Isaac Newton foi considerado o maior cientista de todos os tempos e o fundador da escola clássica de física que permaneceu em vigor até Albert Einstein a ter reformulado.

O físico Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) qualificou o britânico como “o maior génio que alguma vez existiu e também o mais afortunado, na medida em que só se pode encontrar uma vez o sistema que rege o universo”.

Suposto abandono

Newton nasceu no dia 4 de Janeiro de 1643 (25 de Dezembro de 1642, de acordo com o calendário juliano) na cidade de Woolsthorpe, County Lincolnshire, três meses após a morte do seu pai. Ficou aos cuidados da sua mãe, Hannah Ayscough, que, três anos mais tarde, voltou a casar com um pastor protestante chamado Barnabas Smith. A partir desse momento, o pequeno Isaac ficou à guarda da avó materna em Woolsthorpe, enquanto a mãe se mudava com o seu novo marido para a paróquia de que este era responsável em North Witham. Este facto marcaria profundamente o carácter de Newton, que nunca perdoou a mãe pelo seu suposto abandono. Enquanto adolescente puritano e fervoroso, escreveu uma longa lista de “pecados” dos quais se arrependia na sua curta existência, incluiu entre eles o desejo de queimar a casa onde viviam a sua mãe e o padrasto com eles lá dentro. A verdade é que, desde que a sua mãe voltou a casar, o jovem só a tornou a ver 9 anos depois, quando Hannah ficou viúva e regressou a Woolsthorpe, acompanhada pelos três filhos, duas raparigas e um rapaz, frutos do seu segundo casamento.

No entanto, nem nessa altura Newton conviveu muito tempo com ela. Um ano depois, entrou no King’s School na vizinha localidade de Grantham, ficando alojado na casa de um farmacêutico amigo da família, onde praticou a construção de vários mecanismos. Durante esses anos, desenvolveu um enorme interesse pelo estudo, razão pela qual se recusou a administrar a fortuna da família para, contra a vontade da sua mãe, preparar a sua entrada na universidade.

Isaac Newton

Isaac Newton.

Percurso universitário

Em Junho de 1661, entrou no Trinity College de Cambridge e aqui, embora a universidade não se destacasse pelo carácter avançado dos seus estudos científicos, contrariamente ao que acontecia nas universidades de Oxford e Londres, começou a manifestar o seu interesse pelas investigações relacionadas com a Natureza. A grande epidemia de peste de 1665 obrigou a universidade a fechar portas e Newton teve de regressar a Woolsthorpe. Não retomou os seus estudos académicos até 1667, mas, durante esse período, e de forma totalmente autodidacta, formulou o método de fiuxões, a teoria das cores e a primeira hipótese sobre atracção gravitacional relacionada com a permanência da Lua na sua órbita em torno da Terra.

Dois anos depois, em 1669, sucedeu ao matemático Isaac Barrow na sua cátedra e escreveu as suas primeiras exposições sistemáticas do cálculo infinitesimal, embora só tenham sido publicados em 1676, através de duas cartas dirigidas a Henry Oldenburg, secretário da Royal Society.

Após estabelecer a fórmula binomial, Newton comprovou as séries infinitas para o cálculo infinitesimal, acreditando, desta forma, a intervenção dos processos infinitos no raciocínio matemático, contra a tradição imposta pela matemática grega. Naquela altura, no entanto, o seu interesse centrava-se noutra disciplina, a Óptica, tema que acabaria por conduzi-lo a descobrir a natureza constituinte da luz, um dos seus primeiros grandes feitos científicos.

refracção da luz

REFRACÇÃO DA LUZ. Através deste desenho, Newton quis explicar o fenómeno da refracção da luz numa carta dirigida à Royal Society, 1672 (New College, Oxford).

Em Fevereiro de 1672, após ter sido recebido como membro da Royal Society, graças à construção de um telescópio refiector, Newton apresentou ali a sua teoria sobre a composição da luz. Naquela época, acreditava-se que a luz era constituída por minúsculos corpúsculos e que as cores eram uma mistura de luz e escuridão em diferentes proporções. Para refutar esta ideia, Newton realizou a sua célebre experiência com apenas dois prismas de vidro.

Numa sala completamente às escuras, levou um raio de luz solar a incidir em cada um dos prismas. De imediato, na parede oposta, ficaram refiectidas as cores do arco-íris, sequencialmente. Através de uma segunda tela com um furo e um segundo prisma, foi fazendo passar as cores separadamente para mostrar se conservavam cada um dos tons originais.

Desta forma, demonstrava que não era o prisma que dava cor à luz, mas sim que as cores do arco-íris eram cores puras e a luz branca solar constituía a mistura de todas elas. O prisma não fazia mais do que separá-la. A experiência causou sensação na Royal Society: Newton conseguira decompor a luz solar.

refracção da luz

O ARCO-ÍRIS DE NEWTON. Em meados do século XIV, Louden recriou nesta gravura a experiência newtoniana da decomposição da luz solar: a luz branca decompõe-se nas diferentes cores do arco-íris.

Anos depois, Newton escreveu que a sua descoberta era “o mais exclusivo, senão o mais importante” de todos os avanços científicos ocorridos no seu tempo. No entanto, a sua formulação implicou anos de discussões intermináveis e improdutivas com outros colegas, que contribuíram para potenciar ainda mais a sua conhecida personalidade taciturna, taciturna e desconfiada. De qualquer forma, não ficou intimidado e continuou a defender a sua tese com uma obstinação sem precedentes, a tal ponto que alguns dos seus biógrafos não hesitaram em qualificá-lo como neurótico, uma definição que parece confirmar a sua hipocondria exagerada e a sua não menos significativa misoginia.

A oposição à sua teoria veio de Robert Hooke, então curador da Royal Society. Irascível, orgulhoso e muito invejoso dos seus concorrentes intelectuais, Hooke atacou duramente Newton, uma vez que defendia uma concepção ondulatória da luz. A tal ponto se viu atacado, que Newton não hesitou em recusar publicar qualquer tratado que reunisse as teses resultantes da sua investigação, até à morte de Hooke. Isso atrasou a publicação da sua Óptica até 1704.

O “último dos magos”

O economista britânico, John Maynard Keynes, definiu Newton como “o último dos magos (...), a última das grandes mentes que contemplou o mundo visível e intelectual com os mesmos olhos daqueles que o começaram a fazer”. Referia-se às incursões do cientista pelo campo da Teologia e da Alquimia. Estas iniciaram-se quando, desiludido pela polémica causada em torno da sua pesquisa sobre a luz, praticamente se retirou da vida pública e, refugiado no seu estúdio, retomou os trabalhos sobre o cálculo diferencial e entrou em novas matérias.

É precisamente desta época que data a célebre história de que, enquanto descansava no jardim da sua casa, a queda de uma maçã da árvore permitiu-lhe formular genialmente a teoria da gravidade. Parece tratar-se apenas de uma simples lenda que uma das suas sobrinhas divulgou depois da sua morte.

Isaac Newton

TRINITY COLLEGE. Visão geral da extensa biblioteca do Trinity College, uma das mais antigas de Inglaterra e onde Newton estudou entre 1661 e 1665. Paradoxalmente, Newton não acreditava na doutrina cristã da Santa Trindade.

Foi um tempo dedicado a dois temas que pouco tinham que ver com o seu trabalho científico: a Teologia e a Alquimia. No seu percurso para encontrar novos rumos para as investigações científicas, concentrou os seus esforços em descobrir a presença do espiritual na natureza, contradizendo a teoria cartesiana que reduz toda a experimentação ao campo puramente material. Focado na Alquimia, manteve em segredo a sua experiência nesta área, dadas as suspeitas que esta “pseudociência” levantava no mundo científico, bem como no teológico.

Newton considerava que o cosmo era o plano onde habitava a vontade divina. Esta estava presente nos átomos que compõem a natureza, os quais imbuía de um espírito que era o mesmo para todas as realidades materiais e, portanto, dotava a ordem cósmica de um único princípio. Para adequar o seu pensamento ao dogma, Newton estudou sem descanso as Sagradas Escrituras e tornou-se num determinado antitrinitário, ao negar a existência da Trindade constituída pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Esta posição valeu-lhe não só a condenação da Igreja anglicana, como também o impediu, por dispensa concedida pela Coroa, de receber as ordens sagradas, um requisito indispensável para manter a sua posição no Trinity College de Cambridge.

O período de reclusão de Newton terminou no final de 1679, quando o cientista recebeu o convite de Robert Hooke para restabelecer o contacto com a Royal Society, instituição da qual, na altura, Hooke era o secretário. O seu antigo rival propôs-lhe levar a cabo uma tarefa conjunta: expor as suas teorias sobre o movimento dos planetas. A proposta não agradou a Newton. O seu zelo científico não lhe permitia assumir e defender os princípios alheios, especialmente depois das diferenças que o separavam de Hooke. A correspondência entre os dois cientistas prolongou-se durante vários meses, o que, a longo prazo, daria origem às reivindicações de Hooke sobre a autoria das leis gravitacionais. Teve também um efeito positivo: devolveu a Newton o interesse pela dinâmica e levou-o a concluir que a trajectória seguida por um corpo movido pelo efeito de uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância que o separa de outro seria uma elipse, e não uma espiral, como Hooke defendia. Manifestou-o ao seu amigo, o astrónomo Edmond Halley, que, em 1705, viria a conseguir medir a órbita do cometa que, desde então, recebeu o seu nome.

telescópio refractor

TELESCÓPIO REFLECTOR. A Royal Society de Londres conserva alguns instrumentos científicos antigos, como este telescópio reflector (cerca de 1671), que Newton utilizou nas suas experiências.

No entanto, nesta época anterior, Newton não dispunha dos cálculos que o tinham levado a tal conclusão, pelo que teve de os reestruturar. Foi então que se viu perante o dilema de ter de demonstrar que a força de atracção entre duas esferas é igual à que se produziria se as massas de cada uma delas estivessem concentradas nos respectivos centros.

A proposição demorou alguns anos a ser resolvida: Newton só conseguiu demonstrar a validade da sua lei de atracção gravitacional em 1685, referindo-se concretamente ao caso da Lua e da Terra, graças à medição do raio da Terra devida ao astrónomo francês Jean Picard, a partir do seu cálculo de um meridiano de França (1670).

Os Principia mathematica

O envolvimento de Edmond Halley foi decisivo para que Newton tornasse pública a sua descoberta. Apesar da veemente recusa de Newton em apresentar publicamente a compilação das suas teorias num volume a que chamou de Philosophiae naturalis principia mathematica (Princípios matemáticos da filosofia natural), Halley conseguiu afastar os receios que lhe causava a possibilidade de se ver envolvido em novas polémicas ou, acima de tudo, que outros cientistas reivindicassem a autoria das suas descobertas. As eficazes manobras do astrónomo conseguiram afastar todos os obstáculos e, em Abril de 1686, apresentou o manuscrito à Royal Society, que assumiu a sua edição e suportou os custos de impressão.

Em Julho de 1687, os Princípios matemáticos da filosofia natural foram publicados. Pela primeira vez, eram levadas à gráfica as bases do cálculo infinitesimal criado por Newton, juntamente com os fundamentos da física e astronomia formulados na linguagem sintética da geometria. Entre outras, descreviam-se as leis do movimento e, logicamente, entre elas a lei da gravidade. Newton foi honesto e, na primeira edição da obra, reconheceu publicamente que Leibniz estava na posse de um método análogo, uma declaração de princípios que desapareceu em edições posteriores, perante a polémica que surgiu nos meios científi cos sobre a prioridade da descoberta.

leibniz

Em 1703, Andreas Scheits Gottfried retratava Wilhelm von Leibniz (Biblioteca Augusta, Wolfenbüttel). Esta cópia anónima a cores data de cerca de 1711.

A polémica a que o britânico tanto quisera escapar era inevitável. Teve origem na acusação de ter plagiado Leibniz, por parte do matemático suíço Nicolas Fatio de Duillier em 1693. Fatio conheceu Newton em Londres, em 1688, quando se deslocara à Royal Society para uma palestra sobre a teoria mecânica da gravitação de Huygens. A partir desse momento, tornaram-se inseparáveis. Unidos pelo interesse na ciência, desenvolveram estreita amizade (que alguns biógrafos de Newton admitem ter tido cariz sentimental), embora seja difícil pensar que Newton tivesse desrespeitado seu rigoroso e puritano código moral.

Em 1691, Fatio, profundamente impressionado pela teoria da gravitação, começou a elaborar uma nova versão dos Princípios matemáticos da filosofia natural, que nunca chegou a terminar, uma vez que, por razões desconhecidas, por volta de 1694, a relação entre os dois investigadores foi interrompida. Newton atravessou então uma crise depressiva que derivou numa autêntica paranóia, na qual acreditava ser perseguido por todos.

primeira calculadora

A PRIMEIRA CALCULADORA. A chamada “roda de Leibniz” é um tambor cilíndrico e um conjunto de dentes com uma roda de contagem que servia de motor cálculo. Inventada pelo filósofo e matemático em 1672, foi usada para computação até surgir a calculadora electrónica em 1970 (Museu da Técnica, Dresden).

Na época, afirmava-se que se devia ao desaparecimento de muitos dos seus manuscritos num incêndio que Newton acreditava ter sido intencional. No entanto, investigações recentes atribuem-na a uma lenta e progressiva intoxicação devida às suas experiências alquímicas com elementos como o mercúrio e o chumbo. De qualquer forma, não se deverá descartar que o carácter egocêntrico e não isento de soberba de Newton o tenham levado a atribuir a conspirações imaginárias a falta de reconhecimento público das suas teorias do qual se considerava merecedor, para lá do âmbito científico.