é bem refletida no 18º lugar que o Samurais ocupam no ranking da Fifa.

Mesmo com um time bastante modificado e com pouco tempo de treino, o Japão não teve dificuldade em mandar no jogo do início ao fim sem levar um único susto e sem deixar o adversário finalizar nenhuma vez em 90 minutos. Foi 35x0 em finalizações e 15x0 em chutes no alvo. O fato de Mianmar ter entrado com uma formação extremamente defensiva, um 5-4-1 que às vezes virava até um 7-2-1 com o recuo dos meias extremos, além de não ter cometido nenhum erro clamoroso na defesa, contribuiu para o placar relativamente baixo. Inclusive o goleiro estava até gastando o relógio nas reposições quando o marcador estava 2x0 no primeiro tempo.

Normalmente, há pouco o que se aproveitar de uma vitória fácil contra um adversário muito inferior. Mas para o Japão valeu para fortalecer a competição dentro do elenco e vários jogadores que vinham perdendo espaço estavam loucos para mostrar serviço. Doan e Kamada, que ficaram até fora da última convocação, foram titulares e destaques no meio-campo, buscando jogo o tempo todo e participando da maioria das jogadas. Kamada fez um ótimo primeiro tempo e marcou um golaço de fora da área. Doan atuou os 90 minutos "em casa" (ele foi revelado pelo Gamba Osaka) e não sossegou enquanto não deixou o seu, no finalzinho. Assim como Takumi Minamino, que vem recuperando seu lugar nas convocações e deu duas assistências brilhantes hoje. Serviu também para uma grande injeção de moral em Ayase Ueda, que não tem ganhado muitos minutos no clube, mas marcou pela primeira vez em um jogo competitivo (sem ser amistoso) com a camisa da seleção (e logo um hat-trick!). Ele demorou 15 jogos até fazer seu primeiro gol pelos Samurais Azuis, mas agora já tem cinco gols nos últimos quatro jogos.

A próxima partida é dia 21/11 contra a Síria (às 11h45 no horário de Brasília), que manda o jogo em Jidá, na Arábia Saudita, e promete um desafio bem maior, já que é teoricamente o principal concorrente do grupo, e espera-se que o Japão, aí sim, escale a força máxima disponível.

Eliminatórias Asiáticas - Japão 5x0 Mianmar
Panasonic Stadium Suita - Público: 34.484
Gols: Ayase Ueda (11'), Daichi Kamada (28'), Ayase Ueda (45+3'), Ayase Ueda (50'), Ritsu Doan (86')

Notas:
Keisuke Osako - 6,0 - Foi apenas um espectador e não precisou fazer nenhuma defesa.
Seiya Maikuma - 6,5 - Fez um jogo seguro e apareceu bastante no ataque, ajudando Doan pela direita.
Shogo Taniguchi - 6,5 - Jogou com muita tranquilidade, parando com facilidade as tentativas de ataque de Mianmar e com bons passes verticais para o ataque. Saiu no intervalo.
Koki Machida - 6,5 - Não teve nenhum problema na defesa e ainda participou de algumas jogadas na frente.
Yuta Nakayama - 6,5 - Pela primeira vez usando a braçadeira de capitão, continua a ser a melhor opção para a lateral esquerda. Tem características mais defensivas, mas também participa das jogadas de ataque.
Ao Tanaka - 6,5 - Atuou como volante mais recuado no primeiro tempo e jogou mais adiantado no segundo. Deu a assistência para o gol de Kamada.
Daichi Kamada - 7,0 - Mostrou vontade e disposição no retorno à seleção. Jogou mais adiantado, não como um segundo volante, mas como um armador ao lado de Minamino. Participou bastante das jogadas de ataque com toques rápidos e boas combinações com Maikuma e Doan pela direita. Marcou um belo gol de fora da área. Foi ele quem bateu rápido a falta que originou o terceiro gol. Jogou só o primeiro tempo, mas foi o destaque japonês dos primeiros 45 minutos.
Takumi Minamino - 7,0 - Jogou não como ponta, mas como um armador caindo pelo lado esquerdo. Não fez tantas jogadas com Soma ou Nakayama, mas lançou passes decisivos, com duas belas assistências para Ueda.
Ritsu Doan - 7,5 - O mais ativo dos meio-campistas, estava sempre buscando jogo e funcionou bem especialmente nas combinações com Kamada e Maikuma. Deu uma assistência de pura classe no terceiro gol, acertou uma bola no travessão e no final marcou o gol que tanto buscava, fechando o placar em 5x0.
Yuki Soma - 6,0 - O único que não teve um momento de brilho no ataque japonês. Até participou de muitas jogadas de perigo, mas faltou precisão nos cruzamentos e também nas chances que teve de finalizar.
Ayase Ueda - 8,0 (Melhor em campo) - Aproveitou bem a chance de ser titular. Estava com fome de bola desde o início e tentava finalizar em qualquer oportunidade. Marcou três gols e saiu como o nome do jogo.
Tsuyoshi Watanabe - 6,0 - Convocado só por causa das lesões no elenco, entrou no intervalo e finalmente fez sua segunda partida pela seleção (a primeira tinha sido na Copa E-1 em 2019). Praticamente não teve trabalho na defesa, mas fez bons passes para o ataque.
Kaishu Sano - 6,5 - Destaque do Kashima Antlers, foi convocado após a lesão de Atsuki Ito e entrou no intervalo, fazendo sua estreia pela seleção. Impressionou já nos primeiros minutos em campo com bolas recuperadas e até um chute de fora da área. Literalmente, honrou o nome (em japonês, "kaishu" significa também "recuperar", e os comentaristas Atsuto Uchida e Yasutaro Matsuki não perderam tempo em fazer esse trocadilho).
Hidemasa Morita - 6,5 - Entrou no lugar de Minamino e deu sequência ao trabalho do colega, com uma bonita assistência em um passe por cima para o gol de Doan.
Mao Hosoya - 6,0 - Convocado para o lugar do lesionado Furuhashi, é o centroavante da seleção olímpica e o segundo japonês com mais gols na temporada da J.League (13). Fez sua segunda partida pela seleção (estreou ano passado pela Copa E-1). Teve alguns bons lances no ataque, mas não foi decisivo. Teve uma chance de cabecear, mas errou o timing.
Daiya Maekawa - Sem nota - Entrou nos minutos finais só para fazer sua estreia pela seleção e dar continuidade ao legado do pai, Kazuya Maekawa, que era o goleiro reserva da seleção na conquista da Copa da Ásia em 1992 e na Agonia de Doha em 1993.
Hajime Moriyasu - 6,5 - Fez o esperado, que era vencer por goleada e sem levar sustos o adversário mais fraco do grupo. Ter recuperado o rendimento de Doan, Kamada e Minamino, além de ter um centroavante fazendo hat-trick, foram os maiores pontos positivos de hoje.
(peso das notas: 5,0 = muito ruim; 5,5 = ruim; 6,0 = razoável; 6,5 = bom; 7,0 = muito bom)