Taxa de migração no Reino Unido atinge recorde de 504 mil em um ano

Número indica balanço entre entradas, facilitadas pelo fim de restrições da pandemia, e saídas, mas não conta fluxo irregular

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Londres | Reuters

O Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) do Reino Unido anunciou nesta quinta-feira (24) que a taxa de migração no país atingiu uma máxima histórica com um balanço de 504 mil migrantes no período de um ano, entre junho de 2021 e o mesmo mês deste ano.

De acordo com o órgão, a alta foi impulsionada por habitantes de países que não fazem parte da União Europeia, e o recorde na taxa líquida —balanço entre imigração e emigração— se explica também pela retomada das viagens após a fase mais severa de restrições devido à Covid-19, o que possibilitou o aumento na chegada de estudantes de intercâmbio.

Para chegar à taxa de 504 mil, o ONS estima que 1,1 milhão de migrantes tenham chegado ao Reino Unido ao longo de um ano, aumento de 435 mil em relação à medição anterior. Segundo o escritório, a conta não inclui quem chega por rotas clandestinas, como em pequenas embarcações no canal da Mancha —onde o fluxo crescente se tornou motivo de tensões diplomáticas recentes.

Funcionários de instituição de auxílio à migração ajudam no desembarque de migrante, em praia da cidade de Dungeness, na costa sudeste da Inglaterra - Ben Stansall - 16.dez.21/AFP

Outro fator que levou ao recorde foi a criação de um novo tipo de visto, destinado a cidadãos da Ucrânia, do Afeganistão e a britânicos que viviam em Hong Kong —juntos, esses grupos somaram 138 mil migrantes.

Dentre os emigrantes, que deixaram o país, a maior parcela é de cidadãos de países da União Europeia. "Uma série de eventos mundiais teve impacto nos padrões de migração internacional nos 12 meses até junho de 2022", disse Jay Lindop, diretora do Centro de Migração Internacional do ONS.

Segundo ela, o cenário é de incertezas. "Os muitos fatores, independentes uns dos outros, que contribuem para a migração neste momento indicam que é muito cedo para dizer se o quadro será mantido".

As preocupações com o impacto da migração foram uma das alavancas por trás do brexit, em 2016. À época, o então primeiro-ministro, David Cameron, tentou, sem sucesso, reduzir a taxa de migração para menos de 100 mil por ano.

De acordo com o ONS, tanto o total de imigrações quanto a taxa líquida foram os mais altos desde o início dos registros estatísticos, em 1964. O recorde anterior era de 330 mil, em 2015. Um porta-voz do atual premiê, Rishi Sunak, disse que ele está "totalmente comprometido" a reduzir as cifras, "considerando todas as opções".

Na oposição, o Partido Trabalhista disse que as estatísticas mostram que o governo administrou mal os sistemas de asilo e de imigração e "falhou completamente ao tentar controlar a situação".

A cifra expressiva de migrações esteve nas manchetes ao longo das últimas semanas, quando líderes empresariais pediram ao governo que flexibilizasse processos, para atrair profissionais qualificados e ajudar na recuperação econômica. O pedido foi rejeitado por Sunak, que enfatizou a necessidade de combater a imigração irregular.

Em meio a críticas pelas condições de um centro de processamento de imigrantes superlotado no sul da Inglaterra, Sunak e a ministra do Interior, Suella Braverman, foram pressionados a agir para conter o fluxo de embarcações no canal da Mancha. Braverman foi alvo de duras críticas recentes ao classificar o movimento migratório para o Reino Unido como "invasão".

No início deste mês, o país assinou um acordo com a França para aumentar esforços para deter migrantes no canal. As estatísticas divulgadas mostram que 33.029 pessoas chegaram ao Reino Unido em pequenos barcos na região entre janeiro e setembro —61% delas atracaram durante o verão do hemisfério Norte.

Em agosto foi registrado o maior número de ancoragens dessas embarcações desde que os dados começaram a ser coletados. Outros 6.371 migrantes usaram meios irregulares alternativos nos primeiros nove meses do ano.

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