A importância do primeiro jogo oficial de futebol feminino há 133 anos | Dona do Campinho | ge

Por Cíntia Barlem, blog Dona do Campinho — Rio de Janeiro


Primeiro jogo oficial de futebol feminino, realizado em Londres — Foto: Facebook Fifa

Neste dia 23 de março, lá em 1885, foi jogada a primeira partida oficial entre mulheres, de acordo com a Fifa. O jogo ocorreu em Crouch End, Londres, Inglaterra. Os dois times foram divididos em Norte e Sul, representando duas partes da cidade. Um jornal esportivo da época escreveu:

“Verdade, jovens homens correriam mais e bateriam mais forte, mas, além disso, eu não posso acreditar que eles mostrariam qualquer outro conhecimento maior ou habilidade na execução. Eu não penso que o futebol feminino deva ser extinto por causa de importantes artigos escritos por velhos homens sem simpatia por tanto pelo futebol como um jogo quanto pelas aspirações de jovens mulheres. Se o futebol feminino morrer, será uma morte difícil”.

O futebol feminino não só sobreviveu como está aí por 133 anos e a cada dia ganha mais fortalecimento no cenário mundial. Clubes que antigamente acreditavam que era um gasto desnecessário, atualmente, enxergam a modalidade como uma oportunidade. O último a visualizar isso foi o Manchester United. Anunciou em comunicado oficial esta semana que irá lançar seu time feminino e pediu à FA (Federação Inglesa de Futebol) a inscrição na segunda divisão da Liga Inglesa de Futebol. Recentemente, a Juventus já tinha seguido o mesmo caminho.

Aos poucos, os grandes clubes vão encontrando formas de assegurar posição. Barcelona e Manchester City fizeram contratações de importantes nomes para a temporada, seguindo o modelo do masculino. Não estão mais no futebol feminino apenas para figurar como participantes. Querem ser campeões. Ambos estão atualmente na Champions League e tentam medir forças com o grande time europeu na atualidade: o Lyon. Este, aliás, é um belo exemplo de como aproveitar uma oportunidade. O president do clube, Jean-Michel Aulas, viu que ganhar a competição europeia seria uma tarefa complicada no masculino pelo domínio financeiro de gigantes europeus. Definiu uma estratégia: fortaleceria o feminino para lá garantir o tão sonhado troféu. Não deu outra. Conquistou em quatro oportunidades a competição organizada pela Uefa, está nas quartas de final da atual edição, e busca ser a primeira equipe a garantir três títulos em sequência na história do torneio.

As possibilidades cada vez se abrem mais. No Brasil, o exemplo mais claro de administração modelo do futebol feminino entre as agremiações conhecidas no masculino é o Santos. Multicampeãs, as Sereias da Vila são patrimônio do clube. Detalhe que seus jogos são na Vila Belmiro assim como a equipe masculina. Não há distinção entre os dois. O Corinthians assegurou uma alta repercussão com o título da Libertadores feminina em parceria com o Audax. Definiu, logo depois da conquista em dezembro de 2017, que era hora de se lançar novamente em projeto solo. Assim o fez e chega para brigar pelo Paulista e Brasileiro com investimento em contratações de atletas conhecidas e selecionáveis como Gabi Zanotti, por exemplo. Inter, Grêmio, Sport, Flamengo, Coritiba (em parceria com o Foz Cataratas), América, e Vitória também já fincaram posição. Mas o futebol feminino não precisa ser refém do masculino para existir. O modelo vem de Manaus. O Iranduba lota estádios, tem torcedores apaixonados e faz tudo isso focando na modalidade para as mulheres, agora com o desafio possível de levar a Libertadores feminina 2018 para a cidade.

Os modelos acima mostram que o futebol feminino é um caminho sem volta, ou seja, os que não aceitarem agora, sofrerão lá na frente o prejuízo por não terem sido precursores. A mudança de aceitação se verifica até mesmo na relação com os fornecedores de material esportivo. CBF e Nike colocaram uma jogadora entre os modelos de lançamento do novo uniforme da seleção brasileira. O papel ficou com Andressa Alves, um dos destaques do Brasil. Além disso, a equipe comandada por Vadão será a primeira a usar o novo uniforme em competições oficiais, algo impensável em outros anos.

De acordo com a Fifa, são mais de 30 milhões de mulheres jogando futebol. É possível bloquear a visão para esse público? Em um mundo que que se busca cada vez mais monetizar ideias, a relação feminina com o esporte deve ser cada vez mais aproveitada. Elas estão aí e abandonar a estrada do desenvolvimento não é uma opção. A evolução, sim, é o objetivo.

— Foto: infoesporte

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