Exploradores espanhóis na América do Sul ouviram falar da lenda de El Dorado por volta de 1500. Algures nos Andes, o povo indígena Muisca tinha iniciado um novo chefe polvilhando-o com ouro da cabeça aos pés e lançando ouro e esmeraldas num lago sagrado. O chefe era conhecido como El Dorado, o Dourado.

Uma infinidade destes exploradores em busca do El Dorado foi vítima de doenças, mordeduras de serpentes, inanição, esgotamento ou assassínio. Nenhum encontrou a terra do ouro, o lugar sonhado de riquezas fabulosas.

No início do século XVI, os europeus acreditavam que o ouro crescia sob a influência do Sol e imaginavam que isso acontecia nos lugares mais quentes da Terra, perto do equador. Por esse motivo, após o desembarque de Colombo nas Caraíbas, em 1492, as expedições de descoberta começaram a dirigir-se para sul, rumo às terras equatoriais onde estavam certos de encontrar riquezas auríferas. A descoberta do Pacífico em 1512 abriu novos horizontes à curiosidade e à cobiça. As notícias de Birú (de onde provém o nome Peru) aliciaram Gonzalo Pizarro e a conquista do Império Inca agudizou a fome de ouro dos espanhóis. No início da década de 1530, as notícias do “País do Meta”, o planalto andino percorrido pelo rio Magdalena e governado por um grande senhor dono de enormes riquezas, avivaram o interesse pelo fantástico El Dorado. Uma das três expedições com esse fim, a de Jiménez de Quesada, apoderou-se da região, habitada pelos chibchas, onde obteve um enorme saque de ouro e esmeraldas e ali fundou Bogotá.

Eldorado

A lagoa de Guatavita, nos Andes colombianos. Fotografia de Prisma by Dukas Presseagentur.

O seu sucessor, António de Berrío, dirigiu três expedições pelo Orinoco em busca da cidade mítica de Manoa, para onde se mudara o soberano inca depois da conquista espanhola. As cartas dirigidas por Berrío ao rei Filipe II foram parar às mãos do explorador inglês Walter Raleigh, que comandou uma primeira expedição à Guiana em busca do El Dorado e na qual capturou Berrío. Regressou em 1617, desta vez acompanhado pelo filho Walter. A nova tentativa acabou com a morte de Walter durante um confronto com os espanhóis. Quando regressou a Inglaterra, foi executado pelos seus ataques às possessões espanholas que contrariavam as ordens do rei Jaime I.

O explorador mais famoso entre os que procuraram o El Dorado foi um psicopata: Lope de Aguirre. Implacável, Aguirre matou Pedro de Ursúa, chefe da expedição que seguia o curso do rio Marañon, no Peru, em busca de uma terra que transbordava de ouro e canela, passando a liderar a expedição. Assassinou inimigos, amigos, sacerdotes, gente comum e, finalmente, a própria filha, procurando encontrar o El Dorado e estabelecer o seu próprio governo. Os homens do rei mataram-no em 1561 e o seu corpo foi desmembrado e comido pelos cães com excepção da cabeça e mãos que ficaram expostas ao público.

El Dorado explorador

Sir Walter Raleigh liderou duas expedições em busca do Eldorado. Fotografia de Tony Baggett/Shutterstock.

Para a lenda do El Dorado, talvez tenha contribuído um ritual do povo muisca nos Andes colombianos. De cada vez que um novo chefe ascendia ao poder era coberto com pó de ouro da cabeça aos pés. Seguia depois para uma jangada com quatro homens e penetrava na lagoa sagrada de Guatavita, junto de Bogotá. Para as águas da lagoa, eram lançados o ouro e esmeraldas que transportava consigo. O Museu do Ouro de Bogotá conserva uma minúscula balsa de ouro (com 19,5x10cm) com várias personagens que talvez represente esse ritual. A peça está datada de 1200 a 1500 e foi descoberta em 1969.