Jardim Cinema: Paul Thomas Anderson - “Magnolia”

sábado, 4 de maio de 2024

Paul Thomas Anderson - “Magnolia”


Paul Thomas Anderson
“Magnolia”
(EUA – 1999) – (188 min. / Cor)
Julianne Moore, William H. Macy, John C. Reilly, Tom Cruise,
Philip Baker Hall, Jason Robards, Philip Seymour Hoffman, Alfred Molina.

“Magnólia”, do cineasta Paul Thomas Anderson, é uma película em estrutura de mosaico, que nos vai relatar a vida de um conjunto de pessoas ligadas entre si por laços familiares, mas também por simples coincidências, no período temporal de um dia, nessa grande metrópole que é Los Angeles, ao mesmo tempo que iremos conhecer como as esperanças de muitos dos protagonistas se transformaram em verdadeiros fracassos.


Por aqui assistimos a um retrato feroz da sociedade contemporânea, em que mesmo as boas intenções irão embater nesse muro intransponível da dura realidade.


Earl Partridge (Jason Robards) é um magnata que se encontra retido no leito, às portas da morte e apesar de todo o amor que a sua segunda mulher Linda Partridge (Julianne Moore) lhe dedica, compartilhando o seu sofrimento, não irá alterar o seu inevitável destino. Já o seu filho Frank Mackey (Tom Cruise, numa interpretação extraordinária, bem merecedora do Oscar) é uma espécie de sexólogo-evangelista, profundamente misógino, que olha o universo feminino com profundo desprezo. Por sua vez Donnie Smith (William H. Macy) fora na infância uma criança cujo futuro radioso se encontrava ao virar da esquina, mas que por ele foi hipotecado ao longo dos anos, tornando-se num desses derrotados da sociedade, que caminham cabisbaixos pelas artérias das grandes cidades. Já o famoso apresentador de televisão Earl Partridge (Philip Baker Hall) encontra-se também ele no final dos seus dias.


A vida e a dor das personagens criadas por Paul Thomas Anderson, que também assina o argumento, surgem aqui como o espelho de uma sociedade imperfeita, sem rumo e sem glória, à beira do apocalipse, ao mesmo tempo que percebemos como as coincidências nos transportam para o interior e o conhecimento de outras vidas, tornando-nos de certa forma ligados ao seu destino, como sucede com o enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman). E quando assistimos ao encontro de Frank Mackey (Tom Cruise) com o pai, Earl Partridge (Jason Robards) no seu leito da morte, iremos descobrir uma das muitas referências bíblicas que navegam pelo interior da película.


“Magnólia”, do cineasta/argumentista Paul Thomas Anderson, revela-se como um verdadeiro murro no estômago na sociedade contemporânea, retratando-a de forma exemplar, partindo do chamado núcleo familiar, estendendo depois a sua teia em todas as direcções, fruto dessas simples e estranhas coincidências, transformadoras desse quotidiano contemporâneo em que todos habitamos.

Rui Luís Lima

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