Rainha Isabel II: a vida de “Lilibet” até à mais longa monarquia do Reino Unido - SIC Notícias

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Rainha Isabel II: a vida de “Lilibet” até à mais longa monarquia do Reino Unido

A monarca que teve mais tempo no trono britânico e a primeira a comemorar o Jubileu de Platina.

Rainha Isabel II: a vida de “Lilibet” até à mais longa monarquia do Reino Unido

Apaixonada por cães, cavalos e pelo castelo escocês de Balmoral. Discreta, metódica, sensível e alegre. Uma pessoa de sorriso aberto. É assim que vários membros da família real e historiadores descrevem a Rainha Isabel II, “lilibet” para a família mais próxima. Nasceu princesa, terceira na linha de sucessão, com uma ascensão ao poder improvável. Subiu ao trono com 25 anos e teve o reinado mais longo da história da monarquia britânica, desde 2015, e o terceiro maior do mundo. Foi a chefe de Estado mais viajada da História. No Reino Unido, foi a primeira monarca a celebrar o Jubileu de Platina. São 70 anos de reinado.

O calendário marcava 21 de abril de 1926 e o relógio 2:40. Cesariana. Nascia Elizabeth Alexandra Mary, em casa do avô materno em Mayfair, em Londres. Filha de Albert Frederick Arthur George, duque de Iorque, era a terceira na linha de sucessão ao trono inglês. Foi educada em casa, com a irmã, pela mãe e por uma governanta. Estudou história, literatura, línguas e música. Cresceu rodeada de realeza.

Isabel com seis meses
(Photo by Daily Mirror/Mirrorpix/Mirrorpix via Getty Images)

Tinha apenas 13 anos quando começou a II Guerra Mundial, em 1939. Nos primeiros anos de guerra, passou muito tempo longe dos pais porque Londres era alvo frequente de bombardeamentos aéreos. Os pais ficaram na capital. Com a irmã, fugiu para a Escócia, para o Castelo de Balmoral, e depois abrigou-se na casa de campo Sandringham, em Norfolk. Antes de se mudar para o Castelo de Windsor, onde viveu a maior parte dos anos de guerra, Isabel esteve uns meses na Pousada Real, também em Windsor.

Isabel a passear um cão no Hyde Park, em Londres, em 1940
(Photo by Hulton-Deutsch/Hulton-Deutsch Collection/Corbis via Getty Images)

Da adolescência ao casamento com Filipe

Foi também com 13 anos que Isabel conheceu aquele que viria a ser seu marido, no Real Colégio Naval de Dartmouth. Com 17 anos, Filipe, príncipe da Grécia e Dinamarca, chegou à cidade para iniciar a carreira de cadete da Marinha Real. Isabel terá confessado a algumas pessoas próximas que estava apaixonada, enquanto trocava cartas com o futuro duque.

Apesar da tenra idade, a guerra acabou por aproximar Isabel do povo, altura em que mostrou o seu lado mais sensível. Na rádio pública britânica, dirigiu-se às outras crianças que, como ela e a irmã, tiveram que ser retiradas aos pais:

“Milhares neste país tiveram que deixar as vossas casas e ser separados dos pais e mães. A minha irmã Margarida e eu sentimos muito por vocês, porque sabemos por experiência própria o que significa estar longe daqueles que mais amamos”.

No último ano do conflito, juntou-se ao ramo feminino do exército britânico, o Serviço Territorial Auxiliar, onde era mecânica e condutora de ambulâncias. Foi a primeira monarca no Reino Unido ao serviço das Forças Armadas.

Com 19 anos, contrariou o protocolo da monarquia e mostrou o lado mais rebelde: saiu à rua acompanhada pela irmã. Isabel e Margarida misturaram-se com as multidões para celebrar, em Londres, a vitória dos Aliados sobre a Alemanha.

Fotografia de família no dia do casamento de Isabel com Filipe, duque de Edimburgo, em novembro de 1947
(Photo by Fox Photos/Getty Images)

Dois anos depois, em 1947, ficou noiva de Filipe. O noivado foi oficializado em julho e casaram meses depois, em novembro, na Abadia de Westminster, em Londres. Isabel e Filipe eram parentes: primos em segundo grau por descendência de Cristiano IX da Dinamarca e em terceiro por descendência da Rainha Vitória.

A cerimónia ficou marcada por alguns problemas familiares: Filipe era estrangeiro e tinha irmãs casadas com nobres alemães com ligações nazis. Não era aceitável, no pós-guerra, que familiares alemães do noivo fossem convidados, nem mesmo as irmãs. O tio de Isabel, duque de Windsor, também não esteve presente.

Ainda antes de se casar, a princesa fez um discurso histórico, durante uma viagem com a irmã e os pais à África do Sul e antiga Rodésia. No dia em que fez 21 anos, comprometeu-se a servir a Coroa, o país e a Commonwealth.

Para se casar com Isabel, Filipe teve de abdicar dos títulos das coroas dinamarquesa e grega, converteu-se ao anglicanismo e adotou o apelido Mountbatten. Tornou-se duque de Edimburgo e recebeu o título de “Sua Alteza Real”.

Nos primeiros anos de casamento e depois do nascimento do primeiro filho, o casal viveu na Villa Guardamangia, em Malta, onde o duque de Edimburgo estava destacado ao serviço da Marinha.

A ascensão improvável ao trono

Isabel chegou ao trono com 25 anos, já com dois filhos, Carlos e Ana. Quando nasceu, a ascensão era improvável. Era a terceira na linha de sucessão, atrás do tio Eduardo e do pai. O tio foi coroado quando o avô morreu, em 1936, como Eduardo VIII, mas o reinado durou menos de um ano. Renunciou ao trono para se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada. O pai de Isabel foi coroado como Jorge VI, tornando-a herdeira do trono.

O rei, pai de “lilibet”, morreu em 1952, com 56 anos, com uma trombose. No seu último ano de vida, a saúde estava já muito debilitada devido a um cancro do pulmão. Isabel e Filipe, que estavam numa viagem, já tinham assumido algumas funções de representação do rei. Voltaram de Nairóbi, no Quénia, para o Reino Unido e, nesse mesmo dia, foi anunciado que Isabel sucederia ao trono.

Coroação de Isabel II, no dia 2 de junho de 1953, na Abadia de Westminster, em Londres
(Photo by: Universal History Archive/Universal Images Group via Getty Images)

A coroação aconteceu um ano depois, no dia 2 de junho, na Abadia de Westminster. Isabel II foi a primeira Rainha na história do Reino Unido a ter uma grande transmissão televisiva, onde foram usadas mais de 20 câmaras espalhadas por vários locais. Tem agora o reinado mais longo da história da monarquia britânica.

Os primeiros anos como monarca

Os primeiros anos como rainha foram sob liderança do primeiro-ministro Winston Churchill. Dias antes do chefe de Governo abandonar o número 10 de Downing Street, a rainha agradeceu-lhe a “sábia orientação” nos primeiros anos de reinado e disse estar “profundamente grata”.

Princesa Isabel e Filipe, duque de Edimburgo, num passeio durante a lua de mel em Hampshire, Inglaterra
(Photo by Topical Press Agency/Getty Images)

Carlos, príncipe de Gales, foi o primeiro dos quatro filhos de Isabel e Filipe. Nasceu em 1948, um ano depois do casamento, seguido de Ana, princesa Real, em 1950. Isabel só voltou a engravidar passado nove anos. André, duque de Iorque, nasceu em 1960 e Eduardo, último filho, conde de Wessex, quatro anos depois. Em todo o reinado, a Isabel II só falhou três vezes o “Discurso da Rainha”, na abertura do Parlamento britânico: nas gravidezes dos últimos dois filhos e a mais recente, este ano, devido a “problemas de mobilidade”.

Em 70 anos à frente da monarquia, conheceu sete papas e 14 primeiros-ministros do Reino Unido. O império britânico caiu. Houve atentados terroristas, catástrofes e uma pandemia, começaram e acabaram guerras, nasceram países e perderam-se fronteiras. O país entrou e saiu da comunidade europeia. Isabel continuou. Nunca houve um monarca tanto tempo no trono britânico. Isabel II tem, neste momento, o terceiro reinado mais longo da história mundial. À sua frente só Bhumibol Adulyadej, da Tailândia, por poucos dias, e Luís XIV, o ” Rei-Sol” , que reinou França durante 72 anos e 110 dias.

É a chefe de Estado mais viajada de sempre, visitou mais de 100 países, alguns várias vezes, como o Canadá, Austrália e África do Sul. No início do reinado, fez uma viagem de seis meses por vários países da Commonwealth.

Rainha Isabel e o príncipe Filipe com o ministro da Defesa numa viagem ao Canadá, nas comemorações dos 25 anos de trono
(Photo by Doug Griffin/Toronto Star via Getty Images)

Década de 60 e 70

Uma das poucas vezes em que a rainha se emocionou em público foi ao visitar Aberfan, uma vila no sul do País de Gales, que explorava carvão há um século. No dia 21 de outubro de 1966, pelo menos 116 crianças e 28 adultos morreram devido ao colapso de uma mina de carvão. A escola primária da vila e várias casas ficaram soterradas por uma avalanche de lama e detritos. Isabel II só visitou o local uma semana depois da tragédia, decisão que lamentou mais tarde.

Rainha Isabel e Filipe visitam Aberfan, no País de Gales, depois da catástrofe que matou 144 pessoas
(Photo by Stan Meagher/Express/Getty Images)

A década de 70 ficou marcada por vários episódios. O Reino Unido entrou para a União Europeia, em 1973. Quatro anos depois, Isabel II celebrou 25 anos no poder, com o Jubileu de Prata. O final da década ficou marcado pelo atentado contra o Lord Mountbatten: o tio de Filipe e primo de Isabel II e outros três membros da família real morreram num ataque terrorista do Exército Republicano Irlandês (IRA), um conflito que só terminou em 1998, com o Acordo de Belfast.

A relação com Thatcher e o casamento do filho Carlos com Diana

É por esta altura que Margaret Thatcher se torna primeira-ministra, um cargo que ocupou até 1990. Trabalharam juntas durante 11 anos, mas a relação entre as duas nem sempre foi fácil. A rainha terá acusado Thatcher de ser indiferente aos problemas dos britânicos e discordavam sobre a importância da Commonwealth.

Lady Di, príncipe Carlos e rainha Isabel na varanda do Palácio de Buckingham, no dia do casamento de Carlos e Diana
(Photo by Terry Fincher/Princess Diana Archive/Getty Images)

Em 1981, Carlos, o filho mais velho de Isabel II e Filipe e herdeiro do trono, casou com Diana Spencer, que se tornou princesa de Gales. Era o o início de uma nova era de interesse na família real britânica.

William e Harry nasceram e só depois vêm a público as divergências do casal devido a Camila Parker Bowles, ex-namorada de Carlos. Divorciaram-se em 1996, à semelhança de outros dois filhos da rainha, que já tinham anunciado o fim do casamento.

Morte de Diana

Um ano depois do divórcio de Diana e Carlos, a família real britânica era abalada por uma notícia dolorosa. De Paris, chegava a informação de que Lady Di, também conhecida por “princesa do povo”, tinha morrido, com apenas 36 anos, num trágico acidente de automóvel, enquanto fugia de paparazzis. Seguia no carro com o motorista, um segurança e o namorado, Dodi Al-Fayed.

Fotografia de Diana e o namorado no bando de trás, o segurança e o motorista momentos antes do acidente
(Photo by Jacques Langevin/scottbaker-inquests.gov.uk via Getty Images)

A morte da ex-mulher de Carlos provocou uma onda de solidariedade no Reino Unido e em todo o mundo, sobretudo para com os filhos do casal, William e Harry, com 15 e 12 anos, respetivamente.

O impasse na reação da família real à morte da princesa Diana causou indignação. A monarca, que na altura estava no Castelo de Balmoral, decidiu continuar na Escócia e não voltar a Londres de imediato. À polémica junta-se a rigidez do protocolo da realeza, que impediu o hastear do estandarte real a meia haste. Ainda assim, Isabel II acabou por ceder e autorizou que as cerimónias fúnebres fossem transmitidas em direto na televisão, ao contrário da gravação que estava inicialmente programada.

Novo milénio: Jubileu de Ouro e de Diamante e a morte da mãe e da irmã

Já no novo milénio, em 2002, ano do Jubileu de Ouro – 50 anos de reinado -, Isabel sofre com a perda da mãe e da irmã em menos de dois meses. Momento que marca o aparecimento dos primeiros problemas de saúde da monarca, mas que, ainda assim, não a impediram de continuar a cumprir a agenda pública.

Em 2011, depois de anos de conflito com a Irlanda, Isabel II quebra o ciclo ao visitar Dublin. O momento foi pensado ao pormenor de tal forma que a monarca foi vestida de verde esmeralda, uma das cores mais típicas do país que se tornou independente do Reino Unido. Três anos depois, o Presidente irlandês retribuía o gesto.

Família real cumprimenta multidão junto ao Palácio de Buckingham, em Londres, após o casamento de William e Kate

Na vida privada, Isabel assistia a mais um passo da terceira geração da família: o neto mais velho, William, oficializava a relação com Catherine Middleton. O casamento foi assistido por 24 milhões de pessoas só no Reino Unido.

“Lilibet” alcançou, em 2012, um feito até então só conseguido pela Rainha Vitória: o Jubileu de Diamante, enquanto monarca do Reino Unido e da Commonwealth.

Com uma imparcialidade imposta pelos deveres da monarquia, Isabel foi criticada por ter denunciado a sua posição em relação à Escócia, que, em 2014, fez um referendo pela independência.

“Espero que as pessoas pensem muito cuidadosamente no seu futuro”, alertou a rainha.

Nascimento do príncipe George e o escândalo com o filho André

Sua Alteza Real Príncipe George Alexander Louis, terceiro na linha de sucessão, nasceu em 2013. Primeiro filho de William e Kate foi nomeado Duque de Cambridge, o mesmo título dos pais.

Kate e William deixam o Hospital, após o nascimento do príncipe George, em 2013
(Photo by Zak Hussein/Corbis via Getty Images)

No ano seguinte, as convicções de Isabel voltam a ser postas à prova com um novo referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia. O processo conhecido como Brexit marcou também um período de tumulto político, com as sucessivas mudanças no cargo de primeiro-ministro. Começou com David Cameron, seguido de Theresa May e acabando em Boris Johnson.

A líder da realeza tem, há sete anos, o reinado mais longo da monarquia britânica, ultrapassando a rainha Vitória, que esteve perto de 64 anos no poder.

O período de felicidade ficou manchado pelo escândalo sexual que envolve o seu terceiro filho. O príncipe André foi acusado de ter abusado sexualmente de uma menor, há mais de 20 anos, com quem a família real chegou a acordo. A investigação policial revelou os laços entre o membro sénior da monarquia britânica e Jeffrey Epstein, também acusado de crimes sexuais e que acabou por se suicidar na prisão, em 2019.

Morte de Filipe e o estado de saúde de Isabel II

Há um ano, Isabel II perdia o pilar da sua vida. O príncipe Filipe morreu, com 99 anos, depois de vários internamentos. Foram quase 74 anos de vida em conjunto.

Rainha Isabel II no funeral do príncipe Filipe, no Castelo de Windsor
(Photo by Jonathan Brady – WPA Pool/Getty Images)
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