Karim Aïnouz comenta a exibição de 'Marinheiro das montanhas' no Festival de Cannes
O novo filme do brasileiro Karim Aïnouz ("A vida invisível"), "Marinheiro das montanhas", foi aplaudido por 15 minutos após sua exibição no Festival de Cannes. A produção fez parte como convidada da mostra Sessão Especial.
"Uma emoção gigante ter feito o filme. Ter passado aqui hoje. Ter tido a recepção que teve", afirma o diretor. Assista ao vídeo acima.
"O que eu poderia esperar mais de um filme do que esse tipo de recepção? Foi um calor maior do que o calor de Fortaleza."
Walter Salles e Karim Aïnouz no Festival de Cannes — Foto: Soraya Ursine/Divulgação
"Marinheiro das Montanhas" é um diário de viagem filmado na primeira ida de Aïnouz à Argélia, país em que seu pai nasceu.
Com registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família e arquivos históricos, o cineasta discute paralelos entre a história de amor de seus pais, a guerra pela independência argelina, memórias de infância e os contrastes entre a região de Cabília, no país africano, e Fortaleza, cidade natal do cineasta e de sua mãe, Iracema.
"'Marinheiro das montanhas' é um filme íntimo, talvez seja o meu primeiro filme. O filme que sempre sonhei em fazer e que só consegui realizar muitos anos depois", disse ele ao público antes da exibição.
Cena de 'Marinheiro das montanhas' — Foto: Divulgação
"Essa história de amor entre os meus pais habitou meu imaginário desde que eu me entendo por gente e de alguma forma transformá-la em filme foi o que me levou para o cinema."
O filme é uma produção da VideoFilmes, dos irmãos Walter Salles e João Moreira Salles, com coprodução da Globo Filmes, GloboNews, associação com MPM Film, Big Sister, Watchmen e Cinema Inflamável e distribuição da Gullane.
Karim Aïnouz, produtores e equipe de 'Marinheiro das montanhas' passam pelo tapete vermelho do Festival de Cannes — Foto: Sébastien Nogier/Divulgação
O cineasta tem uma história muito ligada ao evento francês. Além de ter ganhado o prêmio de melhor filme da mostra Um Certo Olhar em 2019 com "A vida invisível", também exibiu lá seu primeiro longa, "Matame Satã" (2002), e "O Abismo Prateado" (2011).
Protestos
Faixa protesta contra as mortes no Brasil por causa da pandemia após exibição de 'Marinheiro das montanhas', de Karim Aïnouz, no Festival de Cannes — Foto: Divulgação
A sessão também foi marcada por manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro e sua administração durante a pandemia de Covid-19.
"Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos", disse o diretor após a exibição do filme.
"Além das mais de 500 mil mortes com a Covid, muitas outras vidas foram perdidas por responsabilidade direta desta administração genocida. Como acontece em governos autoritários, os artistas, a ciência e as universidades públicas foram os primeiros a ser atingidos."
Depois do discurso, uma faixa exibida protestava contra as mortes: "Brasil: 530 mil mortos. Fora, gângster genocida".