Corrida de camelos guiados por rob�s movimenta milh�es de d�lares no Catar - Superesportes
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Corrida de camelos guiados por rob�s movimenta milh�es de d�lares no Catar

No pa�s que recebe a Copa do Mundo de futebol, outro esporte mais tradicional costuma receber mais aten��o e desperta acusa��es por viola��o de direitos

26/11/2022 10:10 / atualizado em 26/11/2022 10:55
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Corrida de camelos � esporte tradicional no Catar, pa�s que sedia a Copa do Mundo de futebol
foto: Jo�o Vitor Marques/EM/DAPress

Corrida de camelos � esporte tradicional no Catar, pa�s que sedia a Copa do Mundo de futebol



� direita, uma placa sinaliza em alerta aos motoristas, que atentamente enfileiram os ve�culos e aguardam a vez de cruzar a rodovia. Aos poucos, centenas de camelos tomam conta da paisagem des�rtica de Al Shahaniya, sob o sol das 15h que precocemente se aproxima do horizonte.

Guiados pelos treinadores, atravessam o asfalto quente em frente aos carros e seguem rumo � pista de terra. A menos de 40 quil�metros dali, o anfitri�o Catar se prepara para um jogo decisivo contra Senegal pela Copa do Mundo de futebol, no nov�ssimo Est�dio Al Thumama. Mas, por aqui, as aten��es est�o voltadas para um esporte mais tradicional.

A corrida de camelos come�ou a ser disputada profissionalmente no Catar em 1972, mas tem origens que remontam � Idade M�dia. Historiadores apontam que os primeiros eventos foram realizados no s�culo VII, na Pen�nsula �rabe, como uma forma de entreter as elites locais em casamentos, comemora��es e outros encontros festivos.

A tradi��o persistiu ao longo dos s�culos, popularizou-se e foi ganhando novos contornos competitivos, tecnol�gicos e financeiros.

"Aqui sempre fica cheio durante o per�odo dos torneios, principalmente. Vem gente de todo o mundo para conhecer e fotografar, � uma das viagens que fa�o com mais frequ�ncia", conta o motorista e guia Sharif, 43, que nasceu na �ndia, mas vive em Doha h� 18 anos.

"� um esporte tradicional, que impressiona a fam�lia do emir Tamim bin Hamad Al Thani", completa, em refer�ncia ao xeque catari.

O mercado do esporte no Oriente M�dio � milion�rio. Os pre�os variam de lugar para lugar, mas os camelos mais baratos costumam custar 50 mil d�lares (cerca de R$ 270 mil na cota��o atual).

Corrida de camelos � esporte tradicional no Catar, pa�s da Copa do Mundo


Mais desejados, os "puro-sangue" ultrapassam a barreira do milh�o. Em 2010, um saudita desembolsou impressionantes 9,45 milh�es de d�lares (mais de R$ 51 milh�es atualmente) para comprar tr�s animais. J� os campe�es podem chegar ao pre�o de 30 milh�es de d�lares (R$ 162 milh�es).

No mercado oficial, n�o � permitida a aposta na corrida de camelos. A premia��o aos vencedores dos campeonatos varia desde nov�ssimos carros SUV a itens que simbolizam a tradi��o local, como facas, espadas e at� lan�as.

Nos eventos mais importantes, o pr�mio � em dinheiro. Competi��es recentes distribu�ram 10 milh�es de riais catarenses (cerca de R$ 14,8 milh�es) aos tr�s melhores colocados em uma disputa de 15 rounds.

Como funciona?


� sexta-feira (24), dia de descanso e f� para os pa�ses mu�ulmanos. Na temporada das corridas, entre outubro e mar�o, � tamb�m o momento das principais competi��es nacionais e internacionais na pista de Al Shahaniya, principal centro de corridas do pa�s.

Desta vez, por conta do Mundial de futebol nas cidades vizinhas, decidiu-se por ocupar parte do espa�o com festividades e aproveitar a presen�a de turistas de v�rias partes do mundo. As disputas passaram para outras datas, mas os treinamentos seguem pela manh� e � tarde, com acesso gratuito aos f�s e curiosos.

"Pensei que ia ter corrida hoje, mas tudo bem. Deu para ver o treino, fazer alguns v�deos muito bonitos. Nunca tinha visto nada parecido com isso", conta �scar Mu�oz, turista uruguaio que aproveitou um dia sem jogos da sele��o no Mundial para visitar o local, que fica a menos de uma hora de Doha.

Empolgado, ele pisa na terra e se esquiva do esterco para se aproximar dos animais, que calmamente se direcionam � vila que re�ne cerca de 20 mil camelos.

As pistas de terra t�m dist�ncias de cinco, sete ou dez quil�metros, mas h� corridas de at� 40 quil�metros - ou quatro voltas na maior trilha. Os camelos s�o divididos em categorias com base na idade e iniciam a prepara��o para os campeonatos logo ao nascer.

Entre seis meses e um ano, s�o separados das m�es e come�am uma dieta rica em amido e prote�na, com quantidades calculadas cientificamente para melhorar a performance. Em geral, um animal � aposentado por volta dos dez anos de idade - e tem mais 30 ou 40 pela frente.

Nas corridas, os principais competidores costumam alcan�ar sprints curtos de quase 70 quil�metros por hora e, nas disputas mais longas, podem manter os 50 quil�metros por hora durante 60 minutos. As estrat�gias para aumentar a velocidade passam pelo treinamento, a alimenta��o e por quem controla os animais.

Durante muito tempo, crian�as foram usadas como jockeys por pesarem menos que adultos. A pr�tica foi severamente criticada at� ser abolida em 2005. Os competidores decidiram substituir os garotos por pequenos rob�s, que s�o posicionados nas corcovas dos camelos e simulam os movimentos e as orienta��es de jockeys humanos.

Do lado de fora das pistas, treinadores controlam as a��es da m�quina, em din�mica que geralmente funciona como o planejado. H� diversos modelos de rob�s, cujos pre�os variam de 300 a 10 mil d�lares (R$ 1,6 mil a R$ 541 mil), a depender do peso e da qualidade.

Para acompanhar as corridas, o m�todo mais tradicional � segui-la de carro. Paralelas �s trilhas dos animais, tr�s faixas de pista asfaltada se enchem de autom�veis em alta velocidade nos campeonatos.

J� nos dias de treino, homens montam os competidores e os guiam por todo o trajeto, enquanto os milion�rios donos dos camelos os seguem em belos modelos SUV e orientam os empregados.



Viola��o de direitos


A tradi��o movimenta milh�es de d�lares e f�s em toda a Pen�nsula Ar�bica, mas tem sido severamente criticada ao longo das �ltimas d�cadas com acusa��es de viola��o de direitos humanos e dos animais.

No in�cio do s�culo, v�rias institui��es denunciaram o tr�fico, a venda e o sequestro de crian�as, majoritariamente de pa�ses asi�ticos como Bangladesh, Sri Lanka e Paquist�o, para trabalharem como jockeys.

O caso de Shameem Miah � apenas um dentre v�rios que chocaram o mundo antes de as crian�as serem trocadas por rob�s. Nascido em Bangladesh, ele foi tirado da fam�lia quando tinha apenas tr�s anos e se tornou jockey em Dubai, luxuosa cidade nos Emirados �rabes Unidos.

"Os donos dos camelos nos pesavam. Se a gente comesse muito, eles nos davam choques el�tricos. Eu tinha muito medo deles, porque se eu perdesse uma corrida, eles nos batiam", relatou, em 2009.

At� hoje, tamb�m h� acusa��es de maus tratos aos camelos. Defensores dos direitos dos animais dizem que em alguns casos h� severas restri��es alimentares para controlar o peso e torn�-los mais r�pidos para as corridas. Em outros casos, as den�ncias dizem respeito � excessiva carga de treinamentos e competi��es.

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