Hermann Hesse

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Hermann Hesse
Hermann Hesse
Hermann Hesse em 1960
Nascimento 2 de julho de 1877
Calw
Morte 9 de agosto de 1962 (85 anos)
Montagnola
Nacionalidade alemão
Cidadania Suíço
Cônjuge
  • Maria Bernoulli (1904-1923, 3 filhos)
  • Ruth Wenger (1924)
  • Ninon Dolbin (1927)
Prêmios Nobel de Literatura (1946)

Prémio Goethe (1946)

Magnum opus O Lobo da Estepe

O Jogo das Contas de Vidro

Assinatura

Hermann Karl Hesse (Calw, 2 de julho de 1877Montagnola, 9 de agosto de 1962) foi um escritor e pintor alemão. Em 1923, ele se naturalizou suíço. Em 1946, recebeu o Prêmio Goethe. Logo depois, recebeu o Nobel de Literatura "por seus escritos inspirados que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo".[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Museu Hermann Hesse, Gaienhofen

Nascido em uma família muito religiosa, filho de pais missionários protestantes (pietistas, como é típico da Suábia) que pregaram o cristianismo na Índia. Estudou no seminário de Maulbron em 1891, mas não seguiu a carreira de pastor, como era a vontade de seus pais. Embora fosse um estudante modelo, ele foi incapaz de se adaptar e saiu menos de um ano depois. Como ele explicaria mais tarde:

Eu era um bom aprendiz, bom em latim, apesar de justo em grego, mas não era um rapaz muito administrável e foi assim com dificuldade que me enquadrei na educação pietista que visava subjugar e quebrar a personalidade individual.

Tendo recusado a religião cristã, ainda adolescente, rompeu com a família e emigrou para a Suíça, em 1912, trabalhando como livreiro e operário. Acumula, então, uma sólida cultura autodidata e resolve dedicar-se à literatura.

Hesse publicou o seu primeiro livro, uma coleção de poemas, em 1899. Permaneceu no ramo de livrarias até 1904, quando se tornou escritor "freelancer" e publicou o seu primeiro romance, Peter Camenzind, sobre um escritor falido. O romance foi um sucesso. Hesse retornou ao tema da busca interna e externa de um artista em Gertrud (1910) e Rosshalde (1914). Uma visita à Índia, nesses anos, foi mais tarde refletida em Siddhartha (1922), um romance poético, ambientado na Índia, na época do Buda, sobre a busca pela iluminação.

Travou contacto com a espiritualidade oriental, a partir de uma viagem à Índia, em 1911, e com a psicologia analítica, por meio de um discípulo de Carl Gustav Jung, em decorrência de uma crise emocional causada pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. Estas duas influências seriam decisivas no posterior desenvolvimento da sua obra.

Em 1946, recebeu o Prêmio Goethe e, passados alguns meses, o Nobel de Literatura "por seus escritos inspirados que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo".[1]

Faleceu em 9 de Agosto de 1962 e foi sepultado no cemitério de San Abbondio em Montagnola, perto de Lugano, onde Hugo Ball também foi enterrado.

Principais temas[editar | editar código-fonte]

Hesse foi um autor popular e influente no mundo de língua alemã. A fama mundial só veio mais tarde. Seu primeiro grande romance, Peter Camenzind, foi recebido com entusiasmo por jovens alemães que desejavam um modo de vida diferente e mais "natural" numa época de grande progresso econômico e tecnológico no país. Demian teve uma influência forte e duradoura sobre a geração que voltou da Primeira Guerra Mundial para casa. Similarmente, O Jogo das Contas de Vidro, com seu disciplinado mundo intelectual de Castalia e os poderes de mediação e humanidade, cativou os alemães que ansiavam por uma nova ordem no caos de uma nação dilacerada após a derrota na Segunda Guerra Mundial.

Na década de 1950, a popularidade de Hesse começou a diminuir, enquanto críticos e intelectuais da literatura voltavam sua atenção para outros temas.

Hermann Hesse em 1927.

Na época da morte de Hesse, em 1962, suas obras ainda eram relativamente pouco lidas apesar de seu status como laureado com o Prêmio Nobel. A situação mudou em meados da década de 1960, quando as obras de Hesse subitamente se tornaram best-sellers nos Estados Unidos. Isso foi atribuído à sua associação com temas populares do movimento da contracultura de 1960. Em particular, o tema da busca da iluminação de Sidarta, Viagem ao Oriente, Narciso e Goldmund ressoou entre aqueles que defendiam os ideais da contracultura. As sequências de "teatro mágico" em O Lobo da Estepe foram interpretadas por alguns como alucinações induzidas por drogas, embora não haja evidências de que Hesse tenha tomado drogas psicodélicas ou recomendado seu uso. Em grande parte, o sucesso de Hesse nos Estados Unidos pode ser atribuído aos textos entusiasmados de duas influentes figuras da contracultura: Colin Wilson e Timothy Leary. Dos Estados Unidos, o renascimento de Hesse se espalhou para outras partes do mundo, inclusive o Brasil, e até mesmo de volta à Alemanha: mais de 800 000 cópias foram vendidas no mundo de língua alemã, em 1972-1973. Em apenas alguns anos, Hesse tornou-se o autor europeu mais lido e traduzido do século XX. Hesse foi especialmente popular entre leitores jovens, uma tendência que continua até hoje.[3]

O jogo das contas de vidro foi o último romance de Hesse. Durante os últimos 20 anos de sua vida, Hesse escreveu muitos contos (principalmente lembranças de sua infância) e poemas (frequentemente tendo a natureza como tema). Hesse escreveu também ensaios irônicos sobre sua alienação de escrever (por exemplo, as autobiografias simuladas: História da vida resumidamente dita e Aus den Briefwechsel eines Dichters) e passou muito tempo desenvolvendo o seu interesse por aquarelas, cujas reproduções enviava em postais aos amigos.

Estátua de Hermann Hesse em Calw, Alemanha

Hesse também se ocupou com o fluxo constante de cartas que recebeu como resultado do Prêmio Nobel, e com uma nova geração de leitores alemães que se reviam no seu trabalho. Num ensaio, Hesse reflete ironicamente sobre sua falha ao longo da vida para adquirir um talento para a ociosidade, especulando-se que sua correspondência média diária foi superior a 150 páginas.

Recepção no Brasil e em Portugal[editar | editar código-fonte]

Hermann Hesse foi pela primeira vez traduzido em língua portuguesa no Brasil: O lobo da estepe (Der Steppenwolf), em 1935, por Augusto de Souza (São Paulo: Cultura brasileira) Nas décadas de 1960 e 1970 tornou-se um dos autores estrangeiros mais lidos no Brasil.[4] Em Portugal a primeira tradução é Ele e o Outro (Klein und Wagner), por Manuela de Sousa Marques, em 1952 (Lisboa: Guimarães editores).[5]

Bibliografia de Hermann Hesse[editar | editar código-fonte]

Romances
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Peter Camenzind Peter Camenzind Claudia Abeling 1903 Brasiliense, Todavia
02 Unterm Rad Menino prodígio ou Debaixo das rodas Alvaro Cabral 1905 Record, Civilização Brasileira
03 Gertrud Gertrud Mario da Silva 1910 Civilização Brasileira, Record
04 Knulp Knulp, Knulp : três histórias da vida de um andarilho ou Knulp: rês episódios de sua vida Egle Malheiros; Julia Bussius 1915 Record, Todavia, Civilização Brasileira
05 Demian ou Sinclairs notizbuch Demian ou O caderno de Sinclair Ivo Barroso; Marija Cesar Mendes Bezerra 1917 Civilização Brasileira(1), Record, BestBolso
06 Siddhartha Sidarta Herbert Caro 1922 Civilização Brasileira, Opera Mundi, Record, BestBolso, Folha de São Paulo
07 Der Steppenwolf O Lobo da Estepe Ivo Barroso 1927 Civilização Brasileira, Record, BestBolso
08 Narziss und Goldmund Narciso e Goldmund Myriam Moraes Spiritus 1930 Record, Brasiliense
09 Das Glasperlenspiel O Jogo das Contas de Vidro Abranches Viotti e Flávio Vieira de Souza 1943 Record, BestBolso
10 Fabulierbuch O livro das fábulas Ãlvaro Cabral 1935 Civilização Brasileira, Record
11 Die Morgenlandfahrt Viagem ao Oriente Leda Maria Goncalves Maia 1958 Civilização Brasileira, Record
Coletânea de contos
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Diesseits, cinco contos Este lado da vida Alvaro Cabral 1907 Civilização Brasileira, Record
02 Erzaehlungen Vivências: trechos escolhidos Lya Luft 1907 Record
03 Nachbarn, cinco contos 1908
04 Umwege, contos 1912
05 Maerchen Sonho de uma flauta e outros contos Angelina Peralva 1919 Record
06 Weg nach Innen, quatro contos 1931
07 Kleine Welt Pequeno mundo Álvaro Cabral 1933 Civilização Brasileira, Record
08 Mein Glaube Minha fé Luiza L. Leite Ribeiro 1952 Record
09 Kleine freuden Pequenas alegrias Lya Luft 1977 Record
10 Wer lieben kann, ist glücklich Quem pode amar é feliz Luiz Montez 2008 no Brasil Record
Poesia
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Unterwegs, poesias 1911
02 Musik des Einsamen, poesias 1915
03 Piktors Verwandlungen Transformações Lya Luft 1922 Record
03 Trost der Nacht, poesias 1923
04 Mit der Reife wird man immer jünger Com a maturidade fica-se mais jovem Roberto Rodrigues 1952 Record
05 Stuffen. a usgewàhlte gediche Andares: antologia poética Geir Campos 1975 (no Brasil) Nova Fronteira
06 Glück: Betrachtungen und Gedichte Felicidade Lya Luft 1973 Record
Não-Ficção
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Besuch aus Indien (Visitor from India)—philosophy (1913)
02 Blick ins Chaos (A Glimpse into Chaos)—essays (1920)
03 Wandering—notes and sketches ou Wanderung Caminhada Ildiko Maria Javor (1920) Record
04 If the War Goes On—essays (1971)


05 Lekture fur minuten—essays Para ler e guardar ou Para ler e pensar Belchior Cornelio da Silva (1971) Record


05 Autobiographical Writings (including "A Guest at the Spa")—collection of prose pieces Minha vida Affonso Blacheyre (1972) Artenova
Biografia
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Bocaccio 1904
02 Franz von Assisi Francisco de Assis Kristina Michahelles 1904 Record
03 Eigensinn Obstinação, escritos autobiográficos Belchior Cornelio da Silva 1919 Record
04 Kindheit des zauberers A infância do mago Samuel Titan Jr 1945 José Olympio
Outros
Título Original Título no Brasil Tradutor Ano de lançamento Editora
01 Canções românticas 1898
02 Eine Stunde hinter Mitternacht 1899
03 Aus Indien 1913
04 Rosshalde Rosshalde Alvaro Cabral 1914 Civilização Brasileira, Record
05 Blick ins Chaos, Aufsätze 1920
06 Klingsors letzter Sommer O Último Verão de Klingsor Pinheiro de Lemos 1920 Record
07 Betrachtungen 1928
08 Krisis, diário 1928
09 Neue Gedichte 1937
10 Dank an Goethe 1946
11 Der Europäer, considerações 1946
12 Krieg und Frieden Sobre a guerra e a paz Lya Luft 1946 Record
13 1957 Obras Compiladas, 7 volumes 1952
14 Beschwörungen, prosa tardia 1955
15 Correspondência com Romain Rolland
16 Contos Angelina Peralva 1969 no Brasil Civilização Brasileira
17 O homem de muitos livros
18 Die kunst des muessigangs A arte dos ociosos Paul Schenetzer e Mathilde Latja 1973 Record

Referências

  1. a b «Nobel Prize in Literature 1946». Fundação Nobel. Consultado em 3 de março de 2010 
  2. «Hermann Hesse: o guru dos hippies». Revista Bula. 7 de março de 2021. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  3. Informações obtidas no verbete em língua inglesa sobre Hesse.
  4. «TAVARES, Mirela (2012) Fora da academia, mas no coração do leitor, Swissinfo.ch». www.swissinfo.ch 
  5. «MARQUES, Manuela de Sousa (1978) Hermann Hesse em Portugal, Apontamentos sobre a sua tradução e recepção, Lisboa, reed. 2008». manuela.delfimsantos.net 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Hermann Hesse
Wikiquote
Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Hermann Hesse


Ícone de esboço Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Precedido por
Max Planck
Prêmio Goethe
1946
Sucedido por
Karl Jaspers
Precedido por
Gabriela Mistral
Nobel de Literatura
1946
Sucedido por
André Gide