Vestuário do Cordão da Bola Preta: novidade do bloco com referências a antigos carnavaisfotos: Divulgação

Rio - Depois de dois anos sem desfilar, o Cordão da Bola Preta sai às ruas no Carnaval de 2023 com um tapa no visual. Para o seu 103º desfile, previsto para o dia 18 de fevereiro, o bloco lança pela primeira vez uma coleção de roupas com quatro peças. Além da tradicional camiseta de algodão, os foliões agora podem acompanhar o cortejo até mesmo com o maiô oficial do Bola Preta.

"Neste carnaval da retomada a gente tinha que vir com uma outra pegada. O lançamento da coleção valoriza o nosso bloco. As pessoas gostam de colecionar nossas camisas. Agora terão roupas em diferentes tecidos e formatos, com uma arte que retrata fielmente a história do Bola", diz Pedro Ernesto, presidente do Cordão do Bola Preta.

As peças foram criadas pelos artistas visuais Rebecca Moure e Miguel Bandeira, que formam o Photon Duo, e são comercializadas pela Dimona, licenciada desde 2009 para vender as roupas oficiais do bloco. A aposta na coleção tem também a expectativa de arrecadar mais recursos para o Bloco Preta, um dos mais tradicionais do país, fundado em 31 de dezembro de 1918.

"Em 2020, foram 11 mil camisas vendidas. Nossa expectativa é maior com a coleção. Ajuda o bloco, que caminha rumo ao bicentenário. Espero que surjam abnegados que possam levar nossa história até lá", diz Pedro Ernesto.

Para criar as peças, Rebecca e Miguel mergulharam no acervo do Bola Preta. Debruçaram-se sobre fotos e recortes de jornais e outros materiais que mostram a presença constante de pierrôs, arlequins e colombinas, que aparecem nas peças ao lado do carro de som, da banda, da corte e do público, representado pelas bolinhas pretas.

Os destaques são o maiô e a camisa de tule, um tecido transparente. As duas peças foram inspiradas nas fardas de gala antigas da corte, com predominância na cor preta, tradicionalmente usadas por homens. O estilo agora está na peça feminina que, aliás, pode ser usada pelos homens também.

"Claro! É tradicional os homens se vestirem de mulher no carnaval. Ele foi pensando inclusive para isso. Foi feito em tecido reto, sem espaço para seios. Todas as peças da coleção são unissex, inclusive o maiô", explica Rebecca.

A outra novidade é a camisa dry fit, mais leve e apropriada para os dias quentes de folia, e que faz um homenagem especial aos músicos. Já a tradicional de algodão, traz uma grande bola de prata no peito, representando a estrutura metálica do carro de som.

Bola Preta sobrevive a duas pandemias

Esta é a segunda pandemia a que o Bola Preta sobrevive. O primeiro desfile foi em 1919, no carnaval histórico pós gripe espanhola. Na época, pouco antes do desfile, o principal fundador do bloco, Álvaro Gomes de Oliveira, o Caveirinha, reapareceu depois de um tempo sumido. Como lembra Pedro Ernesto, estava em "pele e osso":

"Ele tinha contraído a gripe espanhola e estava desaparecido. Na época, telefone era raro. Ninguém sabia onde ele estava. Quando ela reapareceu foi uma festa, e o primeiro desfile foi também uma celebração à sobrevivência dele e de tantos outros".

Ernesto conta que, naquele carnaval, os foliões entraram na casa das pessoas para puxá-las para a rua:

"Isso não está escrito em lugar nenhum, mas é o que os mais antigos diziam".  
O desfile deste ano também traz novidades na Corte Real do Bola Preta: Tia Surica como Embaixatriz do bloco, e a atriz Emanuelle Araújo, no posto de Musa da Banda. O cortejo começa na Rua Primeiro de Março, na altura do prédio Menezes Cortes, e segue até o prédio do Ministério da Justiça, na Avenida Presidente Antonio Carlos. Antes, haverá uma homenagem às vítimas da covid-19. O repertório da banda são as marchinhas e o tradicional hino que diz: "vem pro Bola, meu bem".
A Corte Real do Bola Preta é formada ainda por Neguinho da Beija Flor (Padrinho), Selminha Sorriso (Musa das Musas), Leandra Leal (Porta Estandarte), Paolla Oliveira (Rainha) e Maria Rita (Madrinha).