Paço Imperial de São Cristovão na Quinta da Boa Vista | Rio de Janeiro

Paço Imperial de São Cristovão

O local chamado Quinta da Boa Vista no atual bairro de São Cristovão, já foi parte de fazenda dos Jesuitas, já foi chácara de um rico comerciante que lá possuía um belo casarão. Este casarão passou a pertencer a Dom João VI quando este veio para o Brasil 1808.

Paço de São Cristovão ao longo dos anos

História do Palácio através de textos e da Iconografia

Pouco após a chegada de D. João VI ao Brasil, o casarão que havia nas terras da Quinta da Boa Vista tornou-se a morada dos antigos Reis do Brasil, passando por muitas e sucessivas reformas e acréscimos, sendo transformado finalmente em um Palácio Neoclássico.

O então Palácio Real era chamado de Paço Real, pois este era o termo usado para denominar um palácio nos tempos coloniais e da monarquia.

Com a proclamação da República, o antigo Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista passou a abrigar o Museu Nacional de História Natural.

Nesta pagina discorre-se sobre a história e as transformações ocorridas ao longo dos anos naquela área com textos e com um levantamento de pinturas e fotos. As pinturas são do tempo de D.João VI e do primeiro e reinado. As fotos são do tempo do segundo reinado e tempo atual.

Incêndio tranforma o palácio em ruinas!

Antes de mais nada, é preciso dizer que, a última nota da história desta construção fui um terrível incêndio acontecido em um Domingo, 2 de Setembro de 2018. Neste palácio, que até esta data abrigava o Museu Nacional de História Natural, deveria ter existido no mínimo uma brigada de incêndio local, que talvez evitasse que um incêndio de imenas proporções se espalhasse. Um vergonha e um fato muito triste para a ciência e cultura no Brasil.

Das Fazendas dos Jesuítas ás Chácaras Particulares

A área onde se localiza a chamada Quinta da Boa Vista, era parte de fazenda de Jesuítas. Mas no ano de 1759 foi decretada a expulsão dos padres Jesuítas de Portugal e de todas as suas colonias. Estes possuim fazendas chamadas São Cristovão, Engenho Velho e Engenho Novo, e todas estas propriedas foram subdividas em grandes chácaras e adquiridas por particulares.

Do Casarão de Quinta à Paço Real

No ínicio do século 19, a área chamada Quinta da Boa Vista, um tanto distante do então centro da cidade, pertencia a um rico comerciante Português, chamado Elias Antônio Lopes, que adquiriu um dos lotes, e lá ergueu um casarão em 1803, onde era chamado de "Chácara do Elias". Este casarão dava uma bela vista para a Baia de Guanabara, e daí vem o nome Quinta da Boa Vista. Apesar de não muito usual no Brasil, o termo Quinta em Portugal significa propriedade rural.

Com a mudança de Dom João VI ao Brasil, em 1808, este instalou-se no Paço Real que depois seria chamado Paço Imperial na Praça XV do Rio de Janeiro, que era até então a morado do Vice-Rei. Talvez por motivos de recebimento de favores políticos ou por falta de opção, o comerciante então resolveu doar seu casarão à D. João VI que aceitou a propriedade. Devido à falta de moradias na cidade, diz-se que muitas casas eram confiscadas para uso da corte.

Antigo Paço de São Cristovão - Gravura de Thomas Ender - 1817-1818

Acima pintura do Pintor Austriaco Thomas Ender que esteve no Brasil entre 1817-1818. Em sua representação do então Paço Real da Quinta da Boa Vista, vê-se ao fundo casarão que era propriedade de um rico comerciante Português, originalmente construido em 1803, e dado de presente a D. João VI em 1808. Nesta pintura a casa já havia passado por reformas iniciais e o portico monumental que não existia originalmente também já havia sido instalado em 1816. Abaixo mais pinturas de época, refletindo as reformas, modificações e acréscimos arquitetônicos e paisagistiscos ao longo dos anos.

Paço Imperial - Gravura de Debret - Quinta da Boa Vista

Acima pintura de Jean Baptiste Debret que consta de uma publicação chamada Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Nesta resprentação do artista, aparece o portal/portico monumental e um torreão anexado do lado direito. Por volta de 1820 este torreão já havia sido construído, como comprova a gravura de Maria Graham, (mostrada abaixo) feita em torno de 1820. Observa que a entrada usada na prática não era a passagem do portico monumental, e ficava num portão mais à esquerda.

Paço Imperial da Quinta da Boa Vista - Gravura de Maria Graham

A gravura de época acima da pintora, escritora e aristocrata Inglesa Maria Graham, que esteve por três vezes no Brasil, foi feita acerca de 1820. Nesta pintura também aparece o portico monumental construído em 1816 e o torrão do lado direito.

Do Paço Real ao Paço Imperial

O Palácio Real ou Paço Real foi residência da família real de 1808 a 1821. Após 1822, com a proclamação da Independência do Brasil por D.Pedro I, passou a chamar Paço Imperial, tendo side residência da família imperial de 1822 a 1889, quando foi proclamada a República.

Em 1816 o casarão já reformado, recebeu um portão/pórtico, que foi dado como presente de casamento a D. Pedro I e à futura imperatriz, Maria Leopoldina de Áustria, por um Lord Inglês, o Duque de Northuberland. Este portal passou a ser a entrada do então chamado Paço Imperial na Quinta da Boa Vista. Se trata de uma réplica do pórtico existente na residência do Duque na Inglaterra.

Parece que alguns estudiosos e historiadores dão uma importância enorme á este pórtico, e o mesmo foi tombado pelo patrimônio histórico. Estranho o fato de jogar toda importância no portico e tirar o enfoque do casarão original, que obviamente não pode ser tombado pelas inúmeras reformas e interferências, mas certamente como memória arquitetônica ou cultural da vida no Brasil colonial seria um tesouro bem mais interessante de ter a memória preservada ou estudada.

O casarão era tido como a melhor casa de "Quinta" àquela época, possuindo bela vista mas não tinha a imponência ou estilo desejado pelos Reis.

A transformação da construção original em um palácio neoclássico expressa a intenção de magnitude, utilizando-se de uma arquitetura cuja fim em si mesmo seria expressar poder, racionalidade e predomínio sobre a natureza.

A harmônia da antiga construção começou a se perder com instalação do portal, em desarmonia com o estilo da casa já que era cópia de um portico de um palacete na Inglaterra (Sion House) pertencente ao então Duke of Northumberland que presenteou o portal. Nesta época a casa já estava sendo reformada para receber D. Pedro I. Através das sucessivas gravúras de época, pode-se ver que existia planos de transformar sucessivamente a edificação num prédio de feições neoclássicas.

Portal que ficava na entrada do Paço Imperial de São CristovãoGravuras de época - Paço Real e Imperial da Quinta da Boa Vista

Acima o portico lonumental que hoje se encontra na entrada do Jardim Zoológico. O pórtico pode ser visto em gravuras de diferentes épocas, ainda de frente ao palácio.

Paço Imperial da Quinta da Boa Vista em 1835-40

Acima o Paço Imperial da Quinta da Boa Vista em São Cristovão, mostrada numa litografia aquarelada feita entre 1835 1840 pelo aristocrata alemão, Karl Robert Barton Von Planitz, que veio morou no Brasil. Nesta época uma outra torre à esquerda já havia sido acrescentada.

Paço Imperial da Quinta da Boa Vista em 1870-72

Acima montagem com fotos de Marc Ferrez tiradas em 1870, quando ao que parece as obras dos jardins de Gaziou ainda não estavam prontas. Nesta época, durante o reinado de D. Pedro II começava a surgir a fotografia, e o edifício do palácio foi também registrado por outros fotógrafos. Clique sobre o painel de imagens acima para ver a foto em tamanho maior.

Detalhe da fachada do Antigo Paço Imperial - Maio 2009Entretanto, nesta época parece que o paisagista Gaziou ou talvez algum arquiteto ou paisagista antecessor teve a feliz ideia de cobrir com terra ou vegetação os muros de arrimo do aterro do jardim de frente ao palácio. Na foto de 1872 já aparece o lago projetado por Gaziou. Nesta época um acrescimo central na fachada também aparece em ambas as fotos e escadarias frontais que aparecem na litografia mais acima não aparece mais. A escadaria já deveria estar dentro deste novo acréscimo, como se pode ver nos dias de hoje ao visitar o palácio.

Ao lado e abaixo, foto de Maio de 2009, do Antigo Paço Imperial e atual Museu Nacional de História Natural da UFRJ.

Da República Velha aos Dias de Hoje

Após a proclamação da República, o palácio sediou os trabalhos da Assembléia Nacional que resultou na Constituição Brasileira de 1891. No ano seguinte, 1892 o Museu Nacional do Brasil mudou-se de sua antiga sede no Campo de Santana para o Palácio da Quinta. Hoje é chamado Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) ou Museu Nacional de História Natural ou também conhecido como Museu da Quinta da Boa Vista.

Museu Nacional da Quinta da Boa Vista - 2009

Na foto acima, o antigo Paço Imperial de São Cristóvão, com a fachada pintada e recem restaurada, vista em Maio de 2009.

Veja no vídeo acima como era o palácio e partes de seu interior usado como Museu Nacional até 2 de Setembro de 2018 quando ocorreu o incêndio..

Cronologia Resumida das Interferências e Acréscimos

Após o casarão ter sido presenteado a D.João VI em 1808, este passou por melhoramentos e adaptções.

Entre 1816 e 1821 foram feitas alterações importantes para receber o Príncipe D.Pedro I e Maria Leopoldina da Áustria que se casaram em passaram a residir no local em 1817.

O Arquiteto Inglês John Johnston, além de reformar o paço instalou um portal monumental à sua frente, portal este dado de presente pelo Duque de Northumbrland. Este portal foi inspirado num pórtico desenhado por Robert Adams para um palacete conhecido como "Sion House"em Londres, e que era residência deste nobre. Este portal atualmente está colocado na entrada do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, que também fica na Quinta da Boa Vista.

Após a Independência do Brasil, D.Pedro I passou a chamar o local de Paço Imperial (anteriormente chamado de Paço Real) e contratou o Arquiteto Português Manuel da Costa, entre 1822 e 1826. Em 1826 este foi substituído pelo Francês Pedro José Pezerát que conduziu as obras até 1831. Atribui-se à este Arquiteto a autoria do projeto de reforma e acréscimo em estilo Neoclássico.

Até então, já havia sido construido um torreão do lado esquerdo, e mais um torreão foi erguido do lado direito dando simetria aos volumes e a construção de um terceiro pavimento foi iniciada sobre os dois pavimentos já existentes.

A partir de 1847 o Arquiteto Brasileiro Manuel Araújo deu continuidade às obras harmonizando as fachadas. Em seguido o Arquiteto Alemão Thodore Marx deu prosseguimento entre 1857 à 1863.


Referências

  • Relato de visitas ao local e consulta a livros diversos sobre o Rio de Janeiro e sua história.