Crítica | Magnatas do Crime (2024) - 1ª Temporada - Plano Crítico
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Crítica | Magnatas do Crime (2024) – 1ª Temporada

Uma versão divertida, mas dilatada do filme homônimo.

por Kevin Rick
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Inspirado no excelente Magnatas do Crime, de 2019, o cineasta Guy Ritchie decidiu fazer um spin-off televisivo similar ao seu filme de sucesso sobre o mundo do crime de tráfico de drogas no meio da aristocracia britânica. Saem de cenas os grandes atores da produção original (que sequer fazem pontas, infelizmente), para acompanharmos uma premissa parecida ao longa sobre Eddie Horniman (Theo James), um militar e príncipe que é forçado a fazer parte de um império do crime quando seu rico pai morre subitamente, uma vez que o patriarca tinha conexões com operações criminosas envolvendo o tráfico de maconha, liderado por Bobby Glass (Ray Winstone) e sua filha Susie Glass (Kaya Scodelario).

Entre parentes patetas e bandidos perigosos, o protagonista se vê em um jogo do submundo que tem toda a maluquice, sarcasmo e humor ácido típicos das produções de Ritchie. Falta, porém, algo essencial da assinatura autoral do artista: ritmo. Os filmes de Ritchie são tachados de bagunçados e desordenados (o que é, até certo ponto, verdade), mas as narrativas não-lineares, a montagem frenética e o senso de diversão desenfreada de suas reviravoltas são a essência da qualidade de suas obras, mesmo que não seja para o gosto de todos. Ao pegar esse tipo de identidade cinematográfica tão específica e singular, fica difícil fazer uma adaptação para o universo episódico de muitas horas de conteúdo. À medida que a série avança, é evidente que o estilo visual e narrativo de Ritchie se arrasta e se dilata na duração de uma temporada.

É possível notar que o criador tem ciência do problema, tentando contorná-lo na maneira que os episódios são estruturados como se fossem “únicos”, mesmo que com uma história corrente, lembrando a abordagem de séries procedurais. Cada episódio acompanha uma espécie de aventura de Eddie e companhia no mundo do crime (algumas mais criativas, outras nem tanto), quase em uma dinâmica de esquetes para o humor escrachado de Ritchie, que continua mesclando um sarcasmo falsamente sofisticado da aristocracia com o linguajar sujo e sem escrúpulos do universo do crime. O contraste entre os dois ambientes geram algumas das melhores piadas da temporada, com destaque para um bloco em que ciganos começam a morar na propriedade da família de Eddie.

Ademais, a temporada é mergulhada em reviravoltas insanas que entretêm e seguram a atenção da audiência, como um segmento tresloucado em torno de um aristocrata nazista ou a participação do cartel colombiano em um roubo de carro, para citar dois exemplos. O elenco coadjuvante é vasto de personagens coloridos e grupos excêntricos, todos ganhando seus momentos para brilharem, ainda que muitos sejam desperdiçados, sendo notável a falta de uma costura narrativa entre as diversas “esquetes” e como a trama principal soa arbitrária e às vezes estática, como se a história não estivesse se movendo ou então indo a lugar nenhum. Também penso que Theo James não segura a obra nesses momentos que deveria ser o fio condutor da série, trazendo uma interpretação apática e sem carisma.

O derivado do filme homônimo é divertido, mas vive mais em momentos rápidos do que em uma qualidade narrativa consistente ao longo de uma temporada que tropeça entre repetições temáticas e situações que deixam claro a extensão desnecessária de uma história que se beneficiaria de uma duração rápida e comprimida. Ainda assim, o estilo de Ritchie é agradável o suficiente para termos muito entretenimento no seu jogo de reviravoltas e muito bom-humor sobre um mundo do crime ácido, bobo, por oras metalinguístico e sempre sarcástico. Não é o seu trabalho mais polido e sofisticado, sofrendo pelo próprio caráter episódico que não combina com sua assinatura autoral, mas é inegável que Ritchie e o restante da equipe criativa estão se divertindo à beça com a produção, assim como seu protagonista que gradualmente passa a gostar do submundo que caiu de paraquedas no seu universo aristocrático sem graça.

Magnatas do Crime (The Gentlemen) – 1ª Temporada | EUA, Reino Unido, 07 de março de 2024
Desenvolvimento: Guy Ritchie
Direção: Guy Ritchie, Nima Nourizadeh, David Caffrey, Eran Creevy
Roteiro: Guy Ritchie, Matthew Read, Haleema Mirza, Billy Mason Wood, Theo Mason Wood, Stuart Carolan, John Jackson
Elenco: Theo James, Kaya Scodelario, Daniel Ings, Joely Richardson, Vinnie Jones, Giancarlo Esposito, Ray Winstone
Duração: 08 episódios de aprox. 60 min. cada

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