Enquanto Tião (Irandhir Santos), a fim de capturar um “cramulhãozinho” e colocar dentro de uma garrafa, cria uma galinha, a Veinha, numa gaiola, sua mulher Joana, interpretada por Alice Carvalho, de certa forma, também está aprisionada entre as obsessões do marido e as pressões do poderoso Coronel Egídio (Vladimir Brichta) em “Renascer”. Estreando nas novelas, a atriz de 28 anos nascida no Rio Grande do Norte se encontra no meio de uma trama repleta de desafios.
— A jornada dela é sobre encontrar o espaço para a independência. Ela está tentando conquistar equilíbrio sendo uma mãe de família, com um marido que está vulnerável e ainda fugindo desse grande obstáculo que é Egídio. A personagem está lutando sozinha contra um inimigo gigante. A gente só pode torcer para dar certo — diz a atriz potiguar.
Um dos maiores dramas de Joaninha é a luta por uma vida melhor, cuja inspiração veio da própria família de Alice:
— É uma personagem que faz parte do imaginário do povo brasileiro. Joaninha seria querida independentemente de quem fosse fazer. Tentei me conectar com a narrativa e com a trajetória dela a partir das experiências de mulheres da minha própria família, de gerações anteriores à minha, que vêm de uma realidade de privação.
- Um aspecto marcante da interpretação de Alice é sua abordagem física e emocional. A atriz conta que usa seu sotaque do Rio Grande do Norte e que, para uma atuação maipós brilharem em 'Renascer', Belize Pombal e Fábio Lago 'renascem' nas telinhas em 'Justiça 2'; conheça os personagenss à flor da pele, ela tem passado muito tempo em jejum. Desde janeiro, ela já perdeu seis quilos.
— Ela vive uma realidade de insegurança alimentar. Para fazer isso com responsabilidade e o máximo de verdade possível, eu comecei a experimentar essa sensação de fome. Antes de gravar, eu como e depois passo o dia inteiro sem comer. É claro que faço isso com acompanhamento médico e nutricional. Mas acho que a fome é uma sensação primordial que experimento desde a época dos meus estudos de preparação e tem me ajudado a me conectar bastante com a personagem.
Alice reflete sobre a importância de abordar questões sociais relevantes na trama, como o assédio que Joaninha sofre nas mãos do patrão, Egídio.
— São marcas que infelizmente a maioria de nós tem no corpo e na memória. É um lugar quase de fácil acesso, não por ser um tema fácil, mas porque é uma memória que está ali à mão. Eu encaro com muita responsabilidade, comprometimento, para não dar margem para segundas interpretações e romantizações. É um número abismante mesmo de mulheres que passam por isso. Para além da arte, entrega, estética, existe um serviço de utilidade pública ali — destaca Alice.
Apesar das cenas intensas e emotivas, a artista também compartilha momentos de leveza nos bastidores. Ela comenta a relação dos personagens Tião Galinha e Joaninha e aproveita para falar de Irandhir.
— Os dois têm uma relação de muito companheirismo. Um ajuntamento, um encontro de seres. E também é assim entre mim e o meu amigo Irandhir. Ele é uma pessoa que admiro há muitos anos. Tenho certeza que assisti a quase todos os filmes que ele fez.
Mas se agora o feedback do público tem sido bastante positivo, antes de a novela começar, a atriz recebeu críticas à sua aparência física.
— Está de boa ,tudo certo. Não sei se é muito saudável ficar falando da beleza do outro na internet, mas não levo com seriedade — diz ela, que celebra a reação das pessoas quando a encontram: — Agradeço porque querem me abraçar por sentirem pena. Fico pensando se eu fizesse uma vilã...
'A galinha Veinha é a coisa mais fofa do universo’, diz atriz
Enquanto Joaninha não se aproximava de Veinha, Alice se manteve distante. Mas agora até a galinha da trama tem um lugar especial no coração da artista.
— Rapaz, eu tenho chegado mais perto dela há algumas semanas! Eu não me aproximava porque a personagem tinha aversão. Mas Joaninha passou a ficar mais próxima e comecei a querer pegar a galinha , que é a coisa mais fofa do universo — afirma a atriz, que revela com entusiasmo: — Ela até deita no ombro de Irandhir, é uma coisa inacreditável. Ele bota água na mão e ela bebe. Ele não só hipnotiza as pessoas, mas os bichos também.
Além do desafio profissional, Joaninha é um desafio pessoal para Alice. Ela conta que há meses não vê a os parentes no Nordeste.
— Eles sabem que essa fase da minha carreira requer muita responsabilidade, demanda energia e entrega de tempo, muitas vezes abdicando de estar perto deles. Eu não vejo minha família há alguns meses. Mas eles estão orgulhosos.<EP,1>Enquanto isso, a atriz, que é candomblecista, tem visto com prazer as cenas de Inácia (Edvana Carvalho) que retratam a ligação da empregada com os orixás.
— Fico honrada. As cenas me emocionam muito e penso logo no meu povo de terreiro. Vejo o quanto tem uma importância gigantesca levar esse tema para a casa das pessoas. Esse é um dos lados mais brilhantes do audiovisual.