De estilista a fomentador de negócios: Herchcovitch completa 30 anos de carreira - GQ | Estilo
Alexandre Herchcovitch é capa digital da GQ Brasil (Foto: Gui Paganini)

Alexandre Herchcovitch é capa digital da GQ Brasil (Foto: Gui Paganini)

Em uma palestra, algo que entrou na rotina dele ao se tornar um protagonista da moda brasileira, Alexandre Herchcovitch foi abordado por um adolescente, que estava acompanhado da mãe. "Ele me pediu para contar o que era minha profissão. Decidi então falar da parte ligada a dinheiro, a negócios, pois achei que assim ela ficaria mais tranquila", relembra ele, que não titubeou: “Seu filho vai ganhar muito dinheiro, pode deixá-lo fazer”.

Estilista, diretor criativo, especialista em licenciamentos, autor de figurinos para cinema e TV e de uniformes para marcas como Gol e McDonald´s e para atletas nos Jogos Olímpicos, Herchcovitch é um caso raro que se destaca tanto ao fazer moda autoral quanto nos negócios. Para ele, que completou 50 anos em 2021, os dois assuntos andam juntos desde sempre. Foi com a mãe, Regina, que aprendeu a costurar e a fazer contas. "Ela teve uma marca de lingerie onde fazia tudo, incluindo preços, finanças. Boa parte do tempo passava com ela e via o que fazia", lembra. Continuou a contar com os conselhos da matriarca mesmo após se formar em moda na Faculdade Santa Marcelina, em 1993, e fundar a marca que leva o seu nome. "Sempre que ia passar o valor de uma roupa para alguém, passava menos do que eu inicialmente tinha planejado. Daí, minha mãe, vendo isso, falou que ela passaria então os preços aos clientes."

GQ + Herchcovitch (Foto: Gui Paganini)

Johnny Luxo usa body de poliamida com elastano de jacquard de caveiras, gola de inox e cartola de feltro de lã e metal (Foto: Gui Paganini)

Herchcovitch escreveu seu nome na história da moda, com coleções transgressoras para homens e mulheres, e também em roupas de cama, isqueiros, móveis e em mais de mil outros produtos com um trabalho de licenciamento que começou em 1999, com a Malwee. "Além de levarem o design a mais pessoas, financeiramente os licenciamentos representaram muito em seu auge, em 2014, 2015. Chegaram a ser 50% do faturamento total da empresa, que contava com atacado e varejo de produtos, incluindo sete lojas próprias e uma rede de distribuição mundial com mais de 150 pontos de venda", diz.

"Não gosto de pensar da maneira tradicional, sempre tento ver negócios e marcas como um todo, tridimensionalmente. Analiso todas as possibilidades, faço muitas perguntas e invariavelmente tenho uma ideia nova, que não foi pensada ainda", detalha. "Lembro que uma vez propus um licenciamento que envolvia três marcas, e não duas como é de costume. Quando apresentei para as empresas envolvidas, acharam improvável, porém inovador. No final, eu consegui concretizar", conta ele sobre a parceria entre Herchcovitch; Alexandre, Tweety e TokStok. "Só consigo essa visão tridimensional do negócio porque aprendi a maneira tradicional. Aprender para depois desconstruir."

Com tanto background, passou a ser requisitado para desenvolver departamentos sobre o assunto dentro de  outras empresas. "O mercado me enxerga hoje não apenas como estilista mas também como fomentador de negócios. Entre eles os licenciamentos. O último trabalho que realizei foi para a marca NK Store." Atualmente, o estilista não tem nenhum envolvimento com produtos e licenciamentos das marcas Herchcovitch; Alexandre, de prêt-à-porter, e Herchcovitch, de jeanswear. Em 2008, ele vendeu as grifes para o grupo InBrands, mas continuou como diretor criativo até 2016, quando se desligou. "A saída não foi dolorosa; apenas não trabalho mais na marca que fundei, o que não impediu que após minha saída continuasse a trabalhar duas vezes mais."

GQ + Herchcovitch (Foto: Gui Paganini)

André Lucas veste macacão de Cordura da coleção Herchcovitch; Alexandre do inverno 1998. Máscara de acervo pessoal de Alexandre Herchcovitch (Foto: Gui Paganini)

Alexandre Herchcovitch é sócio de uma barbearia em São Paulo e atua hoje como estilista e diretor de novos negócios das marcas À La Garçonne e ÀLG. Foi à frente dessas grifes, conta ele, que passou por um dos momentos mais desafiadores, em 30 anos de carreira, por causa da pandemia. "Migramos a maior parte do negócio para o digital. Eu, que sempre fui acostumado a lojas físicas, tive de me adaptar rapidamente", diz ele. "Em maio de 2020, fui dispensado das três consultorias. Foi um susto, mas faz parte do aprendizado. A diversificação de minha atuação fez com que me adequasse rápido, ocupando o tempo com trabalhos novos, como consultor artístico de séries de TV, algo que já estava no meu mundo."

Na televisão, ele vai assinar também os figurinos da série que o diretor Luiz Fernando Carvalho está desenvolvendo sobre os 200 anos da Independência do Brasil, prevista para setembro de 2022, ano em que o estilista verá a sua história retratada em um documentário na HBO e quando voltará com um programa no canal E!. "Por mais que eu diversifique minha atuação, considero- -a focada. Consigo atuar como empresário de moda, ter um programa de TV e fazer roupas sob medida. O meu método é esse. A diversificação me ajuda a criar."

Veja o ensaio completo na GQ Brasil de outubro, já nas bancas, no Globo+ e na nossa loja virtual (para moradores da Grande São Paulo)

Edição de Moda Alexandre Herchcovitch. Fotos Gui Paganini. Beleza Robert Estevão. Produção de moda Daniel Raad. Produção executiva Enzo Amendola e Monica Borges. Assistentes de fotografia Naelson de Castro, Filipe Sardelli e Atych Fortes. Assistentes de beleza Rodrigo Bernardo e Julia Boeno. Tratamento de imagens Thiago Auge. Agradecimentos 42.studios