Natalie Imbruglia volta à música após ser mãe solo e lamenta polêmica de 'Torn': 'Tenho 46 anos e ainda me perguntam sobre isso' | Música | G1

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Por Braulio Lorentz, g1


Quando eu Hitei: Natalie Imbruglia, 'Torn' e a era 'mãe solo'

Quando eu Hitei: Natalie Imbruglia, 'Torn' e a era 'mãe solo'

Enquanto rodopiava desajeitada ao som de "Torn", Natalie Imbruglia não imaginava que aquela música, lançada pela sexta vez em menos de cinco anos, iria se tornar um dos grandes hits do fim de 1997.

Mas "Torn" estourou, com o clipe cheio de rodopios e dancinhas desajeitadas, influenciando de Britney Spears a Lorde. O charme de uma moça "normal" de 22 anos deu certo: tanto que ela segue a carreira, com o recém-lançado álbum "Firebird".

A pouca desenvoltura não era mera atuação (veja trechos do clipe acima). "Existe essa pessoa vulnerável que não se acha muito boa (e eu quero dizer eu mesma, na vida), tentando cantar aquela música", explica Natalie ao g1.

Na série "Quando eu hitei", artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”. Leia mais textos da série e veja vídeos ao final desta reportagem.

Natalie Imbruglia no clipe de 'Torn' — Foto: Reprodução

"Eu vou cantando e pensando que ninguém vai me levar a sério e eu penso 'não pareça que você é uma boa dançarina'. Quando eu assistia ao vídeo, ele me fazia rir, porque há tantas coisas passando pela minha cabeça."

Mesmo tendo feito aulas de dança e atuado dos 17 aos 19 anos na novela australiana "Neighbours", Natalie teve medo de dançar bem no clipe e "ser brega". "Então, eu fiquei agitando meus braços", relembra, rindo. "Esse vídeo foi um sucesso, mas havia tantas batalhas dentro de mim."

Deu 'branco' na hora de compor

Após um bloqueio criativo de cinco anos, ela pensou em desistir da carreira, mas lançou "Firebird", no mês passado. O álbum celebra a decisão de ter um filho em uma produção independente.

Natalie Imbruglia grávida e com o filho Max, que ela não mostra o rosto — Foto: Reprodução/Instagram da cantora

Antes, ela pensou em desistir da música. “Come to life”, o quarto disco dela, ia ter um lançamento mundial, mas acabou com um lançamento restrito, só na Austrália e depois em streaming na Inglaterra, por decisão da gravadora.

"Fui para a Austrália e fiz o 'X Factor' (programa de TV), estudei atuação em Los Angeles por um tempo e fiz uma pausa, acreditando de verdade que eu não voltaria para a música."

"Eu pude me afastar completamente, porque eu me senti como se não fosse mesmo para fazer isso. Na verdade, isso tudo me beneficiou, porque agora estou meio que voltando com uma paixão renovada. E com um fluxo criativo, depois de um período difícil de bloqueio para compor."

Nesses dois anos de cursos em Los Angeles, ela foi coadjuvante em três filmes independentes mal avaliados pela crítica: o drama esportivo "Underdogs" (2013), a dramédia familiar "Among Ravens" (2014) e a comédia sobre golfe "Little Loopers" (2015). Ela atua bem, mas vendo os trailers dá para dizer que é melhor ela continuar na música.

Natalie Imbruglia aos aos 12 ou 13 anos, na adolescência, nos anos 90 e em foto recente — Foto: Reprodução/Instagram da cantora

O filhinho dela o Max, nascido em outubro de 2019, é uma produção independente. Mas o álbum “Firebird” foi lançado por uma grande gravadora e com parceiros que você conhece. Tem música escrita com Romeo Stodart, da banda Magic Numbers; com a escocesa KT Tunstall; e com Albert Hammond Jr., do Strokes.

O filho, é claro, foi uma influência para as novas letras. "Eu estava o carregando em mim enquanto escrevia as letras", resume ela.

"Ele tem ligação com a superação do meu bloqueio criativo, porque havia algo me bloqueando. Eu não estava no lugar certo da minha vida. Isso era mais importante para mim do que a música, era mais importante para mim do que qualquer coisa."

A polêmica nada polêmica

Natalie Imbruglia nos anos 90 e em foto recente — Foto: Divulgação

O tempo passou, mas toda hora alguém vai no Instagram, no Twitter ou em outra rede social e diz "Você sabia que Torn não foi escrita pela Natalie Imbruglia?". E um monte de gente fala: "Nossa, eu não sabia disso". Como será que ver essa história sendo contada tantas vezes, por tantos anos?

"Eu não sei mais o que eu tenho que fazer", responde Natalie. "Talvez eu tenha que fazer uma página só sobre isso, não sei por que acham que isso é uma novidade. Eu nunca sei... Acho que cada geração descobre que eu não escrevi 'Torn' e aí quebram a internet."

No fundo, ela diz que vê graça nessa repetição. "Eu tenho 46 anos e ainda me perguntam sobre isso, sobre a música. Então, para mim é até que engraçado. Porque eu nunca escondi o fato de que eu não escrevi 'Torn'."

"Existem muitos artistas que não escrevem todas as canções deles, mas por alguma razão é essa que incomoda as pessoas. Eu não sei por quê. Eu acho que é porque eu canto de forma tão convincente que as pessoas ficam tipo 'Mas essa música é dela'."

Natalie Imbruglia no clipe de 'Torn' — Foto: Reprodução

"Então, talvez isso seja meio lisonjeador de um jeito meio torto. Eu acho que cantei de forma tão convincente que as pessoas acham isso. E talvez isso me deixe lisonjeada de alguma forma."

Cale a pena lembrar que ela coescreveu 10 das 12 músicas do "Left of the Middle", primeiro álbum dela, e mesmo assim as pessoas ficam falando disso toda hora. Mesmo assim, vale a pena recapitular a história.

Outros 'torneados'

“Torn” teve cinco versões antes da feita por Natalie Imbruglia:

As capas dos discos de cinco versões diferentes de 'Torn', mais conhecida na voz de Natalie Imbruglia, mas que também teve arranjo mais pesado e outra com letra em dinamarquês — Foto: Reprodução

  1. A primeira versão é da cantora americana Anne Preven, de 1993;
  2. Também em 1993, a dinamarquesa Lis Sorensen gravou “Torn”, que em dinamarquês virou “Brant”;
  3. Em 1995, a banda da Anne chamada Ednaswap regravou;
  4. Em 1996, saiu uma versão da dinamarquesa Trine Rein, só que em inglês;
  5. Um ano depois, em 1997, a Ednaswap regravou com um arranjo mais lento.

Um dos compositores da música, o produtor Phil Thornalley já foi baixista do The Cure. No começo, os integrantes do Ednaswap disseram que tinham odiado a versão da Natalie.

Mas daí o dinheiro dos direitos autorais começou a cair na conta e eles mudaram de ideia. Os músicos do Ednaswap até tentaram trabalhar com a Natalie no segundo álbum dela, "White Lilies Island" (2001), mas a parceria não deu certo, após "desentendimentos".

Natalie Imbruglia em 2021 — Foto: Divulgação

Antes desta pausa de 12 anos sem álbum de inéditas, Natalie também não era de lançar muito disco. Entre 1997 e 2009, ela lançou um a cada quatro anos. Álbum da Natalie Imbruglia é igual Copa do Mundo e ela respondeu por que demora tanto:

"Eu tenho que escrever um monte de músicas ruins para pegar algumas que eu gosto. Nunca tive a intenção de demorar tanto tempo, mas eu estou determinada a fazer diferente, porque eu amo sair em turnê."

"Não é uma coisa inteligente para a carreira fazer isso. Mas eu também não sou tão ambiciosa desse jeito, eu não penso assim, eu vou vivendo uma vida normal."

Natalie Imbruglia na capa do álbum 'Left of the Middle', de 1997, que tinha o hit 'Torn' — Foto: Reprodução

Com o mesmo jeito pouco deslumbrado, Natalie até hoje não entende como pode ser influência para cantoras que vieram depois dela. Britney Spears já disse que é uma grande fã de “Torn” e Lorde já falou que é muito influenciada por essa música. Fez até uma cover.

"Eu acho que os anos 90 foram uma época ótima para a música pop, e música pop para se sentir bem. Então, eu acho que minha voz faz as pessoas se lembrarem daquela época, o que é adorável. É sempre legal quando alguém diz que foi influenciada por você. Eu ainda acho bizarro que eu possa ser uma influência para qualquer um, mas é legal."

Para fechar, ela respondeu a pergunta que todo fã quer saber. E aí, Nat, alguma chance de você vir ao Brasil pela primeira vez?

"Eu adoraria ir aí, eu não tenho razão para não ir. Muitas dessas decisões são do meu time de empresários, da minha gravadora, mas eu adoraria. Qualquer um que me queira ver cantar aí, entre em contato com meus empresários. Eu estaria aí toda empolgada."

VÍDEOS: Quando eu hitei

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