Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor
Publicidade

Por Por Paula Jacob (@pjaycob); Fotos Divulgação


"Vou contar a minha história para poder esquecê-la." Essa é uma das inúmeras frases poéticas que Héctor Babenco, premiado cineasta argentino naturalizado brasileiro, diz ao longo do documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou. Dirigido por Bárbara Paz, o filme de pouco mais de uma hora é uma ode ao cinema e ao amor. Com uma sensibilidade voraz, a diretora e produtora mescla cenas milimetricamente conduzidas por suas mãos com trechos de filmes de Babenco, unindo a vida e a obra de quem diz adeus ao mundo físico com muita sabedoria.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Selecionado para representar o Brasil no Oscar – com grandes chances de sucesso –, o documentário em preto e branco é uma experiência belíssima, principalmente para quem tem alguma afinidade com a sétima arte. "É um filme de amor ao cinema, principalmente neste momento em que vivemos no Brasil. Nós, artistas, estamos sendo apedrejados por sermos artistas, como se fôssemos vilões", conta Bárbara em entrevista à Glamour. A seguir, a diretora conta mais detalhes sobre o processo do filme:

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Como a curadoria de cenas dos filmes de Babenco que entraram no documentário foi feita?
No começo não ia entrar nenhuma cena, porque queria contar a vida dele, naquele recorte temporal. E colocar por colocar não fazia parte da proposta do filme. Fomos inserindo esses trechos conforme a vida dele pedia, e tudo ia conversando. Algo dele sempre estava impresso nos filmes. Isso foi pensado para fazer sentido com o roteiro, feito ao lado de Maria Camargo, sobre a morte, o fim, como se o cinema dele também estivesse se despedindo dele, só que o imortalizado.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Quais foram os sentimentos durante o processo?
É óbvio que foi difícil, mas ao mesmo tempo a dificuldade maior foi depois que ele partiu. Durante o processo, estava sendo uma alegria filmar, isso o dava mais tempo e oxigênio. Foi um acalento positivo. Ele mesmo dizia que estar filmando era estar vivendo um dia a mais. Desde os 38 anos, a vida dele foi construída a partir de uma sentença de morte, e ele sempre driblou isso fazendo filmes. Era doloroso, sim, mas foi mais prazeroso que doloroso. Era como um segurar de mãos, captando a vida como um bom casal.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Existe uma linha muito bonita entre arte e vida. Como dosar essa realidade versus ficção?
O filme foi costurado para dramatizar a vida. Não é fácil, mas é possível fazer com beleza, sem ser melodramático. A minha ideia nunca foi tornar o filme uma ficção do que estava acontecendo, era sempre sobre documentar a vida como um poema visual – as cenas conversam muito entre si. Também fiz questão de trabalhar bastante o som do filme: de Caetano Veloso a Radiohead, as músicas têm um sentido, todas que Héctor mais gostava. Entende que tudo tem um balanço que casa com essa entrega, essa despedida?

Sobre a ficção e a realidade, hoje tudo está sendo filmado e registrado, a internet tem esse poder. Com tantas ferramentas disponíveis, as pessoas estão um pouco cansadas de ficção e consumindo mais documental. O documentário é uma junção das duas coisas, que já não são tão distanciadas assim, só que com uma verdade absoluta. Cada cena tem um diálogo escolhido, um propósito minuciosamente pensado para ser uma dança visual. Eu sempre quis fazer um conto da vida dele, e esse filme é isso, um pedaço dessa vida, obra e fim.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

No filme, existem várias frases bem fortes dele. Hector parecia um filósofo da existência. Como selecionar esses trechos?
Doía tanto ter que escolher qual iria entrar, por isso acabei fazendo um livro ["Mr. Babenco – Solilóquio a Dois Sem Um", R$ 55, Nós] que acompanha o filme, e nele tem todo o material que não entrou no corte final. Héctor era um grande pensador, mas não falava para muitos, o que torna essas falas tão raras e especiais. É uma aula de cinema. Mas o filme é só um retrato, transcrevi tudo, todas as gravações, falas. Com ajuda da Maria Camargo, fomos fazendo a seleção. Héctor mesmo diria que fazer cinema é como peneirar para ver o que fica, e achar uma pepita. Essa é a dificuldade de fazer um documentário: como deixar de fora algo tão precioso? É preciso largar a mão uma hora.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

O que você espera que o documentário inspire os brasileiros, em um momento tão delicado?
É um filme de amor ao cinema, principalmente neste momento em que vivemos no Brasil. Nós, artistas, estamos sendo apedrejados por sermos artistas, como se fôssemos vilões. Fazer um filme pessoal, de amor à essa arte, gera uma comoção. É sobre um ser humano que lutou para fazer filmes. Precisamos parar de falar de guerra, para falar do real, ainda mais agora, com tudo à flor da pele. O que me dói é saber que as pessoas estão vendo na tela do computador. Eu espero que quem puder, vá ao cinema, a experiência é outra diante daquelas imagens, sons, texturas, vozes. O filme entra em você de outro jeito.

Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Documentário “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” é um convite ao amor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Quais são os sentimentos em relação à nomeação para representar o Brasil no Oscar?
Eu me sinto muito honrada, pelo Héctor, pela trajetória dele. Ele foi o cineasta que levou o cinema brasileiro para o mundo, com atores brasileiros contracenando com estrangeiros – isso é um presente para o nosso país. Ele sempre teve uma tristeza das pessoas não o considerarem um cidadão brasileiro, sendo que praticamente todos os filmes dele foram feitos aqui. Ser indicada, levando ele, como um filme brasileiro, isso é muito emocionante. Este também é o primeiro documentário da história do Brasil que foi indicado como filme estrangeiro ["Democracia em Vertigem", de Petra Costa, estava concorrendo ao Oscar de Melhor Documentário em 2020]. Estou muito feliz, mas bastante focada na estratégia de campanha que vai até o final de janeiro.

Mais recente Próxima As melhores músicas gringas do TikTok em 2020
Mais de Glamour