A caminhar a passos largos para a homologação do total de 14 percursos pedestres que propôs marcar e oficializar quando iniciou atividade num grupo de cerca de 40 voluntários, numa ideia nascida em 2018, a associação Rotas de Mação quer agora ir mais longe na promoção e dinamização turística do concelho, num trabalho de colaboração com os seus parceiros, onde se incluem, entre outros, o Município de Mação e Juntas de freguesia. Em cima da mesa estão ideias como a criação de uma Grande Rota BTT, baloiços com vista de tirar o fôlego e um passaporte que permita assinalar cada descoberta e cada lugar visitado.
A meses de assinalar os 2 anos de criação oficial da associação, as Rotas levaram o seu espírito além fronteiras, numa atividade de team building, carregando a alma e o espírito maçaenses como força motriz para percorrer a Rota dos Túneis do «Camino de Hierro», entre La Fregeneda (Espanha) e Barca d’Alva (Portugal).
A Associação Rotas de Mação é um projeto já consolidado no concelho de Mação, com resultados visíveis no terreno e cujo propósito assenta na dinamização das rotas e trilhos pedestres e no cultivar da estreita colaboração e missão voluntária entre maçaenses, simpatizantes do concelho e instituições e entidades em prol de um objetivo comum: valorizar e preservar o que Mação tem de bom.
O trabalho dos últimos anos tem atraído milhares de visitantes ao território, por via de caminhadas, eventos desportivos e iniciativas culturais e de lazer que promovem a descoberta da natureza e do património local, e a associação já sente o peso nos ombros quanto a essa responsabilidade.
A 24 de abril, domingo, foi promovida uma viagem de autocarro de Mação até Espanha, para um convívio de team building, além fronteiras. O objetivo passaria também por cumprir com o reforço do espírito de equipa da associação e preparar as jornadas que se avizinham.
Num grupo de cerca de 30 pessoas, desde elementos das Rotas e outros parceiros que foram participando em atividades e apoiado na dinamização de projetos, decorreu aquela que é uma caminhada de cariz anual que a associação pretende realizar sempre com o intuito de conhecer exemplos de dinâmica e valorização dos recursos e património, ao mesmo tempo que se promove o convívio, a partilha e interação em contacto com a natureza.
Uma saída pela madrugada, com partida pelas 3h00 da manhã no autocarro da autarquia, com o slogan Mação Verde Horizonte bem patente, onde a boa disposição e o frenesim pelo que viria eram evidentes. Após algumas horas de viagem, entre montes e vales, chega-se ao ponto de partida. O relógio rondava as 7h30, a aventura iria começar após o briefing.
Em La Fregeneda arrancou-se para o “Camino de Hierro”, um trilho pedestre que avança sobre a linha férrea abandonada entre La Fregeneda (Espanha) e Barca d’Alva (Portugal), no Parque Natural das Arribas do Douro, o equivalente espanhol para o Parque Natural do Douro Internacional português.
Conhecido como a Rota dos Túneis e Pontes, numa extensão de cerca de 17 km com 20 túneis e 10 pontes metálicas, muitos com extensões e alturas consideráveis, respetivamente, e onde se observam obras da engenharia civil do século XIX, com muita da escola de Eiffel, a par da paisagem feita de contrastes, ao longo do vale do rio Águeda. Possível observar algumas aves ali habitantes nas ravinas e penedos, como o grifo, o abutre do Egipto e a águia-real.
A viagem permite entrar no ecossistema da Reserva da Biosfera, incluindo passar na escuridão dos túneis que albergam colónias de morcegos em vias de extinção e que ali são protegidos. Profundo silêncio à entrada no desconhecido escondido na penumbra, para depois inspirar bem fundo ao avistar, e à medida que se aproxima, a verdadeira luz ao fundo do túnel.
Um percurso que tem tanto de belo como de vertiginoso, e que acaba por ser também muito ingrato para as pernas, por exigir a constante procura do melhor piso para caminhar entre a linha férrea ou as laterais do trilho. Mas nada disso compete com a vista desafogada sobre as montanhas a recortar o céu no horizonte, pintando verdadeiras telas e permitindo o registo fotográfico em jeito de postais para mais tarde recordar. Presencia-se um horizonte tão verde quanto o de Mação.
Esta viagem permitiu levar o espírito das Rotas de Mação até Espanha e à fronteira portuguesa, não esquecendo o belo repasto com produtos típicos maçanicos, onde não faltaram os bolos amassados, o pão e o vinho caseiros, os enchidos e o presunto, as laranjas, e ainda as iguarias que costumam fazer parte do farnel à portuguesa, com rissóis, pastéis de bacalhau e outros fritos, frango assado, batatas fritas, outros bolos caseiros… e o anunciado salame de chocolate para os mais gulosos, que gerou expectativa durante toda a caminhada – quase tanta como o vinho.
Não faltou ainda o bolo de aniversário surpresa para uma das caminhantes, e a guitarra que veio encorajar as vozes mais tímidas a cantarolar com alegria, embalando a tarde que se preparava para ser de repouso quase absoluto, com muitas sestas batidas nos assentos do autocarro.
Antes da viagem de regresso, com vista para o cais em Barca d’Alva, junto às mesas montadas para o almoço onde acontecia um salutar convívio, Leonel Mourato, presidente da direção das Rotas de Mação, mostrava-se visivelmente agradado e orgulhoso do desfecho da iniciativa, tendo certeza que o espírito e alma da associação são a chave-mestra e o segredo para fazer cumprir com a missão de abrir as portas de Mação ao mundo.
Em declarações ao mediotejo.net, Leonel explicou algumas das ideias e projetos que a associação pretende apresentar às entidades parceiras locais para trabalhar e refletir sobre a viabilidade da sua implementação no terreno.
Um dos projetos tem que ver com os “best of” de Mação, todos os pontos notáveis e de interesse turístico e patrimonial destacados pela associação ao longo das várias rotas pedestres ou imediações dos trilhos das mesmas, desde miradouros, cascatas, ribeiras e outros.
Para os próximos três anos, a associação pretende propor ao Município de Mação e Juntas de freguesia para desenvolver no território, nomeadamente a colocação de diversos baloiços na «Rota das Paisagens sem fim» e que servirá a conclusão de um puzzle. “Ao visitar os vários baloiços vai preenchendo uma peça, e quando estiver completo, poderá ter direito a um prémio, que ainda teremos de discutir. É um projeto que estamos a idealizar ainda”, explicou.
“O objetivo é que o caminhante percorra Mação e colecione visitas a esses pontos em destaque, aproveitando os percursos pedestres marcados”, indicou.
Nesta senda, pretende instituir-se a Grande Rota das Montanhas Azuis para a prática de BTT, que “ligará todos estes pontos entre si”, sendo que a rota de btt passará sempre nestes locais.
Por fim, consolidando estas novas ideias, pretende-se avançar com o lançamento do passaporte Rotas de Mação, em suporte impresso. “Um projeto que sempre tivemos desde início, só que nunca conseguimos pôr em prática. Será o livro físico, dividido pelas seis freguesias do concelho. Cada junta de freguesia e o município terão carimbo, que será também facultado ao comércio local”, referiu, dando conta que o modelo está pensado mas que está em fase de projeto e carece da aceitação dos parceiros institucionais.
Apesar dos constrangimentos causados pela pandemia de covid-19, que vieram atrasar alguns planos e adiar a calendarização prevista para trabalhos e iniciativas no terreno, a associação espera até junho conseguir fechar o percurso PR-10-MAC – Cardigos Praia, seguindo-se os percursos 11 e 12, Rota das Matas e Vale do Ocreza e Rota das Aldeias de Cardigos.
No próximo ano deverão estar concluídos e seguir para homologação os percursos da Rota do Bando do Codes e da Rota de Aboboreira, ambos ainda em projeto.
Para Leonel Mourato, a associação atingiu “um grau de experiência e visibilidade e de responsabilidade” tal, contando com apoio dos autarcas locais, que hoje já é notória a existência de “um rumo e um projeto de turismo para Mação”.
Visivelmente orgulhoso e ciente do panorama atual, com eventos a acontecerem em quase todos os fins-de-semana no concelho, envolvendo também associações e coletividades, atraindo pessoas e grupos da região e de outros pontos do país, o ortiguense fundador da Associação Rotas de Mação crê num futuro risonho para o concelho.
“Fazemos o nosso caminho de forma própria, não dizemos mal de ninguém, não somos egoístas ao ponto de dizermos que somos os melhores. Fazemos o nosso caminho, achamos ser a nossa maneira para atingir o nosso objetivo. Aquilo que pedimos é que as pessoas que vêm ao nosso concelho se sintam bem, sejam bem acolhidas, e que levem de alguma forma Mação no coração”, concluiu o responsável.
Reportagem muito bem conseguida.
Gostei muito.