(PDF) Motores de Combustao Interna Brunetti | Ramires Meneses - Academia.edu
Volume 1 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Franco Brunetti MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Volume 1 Motores de Combustão Interna – Volume 1 © 2012 Franco Brunetti 1ª reimpressão – 2013 Editora Edgard Blücher Ltda. FICHA CATALOGRÁFICA Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4º andar 04531-012 – São Paulo – SP – Brasil Tel 55 11 3078-5366 contato@blucher.com.br www.blucher.com.br Brunetti, Franco Motores de Combustão Interna: volume 1 / Franco Brunetti. – São Paulo: Blucher, 2012. Bibliografia ISBN 978-85-212-0708-5 Segundo Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009. 1. Motores. 2. Motores de combustão interna. 3. Automóveis – motores I. Título É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sem autorização escrita da Editora. Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda. 12-0267 CDD 629.287 Índices para catálogo sistemático: 1. Motores 2. Motores de combustão interna Agradecimentos Agradeço a todos aqueles que se empenharam para a elaboração deste livro, em especial ao professor engenheiro Fernando Luiz Windlin, que incentivou o projeto e não mediu esforços na coordenação dos trabalhos, abdicando horas de convívio familiar. A sua esposa e ilhos minha gratidão e respeito. Ana Maria Brunetti Apresentação O Instituto Mauá de Tecnologia sente-se honrado por incentivar esta merecida homenagem ao saudoso Prof. Eng. Franco Brunetti. Dos 47 renomados proissionais que atuaram neste projeto, muitos foram seus alunos, alguns desrutaram do privilégio de atuarem como seus colegas de trabalho e todos guardam pelo Mestre uma imensa admiração. Sob a incansável coordenação do Prof. Eng. Fernando Luiz Windlin, os dois volumes desta obra reúnem, sem perder a docilidade acadêmica das aulas do Prof. Brunetti, o que de mais atual existe na área de motores de combustão interna. O leitor, maior beneiciário deste trabalho, tem em suas mãos o mais amplo tratado sobre o tema já publicado no Brasil. Rico em ilustrações, com uma moderna diagramação e um grande número de exercícios, o material tem sua leitura recomendada para os estudantes de curso de engenharia, mas também encontra aplicação em cursos técnicos e na atualização proissional daqueles que atuam na área. Prof. Dr. José Carlos de Souza Jr. Reitor do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia Prefácio da 3ª Edição No inal de 2009, a Engenharia icou mais triste com a perda do Prof. Franco Brunetti, reconhecido como um dos mais importantes professores de Engenharia do Brasil. O Prof. Brunetti, nestas quatro décadas de magistério em diversas Universidades, participou da formação da grande maioria dos engenheiros que hoje atuam na indústria nacional e dos professores (ex alunos) que continuam seu trabalho. Seu nome sempre estará associado às disciplinas: Mecânica dos Fluidos, para qual deixou um livro que revolucionou a forma de ministrar esta matéria, e, Motores de Combustão Interna, sua grande paixão. Nascido em Bolonha, Itália, desde os 12 anos de idade no Brasil, graduado em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, POLI/USP – turma de 1967. Sua realização era a lousa de uma sala de aulas e durante toda vida uniu a experimentação com a didática. Professor impecável e amigo para todas as horas deixou saudades, porém estará sempre presente: Presente pela cultura que transmitiu; Presente pela amizade que conquistou; Presente pelo exemplo que legou; Sempre presente porque mais que um professor foi um educador. Como gratidão pelos diversos anos de trabalho conjunto, resolvemos transformar sua apostila num livro, de forma a perpetuar seu nome. Nos capítulos 10 que compõem esta obra, mantivemos a marca singela do Educador, com algumas atualizações decorrentes dos avanços tecnológicos. Cabe aqui ressaltar o companheirismo do Prof. Oswaldo Garcia que sempre apoiou ao Prof. Brunetti nas apostilas anteriormente editadas. Não podemos deixar de agradecer a esposa, e as ilhas, que permitiram este trabalho. Nossos agradecimentos ao Instituto Mauá de Tecnologia pelo apoio e coniança incondicionais. À todos aqueles que ajudaram na atualização, por simples amizade e/ou pelo tributo ao grande mestre Brunetti, e que encontram-se citados em cada capítulo, minha eterna gratidão. São Paulo Fernando Luiz Windlin Coordenador desta Edição Prefácio da 2ª Edição Finalmente consegui roubar do dia a dia o tempo necessário para realizar uma revisão e uma ampliação da 1ª edição desta publicação. Muitas das imperfeições foram corrigidas e acrescentei assuntos importantes como: sobrealimentação, combustíveis e emissões. Todos os assuntos tratados devem ser compreendidos como uma exposição didática apenas de conceitos fundamentais. Cada assunto poderia ser desenvolvido em muitos livros e não apenas em algumas páginas como foi feito. Entenda-se que o objetivo da obra é o de criar uma base e despertar o interesse do leitor que futuramente, se quiser se desenvolver neste ramo da tecnologia, deverá ler obras mais especializadas de cada um dos assuntos. A grande diiculdade numa publicação deste tipo é exatamente esta. Conseguir extrair de um imenso universo de conhecimentos, o que é básico e atual, de maneira compreensível para o leitor iniciante. Este objetivo eu acho que foi atingido e creio que seja o grande valor deste trabalho. Eu e o Prof. Oswaldo Garcia agradecemos os subsídios de alunos e colegas que apontaram os erros da 1ª edição e sugeriram modiicações e espero que continuem com esta contribuição. Mas, agradecemos principalmente Ana Maria, Claudia e Ângela, cujo trabalho de digitação, revisão e composição foram fundamentais para esta nova edição. São Paulo, fevereiro de 1992 Prof. Eng. Franco Brunetti Prefácio da 1ª Edição Após muitos anos lecionando Motores de Combustão Interna na Faculdade de Engenharia Mecânica, consegui organizar neste livro os conhecimentos básicos da matéria, ministrados durante as aulas. Com muita honra vejo o meu nome ao lado do meu grande mestre no assunto, o Prof. Oswaldo Garcia, que muito contribuiu com seus conhecimentos e com publicações anteriores, para a realização desta obra. Se bem que reconheça que não esteja completa e que muita coisa ainda possa ser melhorada, creio que este primeiro passo será de muita utilidade, para os estudantes e amantes do assunto. Aproveito para agradecer a minha esposa Ana Maria e a minha ilha Claudia que, com paciência e perseverança, executaram a datilograia e as revisões necessárias. São Paulo, março de 1989 Prof. Eng. Franco Brunetti Conteúdo Volume 1 1  INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 1.1 1.2 Introdução 27 Motores alternativos 1.2.1 1.2.2 1.2.3 1.2.4 1.2.5 1.2.6 1.3 1.4 29 Nomenclatura 29 Nomenclatura cinemática 32 Classificação dos motores alternativos quanto à ignição 34 Classificação dos motores alternativos quanto ao número de tempos do ciclo de operação 36 Diferenças fundamentais entre os motores de 2T e 4T 41 Diferenças fundamentais entre os motores ciclos Otto e Diesel a 4T 42 Outras classificações 1.3.1 1.3.2 1.3.3 1.3.4 1.3.5 1.3.6 1.3.7 1.3.8 1.3.9 42 Quanto ao sistema de alimentação de combustível 42 Quanto à disposição dos órgãos internos 45 Quanto ao sistema de arrefecimento 46 Quanto às válvulas 47 Quanto à alimentação de ar 48 Quanto à relação entre diâmetro e curso do pistão 51 Quanto à rotação 52 Quanto à fase do combustível 52 Quanto à potência específica 52 Motores rotativos 1.4.1 1.4.2 1.5 1.6 27 54 Turbina a gás 54 Motor Wankel 58 Histórico 62 Aplicações 64 Exercícios 67 Referências bibliográficas Figuras 76 76 14 2  CICLOS 2.1 2.2 Introdução 77 Ciclos reais traçados com um indicador de pressões 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4 2.3 2.3.3 2.3.4 2.3.5 2.3.6 2.3.7 78 Funcionamento dos indicadores de pressão 78 Diagrama da variação da pressão de um motor Otto a 4T 85 Diagramas de variação da pressão de um motor de ignição espontânea (Diesel), a 4T 91 Diagramas da variação da pressão para um motor a 2T de ignição por faísca 95 Ciclos-padrão a ar 2.3.1 2.3.2 2.4 77 96 Introdução 96 Ciclo Otto (padrão a ar do ciclo do motor de ignição por faísca, a 4 tempos ou Otto) 96 Conceitos definidos a partir dos ciclos-padrão a ar 106 Ciclo Diesel (padrão a ar do ciclo do motor de ignição espontânea ou Diesel) 113 Ciclo Misto ou de Sabathé 116 Ciclo Brayton (representativo do ciclo simples da turbina a gás) 121 Comparação dos ciclos 123 Diagramas e rotinas computacionais para misturas combustível-ar 125 2.4.1 Introdução 125 2.4.2 Propriedades de misturas de combustíveis e gases de combustão 125 2.4.3 Solução dos ciclos por meio de rotinas computacionais para misturas combustível-ar 136 2.5 Comparação dos ciclos reais com os ciclos teóricos 2.5.1 2.5.2 2.5.3 2.5.4 142 Admissão e escape 143 Perdas de calor 144 Perda por tempo finito de combustão 144 Perdas pelo tempo finito de abertura da válvula de escape Exercícios 145 Referências bibliográficas Figuras 157 157 3  PROPRIEDADES E CURVAS CARACTERÍSTICAS DOS MOTORES 3.1 3.2 Momento de força, conjugado no eixo ou torque (T) Freio dinamométrico ou dinamômetro 160 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.3 159 Freio de Prony 160 Dinamômetros hidráulicos 163 Dinamômetros elétricos 167 Propriedades do motor 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.4 144 181 Potência efetiva 181 Potência indicada 182 Relações entre as potências 183 Controle ou variação da potência do motor 189 159 15 3.3.5 3.3.6 3.4 Determinação da potência de atrito 3.4.1 3.4.2 3.4.3 3.5 3.6 Consumo específico 191 Relações envolvendo pressão média Acionando o motor de combustão desligado, por meio de um motor elétrico 198 Teste de Morse 198 Reta de Willan 200 Curvas características dos motores 202 Redução da potência do motor a condições atmosféricas padrões 3.6.1 3.6.2 3.6.3 Cálculos do fator de redução 207 Comparativo entre fatores de redução Banco de teste de veículos 210 Exercícios 211 Referências bibliográficas Figuras 222 209 223 Introdução 223 Previsão do comportamento de um motor instalado num dado veículo 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.3 206 221 4  RELACIONAMENTO MOTOR-VEÍCULO 4.1 4.2 194 198 Força de arrasto 224 Força de resistência ao rolamento Força de rampa 234 229 Força total resistente ao avanço de um veículo 4.3.1 4.3.2 Raio de rolamento 235 Relacionamento motor-veículo 223 235 236 4.4 Relacionamento entre ensaios em bancos de provas e aplicações do motor em veículos 240 Exercícios 240 Referências bibliográficas 240 Figuras 240 5  AERODINÂMICA VEICULAR 5.1 5.2 Introdução 251 Força de arrasto 257 5.2.1 5.2.2 5.3 5.4 5.5 251 Força de arrasto de superfície (skin friction) 257 Força de arrasto de pressão ou de forma 261 Força de sustentação e momento de arfagem (Pitching) Força lateral 275 História da aerodinâmica veicular 278 5.5.1 5.5.2 5.5.3 A era das linhas de corrente 278 Estudos paramétricos 291 Corpos de um volume único 294 273 16 5.5.4 5.5.5 5.5.6 O corpo do veículo do tipo “Pantoon” 297 Os veículos comerciais 298 Motocicletas 302 Exercícios 303 Referências bibliográficas 6  COMBUSTÍVEIS 6.1 6.2 319 324 Octanagem ou Número de Octano 325 Volatilidade 338 Composição dos gases de escapamento e relação Ar-Combustível Poder calorífico 347 Massa específica 348 Tonalidade térmica de um combustível 349 Corrosão ao cobre 350 Teor de enxofre 351 Estabilidade à oxidação 351 Outros parâmetros 354 381 Breve histórico 381 Álcoois 384 Éteres 384 Principais propriedades 385 Efeitos no desempenho dos veículos 391 Óleos vegetais, gorduras animais, biodiesel e H-Bio 6.6.1 6.6.2 6.6.3 6.6.4 356 Qualidade de ignição: cetanagem ou número de cetano (NC) Volatilidade 369 Massa específica 371 Viscosidade 372 Lubricidade 373 Teor de enxofre 374 Corrosão ao cobre 374 Pontos de turbidez, de entupimento e de fluidez 374 Combustão 376 Estabilidade química 380 Condutividade elétrica 380 Compostos Oxigenados 6.5.1 6.5.2 6.5.3 6.5.4 6.5.5 6.6 314 Óleo Diesel (gazole, Dieselöl, Dieselolie, gasóleo, gasolio, Mazot) 6.4.1 6.4.2 6.4.3 6.4.4 6.4.5 6.4.6 6.4.7 6.4.8 6.4.9 6.4.10 6.4.11 6.5 Petróleos 314 Produção de derivados Gasolina (gasoline, gas, petrol, benzin, benzina, essence) 6.3.1 6.3.2 6.3.3 6.3.4 6.3.5 6.3.6 6.3.7 6.3.8 6.3.9 6.3.10 6.4 313 Um pouco de história 313 Combustíveis derivados do petróleo 6.2.1 6.2.2 6.3 309 Óleos vegetais 395 Gorduras animais 397 Biodiesel 397 H-BIO 400 Exercícios 403 Referências bibliográficas Figuras 409 408 394 358 344 17 7  A COMBUSTÃO NOS MOTORES ALTERNATIVOS 7.1 A combustão nos motores de ignição por faísca 7.1.1 7.1.2 7.1.3 7.2 7.3 7.4 411 Combustão normal 411 Detonação no motor de ignição por faísca 417 Fatores que influem na detonação no motor Otto Câmara de combustão 422 A combustão nos motores Diesel 425 Fatores que influenciam na autoignição no ciclo Diesel 7.4.1 7.4.2 7.4.3 7.5 411 427 Qualidade do combustível 427 Temperatura e pressão 427 Turbulência 428 Tipos básicos de câmaras para motores Diesel 7.5.1 7.5.2 7.5.3 420 428 Câmaras de injeção direta ou abertas 428 Câmaras de injeção indireta ou divididas 429 Comparação entre as câmaras divididas e abertas 7.6 A combustão por autoignição controlada CAI/HCCI Exercícios 437 Referências bibliográficas 445 Figuras 446 8  MISTURA E INJEÇÃO EM CICLO OTTO 430 431 447 Parte I – FORMAÇÃO DA MISTURA COMBUSTÍVEL-AR NOS MOTORES DO CICLO OTTO 447 8.1 Introdução 447 8.2 Definições 448 8.2.1 8.2.2 8.2.3 8.3 Limite pobre 450 Mistura econômica 451 Mistura de máxima potência Limite rico 451 450 451 Curva característica do motor em relação à mistura 8.4.1 8.4.2 8.4.3 8.5 8.6 8.7 449 Tipo de mistura em relação ao comportamento do motor 8.3.1 8.3.2 8.3.3 8.3.4 8.4 Relação combustível-ar 448 Relação combustível-ar estequiométrica Fração relativa combustível-ar 450 451 Carburador elementar 452 Sistema de injeção 453 Curva característica 453 Carburador 459 Injeção mecânica para motores Otto 460 Injeção eletrônica para motores Otto 461 8.7.1 8.7.2 Classificação dos sistemas de injeção eletrônica Sistema analógico de injeção eletrônica 468 467 18 8.7.3 8.7.4 Sistema digital de injeção eletrônica 471 Métodos numéricos aplicados ao estudo de formação de mistura Exercícios 476 Referências bibliográficas Figuras 486 474 485 Parte II – INJEÇÃO DIRETA DE COMBUSTÍVEL EM CICLO OTTO (GDI – GASOLINE DIRECT INJECTION) 487 8.8 Introdução 487 8.9 Requisitos de combustão e formação de mistura 489 8.9.1 8.9.2 8.9.3 8.9.4 Mecanismo de atomização do spray 489 Automatização do combustível 490 Orientação da combustão 495 Combustão homogênea e estratificada 497 8.10 Sistema de injeção direta de combustível 8.11 Controle da combustão 500 8.11.1 Mapa característico de combustão 8.11.2 Injeção em dois estágios 503 8.11.3 Partida a frio 504 8.12 Emissões de poluentes 498 500 506 8.12.1 Formação de poluentes 506 8.12.2 Pós-tratamento de poluentes 509 8.13 Conclusões 511 Exercícios 513 Referências bibliográficas 514 9  SISTEMA DE IGNIÇÃO E SENSORES APLICADOS AOS MOTORES Parte I – SISTEMAS DE IGNIÇÃO 515 9.1 Visão geral 515 9.2 Os componentes de um sistema de ignição convencional 9.3 Princípio de funcionamento 517 9.4 Cálculo do tempo de ignição 527 9.5 Avanço ou atraso no tempo de ignição 530 9.6 As evoluções tecnológicas no sistema de ignição 534 9.6.1 9.6.2 9.6.3 Ignição transistorizada com platinado 536 Ignição transistorizada sem platinado 537 Ignição eletrônica mapeada 538 Exercícios 540 516 515 19 Parte II – SENSORES APLICADOS AOS MOTORES 542 9.7 Sensores de rotação e fase do motor 542 9.8 Sensor de pressão e temperatura do coletor de admissão 9.9 Sensor de posição da borboleta 546 9.10 Caudal de ar 547 9.11 Concentração de oxigênio (sonda λ) 548 9.12 Sensor de temperatura 550 9.13 Sensor de detonação – “Knock” 550 9.14 Outros 551 Exercícios 552 Referências bibliográficas 552 544 Volume 2 10  SISTEMAS DE INJEÇÃO PARA MOTORES DIESEL 10.1 Requisitos do sistema e classificação 10.2 Sistema de bomba em linha 10.3 Sistema modular de bombas individuais 10.3.1 Unidades injetoras tipo bomba-bico 10.3.2 Unidades injetores tipo bomba-tubo-bico 10.4 10.5 10.6 10.7 Unidade de comando eletrônica Bicos injetores Sistema distribuidor ou de bomba rotativa Sistema acumulador ou tipo Common Rail 10.7.1 Bomba de alta pressão 10.7.2 Injetor 10.7.3 Injeção modulada Common Rail Exercícios Referências bibliográficas Figuras 11  CONSUMO DE AR NOS MOTORES A QUATRO TEMPOS 11.1 Introdução 11.2 Eficiência volumétrica 20 11.2.1 Densidade ou massa específica de entrada 11.2.2 Eficiência volumétrica baseada na massa de ar seco 11.3 11.4 11.5 11.6 Potência e pressão média em função da eficiência volumétrica Processo de admissão ideal Eficiência volumétrica pelo diagrama indicado Efeito das condições de operação sobre a eficiência volumétrica 11.6.1 11.6.2 11.6.3 11.6.4 11.6.5 11.6.6 11.6.7 11.6.8 Índice de Mach na entrada Efeito das dimensões do motor na eficiência volumétrica Efeito da relação combustível-ar Efeito da temperatura de admissão Efeito da temperatura do fluido de arrefecimento Efeito do ângulo de superposição de abertura das válvulas (overlap) Influência do ângulo de fechamento da válvula de admissão Influência da relação de compressão 11.7 Coletores de admissão 11.7.1 Influência do diâmetro e comprimento dos dutos 11.7.2 Influência do volume do plenum 11.7.3 Interferência entre cilindros 11.8 Influência do período de exaustão 11.9 Sobrealimentação 11.9.1 11.9.2 11.9.3 11.9.4 11.9.5 11.9.6 Sobrealimentação mecânica Turbocompressor O ciclo ideal O turbocompressor Ajuste do turbocompressor ao motor (matching) Considerações sobre o motor turboalimentado Exercícios Referências bibliográficas Figuras 12  SISTEMAS DE EXAUSTÃO 12.1 Introdução 12.2 O processo de descarga nos motores de combustão interna 12.3 Efeitos dinâmicos em coletores de escapamentos 12.3.1 Disposição geral dos coletores de descarga 12.3.2 Sintonia de tubos de escapamento 12.4 Atenuação de ruído em sistemas de exaustão 12.4.1 12.4.2 12.4.3 12.4.4 12.4.5 Princípios de acústica em dutos Desempenho de filtros acústicos Elementos acústicos de atenuação Efeitos complexos e considerações acústicas Simulação numérica 21 Exercícios Referências bibliográficas 13  EMISSÕES 13.1 Introdução 13.1.1 13.1.2 13.1.3 13.1.4 13.1.5 13.1.6 13.1.7 13.1.8 13.2 13.3 13.4 13.5 Monóxido de carbono (CO) Óxidos de nitrogênio (NOx) Hidrocarbonetos (HC) Aldeídos Compostos de enxofre (SO2 e H2S) Partículas Compostos de chumbo Dióxido de carbono (CO2) Controle das emissões no motor Otto Controle das emissões no motor Diesel Medição de emissões Legislação acerca de emissões 13.5.1 Ensaios de emissões veiculares 13.5.2 Ensaios de emissões de motores 13.6 Análise dos componentes 13.6.1 13.6.2 13.6.3 13.6.4 13.6.5 13.6.6 13.6.7 13.6.8 Monóxido e Dióxido de Carbono Óxidos de Nitrogênio Hidrocarbonetos Oxigênio Aldeídos Material particulado Sulfeto de Hidrogênio e Dióxido de Enxofre Amônia 13.7 Métodos alternativos de medição 13.7.1 FTIR Exercícios Referências bibliográficas 14  LUBRIFICAÇÃO 14.1 Introdução 14.2 Classificação 14.2.1 Sistema de lubrificação por salpico ou aspersão 14.2.2 Sistemas de lubrificação – Motores 2 Tempos 14.2.3 Sistemas de lubrificação sob pressão ou forçada 14.3 Blow by 14.4 Separadores de Blow by 22 14.5 Cárter 14.5.1 14.5.2 14.5.3 14.5.4 14.5.5 14.5.6 14.5.7 14.5.8 14.5.9 14.5.10 Cárter – Volume Válvula PCV – positive cranckase ventilation Bomba de óleo Válvula reguladora de pressão Filtros – projeto/seleção Filtros – seleção do meio filtrante Sistemas de filtragem – total Sistemas de filtragem – parcial Trocador de calor Bomba elétrica 14.6 Razões para o consumo de lubrificante em um motor Exercícios Referências bibliográficas Figuras 15  LUBRIFICANTES 15.1 Introdução 15.2 Propriedades dos óleos lubrificantes 15.2.1 15.2.2 15.2.3 15.2.4 15.2.5 15.2.6 15.2.7 15.2.8 15.2.9 15.2.10 15.2.11 15.2.12 15.2.13 Viscosidade Índice de viscosidade Ponto de fluidez Oleoginosidade ou oleosidade Corrosão Espuma Emulsão Detergência Estabilidade Massa específica TBN (Total Base Number ou reserva alcalina) TAN (Total Acid Number) Resistência à extrema pressão 15.3 Aditivos para lubrificantes 15.4 Óleos básicos sintéticos 15.5 Classificação dos óleos básicos Exercícios Referências bibliográficas 16  RUÍDO E VIBRAÇÕES 16.1 Introdução 16.1.1 Introdução à acústica 16.1.2 Introdução às vibrações 23 16.1.3 Fundamentos de análise modal experimental 16.1.4 Análise espectral 16.2 Ruído e vibrações em motores à combustão 16.2.1 16.2.2 16.2.3 16.2.4 Análise de ordem e assinatura – vibrações Análise de ordem e assinatura – acústica Resposta vibroacústica em motores Alguns fenômenos de ruído e vibrações comuns em motores 16.3 Considerações finais Exercícios Referências bibliográficas 17  CINEMÁTICA E DINÂMICA DO MOTOR 17.1 Introdução 17.2 Cinemática do sistema biela-manivela 17.3 Principais forças 17.3.1 Força de pressão 17.3.2 Forças de inércia 17.3.3 Diagrama da força total 17.4 Momento no eixo 17.5 Volante 17.6 Balanceamento das forças de inércia 17.6.1 Forças centrífugas 17.6.2 Forças de inércia alternativas Exercícios 18  TRIBOLOGIA 18.1 Introdução 18.2 Rugosidade e topografia 18.2.1 Parâmetros de rugosidade 18.2.2 Contato entre superfícies 18.3 Desgaste 18.3.1 Modelos de desgaste 18.3.2 Ensaios de desgaste 18.4 Atrito 18.4.1 Coeficiente de atrito estático versus dinâmico 18.4.2 Fundamentos do atrito no deslizamento 18.5 Regimes de lubrificação 18.6 Materiais empregados em motores de combustão interna Exercícios Referências bibliográficas 24 19  SISTEMAS DE ARREFECIMENTO 19.1 Introdução 19.2 Fluxo de energia 19.3 Limites de temperatura 19.3.1 Limites de temperatura – válvulas 19.3.2 Limites de temperaturas – pistões 19.3.3 Limites de temperaturas – cilindros 19.4 19.5 19.6 19.7 Processos de arrefecimento Resfriamento por circulação de ar Resfriamento por circulação de óleo Resfriamento por circulação de água 19.7.1 Resfriamento por circulação de água – termossifão 19.7.2 Resfriamento por circulação de água – forçada 19.8 Válvula termostática 19.9 Tipos de válvulas termostáticas 19.9.1 19.9.2 19.9.3 19.9.4 Estrangulamento Passo Com aquecimento Eletrônica 19.10 Bomba d’água 19.11 Bomba d’água – elétrica 19.12 Ventiladores 19.12.1 19.12.2 19.12.3 19.12.4 Ventiladores mecânicos Ventiladores – tipo viscosos Ventiladores – elétricos Ventiladores – CVV 19.13 Vaso de expansão 19.14 Aditivos 19.14.1 Etileno glicol 19.14.2 Propileno glicol 19.15 Mangueiras 19.16 Sistema híbrido 19.17 Fundamentos da transferência de calor 19.18 Objetivo e requisitos dos radiadores 19.19 Dimensionamento dos radiadores Exercícios Referências bibliográficas Figuras 25 20  PROJETO DE MOTORES 20.1 Análise de mercado, portfólio, tecnologia, fornecedores e concorrência 20.2 Conceituação do produto e envelope 20.2.1 Tipo de aplicação 20.3 Análise preliminar de desempenho 20.4 Projeto do sistema de combustão 20.5 Projeto estrutural do bloco 20.6 Projeto do trem de força 20.7 Projeto do absorvedor de vibrações torcionais 20.8 Projeto do sistema de comando de válvulas 20.9 Projeto do sistema sincronizador 20.10 Projeto do sistema de acessórios e agregados 20.11 Projeto do volante de inércia 20.12 Projeto do sistema de partida 20.13 Projeto de suportes e coxins 20.14 Protótipo virtual 20.15 Pesquisa e desenvolvimento do produto 20.16 Lançamento do produto e pós-venda Exercícios Referências bibliográficas Figuras 21  VEÍCULOS HÍBRIDOS 21.1 21.2 21.3 21.4 21.5 Introdução Histórico Mercado atual Tendências Evolução tecnológica 21.5.1 21.5.2 21.5.3 21.5.4 21.5.5 Sistema em série Sistema em paralelo Sistema combinado série – paralelo Híbrido médio Híbrido forte 21.6 Funcionamento básico 21.7 Gerenciamento do sistema híbrido 21.7.1 Estratégias dos veículos híbridos – gestão de energia 26 21.7.2 Estratégias dos veículos híbridos – modos de operação 21.7.3 Estratégias dos veículos híbridos – modos de operação-arranque 21.8 Tendências tecnológicas 21.9 Participação do governo 21.10 Alternativa para o Brasil Exercícios Referências bibliográficas Figuras 1 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Atualização: Fernando Luiz Windlin Clayton Barcelos Zabeu Ednildo Andrade Torres Ricardo Simões de Abreu José Roberto Coquetto Sérgio Lopes dos Santos Sergio Moreira Monteiro 1.1 Introdução As máquinas térmicas são dispositivos que permitem transformar calor em trabalho. O calor pode ser obtido de diferentes fontes: combustão, energia elétrica, energia atômica, etc. Este texto preocupa-se apenas com o caso em que o calor é obtido pela queima do combustível, isto é, energia química em trabalho mecânico. AD OS IM UE AR SQ SE GA CALOR MOTOR EL TÍV CO US MB TRABALHO PE RD AD EC AR LO R Figura 1.1 – Fluxos de massa e energia em um motor de combustão interna – MCI. [A] 28 Motores de Combustão Interna A obtenção de trabalho é ocasionada por uma sequência de processos realizados numa substância que será denominada “fluido ativo – FA”. No caso da Figura 1.1, o FA é formado pela mistura ar e combustível na entrada do volume de controle e produtos da combustão na saída. Quanto ao comportamento do fluido ativo – FA, as máquinas térmicas serão classificadas em: Motores de combustão externa – MCE: quando a combustão se processa externamente ao FA, que será apenas o veículo da energia térmica a ser transformada em trabalho, como, por exemplo, uma máquina a vapor, cujo ciclo é apresentado na Figura 1.2 ou motor de Stiling. Motores de combustão interna – MCI: quando o FA participa diretamente da combustão. Ao longo do texto serão focados os motores de combustão interna – MCI. Quanto à forma de se obter trabalho mecânico, os MCIs são classificados em: Motores alternativos: quando o trabalho é obtido pelo movimento de vaivém de um pistão, transformado em rotação contínua por um sistema biela-manivela. FA FA: fluido ativo QF: calor fornecido à caldeira QR: calor retirado na condensação WF: trabalho fornecido à bomba WR: trabalho gerado 5 4 Turbina QF Caldeira 6 3 Condensador Economizador Água de resfriamento QR 7 Bomba 2 WR WF 1 Figura 1.2 – Ciclo Rankine representativo de um motor de combustão externa – MCE. 29 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Motores rotativos: quando o trabalho é obtido diretamente por um movimento de rotação. São exemplos: turbina a gás e o motor Wankel. Motores de impulso: quando o trabalho é obtido pela força de reação dos gases expelidos em alta velocidade pelo motor. Neste caso são exemplos: motor a jato e foguetes. 1.2 Motores alternativos 1.2.1 Nomenclatura De forma a uniicar a nomenclatura tratada neste texto, a Figura 1.3 mostra os principais elementos de um motor alternativo de combustão interna, enquanto na Figura 1.4 destaca-se o pistão nas posições extremas dentro do cilindro, denominadas respectivamente de ponto morto superior (PMS) e ponto morto inferior (PMI). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 7 5 13 40 11 14 39 30 15 38 31 16 37 32 36 33 35 20 34 19 22 23 26 25 24 23 22 27 28 29 12 21 20 19 18 17 Figura 1.3 – Vista dos componentes de um motor de combustão interna – MCI. [C] Os componentes apresentados na Figura 1.3 pertencem a um motor ciclo Diesel e são: 1. Bomba-d'água 2. Válvula termostática 3. Compressor de ar 4. Duto de admissão 5. Injetor de combustível 6. Válvula de escapamento 7. Coletor de admissão 8. Válvula de admissão 9. Linha de combustível 10. Haste de válvula 11. Duto de água 12. Tampa de válvula continua 30 Motores de Combustão Interna continuação 13. Cabeçote 14. Tampa lateral 15. Bloco 16. Eixo comando de válvulas 17. Volante 18. Virabrequim 19. Capa de mancal 20. Biela 21. Bujão do cárter 22. Bomba de óleo 23. Cárter 24. Engrenagem do virabrequim 25. Amortecedor vibracional 26. Ventilador 27. Duto de admissão 28. Balancim da válvula de admissão 29. Balancim da válvula de escapamento 30. Coletor de escapamento 31. Pistão 32. Motor de partida 33. Dreno de água 34. Filtro de óleo 35. Radiador de óleo 36. Vareta de nível de óleo 37. Bomba manual de combustível 38. Bomba injetora de combustível 39. Respiro do cárter 40. Filtro de combustível Quanto ao item 18, virabrequim, não existe uma padronização, podendo ser chamado de girabrequim, eixo de manivelas e eixo de cambotas, entre outros. A função de cada componente será discutida nos capítulos subsequentes. Quanto à posição do pistão no interior do cilindro: V2 V1 PMS S D S curso PMI Figura 1.4 – Nomenclatura referente às posições do pistão. Onde: PMS: Ponto Morto Superior – é a posição na qual o pistão está o mais próximo possível do cabeçote. PMI: Ponto Morto Inferior – é a posição na qual o pistão está o mais afastado possível do cabeçote. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 31 S: Curso do pistão – é a distância percorrida pelo pistão quando se desloca de um ponto morto para outro (do PMS ao PMI) ou vice-versa. V1: Volume total – é o volume compreendido entre a cabeça do pistão e o cabeçote, quando o pistão está no PMI. V2: Volume morto ou volume da câmara de combustão – é o volume compreendido entre a cabeça do pistão e o cabeçote, quando o pistão está no PMS (também indicado com Vm). Vdu: Cilindrada unitária – também conhecida como volume deslocado útil ou deslocamento volumétrico, é o volume deslocado pelo pistão de um ponto morto a outro. z: Número de cilindros do motor. D: Diâmetro dos cilindros do motor. Vd: Volume deslocado do motor, deslocamento volumétrico do motor ou cilindrada total. V2 V2 Curso - S Vdu Diâmetro - D V2 Figura 1.5 – Nomenclatura referente às posições do pistão. [C] Das Figuras 1.4 e 1.5, pode-se deduzir: 2 Vdu = V1 − V2 = π ⋅ D S 4 Eq. 1.1 Para um motor de z cilindros (multicilindro), a cilindrada ou deslocamento volumétrico do motor Vd será: Vd =Vdu ⋅ z = π ⋅ D2 S ⋅z 4 Eq. 1.2 32 Motores de Combustão Interna rv: Relação volumétrica ou taxa de compressão – é a relação entre o volume total (V1) e o volume morto (V2), e representa em quantas vezes V1 é reduzido. rV = V1 V2 Eq. 1.3 Da Equação 1.1: Vdu + V2 =V1 ⇒ Vdu =V1 - V2 rV = V1 Vdu + V2 Vdu = = +1 V2 V2 V2 Eq. 1.4 A Figura 1.6 apresenta uma relação construtiva típica entre o número z de cilindros de um motor e a cilindrada total deste. Cabe ressaltar que os incrementos da eletrônica nos motores têm sistematicamente alterado essa relação por causa dos recursos de controle disponíveis (exemplo: knock sensor). 0,5 L por cilindro Número de cilindros 12 10 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 Vdu – cilindrada unitária (L) Figura 1.6 – Relação típica entre número de cilindros e volume deslocado. [A] 1.2.2 Nomenclatura cinemática Neste tópico serão descritas algumas características referentes à cinemática dos motores e, para tanto, será utilizada a Figura 1.7. 33 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna V.E. V.A. PMS x S Vp PMI L α ω n r Figura 1.7 – Nomenclatura cinemática. [C] Sendo: V.E.: válvula de escapamento. V.A.: válvula de admissão. r: raio da manivela. n: requência da árvore de manivelas. ϖ: Vp: velocidade angular da árvore de manivelas. velocidade média do pistão. S = 2⋅r Eq. 1.5 ϖ = 2π ⋅ n Eq. 1.6 Vp = 2 ⋅ S ⋅ n Eq. 1.7 a = ângulo formado entre a manivela e um eixo vertical de referência. a = 0o, quando o pistão está no PMS. 34 Motores de Combustão Interna a = 180o, quando o pistão está no PMI. L: comprimento da biela. x: distância para o pistão atingir o PMS. x = r (1 - cosα ) + L (1 - 1 - ( r ) 2 ⋅ sen 2 α ) L Eq. 1.8 Vd = V2 + x π Dp 2 4 1.2.3 Eq. 1.9 Classificação dos motores alternativos quanto à ignição A combustão é um processo químico exotérmico de oxidação de um combustível. Para que o combustível reaja com o oxigênio do ar necessita-se de algum agente que provoque o início da reação. Denomina-se ignição o processo que provoca o início da combustão. Quanto à ignição, os motores alternativos são divididos em dois tipos fundamentais: MIF – MOTORES DE IGNIÇÃO POR FAÍSCA OU OTTO Nesses motores, a mistura combustível-ar é admitida, previamente dosada ou formada no interior dos cilindros quando há injeção direta de combustível (GDI) gasoline direct injection, e inflamada por uma faísca que ocorre entre os eletrodos de uma vela. MIE – MOTORES DE IGNIÇÃO ESPONTÂNEA OU DIESEL Nesses motores, o pistão comprime somente ar, até que o mesmo atinja uma temperatura suficientemente elevada. Quando o pistão aproxima-se do PMS, injeta-se o combustível que reage espontaneamente com o oxigênio presente no ar quente, sem a necessidade de uma faísca. A temperatura do ar necessária para que aconteça a reação espontânea do combustível denomina-se 180º Figura 1.8 – MIF – Motor de ignição por faísca. [C] 35 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna “temperatura de autoignição (TAI)”. A Figura 1.9 apresenta uma câmara de combustão típica de um MIE, enquanto a tabela 1.1 apresenta alguns valores típicos da TAI. Figura 1.9 – MIE – Motor de ignição espontânea. [C] Tabela 1.1 – TAI – valores típicos. Diesel 250 Temperatura de Autoignição – TAI (°C) Etanol Hidratado Metanol 420 478 Gasolina E22 400 As diferentes formas de funcionamento dos dois tipos de motores criam características distintas que, de certa forma, direcionam as suas aplicações, como será visto ao longo do texto. A tabela 1.2 apresenta os valores praticados de taxa de compressão para os diferentes combustíveis. Novamente cabe ressaltar que a massiva presença da eletrônica nos motores tem sistematicamente alterado esta relação. Tabela 1.2 – rv – Valores típicos. Etanol Hidratado 10,0:1 até 14,0:1 Relação ou Taxa de compressão – rv MIF Gasolina E22 8,5:1 até 13,0:1 MIE Diesel 15,0:1 até 24,0:1 36 1.2.4 Motores de Combustão Interna Classificação dos motores alternativos quanto ao número de tempos do ciclo de operação Ciclo de operação, ou simplesmente ciclo, é a sequência de processos soridos pelo FA, processos estes que se repetem periodicamente para a obtenção de trabalho útil. Entende-se por tempo o curso do pistão, e não se deve confundir tempo com processo, pois, ao longo de um tempo, poderão acontecer diversos processos, como será veriicado a seguir. Quanto ao número de tempos, os motores alternativos, sejam do tipo MIF ou MIE, são divididos em dois grupos: MOTORES ALTERNATIVOS A QUATRO TEMPOS (4T) Neste caso, o pistão percorre quatro cursos, correspondendo a duas voltas da manivela do motor, para que seja completado um ciclo. Os quatro tempos, representados na Figura 1.10, são descritos a seguir. 180º 180º 1° Tempo Admissão 2° Tempo Compressão 180º 3° Tempo Expansão 180º 4° Tempo Escape Figura 1.10 – Os quatro tempos do motor alternativo. [C] Tempo de Admissão O pistão desloca-se do PMS ao PMI. Neste movimento o pistão dá origem a uma sucção (depressão) que causa um fluxo de gases através da válvula de admissão – V.A., que se encontra aberta. O cilindro é preenchido com mistura combustível-ar ou somente ar nos motores de injeção direta de combustível – GDI – se for de ignição por faísca, ou por ar (apenas ar), nos MIE. 37 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Tempo de Compressão Fecha-se a válvula de admissão e o pistão se desloca do PMI ao PMS, comprimindo a mistura ou apenas ar, dependendo respectivamente se o motor é um MIF ou MIE. Neste segundo caso a compressão deverá ser suicientemente elevada para que seja ultrapassada a TAI do combustível. Tempo de Expansão No MIF, nas proximidades do PMS, salta a faísca que provoca a ignição da mistura, enquanto no MIE é injetado o combustível no ar quente, iniciando-se uma combustão espontânea. A combustão provoca um grande aumento da pressão, o que permite “empurrar” o pistão para o PMI, de tal forma que o FA sore um processo de expansão. Esse é o processo que realiza o trabalho positivo (útil) do motor. Tempo de Escape Com a válvula de escape aberta, o pistão desloca-se do PMI ao PMS, “empurrando” os gases queimados para fora do cilindro, para reiniciar o ciclo pelo tempo de admissão. 0º 180º 360º 540º 720º α 1 Número de cilindros Expansão Escape Admissão Compressão Escape Admissão Compressão Expansão Compressão Expansão Escape Admissão Admissão Compressão Expansão Escape 2 3 4 Ciclos do motor Figura 1.11 – MIF 4T @ z: 4 cilindros. [C] Cabe ressaltar que, durante o ciclo o pistão percorreu o curso quatro vezes e o eixo do motor realizou duas voltas (num motor de 4T). A Figura 1.11 mostra os quatro tempos de um MCI de 4 cilindros. 38 Motores de Combustão Interna MOTORES ALTERNATIVOS A DOIS TEMPOS (2T) DE IGNIÇÃO POR FAÍSCA Nesses motores o ciclo completa-se com apenas dois cursos do pistão, correspondendo a uma única volta do eixo do motor. Os processos indicados no motor a 4T são aqui realizados da mesma maneira, entretanto, alguns deles se sobrepõem num mesmo curso, conforme pode ser observado na Figura 1.12. C C B A B Ar + Combustível + Lubrificante A Patm Patm P1 (a) 1o Tempo Ar + Combustível + Lubrificante P1 (b) 2o Tempo Figura 1.12 – Motor a 2T de ignição por faísca. [C] 1° Tempo – Figura 1.12 (a): Suponha que o pistão esteja no PMS e a mistura comprimida. Ao saltar a faísca, inicia-se, a combustão, e o pistão é impelido para o PMI. Durante o deslocamento do PMS ao PMI, o pistão comprime o conteúdo do cárter (parte inferior) e, num certo ponto do curso, descobre-se a passagem de escapamento, também denominada janela de escape (B), pela qual os gases queimados, ainda com pressão elevada, escapam naturalmente para o ambiente. Na sequência, o pistão descobre a janela de admissão (C) que coloca o cárter em comunicação com o cilindro, forçando o seu preenchimento com mistura nova. Observa-se que, num instante desse processo, as passagens (B) e (C) estão abertas simultaneamente, podendo haver fluxo de mistura nova junto com os gases de escapamento. Entretanto, um adequado projeto das janelas de admissão e escapamento em conjunto com o formato do topo do pistão pode minimizar este fenômeno (chamado de “curto-circuito” entre admissão e escapamento). Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 39 2° Tempo – Figura 1.12 (b): O pistão desloca-se do PMI ao PMS. Ao longo do seu deslocamento, fecha a janela de admissão (C) e, a seguir, fecha a janela de escapamento (B) e abre a passagem (A), de forma que, em virtude da sucção (depressão) criada no cárter durante o deslocamento ascendente (do pistão), o cárter é preenchido com mistura nova. Observa-se que, ao mesmo tempo, a parte superior do pistão comprime a mistura anteriormente admitida. Ao se aproximar do PMS, salta a faísca, e a pressão gerada pela combustão impele o pistão para o PMI reiniciando a expansão, já descrita no 1o tempo. Nesse motor tem-se um tempo de trabalho positivo a cada dois cursos do pistão ou em cada volta da manivela, e não a cada duas voltas como acontece no motor a 4T. Essa diferenciação de número de voltas para um tempo de trabalho positivo dará origem ao fator de tempos designado pela letra x. À primeira vista, o motor a 2T deveria produzir o dobro da potência do motor a 4T para uma mesma rotação. Entretanto, isso não acontece por conta da precariedade dos diversos processos em decorrência da superposição de acontecimentos. Outra desvantagem desse motor refere-se à lubriicação, pois na coniguração usual de motores 2T pequenos, em decorrência do uso do cárter para a admissão da mistura combustível-ar, não é possível utilizá-lo como reservatório do lubriicante, e a lubriicação ocorre misturando-se lubriicante numa pequena porcentagem com o combustível (normalmente 1:20 – 1 litro de lubriicante para 20 litros de gasolina). A lubriicação é realizada por aspersão pela própria mistura admitida no cárter. O processo é precário, reduzindo a durabilidade, bem como fazendo com que o lubriicante queime junto com o combustível, diicultando a combustão e comprometendo os gases emitidos. A favor do motor 2T tem-se a ausência do sistema de válvulas, o que o torna simples, pequeno, leve e de baixo custo, para uma mesma potência de um motor a 4T. A Figura 1.12 apresenta simultaneamente os dois tempos deste MIF – 2T, enquanto a Figura 1.13, apresenta as pressões e temperaturas típicas destes. Uma vez que nos motores de 4T têm-se duas voltas do virabrequim para o trabalho positivo e nos de 2T apenas uma volta, faz-se necessário deinir fator de tempos, designado pela letra x e estabelecer esta relação, ou seja, x será 1 para motores 2T (1 volta para 1 trabalho positivo) enquanto x assumirá o valor numérico 2 para os motores de 4T. A Figura 1.14 mostra a concepção de um motor ciclo Diesel a 2T. No caso do motor Diesel, em lugar de se utilizar o cárter para a admissão, aplica-se uma máquina auxiliar, acionada pelo eixo do motor. A bomba de lavagem (elemento que provoca a exaustão dos gases de escape) é um compressor volumétrico (blower), que introduz pelas janelas de admissão uma grande quantidade de ar. O fluxo de ar empurra para fora, através de uma ou mais válvulas de escapamento, os gases de combustão e uma parte deste é retida quando as válvulas fecham. O pistão comprime fortemente o ar retido e, quando se aproxima do PMS, injeta-se o combustível que, ao queimar espontaneamente, gera a pressão necessária à produção de trabalho positivo. 40 Figura 1.13 – MIF 2T. Fase do ciclo Transferência Combustão e Trabalho Compressão 20 200 a 400 2000 a 2800 Pressão do gás (bar) 1 5a8 15 a 30 Transferência 500 a 1200 1a3 Combustão e Trabalho Compressão 120 200 a 400 2000 a 2800 1 5a8 15 a 30 Escape 500 a 1200 1a3 Posição do pistão 0° Rotação da árvore de manivelas 90° 180° 1 270° 360° 90° 180° 2 270° 360° Motores de Combustão Interna Temperatura dos gases (°C) Escape 41 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Após a expansão o pistão passa pelas janelas de admissão quando, novamente, o blower faz a lavagem dos gases de escapamento e proporciona a admissão. Nota-se que os processos descritos utilizam apenas dois cursos e, consequentemente, uma volta da manivela (x=1). A mesma solução pode utilizar janelas de escapamento no cilindro, em lugar do uso de válvulas, simpliicando o motor mecanicamente. Escape e Admissão Curso1 Compressão Curso 2 Expansão Figura 1.14 – Motor Diesel a 2T – concepção com válvulas de escapamento. 1.2.5 Diferenças fundamentais entre os motores de 2T e 4T A tabela 1.3 apresenta de forma resumida as principais diferenças entre os motores de 2T e 4T. Tabela 1.3 – Motores 2T e 4T. Diferenças 4T 2T Tempos x Ciclo Útil Fator de tempos 2 voltas manivela x=2 Sistema mecânico Mais complexo Alimentação Boa Lubrificação Boa 1 volta manivela x=1 Mais simples Ausência de: Válvulas Eixo comando Ruim Perda de mistura no escape Presença de lubrificante Ruim Presença de combustível 42 1.2.6 Motores de Combustão Interna Diferenças fundamentais entre os motores ciclos Otto e Diesel a 4T Do ponto de vista mecânico, não existem grandes diferenças entre os dois tipos de motores, a não ser a maior robustez do motor Diesel (decorrente da taxa de compressão necessária). Dessa forma, as principais diferenças são resumidas a seguir. INTRODUÇÃO DO COMBUSTÍVEL Nos motores Otto a mistura é introduzida, em geral, já homogeneizada e dosada. A exceção se faz para os motores de ignição por centelha de injeção direta de combustível (GDI), nos quais somente ar é admitido e a injeção de combustível é realizada diretamente no interior do cilindro. Nos motores ciclo Diesel – MIE admite-se apenas ar, e o combustível é injetado inamente pulverizado ao inal do curso de compressão, pelo qual, em pouquíssimo tempo, deverá se espalhar e encontrar o oxigênio do ar. Esse fato faz com que nos MIE seja necessário um sistema de injeção de alta pressão. Por outro lado, torna-se difícil obter rotações elevadas nesses motores, pois, ao aumentar o ritmo do pistão, torna-se improvável a combustão completa do combustível, introduzido na última hora. IGNIÇÃO Nos MIF a ignição é provocada por uma faísca, necessitando de um sistema elétrico para produzi-la. Nos motores ciclo Diesel a combustão ocorre por autoignição, pelo contato do combustível com o ar quente – TAI. TAXA DE COMPRESSÃO Nos MIF a taxa de compressão será relativamente baixa para não provocar autoignição, já que o instante apropriado da combustão será comandado pela faísca. Nos MIE a taxa de compressão deve ser suicientemente elevada, para ultrapassar a temperatura de autoignição do combustível – TAI (veja tabelas 1.1 e 1.2). 1.3 Outras classificações 1.3.1 Quanto ao sistema de alimentação de combustível Os motores ciclo Otto são alimentados por combustível por meio de um carburador ou de um sistema de injeção de combustível. O carburador ainda é 43 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna utilizado em aplicações de baixa potência nas quais as limitações de emissão de poluentes são menos restritivas do que em aplicações automotivas. A injeção de combustível, além de mais precisa permite melhores resultados no controle de emissões podendo ocorrer no coletor de admissão ou diretamente na câmara de combustão (GDI – Gasoline Direct Injection). A Figura 1.15 apresenta esquematicamente um carburador. Gicleur de marcha lenta Calibrador de ar de marcha lenta AR AR Parafuso de regulagem da mistura Borboleta do acelerador Figura 1.15 – Alimentação de combustível – MIF – Carburador. [D] 44 Motores de Combustão Interna A Figura 1.16, apresenta as diferenças entre os sistemas de injeção de combustível PFI – Port Fuel Injection e GDI – Gasoline Direct Injection. Válvula de admissão Injetor Válvula de admissão Coletor de admissão Injetor PFI GDI Figura 1.16 – Alimentação de combustível – PFI & GDI – ciclo Otto. A Figura 1.17 apresenta o esquema de um sistema de injeção de combustível aplicado aos MIEs, onde o combustível é injetado durante a compressão no interior da câmara de combustão, atualmente com pressões no entorno de 2.000 bar. Em capítulos posteriores estes temas serão detalhados. Bico injetor Tanque de combustível Bomba injetora Figura 1.17 – Alimentação de combustível – ciclo Diesel. [A] 45 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 1.3.2 Quanto à disposição dos órgãos internos Esta classiicação está relacionada com a dimensão possível do conjunto. A Figura 1.18 (a) mostra esquematicamente 3 disposições típicas: cilindros em linha, em V e opostos ou boxer. A Figura 1.18 (b) mostra dois exemplos de motores aeronáuticos: um boxer e outro radial – este com cilindros dispostos radialmente em torno do virabrequim. 6 1 2 3 1 4 5 3 2 5 4 67 8 1 2 4 3 (a) (b) Figura 1.18 – Disposição dos cilindros. [C] A Figura 1.19, apresenta esquematicamente motores ciclo Diesel nas versões em linha e em V. 46 Motores de Combustão Interna Figura 1.19 – Disposição dos cilindros – em linha e em V. 1.3.3 Quanto ao sistema de arrefecimento O trabalho gerado da combustão resulta uma parcela signiicativa de atrito e calor. Para a manutenção da vida dos componentes faz-se necessário o arrefecimento de algumas áreas e componentes. O arrefecimento pode ser realizado com ar (geralmente em motores pequenos) ou com água. A seguir são apresentadas as vantagens e desvantagens de cada sistema: Sistema de arrefecimento a ar: Vantagem: mais simples. Desvantagem: menos eiciente e menos homogênea. Sistema de arrefecimento à água: Vantagem: mais eiciente, reduzindo o ruído do motor. Desvantagem: complexidade. 47 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna A Figura 1.20 apresenta esquematicamente estes sistemas. Num capítulo posterior, serão revistos e dimensionados estes sistemas de arrefecimento, assim como apresentados com maiores detalhes. Tampa do radiador Temperatura d’água Válvula termostática Aletas Ventilador Aquecedor interno do veículo Cilindro Ar Pistão Galerias d’água Radiador Bombad’água Figura 1.20 – Sistemas de arrefecimento – água e ar. [C] 1.3.4 Quanto às válvulas A abertura e o fechamento das válvulas são usualmente realizados pelo eixo comando de válvulas, assim acaba gerando uma classiicação relativa à posição desse no sistema. A Figura 1.21 mostra um sistema típico no qual o trem que movimenta as válvulas é formado por: tucho, hastes e balancins. Esse sistema, além de complexo, permite folgas que acabam por comprometer o desempenho dos motores. A Figura 1.22 apresenta o eixo comando agindo diretamente sobre as válvulas. Além dessa classiicação quanto à posição do eixo comando, os motores também podem apresentar mais que uma válvula na admissão e/ou escapamento. Num capítulo posterior, serão Balancim Haste de válvulas Válvulas Tuchos Eixo comando Figura 1.21 – Sistemas de acionamento das válvulas. [C] 48 Motores de Combustão Interna revistos e dimensionados esses sistemas de admissão de ar, assim como apresentados com maiores detalhes. OHC OverHead Camshaft DOHC Double OverHead Camshaft Figura 1.22 – Acionamento das válvulas no cabeçote. 1.3.5 Quanto à alimentação de ar O desempenho de um motor de combustão interna está fortemente associado à quantidade de ar admitido e retido no interior dos cilindros, pois, quanto mais ar é admitido, maior também será a quantidade de combustível a ser adicionado e posteriormente oxidado. O fluxo de ar para o interior dos cilindros no tempo de admissão se dá em função da geração de um gradiente de pressão entre o coletor de admissão e o cilindro. No caso em que esse gradiente é ocasionado unicamente pelo deslocamento do pistão do PMS para o PMI, o que gera uma depressão no interior do cilindro, e não havendo nenhum dispositivo que eleve a pressão no coletor de admissão acima da pressão atmosférica, tem-se o motor denominado naturalmente aspirado. Nesses motores, o gradiente de pressão no processo de admissão é limitado pela pressão de admissão, que será no máximo a pressão atmosférica. Com a finalidade de aumentar esse gradiente e, consequentemente, a massa de ar admitida pelo motor, surgiram os motores sobrealimentados. Nesses motores, existem dispositivos que elevam a pressão 49 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna no coletor de admissão acima da pressão atmosférica. Um desses dispositivos é o turbocompressor, que utiliza os gases de escapamento para gerar trabalho numa turbina e transferi-lo para o compressor, que por sua vez se encarrega de aumentar a pressão no coletor de admissão. Outra forma de sobrealimentação é a mecânica, na qual o compressor é acionado mecanicamente pelo motor e comprime o ar no coletor de admissão e no interior da câmara de combustão durante a admissão. As iguras 1.23 e 1.24 apresentam o sistema denominado turbocompressor enquanto a Figura 1.25 apresenta um compressor mecânico tipo roots. Figura 1.24 – Turbocompressor. [F] Entrada de óleo lubrificante Saída de gases de escape Turbina Eixo da turbina Admissão de ar Compressor Saída de óleo lubrificante Entrada dos gases para a turbina Entrada de ar para o cilindro Figura 1.23 – Motor com turbocompressor. [F] 50 Motores de Combustão Interna Figura 1.25 – Compressor mecânico. [C] Fluxo de ar comprimido Entrada de óleo lubrificante MCI Resfriador de ar Compressor Entrada de ar ambiente Turbina Saída de gases de escapamento Compressor Saída de óleo de lubrificante Figura 1.26 – Turbocompressor associado a resfriador. [F] Válvula Wastegate Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 51 O processo de compressão do ar acarreta o aumento da temperatura deste. Esse aumento ocasiona a redução da massa especíica do ar em comparação a uma condição de mais baixa temperatura. A im de se minimizar esse efeito de redução da massa especíica (densidade) do ar gerado pelo aumento de temperatura na compressão, foram concebidos resriadores que reduzem a temperatura após a saída do compressor. A Figura 1.26 apresenta um motor com o sistema turbocompressor associado a um resriador de ar (ar-ar), aumentando ainda mais a massa introduzida no interior dos cilindros. A Figura 1.27 mostra uma das vantagens da utilização da sobrealimentação somada ao resriamento do ar. A redução no tamanho dos motores para a mesma potência é conhecida como downsizing e muito utilizada neste início de século na Europa (veja o item 1.3.9). Figura 1.27 – Downsizing – z = 2 @ 0,9L @ turbocharged. [I] 1.3.6 Quanto à relação entre diâmetro e curso do pistão Outra forma de classiicar os MCIs é por meio da relação diâmetro-curso do pistão. Com essa classiicação tem-se: Motor quadrado: quando o diâmetro do pistão é igual ao curso (D = s). Esses motores apresentam bom desempenho em todas as rotações. Motor subquadrado: quando o diâmetro é menor que o curso (D < s). Esses motores apresentam torque e potência em baixas rotações, sendo um exemplo o motor VW AP-2000 – 827 (82,5 mm x 92,8 mm). 52 Motores de Combustão Interna Motor superquadrado: quando o diâmetro é maior que o curso (D > s), caracterizando motores de veículos esportivos com torque e potência em altas rotações. O expediente de usar o mesmo bloco em motores de diversas cilindradas é bastante comum no mercado brasileiro. A tabela 1.4 apresenta uma compilação histórica de motores nacionais. Tabela 1.4 – Diâmetro e curso de diferentes motores. Motor Vd (cm3) S (cm) D (cm) Potência@Rotação (kW@rpm) Torque@Rotação (Nm@rpm) Classificação VW 1.6 VW 2.0 Fiat 1.6 GM 2.5 Ford 1.8 GM 2.0 VW 1.8 Fiat 1.5 Ford 1.6 GM 1.8 1596 1984 1590 2471 1781 1988 1781 1498 1555 1796 81,0 82,5 86,4 101,6 81,0 86,0 81,0 86,4 77,0 84,8 77,4 92,8 67,4 76,2 86,4 86,0 86,4 63,9 83,5 79,5 66@5600 92@5800 62@5700 60@4400 68@5200 81@5600 71@5200 60@5200 54@5200 95@5600 132@2600 191@3000 129@3250 168@2500 152@2800 170@3000 153@3400 125@3500 123@2400 148@3000 Superquadrado Subquadrado Superquadrado Superquadrado Subquadrado Quadrado Subquadrado Superquadrado Subquadrado Superquadrado 1.3.7 Quanto à rotação Quanto à rotação, os MCIs são classiicados em: Rápidos: n > 1500 rpm. Médios: 600 < n < 1500 rpm. Lentos: n < 600 rpm. 1.3.8 Quanto à fase do combustível Esta classiicação divide os motores entre aqueles que utilizam combustíveis líquidos e os gasosos. 1.3.9 Quanto à potência específica As exigências impostas às emissões de poluentes têm tornado antieconômica a aplicação de motores ciclo Diesel em automóveis de passeio na Europa. Com isso, o mercado está retomando a utilização de motores ciclo Otto, mas com maior potência especíica (equação 1.10). 53 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Neespecífica = Ne . VT Eq. 1.10 Onde: Neespecífica: potência efetiva especíica. Ne: potência efetiva. VT: cilindrada total – Vd Observa-se nestes motores: Aumento da potência e torque sem aumentar a cilindrada total – VT, via de regra obtido por meio de sobrealimentação. Redução da cilindrada total – VT, mantendo a mesma potência. Redução do número de cilindros – z. Seja qual for o caso, o objetivo principal está na redução do consumo de combustível e emissão de gases poluentes, graças à: Redução das perdas por bombeamento em decorrência do menor volume varrido pelos pistões a cada revolução do motor e da maior pressão no interior da câmara de combustão. Redução da transferência de calor devida à redução de área de superfície interna e, consequentemente, maior aproveitamento da energia térmica na realização de trabalho de expansão. Redução das perdas por atrito devida à menor dimensão das partes móveis. Este último ponto é fundamental, pois a redução é mais eiciente quando a energia especíica não representa um aumento na rotação do motor, mas o aumento do torque em toda a faixa de rotações (por meio da melhoria de enchimento dos cilindros, também chamada de eiciência ou rendimento volumétrico, cuja conceituação será apresentada no Capítulo 3 – Propriedades e curvas características dos motores). As estratégias adotadas de otimização, para melhorar o enchimento dos cilindros são: Quatro válvulas por cilindro. Eixo comando de válvulas variável na admissão e/ou escapamento. Sobrealimentação. 54 Motores de Combustão Interna A utilização do downsizing não pode ser apresentada como uma nova estratégia, pois os motores vêm sorendo redução em seus deslocamentos volumétricos progressivamente desde o início da indústria automotiva, passo a passo, dependendo da disponibilidade de tecnologias. A redução do consumo de combustível proporcionada pelo downsizing é mais expressiva em cargas parciais por causa da redução das perdas por bombeamento causadas pela borboleta de aceleração. Um exemplo de tipo de utilização do veículo no qual o downsizing pode trazer reduções de consumo é o ciclo urbano, no qual é predominante a utilização de regimes de cargas parciais (borboleta parcialmente aberta). E para que se atinjam valores de potência e torque comparáveis aos motores de maior cilindrada, é necessário que se empreguem formas de sobrealimentação, sendo a turbocompressão a mais usual. A tabela 1.5 a seguir mostra que a tendência dos motores automotivos é um constante aumento da carga especíica. Pode-se notar que a potência especíica dos motores sobrealimentados ciclo Diesel é comparável ao de motores naturalmente aspirados ciclo Otto, mas com um torque especíico que está no entorno de 1,5 vez maior. Tabela 1.5 – Incremento de potência e torque específicos. Atual Ciclo Alimentação Diesel Sobrealimentado Naturalmente aspirados Sobrealimentado Otto Futura Potência específica (kW/L) 65 Torque específico (Nm/L) 150 Potência específica (kW/L) 80 Torque específico (Nm/L) 200 65 100 65 100 110 200 130 250 O tema downsizing deverá ser aprofundado em outras fontes especíicas ou revistas atualizadas. 1.4 Motores rotativos Nesses motores, o trabalho é obtido diretamente de um movimento de rotação, não existindo, portanto, o movimento alternativo ou de “vaivém”. 1.4.1 Turbinas a gás A turbina a gás é um motor rotativo de combustão interna, uma vez que utiliza os gases produzidos por uma combustão para o seu acionamento. O ciclo termodinâmico que representa a turbina a gás simples é o ciclo Brayton. Exis- 55 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna tem diversas possibilidades de modiicação para melhorar o rendimento desse ciclo, entretanto, não serão estudadas neste texto, e o leitor deverá recorrer à literatura especializada. A coniguração mais simples de uma turbina a gás é obtida pelo agrupamento de três subsistemas: Um compressor que comprime ar numa câmara de combustão. Uma câmara de combustão onde o combustível queima com o oxigênio do ar. Uma turbina, propriamente dita, que gira, acionada pelos gases de combustão. O compressor é acionado pela turbina, à qual é ligado por um eixo e parte do trabalho desta é utilizado para essa inalidade. O trabalho da turbina, descontado do trabalho do compressor, é a energia útil do sistema. A Figura 1.28 mostra esquematicamente uma turbina a gás. Combustível Admissão Ar Escape Expansão Compressão Figura 1.28 – Exemplo de uma turbina a gás. [G] A aplicação desse equipamento pode ser realizada de duas formas distintas. Forma 1: utilizando diretamente o trabalho do eixo, por exemplo, acionando geradores elétricos, hélices de avião (turbo-hélice), navios, helicópteros, bombas hidráulicas e outros. A Figura 1.29 mostra uma turbina a gás que aciona um gerador elétrico de 109 MW enquanto a Figura 1.30 mostra um turbo-hélice. Forma 2: aproveitando a energia do jato dos gases de escape, acelerados por um bocal, nesse caso o motor é impelido pela força de reação dos gases e, na realidade, é um motor de impulso, e não um motor rotativo (é o caso, por 56 Motores de Combustão Interna Figura 1.29 – Sistema de turbina a gás para acionamento de gerador elétrico. [H] Propulsão Compressor Turbina Exaustão Caixa de engrenagens Eixo Câmara de combustão Figura 1.30 – Turbo-hélice. [G] exemplo, do turbo jato ou suas variantes, usados na aviação). Nessa aplicação o sistema de turbina a gás, constituído de compressor, câmara de combustão e turbina é utilizado como “gerador de gases”, sendo que o elemento fundamental é o compressor, responsável pela introdução de um grande fluxo de ar. A turbina tem a função de acionamento do compressor. A Figura 1.28 mostra os componentes de um turbo jato, enquanto a Figura 1.31 mostra esquematicamente uma turbina Rolls-Royce. Na comparação da turbina a gás com os motores alternativos, pode-se ressaltar que nestas os processos acontecem continuamente, enquanto que nos alternativos, os processos são intermitentes. Isso causa uma diferença 57 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna Figura 1.31 – Turbina a gás – componentes internos. [G] fundamental, já que no sistema de turbina a gás as regiões rias e quentes são separadas. Assim, a câmara de combustão e a turbina estão continuamente sujeitas ao contato com os gases quentes, precisando controlar a temperatura desses. Nos motores alternativos os processos quentes e rios acontecem no mesmo espaço, dando origem a uma temperatura média relativamente baixa, uma vez que os materiais assumirão a média das temperaturas ao longo do ciclo. A Figura 1.32 mostra simultaneamente os tempos ocorrendo num motor rotativo e noutro alternativo. Admissão Expansão Compressão Admissão Escape Compressão Figura 1.32 – Turbina a gás x motor alternativo. [G] Expansão Escape 58 1.4.2 Motores de Combustão Interna Motor Wankel O motor Wankel é constituído fundamentalmente de um rotor, aproximadamente triangular e de um estator, cujo formato geométrico é gerado pela posição dos três vértices do rotor durante o seu movimento. Apesar de ser considerado um motor rotativo, o rotor sore movimentos de translação associados à rotação. A Figura 1.33 indica o movimento do rotor, guiado pela engrenagem central, evidenciando que o rotor não gira em torno de seu eixo, o que provoca deslocamentos laterais. i j i j A D Admissão Admite ar + combustível p1 < patm Compressão Comprime a mistura p2 > patm i j C Expansão Expansão da mistura p3 > p2 B i j Escape Limpeza do sistema p4 > patm Figura 1.33 – Sequência das posições do rotor do motor Wankel, ao longo de sua rotação. [C] Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 59 Para compreender o funcionamento do sistema o leitor deve acompanhar apenas uma das faces do rotor (veja na Figura 1.33 a face i – j) e veriicará que esta realiza todos os processos observados no motor alternativo de pistão. De forma não fasada, esses processos acontecerão nas outras duas faces. Nota-se que, em razão da relação das engrenagens, uma das faces completará uma volta somente após três voltas do eixo do motor, portanto, para cada face do rotor, será realizado trabalho positivo somente a cada três voltas do eixo. Entretanto, como a cada volta do rotor as três faces realizam trabalho positivo, conclui-se que se realiza trabalho positivo a cada volta do eixo do motor, o que é equivalente a um motor alternativo – MIF a 2T. A ausência de válvulas e a simplicidade do motor tornam seu uso interessante, nas mesmas aplicações do motor alternativo. As desvantagens básicas que apresenta são: Necessidade de lubriicante misturado com o combustível, como no motor a 2T. Desgaste prematuro das laminas de vedação dos vértices do rotor (Figura 1.34). Grande diferença de temperaturas entre o lado quente e o lado rio, provocando deformação da pista do estator sobre a qual gira o rotor. Rotor Engrenagem de rotor Câmara Paletas de vedação Figura 1.34 – Rotor Wankel. [3] Para a produção de maiores potências, podem-se utilizar dois ou mais rotores em série sobre o mesmo eixo, com posições defasadas, o que auxilia no balanceamento conforme apresentado na Figura 1.35. A Figura 1.36, mostra fotograias dos principais componentes de um motor Wankel. 60 Motores de Combustão Interna Engrenagem interna do rotor Rotor Lâminas de vedação lateral Câmara Eixo Engrenagem do eixo Figura 1.35 – Motor Wankel com dois rotores. Figura 1.36 – Fotografias de um motor Wankel. Lâminas de vedação dos vértices Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 61 Para correlação da cilindrada dos rotativos Wankel com os convencionais alternativos, desenvolveu-se a equação 1.10. Vd = B ⋅ e ⋅ R 4K sen 180º K-1 K Eq. 1.11 Onde: B – largura do rotor. e – excentricidade do rotor. R – raio da circunferência circunscrita pelo rotor. K – número de câmaras. z= K - 1 Eq. 1.12 Sendo z o número de cilindros de um motor alternativo equivalente. A Figura 1.37 apresenta o motor Mazda 1991 RX7 com 4 rotores em série que venceu as 24 Horas de Le Mans. A Figura 1.38 motra o carro Mazda RX8 equipado com um motor Wankel de dois rotores. Figura 1.37 – Motor Mazda 1991 RX7. 62 Motores de Combustão Interna Motor: Wankel; z = 2 rotores; Ignição faísca; Vdu = 1,3 L; Nemáx = 250 cv; Motor Renesis eleito motor do ano 2003. Figura 1.38 – Carro: Mazda RX8. 1.5 Histórico Cabe, nesta introdução, um pequeno aceno histórico para que o leitor tenha uma ideia dos pioneiros dos motores, alguns dos quais a eles ligaram seus nomes. O MIF 4T é baseado nos princípios de funcionamento apresentados por Beau de Rochas em 1862, entretanto, o aperfeiçoamento e a aplicação prática desses motores deve-se a Nikolaus August Otto em 1876. Por causa disso, esse motor é normalmente denominado “motor Otto”. Figura 1.39 – Nikolaus August Otto. [D] O princípio de funcionamento do motor a 2T de ignição por faísca deve-se a Dugald Clerck em 1878. Já o motor de ignição espontânea foi desenvolvido inicialmente por Rudolf Christian Karl Diesel em 1892, daí ser comumente chamado de “motor Diesel”. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 63 Figura 1.40 – Rudolf Diesel e seus manuscritos. [E] A turbina a gás, na sua forma mais simples é a execução prática do ciclo Brayton (1873), mas o seu desenvolvimento procedeu-se realmente nos últimos 80 anos, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando houve necessidade de grandes potências com motores leves, isto é, grandes potências especíicas. Os motores rotativos tiveram seu estudo iniciado antes de 1920, mas a sua execução foi retardada até 1960, quando Wankel e Froede puderam construir um motor economicamente competitivo e de fácil execução. A produção inicial do motor, que leva o nome do seu idealizador, deve-se à fábrica alemã NSU, em 1963. A câmara de combustão r r r é o resultado da intersecção de 3 cilindros - epitrocoide Figura 1.41 – Dr. Felix Wankel e a epitrocoide. [D] 64 1.6 Motores de Combustão Interna Aplicações As aplicações de um dado tipo de motor numa certa área são função de suas características gerais. Entre essas, pode-se destacar: peso, volume, ruído, coniabilidade, facilidade de manutenção, consumo de combustível, vida útil, vibrações, potência máxima, custo de operação e emissões. A importância de cada uma dessas características, em cada aplicação particular, em geral, não deixa dúvidas sobre a opção do tipo de motor a ser utilizado. Em certos casos, porém, existe uma superposição de características desejáveis, que permitiria adotar duas ou mais soluções. Nesse caso, o know-how do fabricante é quem decide, já que ninguém se aventuraria em novas soluções, quando já se tem alguma satisfatória. Assim, dentro das possíveis superposições que possam existir, bem como dos possíveis casos particulares que o leitor possa ter observado, apresenta-se, a seguir, uma indicação geral das principais aplicações dos diversos tipos de MCI. Os motores Otto a 4T (MIF – 4T) caracterizam-se por uma baixa relação peso-potência e volume-potência, desde que a potência máxima seja relativamente baixa (400 kW ou cerca de 540 cv). Outras características próprias desses motores são a suavidade de funcionamento em toda a faixa de uso, o baixo custo inicial e sistemas de controle de emissões relativamente simples e baratos. Essas características tornam esse motor adequado à aplicação em automóveis, apesar de serem utilizados em pequenos veículos de transporte, embarcações esportivas, aplicações estacionárias e pequenos aviões, sempre para potências relativamente baixas. Figura 1.42 – Aplicações típicas de motores a 4T ciclo Otto. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 65 Figura 1.43 – Aplicações aeronáuticas de motores a 4T. Os MIFs – 2T limitam-se a pequenas potências. O seu custo inicial para uma mesma potência é menor que o dos MIFs – 4T, entretanto, por conta do elevado consumo especíico e aos problemas de lubriicação que reduzem a sua vida útil, não são usados para potências elevadas, nas quais seu uso torna-se antieconômico. Além disso, em geral, são ruidosos, instáveis em certas faixas de funcionamento e extremamente poluentes. Por causa dessas características, o seu uso limita-se a pequenas motocicletas, pequenos barcos, motosserras, cortadores de grama, geradores, pequenas aplicações estacionárias, etc. Os motores ciclo Diesel têm eiciência térmica elevada (esta deinição será explicada no Capítulo 3 – Propriedades e curvas Figura 1.44 – Aplicações náuticas – MIF 2T. [I] 66 Motores de Combustão Interna características dos motores), baixo custo de operação, vida longa, mas custo inicial elevado e pouca suavidade de funcionamento. Em certas aplicações sua potência ultrapassa 20.000 kW (30.000 cv), sendo que, acima de 3.000 kW (4.000 cv), em geral, são a 2T já que não apresentam as mesmas desvantagens do MIF – 2T. O seu emprego realiza-se em caminhões, ônibus, propulsão marítima, locomotivas, máquinas agrícolas e de terraplanagem, instalações estacionárias, automóveis dentro de certas restrições e raramente em aviação. Figura 1.45 – Aplicações típicas de motores a 4T, ciclo Diesel. A Figura 1.46 mostra a aplicação marítima de um motor ciclo Diesel 2T. Como descrito anteriormente, nesses casos, a bomba de lavagem é um compressor volumétrico (blower), que introduz pelas janelas de admissão uma grande quantidade de ar. As turbinas a gás apresentam como principal característica uma baixa relação peso-potência, principalmente para elevadas potências. Por causa dessa característica têm sua maior aplicação em aviação, mas seu uso estende-se a instalações estacionárias e propulsão marítima e ferroviária. O motor Wankel é uma alternativa ao motor Otto a 4T na aplicação em veículos de passeio. É importante ressaltar novamente que, em certos casos, pode haver uma migração de certo tipo de motor de um campo mais indicado para outro, entretanto serão casos esporádicos e particulares provocados por alguma razão peculiar. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 67 Figura 1.46 – MIE 2T – Aplicação marítima. EXERCÍCIOS 1) Um motor alternativo tem 4 cilindros de diâmetro 8,2 cm e curso 7,8 cm e uma taxa de compressão 8,5. Pede-se: a) A cilindrada ou deslocamento volumétrico do motor em cm3; b) O volume total de um cilindro; c) O volume morto. Respostas: a) 1.648 cm3; b) 467 cm3; c) 55 cm3. 2) Um motor de 6 cilindros tem uma cilindrada de 5,2 L. O diâmetro dos cilindros é 10,2 cm e o volume morto é 54,2 cm3. Pede-se: a) O curso; b) A taxa de compressão; c) O volume total de um cilindro. Respostas: a) 10,6 cm; b) 17:1; c) 920,8 cm3. 68 Motores de Combustão Interna 3) Um motor de 4 cilindros tem taxa de compressão 8,0:1. O diâmetro dos cilindros é 7,8 cm e o curso é 8,2 cm. Deseja-se aumentar a taxa de compressão para 12,0:1. De que espessura deve ser “rebaixado” o cabeçote, (sem se preocupar com possíveis interferências)? Resposta: 4,3 mm. 4) Um motor de 6 cilindros tem uma cilindrada de 4,8 L. O diâmetro dos cilindros é 10,0 cm. Deseja-se alterar a cilindrada para 5.400 cm³, sem se alterar o virabrequim. Qual deverá ser o novo diâmetro dos cilindros? Resposta: 10,6 cm. 5) Num motor troca-se a junta do cabeçote original por outra alternativa. A original tem 5,0 mm de espessura e, ao apertar os parafusos com o torque correto, reduz-se para 4,0 mm. A junta alternativa após o aperto ica com 3,0 mm de espessura. Sendo o motor de cilindrada 1,6 L, de 4 cilindros, com curso 9,0 cm, qual a nova taxa de compressão se a original era 8,5? Resposta: 9,2:1. 6) Um motor a 4T, 4 cilindros, com cilindrada total de 2,0 L, funciona a 3.200 rpm. A relação de compressão é 9,4:1 e a relação curso-diâmetro é 0,9. Pede-se: Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 69 a) o volume morto; b) o diâmetro do cilindro; c) a velocidade média do pistão em m/s (a velocidade média do pistão é obtida por: vp = 2.s.n). Respostas: a) 59,5 cm3; b) 89 mm; c) 8,53 m/s. 7) O motor da Ferrari F1 – 2.000 possui 10 cilindros montados em V, 40 válvulas, cilindrada total de 2.997 cm³ e potência de 574 kW (770 HP) [1]. Os cilindros têm diâmetro de 96 mm, motor a 4T, diâmetro dos pistões de 10 cm, raio do virabrequim de 4,5 cm; volume da câmara de combustão de 78,5 cm3 e rotação de 14.500 rpm. Pede-se, determinar: a) O curso (mm); b) A cilindrada unitária (m3); c) A taxa de compressão; d) A velocidade média do pistão (m/s); e) A velocidade angular da árvore comando de válvulas (rad/s); f ) Se na rotação dada, a combustão se realiza para Da = 25o, qual o tempo de duração da combustão (s)?; g) O número de vezes que a válvula de escape abre em 1 minuto. [A] Respostas: a) 90 mm; b) 299,7 cm3; c) 4,8:1; d) 68,3 m/s; e) 758,8 s-1; f ) 4,8.10-6s; g) 7.250 vezes. 8) Um motor a 4T tem 4 cilindros, diâmetro de 8,6 cm, curso de 8,6 cm e taxa de compressão 9:1. A rotação é de 5.400 rpm. Pede-se: a) A cilindrada unitária (cm3); b) A cilindrada do motor (cm3); 70 Motores de Combustão Interna c) O volume morto (cm3); d) O volume total (cm3); e) O raio da manivela (cm); f ) A nova taxa de compressão ao trocar a junta por outra com 1 mm a menos de espessura; g) O número de cursos de um pistão, por segundo; h) O número de vezes que a válvula de admissão abre em 1 minuto. Respostas: a) 499,3 cm3; b) 1.997,2 cm3; c) 62,4 cm3; d) 561,7 cm3; e) 4,3 cm; f ) 8,31:1; g) 565,5 cursos/s; h) 2700 aberturas/min. 9) Porque os motores Otto 2T têm seu campo de aplicação limitado a baixas potências? 10) Para um motor rotativo Wankel, são conhecidas as seguintes dimensões: Excentricidade do rotor = 11 mm; Raio da circunferência circunscrita pelo rotor = 84 mm; Largura do rotor = 52 mm; Número de câmaras = 3; Determinar: a) O número de cilindros do motor alternativo correspondente; b) A cilindrada total do motor alternativo correspondente (m3). Respostas: a) 2 e b) 2,4.10-4 m3. 11) Um motor a 4T, 4 cilindros, com cilindrada total de 2,4 L, funciona a 3.200 rpm. A relação de compressão é 9,4 e a relação curso-diâmetro é 1,06. Pede-se: a) O volume morto; b) O diâmetro do cilindro; c) A velocidade média do pistão em m/s. Respostas: a) 71,43 cm3; b) 8,97 cm; c) 10,1 m/s. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 71 12) Cite duas vantagens e duas desvantagens do motor a 2T de ignição por faísca em relação a um motor a 4T de ignição por faísca. 13) Um motor à gasolina de 4 cilindros, de cilindrada 2 L, tem um raio de v = 1.70 do virabrequim de 4,5 cm e uma taxa de compressão 10. Deseja-se transformar o motor para álcool e se alterar a taxa de compressão para 12. Não havendo nenhum problema geométrico, resolve-se fazer isso trocando os pistões por outros "mais altos". Quanto deverá ser o aumento da altura dos pistões, em mm, supondo a sua cabeça plana nos dois casos? Resposta: 0,18 mm. 14) Um motor de 8 cilindros de 5 L de cilindrada tem taxa de compressão 9:1. Qual o volume total de um cilindro em cm3? Resposta: 703,13 cm3. 15) Cite três diferenças fundamentais entre o funcionamento do motor Otto e o do motor Diesel. 16) Um motor a álcool de taxa de compressão 12 deve ser transformado para o uso de gasolina com taxa de compressão 9. A transformação será realizada colocando-se uma nova junta entre o bloco e o cabeçote. O motor tem 4 cilindros, uma cilindrada de 1.800 cm3 e o diâmetro dos cilindros 80 mm. Qual a variação da espessura da junta necessária, sabendo-se que depois do aperto reduz-se 10%? Resposta: 0,31 cm. 17) Num motor Diesel de injeção direta (câmara aberta), de 6 cilindros, cilindrada 11 L e curso 17 cm, supõe-se que, quando o pistão estiver no PMS, a folga entre o mesmo e o cabeçote seja nula. Qual o volume da cavidade na cabeça do pistão para se obter uma taxa de compressão 17:1? Resposta: 0,115 cm3. 72 Motores de Combustão Interna 18) Num motor coloca-se o pistão no PMS e pelo orifício da vela introduz-se glicerina líquida no cilindro até preencher o espaço entre a cabeça do pistão e o cabeçote. O volume de glicerina introduzido foi 50 cm3. Em seguida repete-se a operação com o pistão no PMI e veriica-se que o volume de glicerina é 450 cm3. Sendo o motor de 4 cilindros: a) Qual a cilindrada do motor? b) Qual a taxa de compressão? Respostas: a) 1,6 L e b) 9:1. 19) Num motor troca-se a junta do cabeçote original por outra alternativa. A original tem 5 mm de espessura e, ao apertar os parafusos com o torque correto, reduz-se para 3 mm. A junta alternativa, após o aperto ica com 4 mm de espessura. Sendo o motor de cilindrada 1.600 cm3, de 4 cilindros, com curso 8 cm, qual a nova taxa de compressão se a original era 8,5? Resposta: 6,86:1. 20) Um motor de 6 cilindros tem uma cilindrada de 4.200 cm3. O diâmetro dos cilindros é 10 cm. Deseja-se alterar a cilindrada para 4.800 cm3 sem alterar o virabrequim. Qual deverá ser o novo diâmetro dos cilindros? Resposta: 0,69 cm. 21) Um motor de 1 cilindro tem uma cilindrada de 500 cm3 e diâmetro do cilindro de 8 cm. O comprimento da biela é 15 cm. Quando o ângulo de manivela é 30o e a rotação do motor está a 3.600 rpm, a força de pressão é 11.780N (1.200kgf ). As massas com movimento alternativo valem 0,8 kg. Qual o torque instantâneo no eixo do motor (despreze a inércia das partes rotativas)? 22) Um motor de 8 cilindros de 5 L de cilindrada tem taxa de compressão 9. Qual o volume total de um cilindro em cm3? Resposta: 703,1 cm3. Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 73 23) Por que no motor Diesel não se pode atingir as mesmas rotações que podem ser atingidas no motor Otto? 24) Pesquise em livros, ou na Internet, novas informações, do seu interesse sobre algum dos aspectos mencionados neste Capítulo. 25) Pesquise no site http://auto.howstufworks.com/engine.htm, dados relativos aos sistemas de resriamento de motores, não abordados neste Capítulo. 26) Pesquise no site http://www.mtz-worldwide.com dados relativos a downsinzing de motores, não abordados neste Capítulo. 27) A imagem abaixo representa que tipo de motor? 28) De forma sucinta, deina o que difere nos MIFs: a) GDI; b) PFI. 74 Motores de Combustão Interna 29) Deina a igura abaixo: [H] 30) Pesquise em livros, ou na Internet, informações sobre ciclo Atkinson sua história e suas aplicações. 31) Pesquise em livros, ou na Internet, informações sobre os motores Napier sua história e suas aplicações. 75 Introdução ao estudo dos motores de combustão interna 33) Downsinzing de motores e veículos híbridos são tecnologias parceiras na atualidade. Utilize os recursos disponíveis para interpretar a igura abaixo [4]. 34) Deina a igura abaixo [2]. [I] 35) Pesquise em livros, revistas especializadas ou na Internet, informações sobre a igura abaixo. Identiique cada um dos itens presentes na igura [2]. 5 7 8 10 9 5 3 4 6 1 2 [B] 76 Motores de Combustão Interna Referências bibliográficas 1. BRUNETTI, F. Motores de combustão interna. Apostila, 1992. 2. DOMSCHKE, A. G. Landi: Motores de combustão interna de embolo. São Paulo: Dpto. de Livros e Publicações do Grêmio Politécnico da USP, 1963. 3. GIACOSA, D. Motori endotermici. Ulrico Hoelpi Editores SPA, 1968. 4. JÓVAJ, M.S. et al. Motores de automóvel. Editorial Mir, 1982. 5. OBERT, E.F. Motores de combustão interna. Globo, 1971. 6. TAYLOR, C. F. Análise dos motores de combustão interna. São Paulo: Edgard Blücher, 1988. 7. HEYWOOD, J. B. Internal combustion engine fundamentals. M.G.H. International Editions, 1988. 8. VAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da Termodinâmica Clássica – São Paulo: Edgard Blücher, 1976. 9. ROLLS ROYCE. The jet engine. 1969. 10. WATSON, N.; JANOTA, N. S. Turbocharging The internal combustion engine. The Macmillan Press Ltd., 1982. 11. AUTOMOTIVE gasoline direct-injection engines. ISBN 0-7680-0882-4. Figuras Agradecimentos às empresas e publicações: A. Mahle – Metal Leve – Manual Técnico, 1996. B. Bosch – Velas de Ignição, Instruções de Funcionamento e Manutenção. C. Magneti Marelli – Doutor em Motores, 1990. D. Automotive Engineering International – Várias edições. E. Engenharia Automotiva – Revista SAE – ano 2, número 9, 2001. F. Honeywell – Garrett. G. Rolls-Royce, The jet engine. 1969. H. ABB – Asea Brown Boveri. I. ATZonline Newsletter International. Extreme downsizing by the two-cylinder gasoline engine rom Fiat – MTZ worldwide. Fev. 2011.