Costa Rica: convocados, análise e personagens da Repescagem

Costa Rica: convocados, análise e personagens da Repescagem

Contra a Nova Zelândia, Costa Rica busca a vaga na sua terceira Copa do Mundo seguida para tentar repetir façanha de 2014.

Seleção da Costa Rica posa antes de jogo contra os Estados Unidos, válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo 2022. (EzequielL Becerra/AFP via Getty Images)

Apesar de a classificação para a Copa do Mundo FIFA de 2022, no Qatar, ter parecido uma utopia durante a maior parte da reta final das Eliminatórias da Concacaf, a Costa Rica se transformou em uma força dominante da região da América do Norte e Central nas últimas duas décadas – não fica fora desde o Mundial de 2010. Contra a Nova Zelândia, em Doha, tentará se classificar para o seu terceiro torneio consecutivo, após as recentes experiências na Brasil-2014 e na Rússia-2018.

O torneio realizado em solo sul-americano testemunhou a façanha mais importante na história de uma seleção que, com a sua melhor geração de todos os tempos, surpreendeu o mundo ao não só sobreviver ao "Grupo da Morte", como também terminar como líder de uma chave que tinha também Uruguai, Itália e Inglaterra. Após um inesperado triunfo inicial por 3 a 1 sobre a Celeste, os costarriquenhos dobraram os italianos e empataram com os ingleses. Nas oitavas de final, continuaram escrevendo o capítulo mais glorioso do seu futebol ao derrotar a Grécia nos pênaltis. Nas quartas, diante dos Países Baixos, chegaram a sonhar com as semifinais, só caindo nas penalidades máximas.

A Costa Rica então confirmou o bom momento com a classificação para a Rússia, acabando em segundo lugar nas Eliminatórias da Concacaf, atrás do México, e superando os Estados Unidos. Outra vez competitiva, a seleção perdeu pelo placar mínimo para a Sérvia na estreia e viu suas chances de classificação começarem a desaparecer com a inevitável queda para o Brasil, antes de um empate com a Suíça na última rodada.

Na trajetória rumo ao Qatar, a Costa Rica esteve perto de ser eliminada - foi impossibilitada de se classificar diretamente pelas campanhas de Canadá, México e Estados disputou até o fim a quarta colocação com o Panamá, posição que daria a vaga na Repescagem Intercontinental. Mas, na reta final, o técnico Luis Fernando Suárez ajustou a equipe e escalou uma formação renovada para aproveitar ao máximo as virtudes das suas principais figuras.

A fórmula deu certo: derrotaram o Panamá em uma espécie de final antecipada, empataram com o México em pleno Estádio Azteca, ganharam da Jamaica em Kingston, se impuseram em casa sobre o Canadá, derrotaram El Salvador fora e fecharam a campanha com uma estrondosa vitória sobre os Estados Unidos também em casa.

Em resumo, a Costa Rica somou 16 dos últimos 18 pontos que disputou, com duas vitórias e um empate contra as três equipes que se classificaram para o qatar. "O técnico teve que mostrar trabalho na competição e, quando encontrou a sua equipe ideal, o elenco fechou com ele. O grupo se uniu, porque estávamos jogando uma final a cada jogo. A força mental que esta seleção tem é impressionante, já demonstramos isso jogando sempre no limite", explicou Joel Campbell, um dos seis jogadores que estiveram na seleção nA Brasil-2014 e na Rússia-2018, em entrevista para o FIFA+.

Luis Fernando Suárez, que aterrissou em San José antes do início da fase final das eliminatórias regionais, pôs a equipe de volta nos trilhos e enfrentará a Nova Zelândia sem ausências de peso, com a motivação deixada pela boa imagem transmitida na reta final da competição classificatória. É assim que pretende ficar com a vaga em uma Copa que lembra a missão no Brasil há oito anos – caso triunfe na repescagem intercontinental, a Costa Rica dividirá o Grupo E com ninguém menos do que Espanha, Alemanha e Japão.

Os convocadosOs convocados

Goleiros

Keylor Navas (PSG), Leonel Moreira (Alajuelense) e Aaron Cruz (Saprissa).

Defensores

Francisco Calvo (San José Earthquakes), Juan Pablo Vargas (Millonarios), Kendall Waston (Saprissa), Óscar Duarte (Levante), Daniel Chacón (Cartaginés), Carlos Martínez (San Carlos), Bryan Oviedo (Copenhague), Ian Lawence (Alajuelense) e Keysher Fuller (Herediano).

Meio-campistas

Celso Borges (Alajuelense), Yeltsin Tejeda (Herediano), Orlando Galo (Herediano), Carlos Mora (Alajuelense), Bryan Ruiz (Alajuelense), Brandon Aguilera (Guanacasteca), Gerson Torres (Herediano) e Jewison Bennette (Herediano).

Atacantes

Joel Campbell (Monterrey), Anthony Contreras (Guanacasteca) e Johan Venegas (Alajuelense).

O treinador: Luis Fernando SuárezO treinador: Luis Fernando Suárez

O técnico colombiano de 62 anos irá em busca da sua terceira Copa do Mundo. Com o Equador, alcançou as oitavas de final da Alemanha-2006. Com Honduras, foi eliminado na primeira fase da Brasil-2014. Caso vença a Nova Zelândia, se tornará o sexto treinador na história a levar três seleções diferentes ao Mundial.

Com a Costa Rica, Suárez acumulou méritos dentro e fora de campo. Nos vestiários, uniu um grupo que tinha diferenças internas. "Aqui, viemos para defender a seleção. É um país, e não [um clube como] o Cartiginés ou [uma competição como] a Liga. Não existe isso. Suárez deixou isso claro desde o começo, viemos defender a Costa Rica, todos somos a Costa Rica", disse um dos titulares do conjunto, Francisco Calvo, em uma entrevista anterior à Repescagem. "Isso se nota no ambiente e em campo. A honestidade dele, a maneira que tem de dizer as coisas com clareza, a maneira como nos trata, como conduz o grupo, são fundamentais. É algo que nos uniu".

Suárez empurrou esta união com uma frase que os jogadores repetem antes e depois de cada desafio: "añita mikilona". O lema, uma frase no idioma bribri, de um dos grupos étnicos mais numerosos da Costa Rica, é traduzido como "juntos até o fim". A coesão interna foi fundamental para as ambições e o sucesso de uma seleção que recuperou o protagonismo perdido e terminou em quarto na Concacaf.

Ainda que tenha avisado na sua apresentação como técnico que não ia realizar grandes modificações nem fomentar a adiada renovação geracional, Suárez foi capaz de rejuvenescer algumas posições sem renunciar aos nomes de sempre, que protagonizaram a campanha mais gloriosa do país em Copas. Hoje, a Costa Rica é uma mescla entre os seus ícones e alguns jovens que trouxeram frescor ao selecionado.

Suárez encarará o jogo mais importante da sua vida, uma obsessão que relembra cada vez que vai até a geladeira. Ali, ele colocou uma imagem na qual a Costa Rica integra o Grupo D, junto a Alemanha, Espanha e Japão. "É que eu bebo muita água", explicou o colombiano, em entrevista ao FIFA+. "Vou muito até a geladeira e vejo isso o tempo todo. É uma imagem que sempre me vem à cabeça. É uma obsessão boa, chegar à terceira Copa do Mundo é uma obsessão. Quando veio isto com a Costa Rica, disse: 'Tenho que arriscar, vou morrer se não me classificar'. Hoje, estou assim: entre a morte e a obsessão. Tomara que ganhe a obsessão".

O destaque: Keylor NavasO destaque: Keylor Navas

Antes da Brasil-2014, a grande campanha anterior da Costa Rica em Copas do Mundo tinha se apoiado nas defesas de Luis Gabelo Conejo, que ajudou a equipe a chegar às oitavas de final da Itália-1990. Vinte e quatro anos depois, os costarriquenhos fariam história de novo graças à atuação de outro goleiro.

A campanha em solo brasileiro não pode ser explicada sem as intervenções milagrosas de Keylor Navas, grande figura da sua seleção e um dos principais nomes daquele Mundial. O seu desempenho foi tão bom que o poderoso Real Madrid decidiu contratá-lo após o torneio. No clube, Navas se transformou em um dos heróis do tricampeonato madrilenho na Liga dos Campeões da UEFA.

Considerado à época um dos melhores goleiros do mundo, se mudou para Paris para formar parte de um time dos sonhos que mais tarde incorporaria Lionel Messi, Sergio Ramos e Gianluigi Donnarumma. A contratação do goleiro italiano, que chegou após não renovar com o Milan, onde havia estreado profissionalmente aos 16 anos, fez diminuir a consideração do técnico Mauricio Pochettino por Navas. Relegado ao segundo plano por situações alheias ao seu desempenho, Navas foi sempre uma segurança para o Paris Saint-Germain e para a sua seleção.

"Ele não tem vaidade", afirma Suárez. "Não chega aqui e quer fazer coisas diferentes do resto. Ele se concentra, conversa muito bem com o grupo, dorme com o companheiro de quarto, treina o tempo todo. Ajuda muito os mais jovens, está conhecendo todos. Além disso, tem um comprometimento enorme. Na primeira vez que conversamos, ele foi logo dizendo: 'Acredito que esta vai ser a minha última Copa e eu quero jogá-la. Conte comigo para o que quiser'. Ele trabalha para isso".

O capitão é o líder de uma geração histórica. Sem pontos fracos no seu jogo, é um goleiro completo, que desempenha bem em todos os quesitos. A presença de Navas sempre dá uma vida extra à Costa Rica, graças à sua capacidade de fazer várias defesas impossíveis em uma mesma partida. Com caráter e personalidade, tentará conduziu o seu país a uma nova Copa do Mundo para frustrar vários dos melhores atacantes do mundo.

Três nomes para ficar de olhoTrês nomes para ficar de olho

Joel Campbell

Estourou na Brasil -2014 como a grande esperança do futebol costarriquenho. Uma figura decisiva, graças ao talento que desequilibra, a capacidade de criar chances e o oportunismo para marcar gols. Após defender o Arsenal inglês, o Lorient francês, o Betis e o Villarreal espanhóis, o Olympiakos grego, o Sporting de Lisboa e o Frosinone italiano, se mudou para o México para vestir as camisas do León e do Monterrey. Os oito anos desde 2014 foram testemunhas de uma transformação em grande parte mental: "Eu me tornei um jogador com mais experiência e melhorei muito na tomada de decisões. Também me posiciono melhor em campo, sei o que fazer e o que não fazer com mais frequência", avalia.

Bryan Ruiz

Um dos grandes talentos da geração de ouro da Costa Rica. Jogador diferenciado, com uma inteligência superior, que ele combina com a sua ampla visão de jogo e um chute espetacular. É o encarregado de criar o futebol da seleção, mas não recusa sacrificar-se para dar uma ajuda na defesa. Autor de gols decisivos, marcou contra a Itália e a Grécia na Brasil-2014. Um meia completo, que também contribui com muitos gols. Aos 36 anos, está mais em forma do que nunca.

Anthony Contreras

Um dos jovens da nova geração que Suárez foi gradualmente incluindo em uma seleção que, com Contrera como provável titular, buscará a vaga no Qatar contra a Nova Zelândia. Com apenas 22 anos e seis edições do campeonato nacional disputadas, conquistou o seu espaço e anotou gols decisivos contra Estados Unidos e El Salvador em março, o que fez dele um alvo do interesse do futebol português. Com uma grande quota de sacrifício para não dar nenhuma bola por perdida, se transformou em uma das peças mais letais do conjunto de Suárez.