Asa Branca, um Sonho Brasileiro | Enciclopédia Itaú Cultural

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Cinema

Asa Branca, um Sonho Brasileiro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 20.04.2023
1981
Primeiro longa-metragem do cineasta Djalma Limongi Batista (1947). Forma-se em cinema na primeira turma da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Após trabalhar como fotógrafo still e realizar curtas e médias, Djalma levanta recursos com a Embrafilme para um longa-metragem ficcional sobre um jogador de futebol. Tr...

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Primeiro longa-metragem do cineasta Djalma Limongi Batista (1947). Forma-se em cinema na primeira turma da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Após trabalhar como fotógrafo still e realizar curtas e médias, Djalma levanta recursos com a Embrafilme para um longa-metragem ficcional sobre um jogador de futebol. Trata-se de Asa Branca, um Sonho Brasileiro (1981). Pelo trabalho com referências e pelo requinte formal, o filme é associado ao nascente Jovem Cinema Paulista, geração de cineastas dos anos 1980 que busca uma nova via para o cinema popular e autoral em tempos de derrocada do mercado cinematográfico brasileiro.

O longa acompanha Asa Branca [Edson Celulari (1958)], da adolescência em Mariana do Sul, no interior de São Paulo, onde sonha ser um prestigiado jogador de futebol, até sua consagração, quase uma década depois, na Copa do Mundo de 1970. A trajetória de Asa é narrada de forma linear e episódica, atravessando dificuldades enfrentadas pelo jogador em nível pessoal e profissional. Ele passa por times locais, como Comercial e Sport, e por um grande da capital, o Bandeirante. É quando mais sofre para encontrar seu lugar e mostrar seu futebol. Depois de afastado do time titular por indisciplina e acumular jogos no banco de reservas, o admirador Isaías [Walmor Chagas (1930-2013)], influente publicitário, convence o cartola do time a lhe dar nova chance, quando, enfim, se consagra.

O cineasta Djalma Limongi Batista afirma que seu filme não é sobre futebol, mas sobre um jogador. A mudança de perspectiva aponta para a ênfase no lado humano do personagem. Ou seja, como os eventos do futebol afetam Asa Branca, um rapaz brasileiro, que sonha ser jogador de futebol. As brigas com técnicos e cartolas, a politicagem, a desilusão com o jogo, a penúria financeira, a glamourização dos desportistas nos anos 1960, o caráter masculino do esporte são alguns dos temas abordados pelo filme. Para isso, o diretor faz pesquisa de campo, em especial na Escola de Futebol Vicente Feola. Não interessa ao cineasta tocar na questão política do Regime Militar (1964-1985), pois isso não afeta diretamente o personagem.

Asa Branca, um sonho brasileiro tem viés realista, mas é permeado pelo lúdico em diversos momentos. O sonho do título é, assim, transferido para o desenvolvimento da narrativa. Nas cenas lúdicas, a fotografia é levemente repaginada, com esfumaçamento das bordas e iluminação mais artificial. São momentos que se contrapõem ao verismo de parte do filme, como quando Asa e Cleyse, sua garota dos sonhos, dançam após ele ser sorteado no baile de final de ano do Sport. Ou quando Asa, embriagado, vestido com asas de anjo e desmaiado na sarjeta é resgatado por Isaías, que o carrega no colo até o carro e saem em alta velocidade pelas areias da praia.

Além dessas cenas, há os sonhos de Asa. A cena mais emblemática do filme é um sonho. Asa, nu, caminha pelo estádio do Maracanã vazio. Ele pega a lua e a usa como bola, treinando sozinho. Vestido com o uniforme do Comercial, aparece Poca, seu amigo de infância que largou o futebol para ter uma vida familiar, e podem juntos jogar mais uma vez. Em seguida, Asa surge com o uniforme da seleção brasileira. Junta-se a ele o lendário jogador Mané Garrincha (1933-1983), campeão mundial pelo Brasil em 1958 e em 1962. Antes de ser acordado pelos colegas do Bandeirante, vê-se entrando no estádio lotado com a camisa da seleção, pronto para disputar uma partida. O sonho de Asa trabalha todos os receios e ansiedades do personagem, entre a sensação de deslocamento no clube atual – e a segurança de retornar às boas memórias do começo – e a vontade de se equiparar a um grande ídolo do futebol, passando ainda pelo caráter libertário da nudez e da lua como bola.

Assim como no sonho, o filme contrapõe a felicidade em Mariana do Sul, quando Asa julga sua vida boa, e cuja encenação colorida retoma os musicais e romances juvenis norte-americanos dos anos 1950. Diversas canções pontuam interações importantes na narrativa e a desilusão na cidade grande, São Paulo, quando o filme fica mais pessimista e cinza.

A recepção da crítica é positiva. Na Folha de S.Paulo, Orlando Fassoni (1942-2010) destaca o bom caminho tomado por um estreante: “Djalma Batista (...) sabe como fazer cinema simples, bem acabado, divertido, espirituoso e criativo ao narrar a ascensão de um jovem, ‘Asa Branca’, interiorano, tímido e meio desajeitado que (...) vai ocupar sua posição como ídolo do futebol”. Já Edmar Pereira, elogia a abordagem do diretor: “Ele leva o espectador a um nível paralelo da realidade, onde convivem sem atropelos tanto os símbolos quanto os fatos. E mostra, em cada sequência, uma enorme habilidade como encenador, sem falar de uma capacidade incomum de apreender pequenos pormenores decisivos na criação de personagens, climas e situações”1.

Asa Branca, um sonho brasileiro estreia no 14º Festival de Brasília, em 1981, quando ganha os prêmios de Melhor Diretor, de Melhor Ator (Edson Celulari) e de Melhor Ator Coadjuvante (Walmor Chagas). Também exibido no 10º Festival de Gramado, em 1982, o filme recebe, novamente, os prêmios de Melhor Direção e de Melhor Ator (Walmor Chagas). Leva ainda o Prêmio Air France de Cinema nas categorias de melhor filme, direção e ator (Edson Celulari) e o prêmio especial no francês Festival des Trois Continents. O longa chega ao circuito comercial em 24 de maio de 1982 e obtém boa bilheteria, levando aos cinemas 600 mil espectadores.

Notas
1 PEREIRA, Edmar. Um sonho brasileiro. Filme Cultura, Rio de Janeiro,  n. 41/42, p. 79-80, maio 1983.

Fontes de pesquisa 18

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  • BATISTA, Djalma Limongi. Estratégia da fantasia para o cinema brasileiro. Filme Cultura. Rio de Janeiro, n. 38/39, p. 53-55, ago./nov.1981.
  • BERNARDET, Jean-Claude. Os Jovens Paulistas. In. XAVIER, Ismail.; BERNARDET, Jean-Claude.; PEREIRA, Miguel. O desafio do cinema: a política do Estado e a política dos autores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. p. 65-91.
  • CINEMATECA Brasileira - Filmografia: base de dados. Disponível em: http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA&lang=p.
  • FASSONI, Orlando L. Telas da cidade estão cheias de bons filmes. Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 abr. 1982. Ilustrada. p. 26.
  • FASSONI, Orlando L. “Asa Branca”, desde já forte concorrente. Folha de S.Paulo. São Paulo, 25 mar. 1982. Ilustrada. p. 37.
  • L., P.M. Honra merecida. Veja, São Paulo, 28 abr. 1982. p. 136.
  • MELO, Victor Andrade de; KNIJNIK, Jorge Dorfman. Futebol, cinema e masculinidade: uma análise de Asa Branca, um sonho brasileiro (1981) e Onda Nova (1983). Revista portuguesa de ciências do desporto, Porto, v. 9, n. 2-3, p. 183-191, 2009.
  • MERTEN, Luiz Carlos. ‘Asa Branca’ cria mito do futebol. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 04 jun. 2001. Caderno 2, p. D7.
  • MIRANDA, Luiz Felipe. Dicionário de cineastas brasileiros. Apresentação Fernão Ramos. São Paulo: Art Editora, 1990, 408 p. p. 51.
  • NADALE, Marcel. Djalma Limongi Batista: livre pensador. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. (Coleção aplauso. Série cinema Brasil). Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.086/12.0.813.086.pdf.
  • NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. p. 103-108.
  • O GLOBO. Concorrendo com mais de 50 filmes, ‘Asa Branca’ tem prêmio especial em Nantes. O Globo, Rio de Janeiro, 02 dez. 1982.
  • PEREIRA, Edmar. Um sonho brasileiro. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 41/42, p. 79-80, maio 1983.
  • PORTINARI, Maribel. ‘Asa Branca’ é o sucesso. O Globo, Rio de Janeiro, 25 mar. 1982. p. 37.
  • RAMOS, Fernão Pessoa (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p. 52.
  • SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: curta e média metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2011.
  • SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: longa metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2009.

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