Por vezes não acreditamos na existência formal de certas datas, mas elas existem e são, cada vez mais, necessárias.

O dia 16 de maio foi instituído pela Assembleia Geral da Nações Unidas como o Dia Internacional da Convivência em Paz; efeméride pouco conhecida e menos ainda comemorada, sequer tem sua efetividade comprovada. Sua motivação principal é tentar alertar para a necessidade de promoção da paz internacional, envolvendo toda a humanidade, e pelo fortalecimento da cultura da não-violência. E além de ressaltar a importância da paz entre povos e nações, destaca a paz entre pessoas como real semente da paz universal.

Ao lado de datas comemorativas mais bem cotadas, por motivos religiosos, políticos, comerciais ou simplesmente razões para feriados, o Dia da Paz como também é conhecido tornou-se apenas um registro de calendário, e neste momento com guerras acontecendo em vários lugares do planeta, com a violência plenamente disseminada, é como diria o poeta “apenas um retrato na parede… e como dói!”

A História da Humanidade é também a história da violência, diversas práticas violentas eram usuais desde a mais remota antiguidade, tendo a Idade Média sido pródiga no seu exercício; entretanto mais recentemente vários autores iniciaram sérios debates sobre o assunto, como Marx, Hegel, Nietzsche, Durkheim, e desde então o tema tem aparecido frequentemente em pesquisas e textos acadêmicos, hoje sendo tema de pensadores de esquerda e direita, que realmente estão interessados na melhoria de nosso processo civilizatório. Discussões sobre a violência como algo superável e não inerente ao homem, ou algo que definitivamente faz parte da estrutura psíquica humana, a universalização dos costumes, as normas de convívio e principalmente por termos conferido ao Estado o monopólio do exercício da violência, faria com que esta deixe de ser espontânea e irracional para ser centralizada e monopolizada.

Estudar as causas profundas dos conflitos  pode nos levar a um conceito amplo de paz; ela pode ser negativa, pela simples ausência de guerra, ou positiva quando seres humanos estão integrados e harmônicos, vencida a desigualdade de poder e a injustiça social.

Para isso, é preciso combater a violência cultural, traduzida nos sistemas de normas e comportamentos que legitimam socialmente as agressões presentes na  sociedade.

A liberdade, a equidade, integração em vez de segmentação, solidariedade em vez de fragmentação, são fundamentais se desejamos uma paz sólida e duradoura; no entanto estamos imersos na cultura do ódio e do preconceito contra os “diferentes”, sendo essa diferença quase sempre a cor da pele, a procedência, a religião, a cultura, a ideologia, fatores que teriam poder de aproximar e não de afastar pessoas.

A informação praticamente instantânea do que acontece ao redor do mundo nos traz notícias de fatos dos quais ignoramos o contexto. Assim é que ficamos sabendo de crimes e desastres ocorridos com povos que nos são distantes. “Nada do que é humano me é estranho” disse o sábio romano Terêncio, mas infelizmente não somos todos sábios e estranhamos a humanidade dos que pouco conhecemos: “apenas mil mortos no Sudão neste final de semana” como se nada fosse.

Recentemente vivemos o absurdo de crianças entrando em escolas sendo revistadas em busca de armas, e o absurdo maior de que talvez isso fosse necessário. Esse é o mundo que construímos, ou que deixamos construir ainda que não o queiramos. O movimento hippie dos anos 1960 cometeu alguns equívocos, mas nos deixou um legado em forma de slogan Paz e Amor, tanto uma quanto outro são cada vez mais importantes e indispensáveis.

Se conseguirmos manter nossas crianças longe deste ambiente hostil de agressões e violências já teremos conseguido uma pequena vitória.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.