A educação vista através dos olhos de John Dewey
 

A educação vista através dos olhos de John Dewey

A educação vista através dos olhos de John Dewey
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

John Dewey (1859-1952) é considerado um dos mais importantes psicólogos educacionais. Seus modelos neste campo foram parte da revolução da pedagogia que se deu no século passado. Inclusive, hoje em dia, parte de nosso sistema educativo ainda não conhece ou não está atualizado pelas contribuições de Dewey.

Neste artigo falaremos de uma de suas obras clássicas, seu livro Experiência e educação. Este livro mostra a síntese de seu pensamento acerca da educação. John Dewey sempre acreditou que devíamos educar as pessoas em democracia, para assim achar o método para conseguir um pensamento crítico nos alunos que fosse a favor de nossa sociedade. Para conseguir isso, Dewey nos fala de 3 princípios importantes para serem levados em consideração na educação: (a) a continuidade da experiência, (b) o controle social e (c) a natureza da experiência.

A continuidade da experiência

Dewey parte da base de que a educação e a experiência mantêm entre ambas uma conexão orgânica. Com isso, ele quer dizer que nossas vivências são as que nos educam. Mas isso não quer dizer que todas as experiências sejam verdadeiras ou igualmente educativas. Algumas destas experiências atrapalharão nosso desenvolvimento, convertendo-se em “antieducativas”.

Criança brincando em balde

É aí que entra o conceito de continuidade da experiência que Dewey utiliza. Uma experiência se tornará “antieducativa” quando reverte o impacto positivo de experiências anteriores. Ao invés disso, irá a favor da educação quando as experiências ajudem a enfrentar as vivências posteriores, conseguindo assim uma contínua experiência enriquecedora. Para Dewey, conseguir esta continuidade de experiências positivas era essencial para educação.

A educação tradicional que vivemos hoje está cheia de experiências que dificultam a continuidade. Quantos alunos pensam que a aprendizagem é entediante e chata? A escola hoje em dia supõe uma fonte de ansiedade para uma grande parte dos alunos, o que provoca uma atitude que lhes faz repudiar as possíveis experiências educativas, rompendo assim com a continuidade da experiência.

Controle social

A educação não é algo que o indivíduo faça sozinho ou que não possa ser facilitado por outros (especialmente quando falamos de crianças),  é um processo de caráter social. Sendo que implica uma comunidade, precisam de regras para manter o controle social da atividade educativa. Se não existissem estas normas, não haveria atividade; é como tentar jogar um jogo sem regras, perderia o sentido.

Agora, quais devem ser essas normas e como devem ser aplicadas? A escola tradicional parte da base de que precisa de uma normativa firme que impeça que os alunos saiam de um mesmo caminho, seja este mais ou menos certo. Dewey observou que este tipo de controle social gerava uma relação hierárquica entre professores e alunos, que convertia estes últimos em sujeitos passivos da educação.

Dewey acreditava que o controle social deveria surgir da situação. Uma normativa flexível que se adapte ao avanço dos alunos e da situação dos professores seria o ideal. E é importante levar em consideração que, na educação, toda a comunidade educativa tem que ser participante. A gestão da normativa deve ser trabalho conjunto dos alunos e professores em prol da criação de um ambiente escolar que estimule o aprendizado.

A natureza da liberdade

Sempre que falamos de controle social e normativas, também aparece a palavra liberdade. Existe uma sensação de que quanto maior controle social menor seria a liberdade, mas isso não é de todo certo. Isso irá depender do tipo de controle social que se exerça e da natureza da liberdade de que estamos falando. John Dewey divide o conceito de liberdade em (a) liberdade de movimento e (b) liberdade de pensamento. 

A liberdade de movimento é o potencial que nos permite realizar qualquer tipo de comportamento, quanto maior a liberdade de movimento maior a variedade de condutas possíveis. A liberdade de pensamento é algo mais complexo, é aquela capacidade que nos permite avaliar de maneira crítica uma situação e as opções que temos para enfrentá-la; quanto maior a liberdade de pensamento, mais opções teremos para focar nosso comportamento.

As duas liberdades não precisam necessariamente caminhar unidas, inclusive pode ser que a liberdade de movimento acabe coagindo a liberdade de pensamento. Isso é justo o que Dewey criticava na escola progressista, ele via que o objetivo desta escola era a liberdade de movimento de seus alunos. Dar uma liberdade de movimento sem levar em consideração a liberdade de pensamento pode fazer com que os alunos se deixem levar por seus impulsos e não pensem em suas opções.

Um aspecto importante relacionado a isso é que a liberdade nunca deve ser um objetivo. A liberdade é uma ferramenta que ajuda os alunos a se desenvolverem. Se favorecemos a liberdade de pensamento aos alunos, estes poderão dirigir suas experiências de maneira autônoma para uma continuidade educativa.

Alunos em volta de professor

A educação de John Dewey

John Dewey fez uma forte crítica aos modelos educativos tradicionais e também a alguns dos mais progressistas. Via nos modelos tradicionais um sistema rígido, que tinha objetivos educativos muito afastados de seus princípios democráticos. Além disso, com os modelos progressistas, Dewey sentia que suas iniciativas ficavam curtas e que não alcançavam o que buscavam.

Dewey nunca chegou a completar um modelo educativo ideal. No entanto, deixou clara a ideia de que para melhorar os modelos educativos já postulados era necessária a pesquisa científica e rigorosa neste campo, contrária à especulação que estava tão na moda e que de alguma maneira segue estando.

Através da coleta de dados de nossas escolas, poderemos ver quais mudanças são necessárias. Assim, em uma contínua aplicação-pesquisa-aplicação, nosso sistema avançaria para um sistema educativo digno e verdadeiro. A pergunta implícita a esta explicação é: a educação atual é baseada na pesquisa científica ou está a cargo de poderes econômicos e políticos?


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