Amityville: Os relatos paranormais sobre a casa que foi palco de crime brutal
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Amityville: Os relatos paranormais sobre a casa que foi palco de crime brutal

Quase quatro décadas após os Lutz fugirem de endereço que foi palco de crimes, filho relatou o pesadelo que viveu em Amityville

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 17/10/2023, às 18h41 - Atualizado às 18h42

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Representação da casa no filme The Amityville Horror - Divulgação
Representação da casa no filme The Amityville Horror - Divulgação

O cenário de tudo que envolve a casa 112 da Ocean Avenue, na cidade de Amityville, em Long Island, nos Estados Unidos, parece um filme de terror. Antigos moradores descreveram que o primeiro evento bizarro foi o aparecimento de moscas — uma verdadeira praga que surgia aos montes e tomava os cômodos da construção de madeira.

Há também os relatos de pontos frios nos quartos e corredores. Isso sem contar os cheiros estranhos, às vezes de perfume, outras de excremento. Os barulhos de solavanco à noite também ajudam a reforçar mais um evento clichê.

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Algo mistico foi notado depois que o casal George e Kathy Lutz se mudou para lá em 14 de janeiro de 1976. George tinha um sono cada vez mais desregulado e sempre acordava no mesmo horário: 3h15 da manhã. Era como se recebesse um chamado para despertar.

A casa 112 da Ocean Avenue, na cidade de Amityville / Crédito: Getty Images

O ambiente sinistro não se resumia a isso — como se tudo descrito acima já não fosse perturbador o suficiente. Os Lutz também relataram que objetos voavam pela sala; as paredes escorriam lodo verde; crucifixos apareciam virados de cabeça para baixo; George até mesmo encontrou uma sala vermelha escondida no porão. Ah, e como esquecer aqueles olhos brilhantes daquela figura demoníaca — que parecia um porco — que 'enfeitava' a totalidade da escuridão noturna?

Assim que os Lutz chegaram em Amityville, um padre católico fez questão de abençoar o imóvel recém-adquirido pela família. Aquela mesma casa que, meses antes, havia sido palco de uma chacina cruel contra uma família.

George e Kathy ficaram apenas 28 dias no local. Fugiram aterrorizados de lá, na companhia dos três filhos pequenos do casamento anterior da mulher. A sensação de medo era tamanha que eles só levaram as roupas que vestiam. Mas o que aconteceu por lá?

O crime bárbaro

Em 13 de novembro de 1973, a casa 112 da Ocean Avenue foi palco de assassinatos brutais. A família DeFeo foi vítima de uma chacina — um dos casos mais violentos e chocantes da história norte-americana. Naquela madrugada, Ronald DeFeo Jr. foi até o Henry’s Bar, que ficava a poucos metros do endereço, e pediu por ajuda: "Acho que minha mãe e meu pai foram baleados".

Voluntários o acompanharam de volta ao local e contataram que a tragédia era ainda maior. Além da morte dos pais de Jr., Ronald (43 anos) e Louise (42), seus irmãos também haviam sido mortos: Dawn (18), Allison (13), Marc (12) e John Matthew (9).

Embora tivesse alegado que a máfia encomendou a morte da família, Ronald confessou os crimes no dia seguinte: "Quando comecei, não consegui parar. Foi tão rápido". Após os homicídios, ele tomou um banho, tirou sua roupa suja ensanguentada e foi até o bar em busca de ajuda.

Dois anos depois, foi a julgamento. Seu advogado, William Weber, alegou que Ronald sofria de insanidade. O réu disse que uma voz demoníaca o acordava todas às noites, às 3h15, dizendo: "Mate sua família". Até o dia que ele não conseguiu resistir aos pedidos.

Mugshot de Ronald DeFeo Jr./ Crédito: Reprodução/Video/YouTube/ Rotting Llama Productions

Usuário de LSD e heroína, DeFeo Jr. foi considerado culpado e especialista apontaram que, embora ele tivesse transtorno de personalidade antissocial, ele estava plenamente consciente quando cometeu os crimes. O julgamento acabou com sua condenação de seis penas consecutivas de 25 anos de prisão. Até hoje a motivação por trás dos crimes é uma incógnita.

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Casa mal-assombrada?

37 anos após a 'fuga' dos Lutz da casa, Daniel Lutz, um dos filhos de Kathy, que tinha apenas 10 anos na época, resolveu quebrar o silêncio sobre tudo o que vivenciou em quase um mês de pesadelo.

Em 2013, ele foi entrevistado pelo diretor Eric Walter, que naquele ano lançou o documentário 'My Amityville Horror', contando os relatos de Daniel e do fatídico endereço que se tornou inspiração para a franquia de filmes The Amityville Horror.

Daniel Lutz em entrevista/ Crédito: Lost Witness Pictures

Na produção, Daniel relatou que nunca mais voltou ao endereço. Ele ainda atribuiu a presença do mal na casa ao seu padrasto, George, que realizava atividades ocultistas, segundo sua descrição. Ele teria sido o responsável por abrir a porta para as forças das trevas que não conseguiu controlar.

O antigo morador também disse que o endereço era para ser a casa dos sonhos. Seis quartos, a piscina e casa de barcos fez a família apelidar o imóvel de High Hopes ("altas esperanças" em tradução livre). Mas, ao invés disse, se tornou um grande pesadelo.

Eu só queria que alguém acreditasse em mim. Isso esteve em meus sonhos durante toda a minha vida", disse ele em lágrimas.

Daniel recordou ter visto as estantes de seu padrasto repletas de livros sobre magia. E ele até afirmou que viu George mover uma chave-inglesa telecineticamente em sua garagem — o que teria acontecido antes de se mudarem para Amityville.

"As crenças e práticas de George desencadearam o que estava acontecendo na casa", disse em voz trêmula. "Foi como um truque de mágica que deu errado e você não conseguiu desligar."

Ele ainda descreveu ter se sentido desconfortável em Amityville duas horas depois de se mudar. Ao levar uma caixa de mudança para a sala de jogos, em segundos a encontrou repleta de moscas. Após esmagar mais de cem delas, foi buscar sua mãe para contar o que havia ocorrido. Ao voltar para o espaço, todas haviam sumido. "Foi aí que minha confusão começou".

O antigo morador também relatou que sonhava com o cachorro da família "enlouquecendo" e quase se se enforcando com a coleira ao tentar pular o cercado enquanto a porta da garagem ganhava vida própria. "A família inteira estava ali, observando a porta da garagem bater e bater, e bater e bater".

Outra recordação foi de quando ele e seu padrasto voltavam da garagem quando olharam para a janela do quarto de sua irmã — que tinha apenas cinco anos na época. Eles viram, o que Daniel descreveu como, um "personagem de desenho animado de um porco furioso com dentes de lobo e olhos vermelhos como raio laser". Ao correr até o quarto, porém, apenas descobriu uma cadeira de balanço vazia balançando de um lado para o outro.

Kathy, George e Daniel Lutz/ Crédito: Lost Witness Pictures

No último dia que ficou na casa, Daniel lembra que sua mãe machucou a mão quando uma janela caiu misteriosamente sobre ela. O antigo morador também descreveu que um espírito entrou pela cozinha, derrubou uma faca e se sentou à mesa — deixando uma marca no assento.

Em um de seus poucos relatos, George Lutz contou que naquela mesma noite, viu o rosto de Kathy se transformar temporariamente na face de uma "velha" e que, mais tarde, ela ainda levitou na cama.

Daniel, que dividia o quarto com seu irmão, Christopher, afirmou que eles também "compartilharam uma experiência de levitação" em suas camas: "Nós dois acordamos com os pés batendo um no outro e batendo no teto".

As controvérsias

A popularidade da casa, sejam pelos filmes ou pelo livro best-seller publicado em 1979, atraiu quem acreditasse nos relatos, mas também fez com que muitos céticos procurassem informações para desvendar uma possível farsa.

Segundo o Daily Mail, muitos passaram a apontar que a situação financeira da família pode explicar o 'surgimento' dos relatos sobrenaturais. Acontece que George era um mero agrimensor, portanto, não tinha condições de pagar pelo imóvel. Assim, os Lutz teriam fugido da propriedade por outros motivos que não os espíritos malignos.

Além disso, antes do lançamento do filme The Amityville Horror (conhecido no Brasil como 'A Cidade do Horror') em 1979, o advogado William Weber afirmou que teria inventado a história dos acontecimentos malignos junto com os Lutz enquanto tomavam "muitas garrafas de vinho".

Entretanto, Weber acabou criando rusgas por questões financeiras com George e Kathy — que usaram das informações minuciosas do crime cometido por Ronald DeFeo Jr. para criar o roteiro perfeito. Um exemplo seria o 'fato' de George acordar todas as noites às 3h15.

Os Lutz também teriam inserido outros detalhes em seus relatos fantasiosos, como o gato do vizinho que virou a criatura demoníaca que viam somente os olhos e deixava pegadas na neve. O casal sempre manteve a versão, mas admitiu que algumas partes foram exageradas pela mídia.

Em relação a 'sala vermelha', por exemplo, George Lutz alegou que a descobriu em uma passagem atrás de prateleiras no porão. O espaço não existe na planta do imóvel e relatos apontam que o labrador da família, chamado de Harry, se recusou a chegar perto da porta e se encolheu de medo ao se aproximar dela. Inquilinos anteriores, entretanto, dizem que a usavam apenas para armazenamento.

Outro ponto contestado é que os Lutz não fizeram o mínimo para provar suas alegações, como coletar amostras do musgo gelatinoso que descreviam escorrer pelas paredes ou que surgia através dos buracos das fechaduras das portas. Por outro lado, George e Kathy passaram no teste do detector de mentiras.

O casal acabou se divorciando meses depois. Kathleen morreu em 2004 e George apenas dois anos depois. Com a partida de ambos, as controvérsias sobre o endereço diminuíram com o passar dos anos, no entanto, a polêmica ganhou vida quando Daniel Lutz resolveu relatar tudo que viveu.

Após enfrentar diversos problemas em sua vida, que classificou como traumatizante após viver no endereço, Daniel disse que saiu de casa quando tinha apenas 15 anos. Por algum tempo, ele passou a viver como sem-teto no sudoeste dos Estados Unidos.

Ao documentário My Amityville Horror, ele revelou que detestava George, que, segundo Daniel, batia nas crianças com uma colher de pau. Com isso, seria de se esperar que ele desmentisse a história de Lutz sobre possessão demoníaca. Mas, ele insistiu que tudo era substancialmente verdade, até mesmo por ter levitado em sua cama e visto uma figura demoníaca no quarto de sua irmã mais nova.

Após deixarem o imóvel, a família chegou a ser perseguida pela mídia e se escondeu por um tempo até se mudar para a Califórnia. Embora os Lutz tenham optado pelo silêncio, Amityville se tornou cada vez mais famosa na cultura popular. O diretor Eric Walter é cético em relação ao que é contado, mas admitiu: "Uma família não abandonaria tudo e fugiria, a menos que estivesse genuinamente assustada".


*Com informações do Daily Mail;