Jardim Cinema: Lee Tamahori - “Brigada de Elite” / “Mulholland Falls”

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Lee Tamahori - “Brigada de Elite” / “Mulholland Falls”


Lee Tamahori
“Brigada de Elite” / “Mulholland Falls”
(EUA – 1996) – (107 min. / Cor)
Nick Nolte, Melanie Griffith, Chazz Palmentieri, Michael Madsen,Chris Penn,
Jennifer Connely, Treat Williams, John Malkovich,Andrew McCarthy, Daniel Baldwin.

Lee Tamahori iniciou a sua actividade como fotógrafo, depois passou a director de fotografia e assistente de realização. Durante 10 anos viveu no universo da publicidade, onde foi por diversas vezes premiado. Na televisão aprendeu a arte da realização, como muitos outros e depois foi o estrondoso sucesso do seu filme de estreia “A Alma dos Guerreiros” / “Once Were Warriors” (que surpreendeu tudo e todos quando foi exibido no Festival de Montreal). Aliás, quando Fanny Ardant visitou a Cinemateca Portuguesa, foi-lhe sugerida a escolha de um filme para ser apresentado por ela e a actriz francesa optou precisamente pela obra de estreia do cineasta neo-zelandês, que nesta película nos oferece um retrato espantoso da comunidade Mahori.


Como sabemos, Hollywood nunca brinca em serviço, embora alguns pensem o contrário, e de imediato Lee Tamahori foi convidado a dirigir um filme nos “States”. Desafio aceite pelo cineasta, tendo os Estúdios disponibilizado os meios necessários para ele recriar a atmosfera desses anos cinquenta, em que o “film noir” dava cartas.


Tendo o excelente director de fotografia Haskell Wexler consigo, Lee Tamahori oferece-nos um filme sem falhas, que nos agarra do primeiro ao último fotograma, possuindo um elenco masculino de primeira água, ao mesmo tempo que Melanie Griffith cumpre na personagem que lhe foi destinada e Jennifer Connely surge aqui como um verdadeiro sex-symbol. Se a virmos hoje, não poderemos dizer o mesmo, infelizmente.


Durante a década de cinquenta, os gangsters tudo fizeram para estabelecer os seus negócios nesse paraíso cinematográfico chamado Hollywood mas a polícia local, bem conhecida pela forma violenta como actuava, sempre impediu o estabelecimento do mundo do crime, na capital do cinema. E será precisamente isso que iremos descobrir logo no início da película, quando vemos em acção a brigada chefiada por Max Hoover (Nick Nolte) a invadir um restaurante de luxo e a levar dali um dos senhores de Chicago, conduzindo-o pela célebre Mulholland Drive, até ao cimo das colinas, para de seguida o lançarem pela declive abaixo, dando-lhe desta forma a conhecer a sua Mulholland Falls (que dá o nome ao filme), ou seja, o local predilecto da polícia para inibir as chefias do crime de se estabeleceram na Califórnia, com os resultados positivos que todos sabemos, apesar dos seus métodos infringirem, a maioria das vezes, a própria lei que diziam fazer cumprir.


Esta brigada é chefiada por Max Hoover (Nick Nolte) e tem como seus adjuntos Eddie Hall (Michael Madsen), Arthur Relyea (Chris Penn) e Elleroy Coolidge (Chazz Palminteri), esse polícia que tem sessões de psicanálise para conseguir dormir descansado. Uma manhã esta brigada de elite será chamada a uma zona onde estão a fazer terraplanagens, onde se encontra o corpo sem vida de uma jovem, chamada Allison Pond (Jennifer Connely). A forma como foi morta é um mistério, apresentando o seu belo corpo dezenas de fracturas, por ele espalhadas.


No entanto, este não será mais um crime para investigar pelo detective Max Hoover e a sua equipa, porque ele conhece a rapariga, embora o esconda de todos. Allison, que fora sua amante durante seis meses, não passa de uma das milhares de”girls” que partiram para Hollywood em busca de um lugar ao sol, lugar esse, que as conduziria na maioria das vezes à prostituição encapotada ou bem visível, consoante o sucesso que tinham na captura das presas. Mas no dia em que chega à esquadra uma bobine endereçada a Max Hoover, com imagens de Allison a fazer amor com uma pessoa cuja identidade se desconhece inicialmente, o detective percebe de imediato, que quem lhe enviou o filme possui muito mais imagens dela, com outras pessoas, estando certamente ele próprio na mira da possível chantagem.
Tudo parece encaminhar-se para esse jogo de gato e rato, quando este detective que nos faz recordar os heróis de Raymond Chandler e Mickey Spillane, conhece o autor das filmagens, o jovem Jimmy Fieis (Andrew McCarthy), que as fazia através do habitual espelho falso, sem os protagonistas do quarto ao lado do seu saberem o que se passava.


Numa primeira leitura podemos dizer que estamos perante mais um caso igual a tantos outros, mas lentamente vamos descobrir que naquele filme que foi enviado para a esquadra se encontram imagens mais que proibidas e será precisamente isso que descobrimos quando sabemos que a última pessoa a ver viva a bela Allison Pond, foi o general Timms (John Malkovich), um dos pais da bomba atómica. De imediato o filme muda de registo, conduzindo-nos a esses inícios dos anos cinquenta em que o exército americano fazia experiências nucleares no deserto, com as suas próprias tropas, porque só assim podiam estudar a evolução da radio-actividade no corpo humano.


“Brigada de Elite” transforma-se de um filme policial numa obra com uma mensagem política. Olhando a história recente da América e o célebre segredo militar, em defesa da nação, percebemos as palavras ditas pelo general Timms: “para se salvarem mil temos que sacrificar cem”. Como sabemos a história contemporânea está recheada deste género de acontecimentos, infelizmente.


Lee Tamahori conduz com uma eficácia espantosa este seu primeiro trabalho em território americano, conseguindo oferecer-nos uma reconstituição de época perfeita, com uma boa direcção de actores, sendo sempre de destacar a composição que John Malkovich faz da personagem que interpreta.

Em “Brigada de Elite”, como vemos no final, não há vencedores, todos são derrotados. “Mulholland Falls” de Lee Tamahori é uma película que merece ser revista, para não cair no esquecimento, numa época em que as modas eliminam a memória cinéfila.

Rui Luís Lima

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