O religioso foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911 e chegou a vice-governador do Ceará. Sempre demonstrou uma preocupação muito grande em orientar a população sertaneja, aconselhando-os sobre o bem-estar e o meio ambiente.

Essas preocupações se traduzem nos preceitos ecológicos que deixou, ainda no início do século passado, como "Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau" e "Deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza".

“Eu costumo dizer que o padre Cícero foi um sujeito histórico e foi um sujeito que exerceu um papel na sociedade, com suas virtudes e seus defeitos”, afirma a historiadora da Universidade Federal do Cariri, Fátima Pinho.

A popularidade do padre correu o Nordeste depois que uma hóstia entregue por ele a uma beata teria se transformado em sangue. Mas a igreja não reconheceu o milagre e decidiu punir o padre suspendendo todas suas atividades de sacerdócio.

"Padre Cícero foi este homem que a igreja silenciou por prudência, para estudar melhor o padre Cícero", afirma Dom Magnus Henrique Lopes, bispo da Diocese do Crato.

Em 2015, o Vaticano se reconciliou com o religioso e há dois anos, começou o processo de beatificação, que pode oficializar o que o bispo da Diocese do Crato acredita que já é uma certeza para o povo: padre Cícero está canonizado em corações.

"Nesta caminhada, o povo foi colocando o padre Cícero no coração. E a igreja continuou analisando e acompanhando toda essa história", conclui Dom Magnus Henrique.

A devoção ao padre é tamanha que, até hoje, muitas pessoas vão até Juazeiro do Norte. As orações têm seus rituais. Um deles é dar três voltas no cajado enquanto se faz os pedidos (veja na imagem abaixo).

Mas o principal mesmo é chegar à estátua do religioso, de 27 metros de altura, no alto da colina do Horto.

O caminho tem cerca dois quilômetros e meio. É possível ir de bicicleta, de carro ou até por outra estrada, com asfalto, mas a maioria dos romeiros prefere ir a pé, enfrentando ladeiras, até chegar ao ponto mais alto de Juazeiro do Norte.

Caminho que seu José dos Santos, de 96 anos, conhece bem. Já são 45 romarias.

“Ave maria! Eu sou devoto do meu padre Cícero”, afirma o aposentado.

E os padres Cícero se multiplicam na região. "No momento, nós somos 12 padres que temos o nome de Cícero. Trazemos conosco esta herança espiritual", ressalta padre Cícero José, reitor da Basílica Santuário de Nossa Senhora das Dores.

Juazeiro do Norte é a maior porta de entrada do Cariri cearense e um dos maiores centros religiosos do Brasil. As romarias que atraem mais de 2,5 milhões de pessoas por ano movimentam a economia.

"A romaria é o forte daqui de Juazeiro. Quando tem romeiro, é a alegria do cearense", afirma o vendedor, Valdecy Luiz Santana.

A professora Janaína Rosa de Sá compartilha os custos envolvidos em sua participação na romaria de padre Cícero este ano, mas confia na multiplicação divina.

“Vem a questão do transporte, hospedagem e alimentação. Mas quando a gente tem fé, eu acho que Deus multiplica. E padre Cícero também”, destaca Janaina.

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