Quando a Primeira Grande Guerra eclodiu, reinava então, há quatro anos na Grã-Bretanha, Jorge V. Jorge Frederico Ernesto Alberto (1865-1936) era filho de Eduardo VII (1841-1910) e da Rainha Alexandra (1844-1925), princesa da Dinamarca.
Filho segundo dos então Príncipes de Gales, Jorge nasceu em Londres, tendo sido educado por um tutor juntamente com o seu irmão mais velho, Alberto. Com 12 anos de idade, ambos os irmãos alistam-se na marinha, de acordo com a vontade do pai. Ao serviço da marinha inglesa, viaja pelo mundo, em particular pelas diversas colónias do Império Britânico. No regresso a Inglaterra, os irmãos passam uma temporada em Lausanne, finda a qual o seu percurso se divide. Alberto, o segundo na linha de sucessão após o pai, frequenta o Trinity College, em Cambrige, enquanto que Jorge continua na Marinha. É nesse período que se apaixona por sua prima, Maria de Edimburgo (1875-1938), filha de seu tio Alfredo (1844-1900), ao serviço de qual se encontrava na Marinha. Embora grande parte da família aprovasse o relacionamento, as mães de ambos foram contra o matrimónio: a princesa Alexandra, mãe de Jorge, por considerar o cunhado Alfredo pró-Alemanha e Maria Alexandrovna (1853-1920), duquesa de Edimburgo, por ser filha do czar Alexandre II (1818-1881) da Rússia e, por isso, não desejar uma nova aliança matrimonial com Inglaterra. Maria de Edimburgo acaba por recusar o pedido de casamento do primo Jorge, casando em 1893 com o principe alemão Fernando de Hohenzollern-Sigmaringen (1865-1927), futuro Fernando I da Roménia.
Em 1891, o seu irmão mais velho Alberto fica noivo de Maria de Teck, prima de ambos em segundo grau, por via materna da princesa, Maria Adelaide de Cambridge (1833-1897), neta de Jorge III (1738-1820). Todavia, seis semanas após o noivado, Alberto morre subitamente, vitimado por uma pneumonia, tornando Jorge o segundo na linha de sucessão. No ano seguinte, Jorge e Maria ficam noivos, casando nos primeiros dias de Julho de 1893. Entre 1894 e 1905, nasceriam deste casamento seis filhos: Rei Eduardo VIII (1894-1972), Rei Jorge VI (1895-1952), Princesa Real Maria, Condessa de Harenwood (1897-1965), Henrique, Duque de Gloucester (1900-1974), Jorge, Duque de Kent (1902-1942) e João (1905-1919).
Após a morte da avó, a Rainha Vitória, Jorge tornou-se Príncipe de Gales e o seu pai Rei do Reino Unido. Durante o reinado deste, Jorge foi envolvido nos destinos do Reino, nomeadamente em diversas visitas oficiais pelo Império Britânico: África do Sul, Austrália e Nova Zelândia e Índia, como também a outros reinos europeus, como Espanha e Noruega. No entanto, em 1910, Eduardo VII morre e Jorge sobe ao trono inglês. A cerimónia da sua coroação ocorre no ano seguinte em Londres e também na Índia, como Imperador desse território.
A entrada da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial ocorre quando esta declara guerra à Alemanha, a 4 de Agosto de 1914, após esta ter invadido a Bélgica, enviando tropas para este território. À altura, a Inglaterra era a nação com a marinha mais numerosa, com cerca de duas mil embarcações. Esta superioridade naval terá sido fulcral para a vitória dos Aliados na guerra.
Durante a guerra, o Rei e a Rainha visitaram por diversas vezes a principal linha de batalha. Numa dessas ocasiões, uma queda de cavalo provoca a fractura da pélvis, acidente cujas sequelas enfrentaria até ao final da sua vida.
Em meados da guerra, toma uma medida importante junto da opinião pública, para se demarcar definitivamente das suas origens familiares e dinásticas alemãs, não deixando margem para dúvidas que se assumia como inglês e, consequentemente, anti-germânico. Na verdade, o seu avô, o príncipe Alberto, trouxera consigo o nome de família Saxe-Coburgo-Gotha, apelido pelo qual a dinastia passou a ser conhecida. No entanto, sendo um nome alemão, Jorge decide pela mudança do nome da Casa Real para um nome, sem margem para dúvidas, britânico: Windsor. Assim, todos os seus parentes renunciaram aos títulos alemães, adoptando títulos e designações britânicas.
Nesse mesmo ano, Jorge recusa que o seu primo Czar Nicolau II e a sua família recebessem asilo na Grã-Bretanha, após a revolução russa, alegando que pudesse ser considerado inadequado, pelo agravamento das condições de vida no país e pelo medo que a revolução se alastrasse ao Reino Unido.
Após a guerra, o reinado de Jorge assistiria ainda à divisão da Irlanda, cujo Sul foi declarado independente em 1921, enquanto o Canadá, a Austrália, Nova Zelândia e África do Sul e Índia receberam o direito à sua auto-determinação, que conduziu à criação da British Commonwealth of Nations.
Jorge procurou também uma maior aproximação ao povo inglês, através de várias medidas, como a nomeação, pela primeira vez, de um primeiro-ministro trabalhista, em 1924, na ausência de um clara maioria para qualquer um dos três partidos, no aconselhamento ao primeiro-ministro conservador de não tomar atitudes exaltadas, durante a greve geral de 1926, e, após a crise mundial de 1929, propôs a redução da sua lista civil, de modo a permitir o equilíbrio do orçamento estatal. Em 1932, inaugurou a transmissão da sua mensagem de Natal pela rádio, algo que se repete anualmente até aos dias de hoje, que é feito pela sua neta, através da Televisão.
Em 1935, Jorge comemorou o seu Jubileu de Prata e no ano seguinte acabaria por morrer, a 20 de Janeiro, após uma sucessão de crises de bronquite. Na noite de 21, a Orquestra Sinfónica da BCC executou uma peça musical, transmitida em directo por essa rádio, composta pelo alemão Paul Hindemith (1895-1963) em seis horas, propositamente para o efeito. As exéquias fúnebres deram-se a 28 de Janeiro, sendo sepultado na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor.
A História nas Estrelas
O Rei Jorge V é uma das principais figuras da Primeira Guerra Mundial, nomeadamente por ser o rei do maior império e da maior potência mundial da época. Contudo, este homem não tinha nascido, à partida, para ser Rei, até porque tinha o seu irmão acima na linha de sucessão ao trono.
Ao olharmos para o mapa natal de Jorge V, no entanto, percebemos que existe um perfil de poder pessoal e de comando, apesar de um lado seu muito mental, ou não tivesse um Sol em Gémeos. Contudo, Jorge V revela-se alguém muito impulsivo e emocional, dada a predominância de planetas nos signos de Touro e Balança, regidos por uma Vénus em domicílio. É exactamente o facto de ter vários planetas muito bem colocados, quer em termos de dignidade, quer em termos de posição em casas, que fizeram de Jorge V um rei que se aproximou do povo e que teve um papel fundamental para a manutenção do Reino Unido estável na transição para uma nova realidade geopolítica.
Jorge V teria uma personalidade imponente e dinâmica, muito fruto de um Ascendente Carneiro, regido por um Marte em Leão na Casa 5, fulguroso e determinado, algo que foi importantíssimo para as decisões que teve de tomar durante vários anos do seu mandato, quer ao longo da guerra, quer posteriormente, com a independência dos Estados do antigo Império Britânico e a criação da Commonwealth. O facto de ter Plutão na Casa 1, em Touro, conjunto a Vénus e a Mercúrio, faziam dele um dos homens mais poderosos do mundo, algo que soube usar, nomeadamente, durante a guerra, e que fizeram do Reino Unido um dos principais motivos da vitória dos aliados.
Para além disso, o Rei era bem visto quer pelos seus súbditos, quer fora do país. Com um Saturno, na Casa 7, em Balança, exaltado, e um Júpiter na Casa 9, em Sagitário, em domicílio, a imagem que passava era a de alguém sério, dedicado ao seu povo e com um verdadeiro sentido de Estado, respeitado por todos.
Quando toma a decisão de entrar na Guerra, Jorge V sente a obrigação de defender as suas origens e a sua independência, enquanto Estado, perante a invasiva alemã à Europa. Com Saturno e Plutão em trânsito sobre o Fundo do Céu e sobre o Úrano Natais, o Rei vê a estabilidade da Nação ameaçada pelo espectro alemão de ganância pelo poder, algo que é reforçado, quando, em 1917, após a revolução Russa, o Rei impede o Czar de ter asilo na Grã-Bretanha. Esta energia também foi vivida, no momento em que decide deixar a sua marca em termos de dinastia e muda o nome da Casa Real, em pleno período de Guerra, algo que muito alegrou o povo e que foi determinante para criar o impacto pessoal que Jorge V sempre demonstrou querer ter.
Na realidade, todo o período de Guerra é um período de expansão de poder e imagem do Rei, com Júpiter a transitar da Casa 11, do sentido maior do seu reinado até próximo do seu Sol, fazendo dele um Rei vencedor e defensor do orgulho britânico. Contudo, ele nunca perde aquilo que o caracteriza, o seu sentido de Estado e humildade de serviço para com o povo.